Elena pareceu paralisar ao me ouvir chamá-la de prima, tive vontade de rir da inocência daquela menina. Nunca nos demos muito bem, sempre fui o oposto de Elena, não entendia muito bem o porque de ela ser tão lerda. Desde muito nova ela sempre foi muito irritante, daquelas crianças que choram por tudo, fazem manha e que a gente tem vontade de matar. Sou três anos mais velha que ela, e por algum motivo ainda desconhecido, somos idênticas.

Nenhum médico conseguiu descobrir o porquê, diziam que era algum erro genético que fez com que ela parecesse um clone meu. Não preciso nem dizer que odiava ter um clone me seguindo por toda parte né? Acho que já é bem óbvio.

Estalei os dedos na frente do rosto dela, fazendo com que a mesma piscasse diversas vezes antes de, finalmente, me responder.

— Melanie, oi, nossa. Quanto tempo, não? - disse dando um sorriso que tava mais para um esgar. Parecia não ter gostado muito da surpresinha.

— Pois é, muito tempo. - respondi tentando ocultar a indiferença. Mas do que adianta eu controlar minha língua se não consigo controlar minha cara?

— Fiquei sabendo do que aconteceu com sua mãe, sinto muito mesmo, Mel. Sei bem como é ficar órfã. - falou de forma baixa, parecia tentar controlar o choro. Levantei uma sobrancelha ao perceber que ela tinha me chamado de "Mel", ignorei esse detalhe irritante e então disse:

— Isso foi há seis anos, já passou. Passado tem de ficar no passado. - não consegui conter minha irritação, logo em seguida revirando os olhos e me calando antes que acabasse por dizer algo realmente ruim. Elena pareceu ficar meio sem graça, então o garoto Matt finalmente resolveu dar o seu ar da graça, fingindo uma tosse para chamar atenção. Só aí ela pareceu notar a presença dele.

— Oh, Matt. Não tinha te visto aí. - disse enquanto encarava seus próprios pés. - O que faz aqui? - aquela pergunta desnecessária, já que a resposta era bem óbvia, me fez revirar os olhos. Então o garoto respondeu:

— Melanie apareceu lá no Grill perguntando onde os Gilbert moravam. Então por ela ser muito parecida com você a acompanhei até aqui. - falou olhando de mim para Elena, parecia ainda estar desconfiado. Tive vontade de rir da inocência dele, afinal, quem leva uma pessoa aparentemente desconhecida a casa de alguém só porque esta tal pessoa é parecida com a dona da casa?

Antes que Elena tivesse tempo de responder, eu disse:

— Não sou eu que sou parecida com ela, é ela que é parecida comigo. - revirei os olhos e continuei. - E, bem, obrigada. Mas já estou entregue e você já pode seguir seu caminho. - disse enquanto sorria minimamente para ele e empurrava a garota discretamente para dentro da casa.

— Ah, tudo bem. Não tem de que, tenham uma boa noite. - sorriu sem graça, se virando e logo indo embora.

A garota olhou para mim aparentando estar irritada, ignorei e fui entrando na casa enquanto gritava por Jeremy. Logo o garoto apareceu ao topo da escada, me olhou de forma surpresa e sorriu abertamente. Sempre gostei desse menino, deve ser porque quando crianças nos juntávamos para pregar peças na bobinha da Elena. Não pude conter o riso ao lembrar disto. Logo voltei minha atenção ao garoto que descia a escada de forma animada, fazendo com que Elena, por algum motivo desconhecido, ficasse surpresa. Jer estava tão "homem", alto, "fortinho", ficou realmente bonito. Então ele veio até mim e me abraçou com força à ponto de me tirar do chão, não pude conter a risada, enquanto tentava de alguma forma corresponder ao abraço na mesma intensidade.

— Mel, que saudade. - disse ainda me apertando. - Você está tão bonita, conseguiu se diferenciar um pouco de Elena. - riu ao notar que meus cabelos estavam mais ondulados e com algumas mechas de um verde musgo intenso.

— Também estava com saudades do meu companheiro de travessuras. - sorri abertamente. Quanto tempo que eu não sorria assim... - Agora já pode me soltar pois estou ficando sem ar.

Ele riu e então me pôs no chão. Ouvi passos vindos da cozinha, olhei para trás e lá estava a adorável e exagerada tia Jenna, me olhando de olhos arregalados, parecia realmente assustada, diria até que meio surpresa. Elena permanecia calada encostada à porta.

— Melanie? - perguntou tia Jenna, demonstrando então a surpresa que sentia em me ver.

— Eu mesma. - sorri enquanto dava um abraço rápido nela, que ela correspondeu sem jeito. Logo a soltei, a olhando seriamente. - Jenna, posso ficar por um tempo? Sai do orfanato tem quase dois anos, e não tenho tido sorte com pensões e apartamentos alugados. - sorri fracamente, enquanto tia Jenna sorria de forma exagerada.

— Claro, menina. Você é da família. - disse ainda sorrindo enquanto segurava minhas mãos, logo direcionando seu olhar em direção à Elena. - Querida, você se importa se...

— Prefiro ficar no quarto do Jeremy. - disse a cortando antes mesmo que ela conseguisse terminar sua frase, não ia de jeito nenhum ficar no quarto da minha prima. Não estou dizendo que temo que ela faça algum mal a mim, mais fácil que eu faça a ela. Só não estou a fim de invadir o mundinho dela e sei bem que ela não gostaria nada de dividir o quarto dela comigo.

— Ãn... Jeremy? - tia Jenna disse enquanto olhava de Elena para mim, e logo de mim para o garoto.

— Não vejo nenhum problema. - respondeu simplesmente.

— Então tudo bem. Fique o tempo que precisar, querida. - falou alisando meus cabelos da mesma forma como mamãe fazia. Sorri abertamente para ela enquanto, desta vez, a abraçava com força e vontade. Ela gargalhou e retribuiu. Logo me soltei retomando minha consciência, sorrindo de forma sem graça. - Bem, vou terminar de fazer o jantar. - disse enquanto se virava fazendo o caminho de volta à cozinha.

— Não esquece do telefone do restaurante. - Jeremy disse de forma baixa, quase em um sussurro.

— Eu ouvi isso, menino. Não me faça ir até aí! - gritou tia Jenna da cozinha, com falsa irritação em sua voz. Rimos baixinho para que ela não escutasse.

— Então, Jeremy... - disse ficando à seu lado. Ele levantou uma sobrancelha de forma desconfiava e então disse:

— O que você quer? - não pude deixar de rir fracamente com a pergunta.

— Me ajuda com as malas? - sorri meiga enquanto Jeremy revirava os olhos e caminhava até a saída para pegar minhas malas.