Seis Meses Depois

Rafaela era uma boa líder, nós estávamos aos poucos deixando de ser divisões para nos tornarmos o que antigamente era chamado de país. Alguns trabalhos foram distribuídos, nós da Cúpula éramos mais fáceis de sermos divididos por que éramos estimulados pelo cérebro. Os que eram de Palmwoods e Fourtword conseguiram se misturar e muitos já, como os lideres deles, estavam no novo governo.

Alguns eruditos como Adam viraram professores e por isso tínhamos escolas para as crianças. Os metamorfos tiveram a chance de criarem remédios, eles tinham uma saúde muito forte e como se adaptavam a qualquer cenário poderiam encontrar curas em qualquer lugar. Os intrépidos dividiram-se, alguns viraram médicos, engenheiros, nós conseguíamos fazer qualquer coisa.

Agora tínhamos acesso a qualquer e toda tecnologia, aquela que o governo nos tirou. Computadores, algo chamado celular e um demônio chamado vídeo game. Isso facilitava aprender diversas coisas. Palmwoods e Fourtword eram distantes da Cúpula e de Sidartha, por isso não sabíamos o que se passava por lá.

O mundo ainda estava destruído, afinal tínhamos três divisões destruídas. Na semana que vem os moradores de lá iriam começar reconstruir a cidade e inconsequentemente recriar o mundo.

A Cúpula juntou-se com Sidartha agora éramos uma cidade cinco vezes maior do que Sidartha era antes. Nós éramos desenvolvidos em tecnologia, contudo precisávamos de mais tempo para voltarmos aos eixos.

Minha irmã teria orgulho ao me ver agora. Eu sou praticamente uma dona de casa. Theo conseguiu era do governo, não sei direito o que, algo como braço direito da Rafaela. Eu passo o dia com Rachel, ela é perfeita com computadores. Eu era perfeita, mas em um mundo normal não me encaixo em nada. A não ser em medicina, amaria ser médica. Adam tem me ajudado a estudar.

–Ela está atrasada Theo, que droga! Largue esse vídeo game e leve sua irmã para a escola – grito da cozinha – Desligue essa droga ou eu mesma vou quebrar isso.

Rachel entrou pela sala e veio até a cozinha. Me deu um beijo no rosto e sorriu.

–Oi Tess – disse ela – Pensei que estivesse estudando.

–Estaria, se esses dois não estivessem presos naquela droga de vídeo game – disse.

–Só um minuto – sorri.

Rachel estrala os dedos, adoro o fato de ela ter “paixão” por toda tecnologia e conseguir dominá-las.

–Rachel – ambos gritam do quarto.

–Ops – diz ela rindo.

–Obrigado – agradeço.

–De nada – ela foi até a geladeira e pegou uma maçã – Sabe, eu achei um livro que mostra os monumentos do mundo antigo, tinha uma torre magnífica que ficava em um lugar chamado Paris. Havia pirâmides gigantes Tess, em um lugar chamado Egito. Era lindo tudo era lindo, eles destruíram tudo em 2018. Descobri que em 2020 eles começaram com as divisões e que nós estamos oficialmente em 2045.

–Foi tirado tantos de nós – concordo – Onde conseguiu esses livros?

–Há uma biblioteca com livros que um dia foram do mundo inteiro, todos contribuíram – disse ela – Posso te levar lá se quiser.

Theo e Lize finalmente desceram, ele me deu um beijo rápido e saiu correndo pela porta. Ele tem estado diferente nos últimos meses, passa horas no tal “trabalho” e quase não fala comigo.

[...]

Tenho facilidade para entender as coisas, mas aprender sobre anatomia era difícil. Adam tinha que repetir milhares e milhares de vezes. Eu estava pegando o jeito da coisa, porém conclui que estudar era uma droga.

–Se continuar assim com esse cérebro de erudita logo vai poder ajudar pessoas – disse Adam – Você tem se saído fantástica. Sabe Tessa, isso não parece ser o que você queria fazer da vida. Ser médica.

–Obrigada – agradeci – E não é, mas eu virei alguém normal nesse mundo novo. Sou apenas a Tessa, eu ser a criação perfeita aqui não muda em nada.

–Quer um conselho? – perguntou – É bom querer porque vou dar do mesmo jeito. Comece a experimentar nesse mundo novo Tessa, até você descobrir o que quer. O Theo ganha bem e eu sei como vocês dois são unidos, vá viver um pouco Tessa. O trabalho prende tanto quanto o exército.

–Tem razão, é que eu não quero virar uma inútil Adam. Eu quero ser alguém.

–Meu anjo, viva e veja o que você quer para sua vida. Seu cérebro continua sendo brilhante, você é forte, rápida e solta fogo pelas mãos. Acha mesmo que não vai se encaixar no mundo?

–Acho que não – murmuro.

–Tess você é fantástica, ponha isso na sua cabeça – disse ele – Eu sei que vai achar algo, nosso mundo começou porque você arrancou a cabeça da líder da Cúpula – sorri – Vamos esquecer essas aulas por enquanto, porque não estuda o velho mundo?

–Pode ser uma boa ideia – sorrio.

[...]

Decidi ir para o governo visitar Theo. Não visitar, apenas ir ver como tinha ficado aquele prédio. Era um prédio espelhado de vários andares. Nossa cidade era comandada por aquele lugar.

