Era engraçado pensar em como um beijo pode ter um aspecto diferente para cada pessoa. Pietro, embora não tivesse nenhuma intenção de levar a sério o “relacionamento” com Brooklyn, achava divertido. Para ele seduzir alunas era apenas um hobbie, entretanto havia algo diferente naquela garota, e ele não podia negar que se sentia um tanto hipnotizado ao vê-la andar

Brooklyn por outro lado, usava garotos como se fossem roupas, quando estavam fora de moda as jogava fora. Ela nunca gostara de verdade de Pietro, ele era apenas um meio de poder fácil e de inveja para as demais garotas da Academy for Gifted. Pietro era um cara bonito, até deixar de ser útil.

Ao puxar Brooklyn mais para perto, Pietro achou estranho não ter sentido nenhuma alteração em seu batimento cardíaco, parecia que ela estava até mesmo entediada ao beija-lo .

Ele se afastou por um instante e a fitou. Seus cabelos coloridos estavam soltos e um tanto bagunçados, a luz refletia de tal modo que a fazia parecer um anjo. Os olhos verdes pareciam um tanto ocultos pelos volumosos cílios negros, logo sua atenção se voltou para os lábios da loira, um tanto carnudos e a colocarão roxa de seu batom estava todo borrado por causa o beijo. Ela parecia linda, mas Pietro sabia que nunca iriam ficar juntos, nem se quisessem.

- Algo errado? – Ele perguntou.

- Nada. – Brooklyn respondeu parecendo inocente. – Por que?

- Nada. – Pietro disse quase num sussurro para Brooklyn. – Só pareceu um pouco... distraída.

- Distraída? Bobinho! – Riu Brooklyn de modo tão angelical que faria qualquer garoto se derreter.

- Acho melhor voltarmos para dentro. – Falou Pietro sem muita emoção. – Quem sabe seus amigos estão sentindo a sua falta...

- Honestam ente, acho que não estão. – A garota disse com franqueza. – Eles só pensam em garotas, acho que sabe como é isso.

- Isso nos faz ser quem somos. – Concordou Pietro. – Vá na frente.

- Pietro, a minha companheira de quarto...

- Vou tentar falar com meu pai mais uma vez, entretanto não sei se irei conseguir me livrar dela para você. – Ele interrompeu dando um selinho nela. – Agora vá.

Brooklyn fechou a cara e saiu batendo o pé, parecia até mesmo birra de criança, porém eram detalhes como esses que faziam garotos como Pietro se encantarem por ela.

~*~

Trent, Vincent e Pedro caminhavam lado a lado até o quarto 199, enquanto passavam na frente de outros quartos eram encarados e observados a cada passo.

- 199. – Falou Trent colocando a chave na fechadura e empurrando a porta.

O quarto era de fato enorme, de formato retangular e com duas grandes janelas na maior das paredes, com três camas entre elas. As paredes tinham um tom de azul acinzentado e o chão era como na maioria dos dormitórios, de madeira envelhecida cor carvalho. Duas escrivaninhas ficavam a direita, contrapostas ao guarda roupas enorme, o tamanho daquele quarto e a falta de aproveitamento de espaço no seu centro o fazia parecer frio e com um ar um tanto cruel.

- É isso. – Comentou Vincent. – A cama da esquerda é minha.

- Fico com a da direita! – Anunciou Trent.

- Então eu fico com a do meio, já que não me sobrou tanta escolha. – Suspirou Pedro colocando a mala em cima da cama.

Trent fora bastante prático, jogou seu travesseiro em cima da cama, sua mala no armário e alguns cadernos na primeira escrivaninha.

- Vou dar uma volta, ver aonde consigo uma chave extra. – O garoto informou enquanto estava abrindo a porta.

- Espera. – Chamou Vincent. – Precisamos estabelecer algumas regras antes.

- Vai dar uma de Sheldon Cooper? – Riu Trent encostando a porta.

Vincent revirou os olhos e ignorou o comentário de Trent.

- Acho que sendo colegas de quarto não somos obrigados a sermos amigos. – O loiro disse sem nenhuma enrolação. – Não precisamos ficar avisando quando vamos sair e com quem, apenas o necessário, concordam?

- Claro. – Pedro respondeu enquanto arrumava algumas peças de roupas no seu guarda roupas.

- Pode ser. – Trent concordou saindo do quarto se dar muita importância pelo que o colega havia dito.

Trent mal havia saído do quarto quando sem querer bate em um garoto de cabelos loiros até o ombro, o tal Nik.

