O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 16
16


Notas iniciais do capítulo

A cidade grande



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Ao chegar à cidade grande, fui conduzida diretamente a um local que seria meu quarto, recebi ordens imediatas que deveria despir-me de minhas vestes simples e tomar um bom banho que logo minha tia Helena providenciaria roupas que combinassem com a situação que iria viver. Antes da viagem eu tinha pintado minhas unhas dos meus pés de vermelho na tentativa de embeleza-los e por isso fui duramente repreendida.

Tia Helena mal havia chegado em seu ambiente e já estava com as garrinhas de fora. Senti-me realmente como uma intrusa naquele ambiente luxuoso, espaçoso, repleto de mobília valiosa que fora planejada sob medida.

Faltavam poucos dias para iniciar as aulas e a minha dor interna não passava, doía-me toda de saudade, sentia tanta falta de tudo, sentia-me desfalecer. O esposo de Helena, Jorge era um senhor alegre, simpático e muito charmoso, ele quase sempre estava de bom humor, e quando chegava enchia a casa de alegria, minha tia Helena era uma senhora muito disciplinada, rigorosa e exigente.

Eu procurava fazer tudo da melhor forma possível para não receber reprimendas, mas quase nunca isso ocorria, pois meu comportamento era quase sempre inadequado, eu era a menina pobre tentando sobreviver à rotina de pessoas adaptadas a uma vida luxuosa. Eu não tinha modos, falava alto, não tinha etiqueta.

Eu sentia tanta vergonha de mim mesma e de tudo que quase sempre nem comunicava direito, apenas o básico, andava quase sempre de cabeça baixa, por vezes era chamada de jacu por minha tia Helena. Eu não conseguia ver nem sentir nela nada que se assemelhasse a sua mãe, minha avó tão doce, meiga e compreensiva.

Quando as amigas de Helena a visitavam perguntavam quem era eu, se era a filha da empregada, minha tia sem jeito dizia:

__Não. Essa é minha sobrinha.

Logo recebia olhares maliciosos de desdém como se quisessem dizer-me: O que ela faz aqui? Nossa! Não sabia que você tinha uma sobrinha com essa aparência de pobre. – A partir disso sempre que chegavam visitas eu me isolava no quarto e só saia de la quando não ouvia mais nenhum barulho. Minha tia perguntava onde eu tinha estado e eu falava, ela nada dizia só me olhava.

Após uma semana da minha estadia na rica casa, a empregada doméstica de Helena pediu demissão, já era a terceira em menos de mês. Helena reclamava de todas que eram sebosas e preguiçosas por isso eram o que eram. Geralmente sentia-me muito mal com isso, pois conheci a ultima Jacinta, e para mim ela era boa, não sabia avaliar eficiência essas coisa que as patroas falam com tanta propriedade.

Nesse tempo toda a minha espontaneidade e alegria deram lugar a tristeza e quietude, fazia quase tudo mecanicamente, somente o necessário para manter-me viva, quase não comia e não achava graça em nada, chorava todas as noites. Vi toda a beleza dos moveis, da casa, dos jardins, mas eles para mim não tinham vida, eram frios.

Helena criticava-me duramente quanto ao modo de vestir, andar e comportar sentia-me acabrunhada, com tanto espaço na casa eu estava oprimida, rezava dias após dias a reza de minha avozinha. Todo o esforço da minha tia era para tornar-me uma pessoa melhor, mas tudo isso machucava-me muito.

As aulas iniciaram e eu tinha dois pares de roupas novas e um uniforme de escola pública. Ficava sempre calada na aula, não interessava-me quase nada, mas como nada dura para sempre o sol começou a aquecer-me e derrubar a montanha de gelo que eu havia construído dia após dia dentro de mim, esse sol tinha nomes: Cynthia, Cristiane e Fernando.

Meus colegas de classe.

Cynthia a mimada riquinha que iria reprovar na escola particular e tentava se salvar na escola pública. Cristiane, doce amiga, parecia uma sereia, se houvesse uma sereia humana ela seria a forma perfeita, foi a melhor amiga, uma loirinha com de cabelos extremamente lisos e compridos, era mesmo linda, era calma e doce, muito educada, não se via nela gestos bruscos, e era dona dos olhos azuis mais azuis que já havia visto e Fernando, ahhhhh, Fernando era minha inspiração para estar viva.

Aos poucos minha alegria de viver foi voltando, já gostava de ir para a escola, nossa professora era maravilhosa Dona Mariley. Na escola era onde eu respirava melhor, as crianças brincavam e nem se preocupavam com roupas, esmaltes vermelhos, etiquetas, só queriam se divertir, o meus dias cinzas aos poucos foram ficando cor de rosa.


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