Não, Eu Desisto!

Por Andréia Kennen

Oneshot

— Não, eu desisto! — esganiçou o ninja loiro soltando pingos de saliva na cara do ninja moreno.

Pacientemente, o rapaz moreno passou a mão no rosto e limpou os resquícios de cuspe.

— Do que está falando, dobe? — perguntou com sua corriqueira expressão de indiferença.

— É isso mesmo que você ouviu! — continuou o loiro em tom alterado. — Ou eu tenho que soletrar para você entender, Sasuke?! Se for pra você entender melhor eu soletro: “H” - “E” - “U” - “Espaço” - “D” - “E” - “S” - “S” - “I” - “S” - “T” - “O”, acento circunflexo no “O”! “Heu dessistô”!

Sasuke estapeou a própria testa, incrédulo.

— Santa ignorância, Naruto... — balbuciou, revirando os olhos negros nas órbitas. — Não têm “H” no “eu”, seu jumento! E muito menos dois “S” no “desisto”. E esse acento só se for um chapéu pra você por na sua cabeça oca!

— O importante é que você entendeu — rebateu Naruto, sem se importar por estar sendo corrigido.

Virou a cara após torcer os lábios e cruzou os braços no peito, adotando uma pose de homem decidido.

Sasuke franziu o cenho levemente.

— Não, espere um instante, repete.

— Ah! — esturrou. — Quer que eu arrume um desentupidor de pia para limpar seus ouvidos sujos, Sasuke? Eu desisto. Zéfini. Encerrou. Chega. Não aguento mais. Vamos parar a palhaçada. Passar a régua. Fechar a conta. Por uma pedra nesse assunto.

— Do que você está falando afinal, Naruto? Você vai desistir do quê? Como irá desistir se você é o principal dessa história? Alou? Está ficando mais maluco do que já é?

— Ah, agora é assim? Agora eu sou o principal? — Bateu as mãos ao longo do corpo. — Nem parece que sou o principal dessa droga — argumentou, aumentando o bico de indignação que fazia com a boca. — Eu só me ferro nessa merda!

— Quem disse que vida de protagonista seria somente um mar de rosas?

— Eu não estou nem aí — rebateu, dando de ombros.

— Ok. Mas e os seus fãs como ficam? — Sasuke o lembrou. — Se você desistir a história acabará nesse instante.

— Ótimo! — exclamou. — Pra mim já passou da hora dessa chatice acabar. Eu estou cansado de correr e não alcançar nada, Sasuke. E eu já decidi: eu não corro mais atrás de você.

— Mas, por quê?

— Eu já respondi: porque eu só me ferro!

— Está utilizando-se do seu exagero genético, provindo da sua espécie lorística para alarmar as coisas.

— Eu não entendi uma palavra do que você disse aí, mas eu tenho inúmeras razões para desistir.

— Certo, vamos ouvi-las então — desafiou Sasuke com sorriso de canto iluminando sua face. — Exponha pelo menos uma que me convença — demandou, apoiando as mãos na cintura.

— Uma razão só? — gracejou o loiro com desdém ao soltar uma gargalhada forçada. — Eu poderia citar milhões, Sasuke! Milhões! Mas eu vou te falar a pior delas. Você! — exclamou, apontando o dedo acusadoramente para o amigo. — Com essa sua panca de “Eu sou gostoso”, “Eu sou foda”, “Eu sou o popular da mulherada” e “Eu não estou nem aí para as regras do mundo ninja”, gritou para os quatro cantos que quer dar seu corpo pro Orochimaru. O Orochimaru! Então, eu já sou corno nessa história muito antes de saber o que significava esses benditos termos “SasuNaru” e “NaruSasu” — gritou, fazendo gestos dançantes com o corpo.

Sasuke levantou o dedo indicador em riste como se fosse argumentar, mas o abaixou; pensativo. Repôs as mãos na cintura. Fez um bico com os lábios, torceu-os de um lado a outro, apoiou-se em um pé, depois no outro, e acabou concordando com o argumento.

