Lost Scenes escrita por Quaeso


Capítulo 3
Vou voltar.. Eu prometo


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo tem mais suspense.. mas acho que vão gostar :*



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Quando as lágrimas cessaram em nós dois, eu o Gus voltamos a conversar. Dessa vez estava preparada para algo relativamente sério e difícil de falar. Devo ter feito uma careta estranha, porque o Gus olhou para mim e sorriu, encontrando meus lábios nos seus.

– O que foi? - murmurei, com nossas bocas ainda coladas.

– Não faça essa cara Hazel, o que eu disse não foi para fazer você se preocupar.

– Mas..- protestei.

– Nada de mas. Vem vamos andar mais um pouco - disse, me puxando pela mão direita.

Assenti, sem querer discutir.

– O.K.

Não importava quantas vezes observava aquele lugar, ele sempre conseguia tirar meu fôlego, mas a paisagem só ficava perfeitamente completa com o Gus ao meu lado. Lá não existia o sol, só um calor que aquecia nossos corpos, e a luz que refletia no rosto do Gus fazia com que ele parecesse um anjo querubim, incrivelmente belo. Me deparava ás vezes comigo olhando fixamente para ele, esquecendo totalmente o lugar ao nosso redor. Queria que durasse para sempre aquele momento. Nós dois ali de mãos dadas, depois da morte. Mas, como toda realidade tem que ter um "mas" para estragar tudo, eu sabia que aquilo não duraria para sempre, logo alguma coisa aconteceria. Eu sentia que o tempo estava acabando. O nosso tempo.

– Hazel eu estava com saudades de suas poesias, me fala alguma - falou - por favor.

– Só estava com saudades das poesias? - murmurei, fazendo bico.

Me aninhando em seus braços, ele disse:

– Eu não estava SÓ com saudades de você, Hazel Lancaster, estaria disposto a sacrificar qualquer parte de mim, minha perna, meu braço, cabeça, ombro, pé, etc...A única parte que eu não poderia te dar é meu coração.

– Hmm..e porque não? - falei, pensando em muitas coisas.

– Porque simplesmente meu coração não é meu. Ele já pertence a você. - Ele pegou minhas mãos e beijou lentamente cada uma - Você ainda não entendeu que eu te amo?- Ele sorriu de uma maneira deliciosa - Sinceramente você Hazel Lancaster, é muito devagar.

Sorri de volta, satisfeita com a resposta. Procurei na cabeça alguma poesia, e me recordei de uma.

– "Sua ração de vida o homem vê minguando a cada dia.

Mas duro recomeça como se o tempo lhe sobrasse.

E vagaroso não conta as eras que se extinguem .

Nem conta a solidão dos dias claros se desdobrando iguais como esquecidos de mudar.

Nem a distância que o grito não transpõe, a passagem da vida cumprida só em mínimos desejos [...]"

Quando terminei de recitar, ele somente abaixou a cabeça e assentiu triste, dizendo:

– Acho que essa combina bastante comigo.

– Gus, vamos não fique triste - falei, medindo as palavras ociosa.

– Eu não estou triste.

– Está sim - falei - e se você quer saber, essa poesia não tem nada a ver com você. De agora em diante vou ficar com você , e você não vai mais se sentir sozinho - disse não confiando totalmente em minhas palavras.

Parei de prestar atenção nas palavras que o Gus dizia, e percebi uma transformação diferente no ar. Era salgado. Se fosse o que eu estava imaginando, isso era impossível.

– Gus - disse, interrompendo qualquer coisa que ele estivesse falando - Por acaso aqui tem um mar?

– Hm.. eu só acho que isso não seria uma coisa possível de se acontecer no céu.

– Você não está sentindo? - perguntei.

– O que? o ar salgado? - disse - Bem , desde que eu cheguei aqui eu sinto isso, mas acho que é algo normal.

Não resisti a tentação da curiosidade, e puxei o braço do Gus saindo correndo, na direção do que quer que fosse. Finalmente fiz uso dos meus pulmões renovados. Se eu tivesse que dar uma nota de 0 á 10 para eles, eu daria 100. Em comparação aos meus antigos , esses eram mil vezes melhores, eu conseguia respirar normalmente.

