Igor e Laura saíram da igreja às pressas a mudança de humor do padre foi tenebrosa. Para Igor foi um tanto ameaçadora. Do lado de fora, Laura esbanjava um rosto mais agradável, como as coisas estivessem melhorando.

– Sabemos que o espírito só aparece no nevoeiro, então com certeza aconteceu algo nesse período– falou Laura um pouco mais esperançosa.

Eles dois andavam lentamente sobre a rua um pouco mais movimentada.

– Sim, sabemos a ação dele, mas não sabemos o porquê eu ser a vítima – questionou Igor passando a mão na testa.

– Isso só iremos descobrir quando encontrarmos a raiz dessa história – comentou Laura – mas onde?

– Podemos ver algo na internet – disse ele.

Laura concordou e juntos foram andando até a casa dele. Igor destrancou a porta e, ao adentrar, percebeu que a sua casa estava mais fria do que a temperatura do lado de fora. Ele gritou por sua mãe, mas Isabela não respondeu. Ela ainda não tinha voltado do trabalho.

– Espero que não esteja com muita fome – comentou ele sem jeito, olhando para o relógio, percebendo que já passava da hora do almoço.

– Não, não, obrigada. Um copo de água natural já basta – disse Laura simpaticamente e olhando ao redor da casa.

Igor pegou um copo no armário e o colocou em cima do balcão. Laura voltou sua atenção a cozinha e aproximou-se de seu copo, esperando que Igor colocasse a água. Antes que Igor despejasse o liquido no copo, repentinamente o copo havia rachado.

O copo acabara de trincar diante dos olhos deles.

Tanto Igor quanto Laura ficaram impressionados com a cena. Igor pegou o copo e o olhou mais de perto. O copo havia rachado com violência, como se houvesse sofrido alguma pressão. Igor parecia bastante curioso com o fenômeno. Laura tinha o rosto mais preocupado.

– O que foi? – perguntou ele pousando o copo.

– Minha mãe diz que pra saber se existe um espirito ruim por perto ou na casa, um dos sinais que apresenta é o vidro se quebrando ou trincando. A energia é tão pesada que o vidro, sendo um material sensível, quebra – disse ela.

Igor poderia dizer que o que ela acaba de dizer era besteira, mas do jeito que as coisas estavam poderiam ser verdade. Não querendo que o clima ficasse tenso e que o foco não fosse desviado, ele pegou um copo plástico e levou a garrafa d’água com ele, pedindo para que ela o seguisse para o seu quarto.

Ao abrir a porta, Igor ficou envergonhado pela bagunça que estava o seu quarto. Havia roupas jogadas por todos os lados. Ele recolheu tudo rapidamente e jogou tudo para dentro do guarda-roupa. Quando virou-se para Laura, ela tinha um rosto divertido.

– Eu arrumo minhas coisas mais ou menos assim – anunciou ela, deixando Igor mais sem jeito ainda.

Ele sorriu desconcertado e puxou uma cadeira para perto do computador para que ela se sentasse. Os dois esperaram o computador iniciar e conectar a internet. Igor entrou no site da Google e ficou olhando para a barra de pesquisa.

– O que foi? – perguntou Laura.

– Como vamos pesquisar isso? – respondeu ele com outra pergunta.

A pergunta pegou Laura de surpresa, ela não sabia como poderia fazer aquela pesquisa, mas sabia como poderia filtrar.

– Vamos filtrar informações. Sabemos que Arvoredo é a cidade mais assombrada da América Latina, então vamos pesquisar sobre as lendas famosas da cidade. – falou ela.

Igor pesquisou “Lendas de Arvoredo” e uma serie de links correspondidos a pesquisa ou simplesmente de palavras soltas surgiram na tela. Eles olharam alguns links que contavam as histórias e lendas da cidade. Nenhuma delas o nevoeiro era citada. Aquilo fez com que os dois se desanimassem. Eles tinham encontrado apenas uma matéria que houve algumas mortes na época do nevoeiro.

– Incêndio destrói e mata pessoas – tinha lido Laura – o incêndio que aconteceu na antiga prefeitura da cidade foi decorrido a um curta circuito no sistema que fez o fogo se alastrar rapidamente. No dia desse acidente, um grupo de estudante fazia uma excursão. O acidente aconteceu na “Época do Nevoeiro” – concluiu ela lendo um pequeno trecho.

Igor e Laura ficaram surpresos com a escassez de informações de lendas na cidade no período do nevoeiro, mas aquela matéria o chamaram bastante atenção.

– Curioso isso, não? – comentou Igor olhando para a foto em preto e branco. Apesar da foto não ser muito clara, havia detalhes extremamente familiar nela. – Me parece familiar esse prédio.

– É o nosso colégio – disse Laura – Lembra que o professor disse? Que o nosso colégio era uma prefeitura tempos atrás.

– Sim lembro... Será que a alma que me persegue é desse acidente? – perguntou Igor.

– Porque deveria de ser? – perguntou Laura sem entender onde poderia ter lógica naquilo.

– Bom, foi a única coisa que encontramos sobre o nevoeiro e mortes. A data do acidente é bem antiga. Isso pode ter acontecido com outra pessoa no decorrer dos anos – comentou ele ainda olhando para a foto.

Laura ficou estática e refletiu sobre. Poderia ser que ele estivesse certo. De todas as lendas, nenhuma delas falavam de almas que perseguia no nevoeiro ou na época do nevoeiro. O fato de ter acontecido algumas mortes nesse acidente poderia ter alguma logica. Mas porque uma alma perseguiria Igor?

– Quando foi o acidente? – perguntou curiosa.

Igor deu uma pesquisada melhor sobre o acidente respondeu:

– Foi em 1902 – disse ele.

– Uau, muito tempo. Isso é mais fácil para nós resolvermos. Vamos para o cemitério novamente e vamos procurar as tumbas datadas nesse ano – falou Laura já planejando o próximo passo.

– Mas pode ter morrido muita gente nesse ano. Não acha melhor filtrarmos mais? – comentou ele.

– Como vamos fazer isso? Nenhum site diz os nomes das vitimas que morreram no acidente.

O argumento de Laura foi forte e deixou Igor quieto e pensativo mais uma vez. Sempre tinha a sensação de que quando estava prestes a descobrir a causa daquilo tudo, a resposta escapava-lhe da mão. Era como se tentasse pegar fumaça no ar. Mas antes que pudesse se desanimar veio-lhe algo na cabeça:

– A biblioteca... – comentou ele pensativamente.

– O que tem ela?

– Quando eu fui visita-la havia vários livros velhos e alguns documentos literários em conservação. Aposto como lá deve ter registos mais detalhados do acidente – comentou Igor recuperando o animo.

Laura não disse nada. Apenas sorriu para ele, surpresa e orgulhosa.

– Vamos! – disse ela se levantando e jogando a bolsa nas costas.

– Para onde? – perguntou ele espantado com a sua ação repentina.

– Para a biblioteca!