— Hm — assentiu.

— Olha aí! Não me venha com esse “Hm”, seu cara de pau! Deveria ter vergonha de admitir! — Naruto gritou ainda mais nervoso, batendo com o pé no chão. — Mas se você quer dar seu corpo ou algo mais para aquela cobra peçonhenta o problema agora é todo seu! Eu não quero mais saber disso. — E acrescentou pausadamente: — Porque, eu, simplesmente, estou desistindo de você. Fui!

Naruto começou a marchar rumo à direção do que lhe parecia uma saída, quando Sasuke decidiu sair da sua pose de conforto e correr até ele. Segurou-o por um dos ombros e o virou para si.

— Oi? Espere, Naruto. Você não pode desistir.

— Sasuke... — Naruto deu um safanão na mão em seu ombro fazendo-a recolhê-la e em seguida afirmou: — Eu só não posso, como eu vou.

— Mas... Você... Você... Você não é o autor da série e por isso não pode tomar essa decisão! — O moreno lançou aquele primeiro argumento inteligente que lhe veio em mente. — Não tem como você sair de uma história que não está sendo escrita por você. Quer queira quer não, estamos presos nesse universo.

— Ah, eu posso sim. Ninguém me manda — Naruto respondeu, ainda mais enfezado. — E esse autorzinho aí se quiser que arrume outro trouxa pra me substituir. Tem um monte. Coloque o Goku, o Seiya, o Chapolin Colorado ou até mesmo a Carla Perez! Eu não quero mais saber. A única coisa que sei é que esse loiro, idiota, escandaloso aqui, — bateu o punho fechado no próprio peito — se cansou de fazer o papel de otário dessa história e está desistindo de tudo, principalmente de correr atrás de você.

— Não. Naruto. Calma — Sasuke pediu, apoiando as mãos nos ombros dele. — Sou eu quem está pedindo para não desistir. Eu. Sasuke. Aquele que você almeja. Que você quer levar de volta para casa. Que é sua vida e...

— Opa! Pera, aê! — Naruto girou os braços, praticamente rodando a baiana, fazendo Sasuke tirar as mãos dos seus ombros. — Ninguém está falando de você ser a vida de ninguém aqui não. Nem vem você também querer argumentar com esse tal de Yaoi. Logo você, o todo fodão dos fodões, vir com esse papo de menina? Para mim essa desculpa não cola. Ou... Não me diga que você está mesmo acreditando que o Kishimoto, esse nosso autorzinho tirano, vai levar a sério os milhares de fãs Yaois da série e dar um desfecho romântico para gente? — riu debochado.

— Não?

Naruto arregalou os olhos para expressão incrédula de Sasuke.

— Óbvio que não, teme! Já está na cara o que vai acontecer. Primeiro desfecho: nós dois morremos. Segundo: você morre e eu fico vivo e caso com a Sakura-chan. Terceiro: eu morro e você fica vivo e casa com o Orochimaru... — Naruto parou os argumentos por um minuto e fez uma cara de repulsa ao encarar Sasuke e imaginá-lo nos trajes do Orochimaru.

— Que cara é essa?

— Quer saber de mais uma coisa? Só de pensar você dando o corpo para aquele homem, eu já sinto enjoos — respondeu, balançando a cabeça de um lado para o outro, tentando afastar aqueles pensamentos. — Nem. Esquece. Eu não vou mais pensar nisso ou vou perder o apetite pro jantar. Talvez... — Naruto elevou o dedo em riste como se uma ideia brilhante tivesse brotando da sua mente do nada. Algo que fez Sasuke franzir as sobrancelhas.

— Talvez? — incitou o moreno para o loiro continuar.

— Se fosse para eu terminar com algum garoto nessa história eu poderia escolher outro bem melhor que você.

— Melhor do que eu? — Sasuke repetiu a observação em forma de pergunta, estreitando os olhos, não gostando nada do rumo daquela conversa.

