A Garota Que Sugava Almas. escrita por Jubs


Capítulo 8
8. "Nem Deus pode me parar.”


Notas iniciais do capítulo

Olá, amorecos! Fiquei bem feliz com os comentários do último capítulo e eu recebi uma linda recomendação da Carolis, e por esse motivo dedico esse capítulo para essa fofa. Enfim, acho que não demorei muito com esse capítulo e confesso que achei ele um dos melhores que já escrevi! Espero que gostem, hein. Boa Leitura e até lá em baixo. hahahaha



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8. "Nem Deus pode me parar.”

— Lohan? — Repeti, parando meus passos pesados involuntariamente, paralisando minha expressão em um fio de pânico.

— Sim. Lohan. — Asher olhou em meus olhos, um pouco confuso com a minha reação, provavelmente achando que eu a conhecia ou até mesmo que possuíamos uma relação amigável. — A conhece?

Na mosca.

— Não! — Exclamei, olhando para o barro vermelho da rua que passávamos naquele momento. — Nunca ouvi falar nesse nome antes, achei um lindo nome, afinal.

Abri um grande sorriso em sua direção tentando disfarçar a minha inquietação ao tocarmos no assunto. Eu era uma péssima mentirosa, reconhecia isso, mas Asher parecia acreditar em minhas palavras. No entanto, não disse mais nada, apenas continuou a me guiar no caminho de casa, que aliás era o lugar que eu mais desejava naquele momento.

Era possível notar em seus olhos o quão preocupado ele estava, com certeza amava a irmã mesmo ela sendo como era. No fundo, bem lá no fundo, senti um pouco de pena dele, uma vontade de lhe dar aconchego com um abraço sincero. Mas deixei que o vento levasse esses sentimentos embora, até porque, como sua irmãzinha havia ditou, eu era uma psicopata assassina. E na minha lógica, psicopatas assassinas não possuem sentimentos.

— É aqui. — Falei ao avistar o quintal, que parecia cada dia mais mal cuidado e feio, de minha casa e suspirei logo em seguida ao lembrar que devia explicações ao meu pai por sumir novamente. — Tchau, Asher. Preciso entrar, meu pai deve está preocupado. Ou não, não sei ao certo.

— Bela casa. — Murmurou ele, me puxando para um abraço desajeitado. — Ok, tchau. E é claro que ele estará, você é uma menina especial, acredite. Espero te ver em breve.

Esquivando-me de seu abraço, não disse mais nada e apenas dei um sorriso amarelo e o observei caminhar novamente para sua casa, pude perceber que ele estava perdendo a mania de usar roupas de números maiores. Como da última vez, ele estava vestido adequadamente, seus ombros largos caiam perfeitamente na camisa que usara hoje.

Suspirei baixinho. Ele era um cara legal, apesar de me irritar instantaneamente com o papo de que sou uma menina composta de adjetivos positivos. Deveria assumir que ele poderia ser um bom amigo caso não tivesse matado a sua irmã...

Adentrei em minha casa, a sala estava escura e a televisão desligada. Jaxon provavelmente estava na escola, pois quando ele estava em casa a televisão nunca se mantinha assim. O silêncio dominava o local. Apertei o botão que ficava ao lado da porta de entrada, iluminando a casa, a escuridão me dava calafrios desde a morte de minha mãe.

Por falar nisso, devia lembrar-me de perguntar a Lorien se ela tinha algo a ver com isso.

Subi as escadas que davam acesso aos quartos lentamente, ansiava por um banho quente e um cobertor ainda mais caloroso. Meu cansaço era tanto que mal notara que estava começando a ficar febril, provável consequência da minha falta de alimentação correta.

— Gegory, sua filha está aqui! — Uma sombra feminina passou por mim, entrando no quarto de meu pai. Ao ouvir aquela voz irritante pude me lembrar da cena que vira há tempos em minha cozinha. Meu estômago embrulhou. — Infelizmente não desapareceu para sempre.

— Doroth, querida! — Gregory saiu de seu aposento, vindo em minha direção para um abraço.

— Poupe-me, por favor. — Murmurei me desviando de seus braços, eu sentia nojo dele. Não era visível? — Achei que você tinha largado essa coisa, digo, essa vadia.

Gregory endureceu a expressão após a minha curta e breve resposta.

— Não fale assim dela, em breve será sua madrasta e você a deve respeito. — Suas primeiras palavras foram firmes, mas as amoleceu logo em seguida. — Agora me conte, o que está acontecendo com você? Ainda tenho minhas suspeitas sobre as drogas, olhe, me conte se tiver fazendo uso dessas substâncias antes que eu tenha que tomar decisões precipitadas.

