Won't You Dance With Me? escrita por Maria Clara


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

É extremamente importante acompanhar a leitura com a música de fundo. Além de dar um clima legal, elas complementam os diálogos. Não se esqueçam de clicar para abrir em nova aba para vocês não serem redirecionados para fora da página. Aproveitem e boa leitura!



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Minha vida estava finalmente entrando nos eixos. Levou certo tempo para perceber que tudo aquilo que eu julgava ser o certo para mim era na verdade o que causava minhas angústias e noites mal dormidas. Noites pelas quais eu chorava escondido em um cantinho qualquer, martirizando qualquer um que se aproximasse de mim. Ainda tenho que aprender a me desculpar com todos e principalmente comigo, por todo o mal que causei a mim mesmo. Tenho tanto a fazer, tanto a recuperar, tanto a aprender ...

Olhei para a garota em pé ao meu lado, concentrada no show a sua frente. Seus cabelos caindo levemente sobre os olhos, que brilhavam com as luzes do Cantaí. Quem diria que aquela maloqueira, metida a macho, aquela mini bruxinha ficaria tão linda.

Não me preocupei em barrar aqueles pensamentos. Tem acontecido tão constantemente, que já nem consigo mais controlá-los. Tem algo mim que se conecta a ela. Ela tem me ajudado tanto. Seja com palavras, seja com seu jeito bruto, seja com sua forma meio desconcertante de demonstrar carinho ao me xingar. Às vezes me pego pensando que esses sentimentos estão incrustados em mim desde aqueles tempos remotos de onde ainda éramos crianças brincando nas ruas da Casa Verde. Talvez fosse paixão desde sempre. Até mesmo quando era ódio.

Paixão ... estranho o modo como isso soa.

Ela me olha de volta.

– Olhando o que palhaço? Parece que nunca me viu.

Peguei sua cabeça e a virei em direção ao palco

– Volta pro seu show, maloqueira.

Sorri ao ver suas mãos se fechando em um soco. Porém sai da situação intacto. Ela tem praticado o auto controle.

A medida que o show foi passando, Giane ficou cada vez mais impaciente. Ficava olhando para os lados toda como se procurasse por alguém e aquilo me incomodou. Resolvi ir ao banheiro pra deixá-la um pouco em paz.

http://www.youtube.com/watch?v=Km-X3J6RDFU

(Because You Loved Me - Celine Dion [Cover de Jesuton])

Quando retornei observei Giane conversando com Caio. Cara, como isso me fez mal. Ele não dá mesmo uma trégua.

– Demorou demais, Fabinho. – Falou uma voz ao meu lado.

– Malu? Tá falando do que?

– Pensa que me engana, Fabinho? Tô falando da Giane obviamente. Tenho percebido um clima entre vocês não é de hoje.

– Não viaja, Malu. Ela só se tornou uma boa amiga. – Tentei desconversar.

– Sei. – Falou sarcástica. – Se eu fosse você agiria rápido. Com a boa fase que ela tá, chama atenção de todos rapazes. Larga de fazer corpo mole e chama ela pra dançar.

– Mas ela tá falando com o Caio. – Entreguei minha vontade.

– Sabia que você tava afim dela! – Riu. – Fabinho, bota na sua cabeça que ela ainda não tá com ninguém. Você pode ir lá e tirar ela do Caio se quiser. Olha pra mim Fabinho. – Falou séria, e eu a fitei. – Sua chance é agora. Ainda mais com essa música romântica, e que sempre cai bem. Até mesmo pra uma durona como ela. Pensa no que eu te fa ...

Aquele antigo Fabinho impulsivo tomou conta de mim e se resolveu prestar para algo bom. Deixei Malu falando sozinha e parti em direção aos dois. Quando me aproximei, percebi Caio insistindo para dançar com ela. Ela o empurrava levemente recusando a proposta, o que para as proporções de força da Giane era algo muito sutil.

– Larga ela, mané. – Os alcancei e fui tirando aquelas patas imundas dele da pele dela. Giane pareceu ter se surpreendido com a minha atitude.