— Por exemplo, poderia ser o...

— O...?!

— Não, esse não. Acho que ele ama mais os cachorros do que os seres humanos. Mas, talvez aquele...

— Aquele?

— Espera, aquele também não — disse, meneando a cabeça negativamente também. — Nada contra os cheinhos, mas eu teria que ter um sapo-carteira do tamanho do Oyabin para pagar um jantar romântico para ele. Mas, tem aquele outro...

— Aquele outro?

— Não, não. Definitivamente aquele outro não. Os insetos me dão arrepios. E eu nunca vi o rosto dele. Vai que ele tenha lábios grossos e os dentes de coelho como o Kakashi-sensei.

— Naruto, nós nunca vimos o rosto do Kakashi, isso foi algo inventado por sua mente loira.

Naruto relaxou os ombros e encarou Sasuke com um ar decepcionado.

— Não é que você é o melhorzinho de todos.

— O quê?

— Sasuke-kun... — uma voz sinuosa sibilou no ambiente. — Esqueça esse loiro idiota e vamos viver juntos dentro de um mesmo corpo. Eu te darei todo meu ensinamento e poder e você será...

— CALE A BOCA! — gritaram os dois em coro para o homem-cobra que vinha se rastejando pelo chão para perto deles.

— Não se meta nos meus assuntos ou eu acabo com você, Orochimaru — ameaçou Sasuke, faiscando seus sharingans na direção do nukenin, segurando firmemente a bainha da sua espada.

O homem, de cor pálido-zumbi, estacou onde estava e contraiu a face, reprimido. Mais uma vez Sasuke o tratara como um lixo. Estava imensamente magoado. Depois de todo o poder que ele lhe oferecera era assim que o agradecia? Resolveu ir embora, deprimido.

— Espere, Orochimaru-sama! Eu o consolo! — Kabuto surgiu de repente, passou por eles, e saiu correndo atrás do velho sannin.

— Rápido, Kabuto. Vamos destruir algumas vilas por aí. Preciso me sentir melhor.

Sasuke, claramente irritado, após aquele papo de Naruto de encontrar um substituto para sua pessoa, e mais ainda, depois da intromissão do velho Orochimaru, faiscou seus olhos vermelhos para o loiro.

— Você não pode desistir de mim — exclamou, ameaçador.

— Eu posso sim! E eu estou desistindo a partir deste momento!

— E o que você vai fazer se desistir?

— Eu vou ser um hokage no futuro, não vou? Então vou me dedicar a isso a partir de agora. Até bolei um slogan para minha campanha: “Fracassados do mundo ninjas unidos jamais serão vencidos!”.

— Mas não foi você quem disse que não poderia ser um hokage se não conseguisse salvar seu próprio amigo.

— Amigo? — inquiriu Naruto incrédulo por Sasuke usar aquele argumento. — Agora você vem com esse papo de amigo? Amizade é um sentimento que duas pessoas partilham da mesma forma que as pessoas que se amam partilham um amor. E é mais fácil uma pedra reconhecer meus sentimentos do que você, Sasuke! Além disso, eu não quero acabar no fim que nem aquele ditado que diz: “nadar, nadar, nadar e afogar na areia”

— É “morrer na praia”.

— Da na mesma!

— Naruto...

— Espera — Naruto pediu, mostrando a palma da mão para Sasuke e sorrindo como se mais uma ideia fascinante tivesse brotando em sua mente loira do nada. — Pensar em praia, lembrou areia, areia me fez lembrar... É isso! — deu um soquinho na própria mão. — Como não pensei nele antes. Tem o Gaara!

— Gaara? Como assim o Gaara? O que ele tem a ver com essa conversa?