O sangue subiu à minha cabeça, não pela ilusão de meu pai, mas sim por ele ter dito que eu devia respeito àquela qualquer. Eu precisava dar um fim nesse futuro casamento ou não conseguiria sobreviver diante das tantas injustiças e idiotices sincronizadas, realmente não sabia que meu pai era capaz de ser tão burro. Será que ele não notava que Natallie não passava que uma qualquer que esperava apenas sua morte para ficar com a pensão, que não passará de uma miséria, afinal das contas?

— Apenas te digo uma coisa: Você é um trouxa. — O fitei, murmurando as palavras com desprezo. — Isso não apenas por achar que estou usando drogas, mas também por planejar um futuro com uma vadia. Ainda não deu tempo nem da mamãe esfriar no caixão! Largue de ser sem coração, se você morresse a ela nunca te trocaria, ela te amava, mas vejo que você não sente o...

— O que eu faço ou sinto não é problema seu, Doroth! — Ele berrou, interrompendo-me. — Vou buscar Jaxon na escola, fim de papo. E trate bem a Natallie.

Ele caminhou até a porta de saída e eu o segui, segurando-o pelo ombro com força significativa. Desde que me transformara, se é que posso dizer assim, passara a ter mais força que o normal.

— Não, esse papo não acabou. — O soltei, rosnando. — Ele apenas começou, papai. E nunca grite comigo novamente.

Apertando meus olhos, concentrei minhas forças em meu interior, minha pupila começara a dilatar e a coloração a azul de meus olhos, a qual me deixava incontrolável e fora de mim, estava por um fio para tomar conta de minha íris.

Gregory aparentava estar assustado, talvez pela minha ameaça subliminar, ou talvez pela minha força, mas seguiu seu percurso para a escola de Jaxon do mesmo modo, me ignorando. Ainda sim era possível ver o medo através de sua palidez e sua expressão assustada.

Bufei alto ao ouvir o canto vindo do banheiro onde Natallie tomava banho, sua voz fazia meus tímpanos doerem e a sua alma fedia. Não me perguntem como sabia sobre o cheiro da mesma, eu apenas sabia, simples assim.

— Pare de cantar, sua besta! — Bati com uma das mãos na porta de madeira do banheiro em que ela se banhava. — Ninguém é obrigado a ouvir essa sua voz ridícula.

Visivelmente ignorada pela Natallie, que continuava a cantarolar, eu não me sentia apenas irritada, não possuía palavras para descrever o que se passava em meu interior, meus olhos e minha garganta queimavam em raiva e minhas mãos tremiam. O sentimento de ódio, desgosto e injustiça me faziam desejar cada vez mais o sangue daquela mulher e ver sua alma queimando seria o maior prazer que eu poderia ter.

Corri em direção ao meu quarto e me joguei sobre o chão, abraçando meus joelhos com tanta força a ponto de senti-los formigando, e por fim deixei as lágrimas raivosas escorrerem sobre minhas bochechas, as queimando de maneira dolorosa e humilhante. Eu não podia mais chorar, não devia ser tão fraca e sensível, era maior que todos eles, eu os tinha em minhas mãos e aprenderia a manipulá-los e fazê-los sofrerem.

— Eu sou poderosa. — Sussurrei para mim mesma, minha voz soava mais macabra e grossa. — Nem Deus pode me parar, sou maior que todos eles, eu posso tirar vidas e se preciso o farei. O máximo de vezes possível.

Um arrepio percorreu meus braços, pernas e nucas. Minha determinação a fazer o mal a quem entrasse em meu caminho era maior do que eu acreditava conseguir controlar. Estava me tornando um monstro e, mesmo que doa e me incomode dizer, eu estava amando isso.

Massageei minhas têmporas sentindo o ódio se tornar bom e não mais ruim e doloroso dentro de meu peito e me levantei em seguida, dando passos lentos em direção ao banheiro de meu quarto. Prendi meus fios rebeldes em um coque no alto da cabeça ao me despir em frente o fiel espelho do lugar.

Olhei para o reflexo de meu corpo, sentindo o vento frio que passava pela brecha da janela em minhas costas nuas. O som distante de pássaros cantando e o assobio do vento em contato com a janela se tornava incomodo ao passar dos segundo, tudo que eu precisava era do silêncio. Fechei meus olhos abraçando meu próprio corpo e os abri em seguida.

Senti meu coração subir a minha garganta ao olhar em meu reflexo novamente.

A imagem da Lorien sorria para mim por dentro do espelho, não sabia o que estava acontecendo na verdade e por um impulso cobri-me com a toalha e me paralisei. Dessa vez, após ter passado por tantas coisas, não podia simplesmente tentar me convencer de que aquilo era apenas uma alucinação.

Eu sabia que era de verdade.

