– Violetta, por quê esse garoto desapareceu?

– Angie?! Há quanto tempo você estava aí? – digo, desesperada.

– Tempo o suficiente para ver que em um segundo o garoto estava aí do seu lado e no outro desapareceu.

Caramba. Agora tá difícil.

– Ahm... Angie, preciso falar com você. No meu quarto.

Subimos em silêncio, e, ao abrir a porta do meu quarto, nos deparamos com Leon esparramado na minha cama, tentando inutilmente abrir meu diário. Quando vê Angie, fica pálido de susto, e desaparece, fazendo Angie voltar seu olhar para mim, quase tão pálida quanto Leon há um segundo atrás. Sei que Leon veio para minha mente quando ouço:

Violetta, o que ela faz aqui? Acha que ela me viu?

– Leon, tudo bem, pode sair.

​Certeza?

– Sim, é seguro, podemos confiar na Angie, não é mesmo? – digo, me voltando para ela.

– Claro que sim.

Então Leon surge vagarosamente na minha frente, com a cabeça baixada como se estivesse envergonhado.

– Angie. – começo, cautelosamente. – O que nós vamos te contar é algo extremamente importante, precisamos que prometa manter segredo.

Ela balança a cabeça afirmativamente, e Leon e eu contamos nos conhecemos há quase dois meses, que ele habita meu quarto, que consome o chocolate todo e depois coloca a culpa em mim, e dos "poderes" dele.

– Alguém mais sabe? – diz Angie, sua voz se transformando em um sussurro.

– Só a Camila e a Francesca.

– Puxa, Violetta, isso é... É inacreditável! Nunca vi algo assim acontecer, ele nem parece ter sido criado pela sua cabeça, parece existir de verdade...

– Eu SOU real! – diz Leon, equivocadamente, em um tom quase alto demais. Então ele solta meu braço, e vai até a janela, olhando para o céu nublado.

– Conversamos depois. – digo a Angie, antes da mesma se retirar rapidamente.

Na hora de deitar, quando eu já estou de pijama e Leon com as antigas roupas de Luca, o irmão de Francesca, as luzes estão apagadas, e Leon e eu continuamos acordados. Ele corre os dedos pelos meus cabelos levemente ondulados, e parece pensativo.

– Leon, você está bem?

Ele não responde, mas apenas olha nos meus olhos. Depois de um longo momento, ele diz:

– Só acho que... Uma garota como você não merece um cara como eu.

– Por quê você acha isso?

– Você é linda... Inteligente, engraçada, canta muito bem... Tem uma mente linda... E eu... Sou uma imaginação. Sou... Sou... Uma aberração. É isso que eu sou.

– Shhh... Não. Você não...

– A Angie tem razão. – diz ele, levantando da cama. – Eu não existo, e não deveria existir nesse mundo, eu não faço parte desse mundo, eu... Sou uma aberração.

– Leon, por favor. – digo, me levantando também, e levando as mãos ao rosto dele, tentando acalmá-lo. – Se você está aqui, quer dizer que deveria estar. Você não é uma aberração, só é... Especial.

– Se eu não sou uma aberração... – diz ele, mais calmamente, se sentando novamente. – Por quê tenho que esconder o que sou das outras pessoas?

– Porque... As pessoas não estão acostumadas com pessoas especiais como você. Elas dizem que é estranho porque não aceitam o diferente. Mas o que posso dizer é que... Toda garota gostaria que isso tivesse acontecido em sua vida. Sonhado com o garoto perfeito e se tornar realidade. Leon, isso não é uma aberração. É algo completamente especial que eu acredito que talvez ninguém mais no mundo tenha.

Depois de um longo instante, ele me puxa para abraçá-lo, e diz:

– Obrigado, Violetta. Você deve ser a melhor pessoa no mundo. Que consegue me aceitar mesmo eu sendo... Especial. E me fazer sentir melhor mesmo quando estou me sentindo uma aberração. Obrigado.

Ficamos mais uns minutos abraçados, até que voltamos a nos deitar e conseguimos dormir.

* * *

Hoje é sábado, e meu pai me deixou sair para passear no parque. Quando chego em uma área em que ninguém está vendo, libero a saída de Leon da minha mente, que veio o caminho inteiro tentando aprender as letras da minhas músicas.

Estendo uma toalha de pique-nique sob a sombra de uma árvore, e Leon senta-se sobre ela, e depois eu faço o mesmo.

– Lady, por quê você gosta de mim? – diz ele, pegando uma florzinha branca e colocando no meu cabelo.

– Porque... Você me conquistou. Eu gosto de você, Leon.

Ele se estica pra frente e me rouba um beijo, mas de repente se separa de mim.

– O que foi, meu amor?

– Só... Vi uma pessoa.

Então, ao longe, quase invisível do outro lado do parque, consigo avistar Tomás junto com uma figura loira com roupas exuberantes. Reconheço-a do Studio. Ludmila.

Quando me vê junto com Leon, ele se aproxima, ficando a cerca de 40 metros de distância, segura Ludmila, e imediatamente, os dois começam a se engolir... Quer dizer, beijar.

– Dois idiotas. – diz Leon, olhando para eles.

– Nós dois temos coisa muito melhor para fazer do que assisti-los trocando saliva.

Então aproximo meu rosto do dele, e o tomo em um beijo profundo. O que eu acabei de pensar de Tomás e Ludmila deve ser o que eles estão pensando agora de Leon e eu, mas eu não me importo de fazer ciúmes para ninguém e sim no que está acontecendo aqui. Algo que nunca houve com o Tomás. Uma sintonia distinta em nossos lábios, a batida do meu coração sincronizada com a dele, como se fôssemos apenas um.

Não me importo com o que os outros pensam, se sentem ciúmes ou não, se gostam de mim, ou não, me importo apenas com o fato de eu estar sendo mais feliz com Leon do que com qualquer outro garoto.