— Você ficou esclerosado antes da idade chegar, né Sasuke? Eu estou dizendo que vou mudar de pista e correr trás de outro carro, meu caro. Pelo menos o Gaara se tornou o ideal que eu REALMENTE quero ser. Ele se tornou um kage. Além de tudo ele me reconheceu. Até me olhou de um jeito diferente quando eu o resgatei. Olha... A solução estava na minha cara o tempo todo e eu não tinha percebido. Está decidido, a partir de hoje, Naruto Uzumaki vai correr somente atrás do Gaara! E olha que acho que nem vou precisar correr muito, pelo jeito que ele me olhou, eu acho que...

A fala de Naruto foi interrompida de repente, por uma estranha torcida que surgiu em arquibancadas em torno deles, e se levantou para fazer um grande “ôla”.

— ÔOOOOooooooOOOOOOOooooOOOOOOOOOooola!

— Agora sim é GaaNaru! Agora sim é GaaNaru! — passaram a gritar em coro.

— Que merda foi essa? — espantou-se moreno.

— O Gaara-kun é tão, tão, tão lindo! Ele é muito melhor para o Naruto-kun que esse idiota traidor do Sasuke! — gritou uma das meninas na arquibancada.

— Sim, isso mesmo, o Kazekage-dono é demais! — concordou outra, com ar de sonhadora e coraçõezinhos no lugar dos olhos.

E logo o ambiente era só burburinho sobre Gaara.

Naruto, contente por ter apoio, pigarreou, abriu um sorriso de lado, e comentou, certo de que havia feito a melhor escolha.

— Viu? O Gaara tem até torcida organizada.

Sasuke ignorou o comentário e as torcedoras, mantendo sua imparcial frieza.

— Mas, por que o Gaara? Não seria mais coerente pensar na Sakura?

Uma alta saraivada de vaias vindas das arquibancadas se propagou pelo ambiente, parecendo som de uivos.

— Cala a boca, emo, arrogante! — gritou uma das torcedoras que antes o vaiava.

— Não precisa apelar, seu apelão! — gritou a outra, fazendo uma veia pulsante saltar na testa de Sasuke.

— Cartão vermelho para ele, juiz! Isso é falta grave — gritou mais outra.

— Se não vai dizer algo que preste, fique quieto! — complementou mais uma.

— Casca fora daí e deixa o caminho livre para o nosso Gaara-sama! — apoiou outra.

O vergão na testa de Sasuke latejava, o rubro dos olhos dele se tornou mais intenso e a forma das suas pupilas ganharam um formato de estrela.

— Se vão começar agredir... — balbuciou o início da ameaça, batendo o pé no chão e fazendo a arena estremecer e ficar em total silêncio. — Eu também chamarei meus reforços.

— Isso mesmo! — gritou firme uma voz masculina, que tinha um tom estranhamente forçado para o afeminado. — Respeitem o Sasuke-kun, bando de barangas! Ou iremos chorar até afogar todas vocês! — gritou esse que vinha à frente de um grupo de militantes vestidos de pretos, com franjas negras caindo nos olhos, carregando várias bandeiras com trechos de músicas românticas e frases de apoio ao Sasuke. Entre elas, algumas se destacavam em faixas maiores: “Ninguém compreende a dor de Sasuke-kun como nós” e “Sasuke-kun é nosso divo-divino, rei-eterno”.

Sasuke e Naruto arregalaram os olhos ao verem aquela invasão, mas não tiveram tempo de se manifestar, pois, quando tudo parecia esquisito demais para ser verdade, adentraram pelo outro lado da arena, fãs NaruSaku gritando a frase de ordem em um só coro.

— NARU É DA SAKU! NARU É DA SAKU! MORRA, SASU!

Os dois mal tiveram tempo de se espantarem com aquela nova torcida, quando surgiram outra multidão de defensoras SasuSaku, irrompendo as arquibancadas com bandeiras do casal, e megafone, cantando:

— SASU É DA SAKU! SASU É DA SAKU! MORRA, NARU!

Quando todos já estavam ficando surdos e a situação parecia a beira do caos, um grito maior e mais estridente se propagou arrancando espanto de todos no local.

