POV Theo

Voltei para a Cúpula. Não acreditava que tinha visto Tessa daquele jeito. Ela tinha razão, a pessoa que se intitulava Tessa não parecia ela mesma. Era mais que algo físico, ela estava mais cansada, agressiva e área. Isso deviam ser os remédios que davam constantemente.

Contudo, eu não me importava com isso. Não estava ligando se Tessa tinha uma ou duas pernas. Eu a amava do mesmo jeito. Mas, não aguentava ver ela definhando, minha garota morreria e não demoraria muito. Eu tinha que fazer uma coisa.

O governo ainda pagaria por fazer isso com as pessoas. Tessa não era a primeira e se eu não impedisse não seria a última.

Fora como uma grande carnificina no dia em que eles vieram buscar os outros sobrenaturais. Muitos morreram. Muitos se recusaram ir. Jovens cujo futuro fora tirado a força. Fora um dia violento e sangrento na Cúpula, marcas de sangue ainda cobriam alguns lugares.

Os recrutados estavam treinando arco e flecha. Aylin e Rachel não conseguiam se concentrar, elas tinham me ajudado nos últimos dois meses. Elas tornaram-se meus olhos e ouvidos por aqui. Mesmo porque a Cúpula tinha saído um pouco dos eixos.

Fiz um sinal com a mão e elas se aproximaram de mim, ambas não conseguiriam ter aula até perguntarem o que queria. Nós ficamos no fundo da sala.

–Como ela está? – indagou Aylin.

–Não tem como explicar – disse baixo – Está bem magra, fraca e com os cabelos bem curtos. Está diferente como pessoa. Tem marcas diversas pelo corpo.

Rachel era mais sentimental, vi seus olhos brilharem prestes a chorar.

–Nós podemos vê-la? – questionou Rachel.

–Tenho que falar com a Rafaela, mas não vejo porque ela iria contra a ideia – disse – Na verdade não sei se ela vai querer ver vocês.

–Porque ela não iria querer?

–Tessa está diferente, orgulhosa como é talvez não queria que vocês a vejam como ela está – constatei – Posso levar vocês até lá. Só que apenas posso fazer isso na próxima quarta.

Elas concordaram. Era fácil tirá-las daqui depois que os sobrenaturais foram descobertos.

–Como Lize está? – pergunto para Aylin que foi vê-la de manhã.

–A febre baixou – disse ela – Ela comeu hoje, precisamos do remédio certo.

–Isso é bom, espero que ela melhore – digo abrindo um sorriso – Vocês duas parecem cansadas, podem tirar o dia de folga. Vou falar com Rafaela para vocês irem ver Tessa.

De repente Rafaela entra gritando alegremente antes de eu encontrá-la.

–O governo caiu – ela diz alegre – Fourtword não existe mais.

–Como

–Os sobrenaturais se juntaram, o Aska tem agido com perfeição por lá. Os recrutados, que lá se chamam iniciados, causaram uma revolução e mataram os governantes. Ou seja, meu amor uma das divisões caiu. Aos poucos todas vão cair.

–A nossa é a mais forte, acho difícil...

–Exatamente, Luce a rebelde de Fourtword nos enviou uma carta. Quer paz entre as divisões. Concordei em darmos uma trégua se ela nos ajudar. Mandei a mesma carta a Sidartha e Palmwoods. Todos querem acabar com a Cúpula – disse – Palmwoods aceitou, temos duas divisões conosco Theo se Sidartha aceitar nós vamos derrubar o governo.

Uma revolução era isso que nós estávamos prestes a fazer. Todos na sala gritaram. O governo estava perto de ser derrubado.

–Acho que é a melhor notícia que eu recebo – disse Rachel – Viver em um mundo onde somos livres.

–Ser livre tem o seu lado ruim, toda liberdade vem acompanhada de algo indesejado – diz Rafaela.

–Qualquer liberdade é melhor que nenhuma – digo dando de ombros.

Uma guerra nunca deixa de ser uma guerra e derrubar a Cúpula vai custar muitas vidas, muitos sonhos. Talvez, nós nunca iremos conseguir esse prazer.

Quando nós separaram em divisões a intenção era que ficássemos presos e injustiçados. Não são algumas armas, bombas e recrutados que vão pará-los. Eles estão preparados contra nós, mas nós não estamos preparados contra eles.

Rafaela estava feliz, mas meu pai sempre dizia que os animados eram os primeiros a morrer. Precisaríamos de estratégias ágeis e precisas para vencê-los.

Entretendo, eu poderia dizer qualquer coisa naquele momento. Qualquer coisa mesmo. Ninguém me daria ouvidos. A esperança de um futuro longe de tudo isso era maior que a minha negatividade.

Só uma pessoa concordaria comigo e ela não estava aqui. Tessa me entendia com perfeição o que eu queria dizer e certamente estaria com mesmo sorriso cínico que eu. E depois que nós saíssemos de perto de todos ela me diria “Que ideia idiota, estou pagando para ver eles derrubarem o governo” e nós dois iriamos dar risada e quem sabe eu beijaria seus lábios.

Imagino que demoraria para Tessa voltar a sorrir, demoraria para ela fazer qualquer coisa normal. O tapa que ela tinha me dado ainda estralava em meu rosto. Outros garotos ficariam nervosos por levarem um tapa, mas eu não. Eu tinha ficado feliz, isso queria dizer que ela gostava de mim o suficiente para sentir minha falta. Gostava o bastante para achar que eu a tinha abandonado.

A sala estava em silêncio novamente, olhei ao redor. Todos tinham ido embora, inclusive Aylin e Rachel. Adam entrou silenciosamente, ele era um dos únicos que eu chamava de “amigo” desde que fui destinado para ser um líder ele tentava falar comigo, eu sempre fui insuportável contudo todo coração amolece de um jeito ou de outro.

–Perdeu a noção do tempo? – perguntou ele.

–Acho que é mais ou menos isso – dou de ombros.

–Aposto que está pensando na sua garota – sorriu.

–E tem como não pensar na Tessa?

–Ela está muito mal?

–Está irreconhecível – digo com dor – Ainda é a minha Tessa, mas tenho medo de que ela não aguente e morra.

–Ela é forte, Theo não vai morrer tão fácil – tenta me confortar – Vocês ainda vão ser muito felizes juntos. Sabe que pode contar comigo?

–É eu sei, mas sempre que você me diz isso quer algo em troca – sorrio.

Adam sorri.

–É você me conhece bem, cara – disse ele – Para começar podia falar bem de mim para a amiga da Tessa.

–Quem? Rachel?

–Não, a Aylin.

–E você está apaixonado por ela – falei brincando.

–Não tem como não se apaixonar – sorriu.

Ambos sorrimos. Contudo, nada daquilo me deixava melhor. Quem eu queria não estava aqui.