Haviam alguns seguranças, não sabíamos se todos eram confiáveis. Subi no elevador panorâmico e fui até o primeiro andar. Havia apenas uma porta grande, bati duas vezes e Katrina me mandou entrar.

–Olha só quem finalmente apareceu – disse Rafaela – A vida sossegou e não vejo mais a criação perfeita por aí.

Em seis meses tinha vindo até o prédio três vezes, Katrina me irritava e Theo sabia disso por isso quase não aparecia.

–Gosto da vida sossegada – menti em termos.

–Pensei que estivesse estudando – disse Theo aparecendo.

–Estava, nós acabamos por hoje – menti novamente.

–Eu odiava ir à escola – sorriu Luce – Horas prostradas sobre cadernos. Mesmo a Cúpula sendo rígida, eu preferia passar os dias lutando.

Ela sim era agradável.

–Eu também – deixei sair sem querer.

Todos me olharam.

–Que foi? Eu gostava dos treinos – dou de ombros – Alguma novidade?

–Há um grupo de rebeldes no sul, não sabemos se pretendem nos atacar mas, cuidado é sempre bom – disse Katrina .

–Acha que é algo que devemos dar atenção?

–Não sei Tessa, sinto que algo ainda pode dar errado – disse Luce – Nem todos estão se dando bem, hora ou outra uma bagunça vai começar, foi por isso que fomos separados.

–Na segunda Theo e Katrina vão ao sul ver se é preciso de reforços – disse Rafaela.

Olhei para Theo.

–Excursão?

–Algo do gênero – sorriu Katrina.

–Sou ótima com armas – sorrio – Pode perguntar para qualquer um.

Ela me ignora.

–Menos violência – diz Theo afagando meu ombro.

–Sempre gostei de uma boa violência – sorrio.

[...]

Voltei para minha casa. Joguei-me no sofá da sala, fiquei no silêncio ouvindo a mim mesma. Como eu queria que Carolyn conversasse comigo.

Porque Theo não havia me dito que iria com Katrina aonde quer que fosse? Às vezes eu pensava que não conhecia mais ele. Não era aquele cara determinado e disposto a mudar. Ele se acomodou.

Eu o amo e sei disso. Mas às vezes penso que ele não me ama o tanto que diz amar. As coisas mudam, não posso culpá-lo. Eu fui à única que não me adaptei a esse mundo novo.

A porta se abriu e Lize entrou saltitando.

–Oi Tess, está triste?

–Não, estou bem – minto.

Lize franze a testa, ela sabia que é mentira mas não protestou contra minha afirmação.

–Vou fazer dever de casa, Adam me ama demais – disse rindo e subindo as escadas – Tenho lição até o mundo acabar.

Theo entrou pouco depois, sorriu e foi para a cozinha.

–Tem algo para jantar? – pergunta.

Ah seu cretino idiota, você me esconde coisas e pergunta se tem janta? Aquele foi o pensamento dentro de mim, na verdade eu apenas sorri e disse:

–Porque não contou que iria com a Katrina onde quer que fosse?

Ele vem até a sala.

–Achei que não fosse importante.

–Poderia ao menos ter me dito, só comentado – murmurei.

–Poderia ser você a ir comigo

Ele jogaria isso na minha cara de novo. Eu podia trabalhar no governo e sabia disso. Mas, eu não queria. Não era para mim. E ver Katrina seria uma tragédia.

–Eu só não quero trabalhar no governo. E ver aquela nojenta todo santo dia. Se você gosta tudo bem.

Ela era da idade de Theo, enquanto eu tinha apenas 20 anos. Talvez, os dois se dessem bem.

–Porque a odeia tanto?

–Por que ela gosta de você – reclamo – E eu odeio que gostem das coisas que eu gosto.

–E você acha que eu gosto dela?

–Eu é quem sei Theo? Você fica com ela o dia inteiro, transa comigo a noite e de manhã fica com Lize até a hora de ela ir para a escola me dá um beijo e eu só o vejo a noite e a única coisa que me pergunta é se tem janta? – digo, agora ele ouviria – Porra, que vida é essa que você quer? Eu não queria que o mundo tivesse ficado assim, nós éramos mais unidos.

–Tessa eu estou cuidando de algo importante. Sinto muito que eu tenha deixado você de lado, eu lhe amo e não é minha intenção. Sabe que posso desistir de tudo por você.

–Merda, você não entende mesmo. Eu não quero ficar aqui nessa casa presa, eu não nasci para ser isso. Cuidar de casa, eu sou um espírito livre. Quero lutar por algo, não ser deixada. Aqui eu não sou nada.

–Você precisa se adaptar. O mundo é novo. Aposto que você não iria querer ficar presa naquele lugar definhando para sempre. Aqui é bom Tess.

–Deixa para lá, você não entende mesmo – digo com um nó na garganta.

Vou para o quarto e me jogo na cama. Logo ele abre a porta e se deita ao meu lado. Eu estava de costas para ele, assim Theo não veria meu rosto.

–Eu só queria o meu Theo de volta – murmuro.

–Acha mesmo que eu deixaria de amar você? Para amar Katrina?

–Eu...Eu não sirvo para nada aqui a não ser ficar em casa e cuidar da Lize. Ela... Ela faz tudo – digo – Você gosta dela. Eu sei disso.

–Tessa que conversa é essa? Você está bem mesmo?

Não estou bem, esse é o problema.

–Nada, Theo – reclamo – Boa noite.

Puxo o cobertor para cima de mim e tento dormir, é melhor eu ficar quieta.