— SILÊNCIOOOOOOOOOOOOOOOOO! — Era a voz da godaime, que gritara do camarote. — Eu vim aqui para ver essa disputa! Calem a maldita boca de vocês e assistam essa droga em silêncio, ou serei obrigada a mandar um esquadrão da ANBU em uma missão especial para acabar com toda a tietagem no mundo ninja!

Apenas o “cricri” de um grilo perdido em algum lugar fora ouvido em resposta.

Tsunade voltou-se para os dois no centro da arena.

— Naruto?! — chamou o loiro em um grito.

— Hai, baa-chan? — respondeu ele, quase que batendo continência.

— O Sasuke-kun perguntou sobre a Sakura, responda — mandou Tsunade, voltando a se sentar para assistir.

— Hai! — concordou imediatamente, voltando-se para o moreno, sentindo que da testa brotava um suor frio. Se havia algo naquele mundo que lhe dava um medo sem igual, eram as mulheres em fúria. — Bem, se ela quer continuar correndo atrás de você o problema é dela, não é?

— Não foi isso que eu quis dizer, dobe! Não é a posição dela frente a mim e sim a sua perante ela. Você não prefere ficar com a Sakura ao invés desse tal de Gaara?

— Bem... Sabe como é... Os tempos mudaram. Eu gosto da Sakura-chan, mas... — O loiro coçou a nuca, riscou a bochecha com as unhas e sentiu que seu rosto esquentava, certamente estava ficando corado. Algo que fez Sasuke encará-lo com uma feição menos tensa. — Eu já me conformei que querer nem sempre é poder. Afinal, eu só vou conseguir conquistar a Sakura quando eu me descolorir em um tambor de água sanitária e pintar meus cabelos de preto e colocar lentes escuras e sair querendo dar meu corpo para o primeiro esquisito que aparecer na minha frente.

Sasuke revirou os olhos.

— Voltamos ao Orochimaru de novo? Você sabe que faço isso porque tenho o objetivo.

— Ah, sim, eu sei. Você é o Vingador da Caverna do Dragão. Nem quero ouvir essa história de clã e da sua família que foi assassinada pelo seu irmão esquizofrênico de novo. Afinal, eu não tive família, tive? — perguntou o loiro, arqueando uma das sobrancelhas. — Eu não tive pais, nem irmãos, né? Não tem como eu saber o que você sente, tem?

— Naruto...

— Mas não é isso que você sempre jogou na minha cara?

— Desde quando aprendeu a ser sarcástico?

— Desde o momento que percebi que correr atrás de certas pessoas é uma perda de tempo — concluiu, fazendo um bico.

— Então, pense nas nossas fãs! — Sasuke tentou aquele último argumento. — Imagine quantas fãs SasuNaru e NaruSasu estão lendo essa fic nesse momento e torcendo desesperadamente para que a gente se acerte e isso acabe em lemon.

— Lemon? — o loiro perguntou, tombando a cabeça para o lado; confuso. — Eu não gosto de limão, é muito azedo. Não da para acabar em cherry ou apple?

O rapaz de olhos negros revirou suas esferas escuras nas órbitas, deixando os ombros cair.

— Céus, você é mesmo um jumento...

— Ah, quer saber? Eu tô cheio dessa conversa mansa. Eu devo estar cansando sua beleza, enfastiando sua visão, enjoando seu estômago sensível. Então, boa sorte na sua vingança. Bata muito no Itachi por nós. Eu vou estar lá, do outro lado da tela, assistindo, ok? Adeus, Sasuke!

— Ô, Naruto? — O moreno o impediu de seguir, puxando-o pela a manga da jaqueta.

— Vai estragar minha roupa — Naruto o repreendeu, puxando a manga de volta e engolindo em seco ao notar que Sasuke estava perto demais.

— E tudo o que passamos juntos?

