I Will Turn This Moon In Ours escrita por Maria Clara


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Leiam com a música de fundo. Ela é extremamente importante para a apreciação completa da história. Não se esqueçam de abrir em nova aba para não serem direcionados para fora da página. Boa Leitura!



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"Tonight I promise you, that someday, the moon that dwells this starry and dark sky will be all ours."

Hoje foi um dia preguiçoso. Sábados sempre são. Assim como os domingos da vida. O complicado foi acordar cedo após o show da Jesuton de ontem. Não pelo show ter sido tarde, mas pelo fato de tudo que aconteceu. A conversa que tive com Giane, e a troca de carícias se remexiam em minha mente em um loop eterno. Além daquele questionamento constante que insistia em retornar toda vez que a face de Giane aparecia em meus confusos pensamentos: E se? E se eu realmente fosse filho do Plínio? E se o incêndio na Toca não tivesse ocorrido? E se eu não tivesse ficado feito um mendigo, vagando sem rumo, passando frio e fome? E se Giane não tivesse me salvado? E se eu não tivesse me apaixonado? E se eu a tivesse beijado ontem?

É tudo ainda muito novo e complicado pra mim. É ainda mais difícil de acreditar que se eu fosse filho do Plínio, hoje eu não estaria aqui. Nesse bairro que eu sempre odiei, mas que agora carrega todos os meus sentimentos. Sentimentos que nutro por minha mãe, pela Irene, pela Malu, pelo meu trabalho e principalmente por aquela tranqueira com o nome de Giane e se diz ser menina. A menina-macho mais linda do mundo, me atrevo a dizer.

Recostei a cabeça no banco da praça e encarei a lua já bem alta. Era começo de lua cheia e sua luz natural preenchia todo o espaço. As poucas estrelas pulsavam tímidas e frágeis afastadas com medo da soberania da mesma.

Ri ao me lembrar da conversa que tive com Giane naquele mesmo lugar tendo a lua como plano de fundo e assunto assim como hoje.

Comecei a brincar de contar as estrelinhas, procurando por algo que pudesse ocupar ou até mesmo distanciar minha mente da maloqueira. Mas é claro que não seria tão fácil. Até porque sua cabeça apareceu como mágica sobre a minha.

– BU!

– Sabe que você já está ficando previsível? – Indaguei. Ela fez cara de confusa. – Toda vez que venho olhar o céu, você me aparece da mesma forma. – Comecei a rir quando reparei em sua cabeça acima da minha.

– Que foi? – Perguntou.

– Tá parecendo que você é uma cabeça flutuante. – Ela bufou e veio sentar ao meu lado.

– Mas é mesmo muito maduro da sua parte. – Apoiou a cabeça também no banco. – Aliás, não tenho culpa se você anda todo sensível olhando para o céu toda vez que eu vou fechar a Acácia.

– E porque não fica na sua e vai pra casa direto? – Claro que queria a companhia dela, apenas não podia admitir tão abertamente.

– Grosseria mandou lembranças. – Falou emburrada.

– Falou aí a mais meiga e gentil da Casa Verde. – Rebati, mas assim que me encarou mortalmente parei com as provocações.

http://www.youtube.com/watch?v=fd0vYsoiiVk

(Northern Downpour - Panic! At The Disco)

Depois de alguns minutos em silêncio olhando para o céu e observando as copas das árvores balançando fervorosamente, ela resolveu se pronunciar novamente.

– O que você tava fazendo quando cheguei?

– Contando estrelas.

– Sabia que se apontar dedo pra estrela nasce uma verruga na ponta? – Falou em meio sorriso.

– Não seja ridícula. – Gargalhei. Mas um momento de silêncio se seguiu até eu a flagrar tentando contar as estrelas. Ela bufava contrariada e recomeçava a todo o momento. – Você não tá fazendo certo.

– Ah, senhor dono da verdade! Então porque não mostra a forma “certa” de se contar estrelas. – Enfatizou fazendo asteriscos imaginários no ar com as mãos.

Peguei suas mãos, coloquei uma sobre seu olho esquerdo e na outra estiquei o dedo indicador em direção ao céu.

– Se você ficar com os dois olhos abertos se perde facilmente. Tenta agora. – Observei o encantamento em seu sorriso quando ela conseguiu as contar. – Fica chato depois de um tempo porque não dá pra contar todas.

– Essa é graça. – Riu enquanto ainda apontava para elas. – Se tivesse um final nunca teríamos que recomeçar e seria simples demais. Complexidade às vezes faz bem. – Sorri com seu comentário tão pertinente ao nosso relacionamento.

– Já reparou que a lua fica menor a medida que vai ficando mais alta no céu? – Perguntei. Ela riu.

– Ok, isso é totalmente estranho, mas já ouvi esse seu diálogo em um filme. – Prestei atenção curioso. – É por conta do seu ponto de vista. Não importa o momento em que você a olha, nem onde você esteja, a lua é sempre do mesmo tamanho. – Se você levantar o seu polegar até o céu, e fechar um dos olhos, verá que ela sempre será menor que seu polegar. – Demonstrou fazendo e pediu para que eu fizesse.