- Cuidado 199. – Nik disse. – E não me referi apenas a esse pequeno encontro.

- O que quis dizer com isso? – Trent questionou, ele já estava ficando irritado por causa das brincadeiras do quarto 199, afinal o que aquele quarto tinha demais?

- Coisas muito ruins aconteceram naquele quarto. – Nik disse se virando para Trent. – Eu não ousaria me acomodar muito por lá.

~*~

Brooklyn parecia estar bastante determinada depois de seu encontro com Pietro. Parecia até mesmo ter esquecido momentaneamente que tinha uma nova companheira de quarto e que essa companheira era Courtney, a perfeita e magnífica Courtney.

Mas naquele momento, cheia de esperança de que Pietro finalmente resolvesse tudo, ela havia esquecido desse pequeno detalhe.

Como sempre fazia, Brooklyn abriu a porta e sem reparar que havia mais alguém ali, se jogou no pequeno divã.

Seu quarto era do tamanho comum, não era grande como o 199, nem pequeno como o dos professores e funcionários. Tinha um beliche a esquerda, ao lado da grande janela de aço preto localizada na frente da escrivaninha. Havia duas portas, a mais a direita do closet e a mais a esquerda do banheiro, e antes um divã vermelho vinho em frente de uma televisão de tela plana 40’ polegadas.

Como o quarto era apenas de Brooklyn, a garota tinha tomado a liberdade de colocar alguns pôsteres de suas bandas favoritas na parede da parte de cima do beliche, Nirvana, The Killers e Green Day. Em sua cama a coberta azul turquesa brilhava com a entrada de luz da janela, bloqueada por uma cortina branca extremamente fina, já que a preta mais grossa devia ficar aberta durante o dia, mais uma das regras sem noção da Academy for Gifted.

A única coisa que Brooklyn temia que a julgassem em seu quarto era o grande tigre de pelúcia na ponta de sua cama. A garota até mesmo o batizou de Louis, O Tigre.

- O que está...?! Ah! – Ela quase berrou. – É bom não ter tocado nas minhas roupas nem na minha cama nem no frigobar.

- Aqui tem um frigobar? – Courtney perguntou espantada. – E como conseguiu essa televisão e o divã? Deve ser contra as regras.

- Não sou muito fã de regras. – Brooklyn fala como se fosse obvio. – Eu comprei essas coisas, não me olhe como se eu fosse uma ladra ou uma fora da lei.

- Ok, e o tal frigobar?

Brooklyn apontou para a mesinha onde ficava a televisão, parecia ser de mogno preta, com apenas uma portinha de cerca de meio metro. Ao abri-la, Courtney se admirou com as aquisições da colega de quarto, como alguém naquele lugar poderia ter tudo isso?

- Seus pais te mandaram? – Ela perguntou.

- E isso te interessa? – Brooklyn retrucou. – Não quero saber dos seus dramas, não quero ser sua amiga e que fique bem claro que se você dedurar para alguém sobre a bebida, o cigarro e as drogas você estará cavando sua própria cova.

- Você pode assustar as pessoas a sua volta, mas sabe muito bem que não me assusta. – Courtney deu uma risadinha. – Aliás, nunca me assustou.

- Eu não estaria tão confiante assim se fosse você. – Brooklyn rosnou.

- Já ouviu falar que “Cão que ladra não morde”? - Courtney cuspiu.

- Quer saber? Chega! – Brooklyn gritou. – Se vou ter que aguentar você por mais que seja só por uma noite não quero passar gritando! Faça o que quiser desde que não suje o meu lado ou se meta no meu caminho.

- Passei a tarde toda arrumando as minhas coisas. – Courtney falou. – E não mexi nas suas coisas, preciso tomar um banho.

Depois que Courtney entrou no banheiro, Brooklyn subiu em seu beliche e na estante ao lado pegou um álbum fotográfico meio gasto.

Brooklyn se lembrava de ter chorado em cima daquele álbum quando era criança, em seus primeiros meses na academia. Ela folheou algumas páginas e achou a foto que queria.

Duas garotinhas, uma loira e outra morena. Era Halloween e a morena estava fantasiada de Belle* e a loira de Chapeuzinho Vermelho. Ambas sorriam para a câmera, parecendo ter cerca de quatro anos, eram as melhores amigas do mundo.

Atrás da foto havia algo escrito com giz de cera.

“Courtney e Brooklyn Amigas Para Sempre”