— Ah, sim, é verdade. Passamos por muitos momentos memoráveis juntos; como todos aqueles em que você me humilhava nas missões ao me proteger como se eu fosse uma garotinha medrosa. Ou como aquele em que você tentou me matar no telhado do hospital de Konoha? E, lembra, quando você tentou me matar no Vale do Fim? E teve o pior de todos: quando eu o encontrei na toca do Orochimaru e praticamente implorei para você voltar pra Konoha e você fez o quê? Será que você se lembra desse momento memorável? Você simplesmente me virou as costas! Sério, Sasuke, você acha que vai conseguir me convencer de não desistir me lembrando do quanto fui idiota?

— Naruto... — Sasuke sussurrou, vencendo mais a distância entre seus rostos.

— Você gosta mesmo de gastar meu nome, né? — falou ele em um tom preocupado, sentindo um leve tremor com aquela nova aproximação.

— Do mesmo jeito que você gosta de gastar o meu.

— Para de sussurrar desse jeito — o loiro pediu, após engolir em seco novamente, sentindo o rosto se aquecendo mais uma vez. — Você não vai conseguir me fazer mudar de ideia, Sasuke. Nunca.

— Será? Então por que você está ficando vermelho? — perguntou o Uchiha, olhando dentro daqueles olhos azuis tão límpidos, sentindo seu corpo estremecer.

— É que está quente aqui, não está? — deu a desculpa, dando um passo para trás e umedecendo os lábios com a língua, ao senti-los ressecar com a respiração que saía cada vez mais depressa.

Os olhos de Sasuke se detiveram no passeio que a língua de Naruto fez sobre os próprios lábios e, instintivamente, deu outro passo na direção dele.

— Sasuke, você está muito perto...

O moreno não se importou com o argumento e aproximou-se mais, o suficiente para encostar seus lábios aos convidativos de Naruto, dando neles um beijo-selinho.

— O que pensa que está fazendo, teme? — perguntou Naruto, confuso e completamente vermelho por ter sido beijado. — Isso é golpe baixo, não vale.

— Não desista, Naruto — Sasuke pediu, agora, depositando um beijo na bochecha do loiro. — Por favor.

— Eu vou desistir — resmungou em resposta, sentindo o calor imenso que os beijos de Sasuke proporcionavam em todo seu corpo.

Sasuke depositou um novo beijo, desta vez, na testa de Naruto, segurando-o pelos braços, não permitindo que ele fugisse.

— Não desista — voltou a pedir. — Eu não posso continuar se você desistir de me alcançar.

O loiro sentia seu coração batendo acelerado.

— Mas eu preciso...

Veio então uma sequência nova de beijos que foram depositados sobre as pálpebras de Naruto, a ponta do nariz, o queixo.

— S- Sasuke, pare...

Naruto apoio as mãos sobre o peito do amigo e tentou afastá-lo, mas a verdade era que se sentia bem com aquele avanço dele. Passou a língua nos lábios novamente, sentindo o gosto bom que o primeiro selinho deixara. Estava começando a fraquejar.

— Eu... vou desistir.

A cada resposta negativa de Naruto, os lábios de Sasuke se moviam para beijá-lo. Desta vez, eles cobriram os lábios de Naruto por inteiro e se detiveram sobre eles.

Naruto não relutou e Sasuke aproveitou para aprofundar o beijo, passou a mover sua boca sobre a de Naruto enquanto seus braços o envolviam. O ninja loiro acabou cedendo à pressão, envolveu o pescoço de Sasuke, abriu os lábios e permitiu que o beijo fosse intensificado. Somente quando ambos estavam quase sem ar que eles se afastaram, com os rostos ruborizados e os lábios levemente inchados e avermelhados.

— Não desista, Naruto — Sasuke aproveitou para reiterar seu pedido.

— Você não vai me convencer.

— Então vou continuar te beijando até te que eu consiga.

— Eu não vou mudar de ideia, Sasuke. Esse é o meu jeito ninja.

— Será que você é tão burro que não entende?

— Eu não sou...

