Eram Crianças... escrita por Cassandra_Liars


Capítulo 1
One-Shot


Notas iniciais do capítulo

Acho que deu para perceber como eu gostei desse livro, não é? kkk Sim, acho que ainda teremos outras one-shots sobre ele...



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            Eram crianças, e crianças são terríveis por natureza.

            Connor era alguns meses mais velho, mas era Meredith quem tomava a dianteira em questões de altura. Era apenas alguns centímetros mais alta, mas o bastante para incomodar o garoto. Ele ficava repetindo para si mesmo que era culpa dos cabelos ruivos mais volumosos no topo da cabeça, mas sabia que não era verdade.

            Estavam no auge de seus gloriosos oito anos, correndo sozinhos pelas colinas verdes da aldeia onde moravam.

            Correram, correram e correram, rindo a plenos pulmões, fazendo brincadeiras o tempo todo, ansiosos por se verem livres dos olhares dos pais, e longe de Dean que ficava cada vez mais para trás, trancado na Grande Casa, ainda de castigo e longe de arruínas as brincadeiras de Connor e Meredith como costumava fazer.

            Eles continuaram correndo para longe, alcançando finalmente a floresta e o lugar onde haviam tentado construir um forte no dia anterior. Não dera certo, tinham que admitir, e agora tudo o que restava dele era a plaquinha de madeira com os dizeres: “Proibido a entrada de Garotos/Garotas” e o lugar onde Meredith riscara o chão, demarcando onde começavam e terminavam os limites do que deveria ser o forte deles.

            Mas eles não se importavam que tudo fosse desajeitado e impreciso. Aquele era o lugar deles, e era tudo o que precisavam saber.

            Eram crianças, e crianças são criativas por natureza.

            Ele queria ser o líder da aldeia, ela queria ser um dragão. E aquele era o único lugar que podiam ser que quisessem, sem ninguém para lhes dizer que era impossível ou para se preocuparem com outras coisas. Dentro dos limites riscados no chão, eles eram que eles tivessem vontade de ser.

Sentaram no chão, um de frente para o outro, sem fôlego e suados, mas sorrindo seus sorrisos infantis e inocentes. Meredith olhou para ele, os olhos castanhos escuros e grandes como duas luas-cheias, grandes demais para o rosto.

            – Vamos começar ­– ela disse, o sorriso brincando em seus lábios como tinham feito antes na colina. – Temos muitas coisas a discutir, senhor líder dos Dracheroter.

            Connor não a interrompeu, deixando que falasse a vontade, a voz estridente soando pelos troncos das árvores.

            – Como dragão terrível, – continuou, os olhos agora cintilando – eu quero mais oito ovelhas para o meu banquete matinal.

            Connor jogou a cabeça para trás, rindo como sempre fazia com ela.

            Eram crianças, e crianças são curiosas por natureza.

            Connor encontrara o livro, mas fora Meredith que o lera várias vezes. Ele rira dela toda a vez que recusava sair de casa para ficar enfiada em seu livrinho de contos rápidos e bonitos. Ela não ligava, encantara-se com os dragões, princesas, fadas e bruxas; castelos, cavaleiros, camponeses, cavalos e unicórnios. Gostava de fingir que eles existiam só para ela, escondendo o livro embaixo da cama para que ninguém mais os vissem, e só fora contar para Connor sobre suas aventuras no pequeno livro repleto de imagens depois que decidira ser um dragão em uma de suas brincadeira e tivera que explicar de onde viera a ideia de dragões.

            Fora desse pequeno mundo de magia fictícia que viera tudo o que ela sabia sobre dragões, e neles o dragão sempre era temível, poderoso e controlador de uma região, devorando animais e até mesmo pessoas algumas vezes.

            Meredith gostara de ideia.

            A verdade era que mais de uma vez se pegara imaginando como seria voar com suas asas escamosas para cima de Dean e lhe engolir a cabeça loira, com aquele sorriso malvado cada vez que Meredith corria em direção a ele, furiosa depois de ele dito alguma coisa sobre ela ou Connor.

            “O que acha que vai fazer, Merry?” ele perguntava. “Meu pai é o líder da aldeia, e você não pode fazer nada contra mim”.

Ver o reizinho caindo do alto de seu trono quando quebrara sua boneca deixou um gosto de vitória e vingança gostoso na boca de Meredith.

Mas, levando em consideração que eles crianças, eu diria que a insistente implicância de Dean com Meredith era amor.

– Temo que não possa lhe ceder tantas ovelhas para o café da manhã, temível dragão. – Connor disse, o mais formal que seus oito anos permitiam. – O que iria fazer roupas e alimentar as pessoas?

– Não importo. Oito ovelhas, ou acabaria com toda a aldeia.

 – Não podemos negociar seu preço?

– Não. – e Meredith ficou em pé, levantando-se bem maior do que Connor. – E então o dragão de repente virou uma bruxa poderosa! – disse levantando os braços para o céu e provocando revolta em Connor, que se pôs de pé também.

 – Ei! Não é justo! Não pode ser um dragão e uma bruxa ao mesmo tempo!

– Não. Mas posso ser uma bruxa disfarçada de dragão sem que você soubesse! Não acabei de dizer que sou poderosa? – Ela implicou.

– Nesse caso, – Connor continuou sabiamente. – Eu também não sou só o líder da aldeia. Sou também um bruxo e acabei de tirar seus poderes!

– Você não é ruivo – ela observou, cruzando os braços, irritada. Aprendera com a avó que apenas os ruivos podiam ser bruxos de verdade sem usar das terríveis magias negras.

 – E você não é um dragão – Connor rebateu.

Meredith o mirou por um instante e logo depois começou a rir. Ele estava certo.

– Melhor correr – Ele aconselhou. – Por que eu tirei seus poderes e agora vou te matar!

Ela correu, rindo divertidamente, enquanto Connor a seguia. Primeiro cada vez mais para dentro da floresta, depois na direção oposta, voltando para a concentração de casas da aldeia, deixando o forte para trás.

E, naquela tarde de verão, a última coisa que pode ser ouvida foi o riso alto e infantil de Meredith ecoando pela aldeia inteira e os passos rápidos de Connor atrás dela, correndo o quanto suas pernas aguentavam. E eles continuaram rindo e correndo naquela tarde, preocupados apenas em se divertir, pronto para a próxima brincadeira, vivendo felizes em seus inocentes anos da infância.

            Eram crianças, e crianças são terríveis por natureza…


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