Os dias de Giane e Fabinho em Santa Cruz de La Sierra eram tranquilos. Ela passava a maior parte do tempo dormindo ou vomitando, já que havia entrado na fase dos maiores enjoos. Já o rapaz ficava desenhando, o mais próximo que ele conseguia de seu trabalho como criativo de uma agência.

E às vezes, quando Giane estava bem disposta, os dois saiam para a cidade. A corintiana estava adorando fotografar os lugares turísticos, e adorava fotografar Fabinho neles. Ele havia se tornado seu modelo favorito, e isso só fazia piorar o ego dele.

_ Se nosso filho puxar a minha beleza, o moleque vai ter o mundo de mulheres aos pés dele. – ele alfinetou, enquanto caminhavam pela avenida principal da cidade.

_ Cara, eu acho que eu preciso comprar umas roupas. – ela fez careta. Compras ainda não era a atividade favorita dela.

_ Realmente, seus peitos já estão caindo para fora dessas blusinhas que você usa. – ele alfinetou, recebendo um soco na costela – Mas eu devo dizer que eu estou gostando da sua barriga...

_ Eu também. Ela está tão durinha, tão redondinha... – ela acariciou a barriga, e ele acariciou por cima.

_ Isso porque cê só tá de 11 semanas. Imagina quando tiver, sei lá, na vigésima, e ela estiver mais visível. Ou quando ele chutar. Eu vou adorar ele chutando sabia?

_ Mas cê tá me saindo um babão melhor que a encomenda, pelo amor de Deus. – a garota puxou o namorado pela mão até uma loja de gestantes.

_ Ô pivete, acho que mesmo que você esteja prestes a dar a luz, isso vai ficar enorme em você. – ele segurou um vestido florido em frente ao corpo – Acho que para mim fica uma tenda.

_ Claro né, isso ai é tamanho GG. – ela puxou um tamanho M – Acho que eu vou levar... Quando eu estiver com uns oito meses vai ficar legal.

_ Que tal você comprar umas roupas pra agora... Lá na Holanda você vai comprando roupas conforme seu bucho for aumentando.

_ Vou te mostrar o bucho. – eles caminharam para o caixa, passando as roupas que ela havia separado para levar – Mas nós podemos passar naquela loja de bebês na esquina? Eu to ficando aflita porque ainda não compramos nada para o bebê.

_ Giane, faltam mais de seis meses para ele nascer, se acalme. – Fabinho riu, enquanto passava o cartão.

_ Fábio, você quer que nosso filho nasça sem roupas? Sem nada? É isso? – ela perguntou, com os olhos cheios de água – Porque você não ama ele?

O rapaz bufou, vendo a vendedora da loja rir. Nos últimos dias, o humor da namorada passara a ser instável como uma bomba relógio. Em um momento ela estava aos prantos, no outro lhe dando socos na cara e no estomago, para logo depois estar gargalhando e praticamente arrancando a roupa dele, não importando onde estivessem.

_ Ok tranqueira, vamos comprar algumas roupas pro Feijãozinho. – ele pegou as sacolas, entrelaçando os dedos com a namorada e saindo da loja. Ela só faltava pular de animação, mais parecendo uma criança, e ele começou a se perguntar que raios de hormônios o bebê estava produzindo nela.

_ Nós vamos no médico amanhã, não é? – perguntou ela, e ele concordou.

_ Precisamos ter certeza que está tudo bem com o bebê, para poder enfrentar aquela viagem enorme de avião até a Holanda.

_ E nós vamos ouvir o coração dele de novo. – os olhos dela brilharam – Eu to tão ansiosa pra ele mexer.

_ Eu disse isso mais cedo. – ele fez cara de pensativo – Ah, e precisamos tirar uma foto hora que chegar em casa. A Malu já me mandou um e-mail cobrando a dessa semana.

_ Pois é, já tá dois dias atrasado. – eles entraram na loja – Droga, acho difícil acharmos alguma coisa do Timão aqui.

_ Graças a Deus né. Nosso filho tem que nascer como uma criança normal, não como aquelas crianças que a gente vê aos prantos nos estádios, que os pais malucos levam.