– Aprendeu isso no filme também? – Ela confirmou com a cabeça. – Interessante. – Sorri e ela retribuiu.

Cansada, ela fechou suas pálpebras e começou a cantarolar uma canção. A encarei maravilhado e curioso. Quanto tempo levaria até eu conseguir descobrir todas as facetas que ela escondia? Provavelmente nunca. E isso me trazia um estranho tipo de conforto e felicidade. Como se eu precisasse do mistério que a envolvia para conseguir respirar.

– Minha mãe cantava essa música para mim quando eu era bem pequena. Ela a inventou e ninguém jamais a ouviu além de mim. Mas o tempo me fez esquecer a letra. – Sua voz embargava e temi que ela começasse a chorar. Não estou preparado para vê-la chorar. Não chore. Ainda não. – Sei que tem a ver com a lua porque nós nos deitávamos no chão do quarto, ela cantava a música e sempre me falava depois que não importava onde ela estava, se eu conversasse com a lua, eu também estaria conversando com ela. – Eu não me lembrava quando a mãe de Giane havia morrido. Eu era muito jovem, assim como ela. É compreensível que não se lembre da música. – Desculpe estar te enchendo com minhas baboseiras. Você tem preocupações maiores que ouvir uma música. – fungou.

– Tudo bem. Não se preocupe comigo. – Sempre seria essa pessoa desajeitada quando se trata de sentimentos, mas sei que será melhor ela ouvir isso de mim, do que qualquer baboseira que saia de minha boca.

O tempo passava sem escrúpulos quando a tinha do meu lado. Olhei no relógio e percebi ser quase 10 horas da noite. O vento soprava frio contra a pele dos desavisados e algumas folhas das árvores se esticavam contra seus galhos, tentando escapar das amarras que os mantinham juntos e finalmente se soltarem e conseguirem sair voando levemente até pousar em um lugar qualquer, e esperar que outra brisa forte surgisse para experimentarem a liberdade novamente.

Respeitei seu momento e resolvi me pronunciar novamente.

– Porque você não faz um pedido à lua? – Demonstrou confusão. – Aquele dia você me falou para fazer um pedido à ela. Eu fiz e por incrível que pareça, está se realizando aos poucos. – sorri. – Agora é a sua vez.

– Naquela noite eu também fiz. – respondeu. – E também está se realizando. – Sorriu tímida.

– E se reforçássemos ele essa noite, pra quem sabe ele se realizar logo de uma vez.

– É uma ótima ideia. – Ela se ajeitou. – Mas espera aí.

– O que?

– Ouvi dizer que fechar seus olhos e esticar seu braço e imaginar que você consegue pegar a lua a fechando em sua mão enquanto faz o pedido é mais eficaz.

– Assim? – Perguntei enquanto fazia da forma que ela descrevia.

– Não se esqueça de fechar um olho para a lua não fugir de suas mãos. – Ela colocou delicadamente sua mão em meu olho. Retribui colocando a minha em seu. – Agora feche sua mão ao redor dela e faça seu pedido com muita força de vontade. – Antes que ela esperasse, peguei sua mão e a fechei com a minha. As levei em direção à lua e senti sua mão se fechando ao redor dela. Dois pedidos em um só. Como se já fôssemos ligados. Eu me sentia como parte dela e sabia que ela se sentia parte de mim enquanto a lua nos uniu.

Fizemos o mesmo pedido. Desejamos que nos pertencêssemos. E a lua o realizaria.

Desci nossas mãos de volta ao chão, e ela se soltou. Mas logo depois a pegou e entrelaçou seus dedos nos meus. Continuamos a encarar a lua em sintonia.

Espero algo diferente acontecer. Algum sopro de esperança vindo do norte. Alguma faísca de possibilidade. Algum tremelicar de palavras. Mas nada ocorre.

Tudo que recebo da lua no momento é a vontade incontrolável de olhar para a garota deitada ao meu lado. Os olhos fechados serenos, o luar refletindo em sua pele, a cabeça inclinada em direção ao céu, o vento chicoteando seus cabelos e um leve, quase invisível sorriso. E para mim, isso basta por enquanto.

Fizemos um pedido para a nossa lua. Ela só não sabe que é nossa ainda.


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Notas finais do capítulo

Notinhas básicas:Na novela, pelo que eu me lembre, a mãe da Giane morreu no parto (não me matem se eu estiver errada, please), mas eu quis montar um draminha por de trás de toda essa história de pedido pra lua porque eu achei tinha potencial.A história do polegar sobre a lua vem da história de Dear John (Querido John), mas a maioria de vocês deve ter percebido esse fato.Por favor, comentem, recomendem e divulguem a história se ela foi do agrado de vocês. É importante para mim, saber se estou caminhando com a minha escrita no sentido correto. Obrigada pela paciência e até breve. Beijos.