Sasuke não permitiu que aquela boca voltasse a reclamar e beijou o ex-companheiro de time mais uma vez. Após soltá-lo, tentou se explicar de uma maneira mais clara.

— Nós fomos criados para sermos um do outro, Naruto. Você é meu, da mesma forma que eu também sou seu. Essas são as únicas verdades que não irão mudar nessa história. Nem mesmo depois do fim, seja ele qual for.

Sasuke tocou o rosto do loiro; dedilhando as bochechas com as marcas da Kyuubi, fazendo uma breve carícia. Deslizou os dedos sobre a lateral da face dele e deteve-se no queixo, segurando-o com a ponta dos dedos e arqueando-o, fazendo aquelas esferas azuis tão intensas e límpidas repousassem sobre si.

Naruto, por sua vez, deixou o silêncio predominar, aproveitando-se anonimamente daquele carinho bom que recebia do amigo. Sasuke aproximou seus lábios novamente, mas desta vez, o beijou a sua fronte. Seu coração descompassou. Sentiu-se confuso, não sabia mais que rumo tomar. Mesmo que não quisesse admitir, Sasuke Uchiha tinha aquele estranho poder de dominá-lo por inteiro.

— Nós vamos ficar juntos, Naruto — afirmou o nukenin. — Enquanto existir alguém do outro lado torcendo e desejando que esse amor entre nós aconteça, ele vai acontecer. Nem que seja no coração de todos que desejam esse fim. E, você, é a luz forte que faz essas crenças se ascenderem. Foi graças a você e sua determinação em me resgatar que surgiram inúmeros corações torcendo por nosso sentimento, fazendo-os ter fé na beleza do seu objetivo. Entende, porque não pode desistir? Não é só por mim, nem por você, mas é por todos que acreditam que o amor pode vencer.

O loiro suspirou profundamente, desvencilhando sua face das mãos do moreno, sentindo-se trêmulo. A verdade, é que compreendia perfeitamente bem todos aqueles argumentos. Além disso, seu primeiro objetivo fora alcançar Sasuke e quando o alcançou, o perdeu. Por isso seu novo objetivo se tornou trazê-lo de volta para perto de si e era esse seu destino.

— Então, Naruto, qual é sua resposta? — Sasuke insistiu em saber.

Naruto suspirou fundo.

— Eu... não desisto — respondeu, um pouco constrangido.

Enfim, Sasuke sorriu.

— Essa frase combina mais com você — Sasuke garantiu. — Eu vou ficar esperando por você, Naruto — completou ao se afastar.

— Aonde você vai me esperar, Sasuke?

— Aonde mais seria, usurantokachi? — perguntou irritado, em perceber que o ex-companheiro ainda era o garoto ingênuo que o conquistara. — Estarei esperando por você no fim.

Apesar da lágrima cristalina que rolou o rosto rosado do rapaz loiro ao ouvir aquela frase, ele abriu seu sorriso que, para muitos, mas principalmente para Sasuke, fazia a vida ter realmente sentido.

Aliviado, o moreno deu as costas ao amigo e seguiu rumo a alcançar seus propósitos, deixando para trás seu loiro, os suspiros de milhões de fãs esperançosas, os resmungos de outras milhões decepcionadas, mas, acima de tudo, a constatação que sempre carregou em seu coração, e que era maior que sua própria existência:

“Se um dia esse fim chegar, eu irei confessar tudo que sinto, Naruto. Já que pela cara de aluado que você está fazendo nesse momento, ainda não deve ter entendido sobre os meus sentimentos por você”, Sasuke determinou aquilo em pensamentos e em seguida se desfez em riscos e desapareceu no horizonte.

Naruto passou as costas das mãos no rosto e mantendo os olhos fixos na direção onde o moreno desaparecera, reafirmou seu objetivo.

— Eu ainda não o entendo, Sasuke. Mas, seja o que for, eu vou manter essa nova determinação e eu não vou mais desistir de você.

Fim.