_ Ah, mas assim que ele fizer um aninho, vai comigo para o estádio para assistir o sagrado Corinthians. – ela alfinetou, enquanto começavam a olhar as roupinhas.

_ Nós voltamos a conversar no futuro, ok? – ele apanhou um par de macacões, rindo – “Mi padre es un gato” e “Mi madre es una gata” e nas costas um gatinho. Eu gostei.

_ Procure uma que diga “meu pai é um fraldinha egocêntrico que quer que eu ande por ai falando bem dele”. – ela rebateu rindo.

_ Hey, temos uma sobre você também, está vendo? Mamãe e papai. Tá vendo. – ele balançou as roupinhas na cara dela, fazendo-a rir – Cara, é estranho isso.

_ O que é estranho. – a garota quase estava com a cabeça enfiada em meio as roupas.

_ Pensar que eu sou o papai. – ela ergueu o rosto, gargalhando.

_ Eu sei. Cada vez que eu vejo um desses e penso que eu sou a mamãe, eu caio na risada. – ela mostrou a roupinha que ele havia separado – É só que... Cara, eu não sei nada que precisamos comprar pro Feijãozinho, não sei que tipo de roupa ele vai precisar... Eu não sei nada sobre ser mãe.

_ Como é o nome daquele livro... Ah, “O que se esperar quando se está esperando”. – ele estalou os dedos, a puxando pela mão em direção ao caixa. Pagou os dois macacões e saiu puxando a namorada até a livraria mais próxima.

_ Ô cabeção, os livros aqui são todos em espanhol, esqueceu? – perguntou Giane, e ele revirou os olhos – E na Holanda vão ser todos em holandês.

_ Se você esqueceu, eu sei um pouco de espanhol. Dá pra gente se virar, pelo menos até eu pedir pra Irene mandar um em português pra gente. – ele falou com a vendedora, que os levou até uma sessão específica de livros pais e filhos.

_ Olha, tem alguns em português. – ela mostrou para ele, separando três livros.

_ E eu achei o que estávamos procurando... – ele mostrou o livro para ela – Vamos para casa? Quero começar a ler logo.

_ Olha, quem diria hein? O fraldinha quer estudar... – ela riu, mas concordou. Também estava ansiosa para começar a ler os livros.

Pegaram o carro que estavam usando e voltaram para a fazenda. Elsa, a mulher que cuidava da casa, já os esperava com o almoço pronto, e havia caprichado como sempre.

_ Está delicioso Elsa. – Giane agradeceu, enchendo a boca de comida.

_ Tudo para nosso querido Feijãozinho crescer forte e saudável. – a senhora respondeu com um forte sotaque espanhol – Agora, se me dão licença, vou preparar um bolo.

_ Cara, eu juro que podia viver assim para sempre, mas eu estou sentindo falta de trabalhar, de criar. – Fabinho comentou, folheando o livro – Caramba estrupício, é até legal pensar que tudo isso está acontecendo dentro de você. Faz você parecer uma menina.

_ Ah, vá te catar seu idiota. – ela jogou uma batata nele, que riu – Bom, eu já acabei... Vamos tirar logo a foto e mandar pra Malu. To curiosa pra ter notícias deles.

_ Bom, eu vi que tem um e-mail, mas ainda não abri. – Fabinho ergueu o celular.

_ Então abre logo né panaca. – ele revirou os olhos, abrindo o e-mail de Malu e sorrindo – Que foi?

_ Fizeram a cesárea da Irene hoje de manhã... A Malu mandou um e-mail para avisar e mandar uma foto do Marcos. – ele virou o celular para a namorada, mostrando a foto do irmão caçula – E não é que o moleque é fofo?

Giane soltou um guincho de fofura, puxando o celular para si e começando a babar na foto e chorar.

_ Eu quero falar com eles. – ela choramingou, e ele riu.

_ Eu vou ver se consigo ligar. – ele saiu da sala, e ela se levantou para acompanhá-lo, mas mudou de roteiro. Ele suspirou – Depois que eu segurar seu cabelo e você vomitar horrores.