– Cara, não se mete. A Giane que decide a vida dela. Sabe livre arbítrio? Então ... Que mania chata de ficar se intrometendo na vida dela. Que saco.

– Acho que seus conceitos sobre livre arbítrio são bastante contraditórios, já que você não dá outras opções a ela. Não acha? – Dei o meu melhor sorriso irônico.

– Sai daqui Fabinho.

– Ele não sai não, Caio. O único que tem que sair aqui é você. – Giane se pronunciou.

– Sério que você tá defendendo esse marginal? Depois de tudo o que ele fez, ainda não acredito que você ainda confie nele.

– Pelo amor de Deus, Caio. Quando você vai perceber que a gente não é nada mais um do outro pra você ficar se metendo na minha vida, cara? Eu decido o que é melhor pra mim. Não é você nem ele que vão me falar o que fazer. É por isso que quero que você vá embora. Vai ser melhor.

Com a cara de poucos amigos, ele me encarou e se mandou. Giane agora me olhava brava.

– Você também hein Fabinho!

– Que foi? O cara tava te incomodando. Vim ajudar.

– Você nunca foi disso e sei muito bem me cuidar sozinha.

– Tudo bem, tudo bem. Não tá mais aqui quem tentou te ajudar. – Levantei as mãos como rendição.

Ela deu o sorriso mais lindo do mundo.

– Vai ficar aí parado?

– Que? – Fiquei confuso.

– Vem dançar comigo logo, fraldinha. – E enquanto faltava atitude em mim, nela sobrava. Então ela me puxou contra seu corpo.

Deslizei minhas mãos em sua cintura e a puxei ainda mais para perto enquanto ela cruzava suas mãos ao redor de meu pescoço, que devo admitir, causaram arrepios.

– Tá mudada mesmo hein maloqueira. Quem diria. Me chamando pra dançar. – A provoquei.

– Cala essa boca antes que eu me arrependa.

– Quer dizer então que você escolhe o que é melhor pra você?

– Exatamente.

– Que no caso sou eu. Já que você decidiu dançar comigo e não com o bom partido do Caio. – Ela me encarou incrédula e por um segundo jurei que fosse ser espancado bem ali na frente do Cantaí inteiro, mas incrivelmente ela se recompôs.

– Você me tira do sério, mas não vai ser hoje que você levará mais umas porradas. – Sorri, e em resposta recebi outro sorriso que fez seus olhinhos amendoados se comprimirem. Ainda mais lindo que o anterior.

– Mas é sério. Porque eu e não ele?

– Não é uma questão de escolha. Aliás é. – Nunca pensei que fosse vê-la sem jeito algum dia. – Ele não consegue entender que não há mais nada entre nós e ... – a interrompi.

– Mas também não há nada entre nós. Há? – Ela soltou o meu pescoço me deu um soco fraco no peito e começou a se afastar.

– Preciso ir. – Segurei sua mão.

– Hey. – Ela me olhou. – Fica. – Como resposta, seus dedos entrelaçaram-se aos meus. A rodopiei antes de puxá-la para mim e coloquei suas mãos em meu pescoço e pousei as minhas em sua cintura novamente. – Desculpa.

– Tudo Bem. – Sabia que para ela era difícil dar o braço a torcer assim como era para mim pedir desculpas.

– Nós dois amadurecemos muito – Ela deu um meio sorriso percebendo o mesmo.

– Eu continuo uma bruta. Você amadureceu. – Rebateu ela.

– E devo isso a você. – Sorriu sem graça.

