Ao chegar em casa, Igor já encontrava a sua mãe na mesa de jantar almoçando sozinha. Ele não gostou nem um pouco daquilo, era sinal de que ela já estava de mal humor. Tentou fazer o menor barulho possível, mas sabia que ela já tinha notado a sua presença, mas apesar disso, ela não desviou o olhar de seu prato.

Isabela tinha montado a mesa e de propósito tinha colocado o prato de seu filho vazio a frente dela, evitando que ele fosse pegar um prato na cozinha, ou que ele se desviasse de algum modo. Igor bufou, sabia que teria que encará-la e enfrentar a bronca. Aproximou-se da mesa e pegou seu prato silenciosamente, como se nada de mais tivesse acontecido. Sua mãe continuou muda, mas ele não se atrevia a falar nada.

Depois de montado seu prato, ambos terminaram o almoço silenciosamente. Aquilo era pior do que ele poderia imaginar, preferia que sua mãe falasse algo, mas ela estava esperando que ele desse o passo e Igor sabia disso.

– Aconteceu alguma coisa, mãe? – perguntou ele sabendo da resposta. Sabia que a diretora tinha ligado para ela comunicando-lhe de seu atraso.

– Diga-me você, aconteceu algo? – perguntou lavando o seu prato, sem olhar para Igor.

Aquilo estava o matando por dentro.

– Nada de mais, eu acho – arriscou ele na resposta.

– Estranho, a diretora do colégio ligou para mim no meio do meu trabalho, comunicando seu extremo atraso. Pode me explicar isso?

Igor se sentiu menor naquele instante e envergonhado de alguma forma. Porém não pode estranhar o mau humor excessivo de sua mãe somente por ele ter se atrasado no primeiro dia de aula.

– Acordei atrasado. Estava tudo escuro, achei que ainda estava muito cedo... Perdi a hora – explicou ele.

Sua mãe balançou a cabeça e terminou de lavar os pratos ainda muda. Subiu para o seu quarto e fechou a porta. Igor continuou sem entender porque ela estava agindo daquele jeito. Ele lavou seu prato e subiu para o seu quaro. Largou-se na cama e ficou olhando para o teto de madeira mal pintado.

Seu primeiro dia de aula não poderia ter sido pior. Além de ter chegado atrasado, se confundia com o seu horário. Todos os alunos ali pareciam ignorá-lo. Ele passou a manhã toda de mau humor e detestou ser apresentado pela turma. Uma coisa notória era que os alunos de sua classe pareciam menosprezá-lo pelos elogios que os professores davam-lhe de suas notas e por estar mais adiantado que a classe.

Igor ficou no fundo da sala, na maior parte do tempo olhando para a vista de uma das gigantescas janelas, pois os professores explicavam coisas que ele já tinha visto. Vários professores chamavam a sua atenção, alguns pediam para que ele explicasse o que estava sendo ditas. Sem que estivesse debochando, de fato, Igor conseguia explicar o que estava acontecendo na sala de aula.

No intervalo, Igor se sentiu perdido, ninguém tinha se habilitado a ajudá-lo a andar pelo colégio. A estrutura era absurdamente grande, mas não pode deixar de admirar a estrutura antiga do prédio. Os grandes arcos e colunas que havia ali, permitiam-lhe a voltar para o passado, no tempo da corte, talvez. Já que ele não poderia contar com a ajuda de ninguém, ele se guiava pelas placas que o colégio disponibilizava. Foi assim que encontrou a monstruosa biblioteca de dois andares e por lá ficou... Até perceber que estava atrasado par voltar as aulas.

Uma batida na porta fez seus pensamentos serem interrompidos. Ele se ajustou na cama e esperou a porta ser aberta. Era a sua mãe ainda com seu rosto mau humorado.

– Estou voltando para o trabalho... – falou ela como se estivesse sendo obrigada a dar satisfação a alguém.

– Ok – respondeu Igor sem graça.

Antes que pudesse fechar a porta sua mãe falou:

– Obrigada por se lembrar do meu aniversário! – e fechou a porta com força.

Igor deitou-se na cama sem acreditar que tinha esquecido o aniversário dela. Agora ele poderia compreender o seu mau humor.