– Hazel - disse o Gus - não sei se é uma boa ideia ir até lá.

– E porque não?

– Não sei, é só um pressentimento.

– O que de ruim pode acontecer? já estamos mortos, esqueceu?

Não deu para ver a expressão dele, mas depois que eu disse aquilo ele ficou quieto. Já estávamos chegamos ao nosso destino. Tivemos que subir uma pedra inclinada para chegar no topo e ver o que tinha embaixo. Quando enfim subimos, me deparei com uma imagem linda. Realmente era um mar, mas algo o diferenciava dos demais. Esse era.. de um azulado incrível, que alternava numa tabela de cores escuras. Na praia a areia era prateada, e vária conchas de ouro estavam sobre ela.

Fiquei só imaginando entrar naquela água, que com certeza estaria morna, fitar o horizonte imensurável,deixar aquela areia fina e prateada ficar entre os meus dedos, senti que ficaria eternamente feliz ali. Eu e o ... Acordei dos meus devaneios com solavancos no ombro. O gus olhava para mim preocupado.

– Hazel, fala comigo.

– hã, o que? - ainda estava entorpecida pela beleza do lugar, mas consegui responder, percebi que estava deitada, numa posição confortável.

– Vamos embora daqui Hazel - falou, me levantando e indo na direção que tínhamos vindo

– Espera Gus.

– O que foi?

Apontei para um canto da praia, onde estava um pequeno homem, vestido com uma roupa prateada, quase parecendo invisível.

– Quem é ele? - perguntei.

– Não sei, nunca o vi.

Sem dar a menor chance para ele protestar, desci o o barranco escorregadio em direção ao pequeno homem. Ouvi o Gus vindo atrás de mim tentando me alcançar, ele estava xingando.

Chegando mais perto, percebi que o homenzinho na verdade não era humano. Ele tinha olhos totalmente pretos, como se fosse somente a pupila. As orelhas dele eram avantajadas para cima, e ainda possuía um pequeno e ralo, cabelo branco na cabeça. Exceto isso parecia um vovô de idade pequeno. Cheguei mais perto, e ele levantou a cabeça, sentindo minha presença.

– Hm..Oi - falei

Como se estivesse sendo possuído, ele retorceu a cabeça e disse:

– Se quer conhecer o futuro sem morte, só precisa entrar lá. - ele apontou para o mar.

Sua voz era rouca e grossa, nada parecido com a voz doce de um vovô.

– O que? do que você está falando?

– Se quer conhecer o futuro sem morte, só precisa entrar lá- novamente ele repetiu e apontou para o mar.

Olhei para trás e vi o Gus vindo, ainda faltava muitos metros para ele me alcançar, com certeza ele nunca aprovaria o que eu estava prestes a fazer. Mas eu faria mesmo assim.

– Afinal o que de ruim pode acontecer, não é mesmo vovô?!

Novamente ele repetiu tudo de novo. Me virei não acreditando no que iria fazer. Comecei a andar em direção ao mar. Atrás de mim o vovô falou algo diferente.

– Mas cuidado, nem tudo sai como planejado. Mas cuidado, nem tudo sai como planejado. Mas cuidado, nem tudo sai como planejado.Mas cuidado, nem tudo sai como planejado [..]

Agora literalmente ele estava pirando. Olhei para trás e vi o Gus chamando o meu nome de forma desesperada. Ainda faltava muito para ele me alcançar mas mesmo assim ele corria.

– HAZEL NÃO VÁ. - ele gritou

– Fique tranquilo Gus, eu vou voltar - falei - Eu prometo.

Com isso dei o último passo que restava de distância entre mim e o mar. Entrei numa escuridão profunda de lembranças futuras . Ao fundo as voz do Gus foi ecoando e ficando baixa até que desapareceu completamente. E eu fiquei ali tendo somente sombras como companhia.


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Notas finais do capítulo

Obrigado a quem leu! Não se esqueçam de comentar e falar o que acharam. Gostaram do suspense no finalzinho?
*a poesia que eu usei se chama "Homo" e o autor é H. Dobal *
REVIEWS POR FAVOR.