– Já tava dentro de você. Só precisava de um empurrãozinho.

http://www.youtube.com/watch?v=ROqTa1mn_qc

(Distance - Christina Perri e Jason Mraz)

Diversas outras músicas foram tocadas e lentas ou não, continuamos dançando abraçados. O show acabou, porém o clima de romance continuou com as músicas tocadas aleatoriamente. Olhares curiosos nos acompanharam durante toda a noite, e agora não era diferente. Espiavam sem a menor cerimônia tentando entender a razão da Giane estar dançando com um “babaca marginal” como eu. Eu sinceramente não me importava com a opinião de nenhum deles. Nenhum deles me provocava essas sensações inesperadas em mim como a garota a minha frente provocava. Com ela sim eu me preocupava. Com ela sim eu me perguntava como ela se sentia em relação a mim. Ela fechou os olhos como se estivesse sentindo a música no fundo da alma.

– Por favor me fale o que você está pensando – implorei.

– Tentando entender a letra da música. É linda.

– As aulas de inglês já estão dando resultado pelo visto. – Ela confirmou com a cabeça. – O que ela fala?

– Pensei que soubesse inglês.

– O básico. Vai, me conta logo. – insisti.

– “E por favor, não fique tão perto de mim. Estou tendo dificuldade para respirar. Eu tenho medo do que você vai ver agora. Eu te dou tudo o que eu sou. Todas as batidas de meu coração quebrado. Até saber que você entende.“ – Ela parou para respirar na parte do refrão, seus olhos ainda fechados. Mal conseguia olhar para seu rosto sereno sem querer tocá-la. A letra da música se encaixava demais para ser apenas alguma coincidência. Em circunstâncias assim, jurava acreditar em destino. – “E eu continuo esperando que você me leve. Você continua esperando para dizer o que temos” – Eu a guiava pela pista enquanto ela traduzia aquela canção com sua voz doce e suave como veludo. “E eu vou garantir que eu mantenha distância”.

– “Digo eu te amo quando você não está ouvindo. Quanto tempo vai levar até chamarmos isso de amor?” – Traduzimos a última parte em sintonia e finalmente pude ver seus olhos quando ela os abriu surpresa.

Me aproximei de seus lábios até ficar bem perto, a ponto de perceber suas poucas sardinhas salpicadas na região das bochechas. Desviei o caminho, e levei minha boca até seu ouvido e dali pude perceber ela se arrepiando. Em um ímpeto de coragem a disse:

– Se eu dissesse que quero te beijar agora, o que você faria?

– Não acreditaria em você. – Ela disse com seu hálito batendo contra a curvatura do meu pescoço.

– Pois deveria. – Fui virando a cabeça devagar até minha boca estar a poucos centímetros da dela novamente. Um deslize e ela seria minha.

– Hoje não. – Disse se referindo ao possível beijo. Estávamos tão perto que pude respirar seu hálito de canela. Dei um sorriso com a palavra “hoje”. Hoje não. Mas poderia ser amanhã ou depois. A beleza da possibilidade é a surpresa.

Acatei a sua vontade, e ao invés de beijá-la nos lábios, a beijei bem no canto da boca onde senti um sorriso se formando. Ela retribuiu também beijando o outro canto de minha boca. Precisei de muita força de vontade para não virar a cabeça e tomá-la inteira para mim. A sensação de sua pele em minha estava ferindo minha sanidade. Eu a queria pra mim e era tão difícil ficar longe de seu sorriso por qualquer segundo que fosse. Talvez eu esteja ficando louco. Talvez nós dois estejamos ficando loucos. Mas quer saber de uma coisa? Me apaixonar por essa mulher é a melhor loucura que já pude experimentar.

Com sua cabeça apoiada em meu ombro, dançamos até a última música da noite tocar. Por diversas vezes nos beijamos nos pescoços e perto das orelhas sem ninguém perceber.

A levei até sua casa, e a sanidade que ainda me faltava esvaiu-se como sombras quando no abraço de despedida, com suas mãos entrelaçadas em meu cabelo, sussurrou em meu ouvido “espero te ver amanhã, fraldinha”. Ela sorriu e adentrou a casa, me deixando parado na calçada pensando o quanto eu tinha sorte de ter alguém como ela em minha vida.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. Não se esqueçam de comentar e recomendar, pois esse é o meu combustível. Lembrem-se que se vocês gostarem e comentarem, posso escrever outras. :D