O som ensurdecedor tomou conta do aposento enquanto uma rachadura partia o espelho ao meio lentamente, fazendo com que o sorriso da imagem de Lorien se tornasse uma expressão macabra e psicótica e, ao me virar para sair daquela cena de filme de terror, a porta pesada de madeira escura se bateu à minha frente.

— Lorien! O que você quer agora? — Gritava enquanto tentava abrir desesperadamente a maçaneta da porta que se trancara sozinha. — Eu não já aceitei em que você me transformou?

Senti dedos gélidos tocarem minhas costas cobertas apenas pela toalha e me virei rapidamente prestes a atacar.

— Realmente escolhi uma pessoa perfeita. — Os olhos azuis de Lorien, que entrara no local de maneira estranhamente sobrenatural brilhavam ao olhar nos meus, e sua voz saia como um sussurro sedutor. — Não precisa ter medo, querida, chegue mais perto de mim.

— O que está acontecendo? — As palavras saíam falhas de minha boca enquanto eu me afastava, mal pude perceber que a imagem sorridente em meu espelho havia sumido. Não estava com medo da Lorien em si, mas sim de suas atitudes, ela não parecia querer algo ruim para mim nesse momento, e sim, me seduzir, se podemos dizer assim. — Você está me assustando, sério.

Ela colocou seus dedos gélidos em meu queixo, sorrindo e se aproximando cada vez mais enquanto eu caminhava para trás lentamente, apertando a toalha cada mais forte sobre meu corpo.

Um enjôo começava a tomar conta de mim, poderia vomitar a qualquer momento, e para ser sincera, torcia para que acontecesse agora mesmo ou o quanto antes. Qualquer coisa seria aceitável no momento para mantê-la distante de mim.

— Como disse, querida — sussurrava, aproximando seus lábios de meus ouvidos. — Não precisa ter medo, isso tudo faz parte, você é minha.

— Me solta, Lorien! — A empurrei impedindo de continuar os beijos em meu pescoço. Mantendo minha voz firme tentei mostrar controle. — Isso não é um pedido, é uma ordem, não sei o que está passando em sua cabeça e realmente não desejo saber.

— Você acha que pode mandar em mim? — Lorien se recompôs, aumentando o tom de voz enquanto seu rosto se avermelhava ao passar dos segundos, talvez por vergonha, talvez por raiva, que seja. — Eu sou mais poderosa que você, querida! Eu te tornei assim, sua vida está em minhas mãos, seu futuro e, principalmente, a sua morte.

— Eu não me importo com meu futuro, com a minha morte e nem com nada! — Falei em meio a uma gargalhada. — Mas não pense que serei a sua vadiazinha como você foi daquele tal de Magno, eu não sou você, Lorien, e nunca serei.

— Ah, é? — Suas mãos apertaram em meus ombros e seus olhos me fitaram. Por um momento o medo percorreu toda minha cabeça, por mais que eu desejasse parecer forte, sentia como se ela quebrasse minhas muralhas. — Você nunca será como eu? Não me deve respeito? Tudo bem, querida, tudo bem.

Ela me soltou, fitou seus olhos nos meus e sorriu e em um piscar de olhos senti como se todo meu corpo queimasse por dentro e esse foi o início de tudo, sentia toda minha força indo embora lentamente, minha cabeça latejava e sentia meus olhos arderem. Desmanchei-me ao chão frio do banheiro, caindo de joelhos.

Sentia como se fossem feitos fundos cortes em meus braços e meus cabelos fossem arrancados um por um, porém era como se tudo fosse uma ilusão criada pelo meu psicológico, eu sentia dor onde não havia absolutamente nada.

— Para! Para! — Implorei, encravando minhas unhas em minhas mãos enquanto minha cabeça queimava, igualmente a todo meu corpo. — O que você está fazendo comigo? Para!

Enquanto implorava para ela parar pequenas cenas passavam em meus olhos, o corpo de minha mãe com a barriga totalmente aberta e seus órgãos mergulhados no sangue quente e sua alma correndo em minha volta sorrindo para mim enquanto chorava lágrimas de sangue com seu olhar vazio, a minha primeira vítima e outros clones dela com a boca costurada e os olhos arrancados me circulando com braços esticado para um abraço, almas sendo queimadas e cadáveres boiando em um rio de sangue à minha volta, sonhos perdidos ao vento flutuando em minha cabeça enquanto gritos de pavor e medo ecoavam em meus ouvidos juntamente de ruídos diabólicos...

Tudo parecia tão real e tão presente que deixei escapar uma lágrima em minha bochecha enquanto a dor e o medo das coisas que me rodeavam aumentavam cada vez mais.

— Implore mais, querida. — Sua voz tomava um tom superior enquanto ela se divertia com o sofrimento que me causava de maneira que eu não tinha idéia de como o fazia. — Diga que você me deve respeito, que eu sou a sua dona. Diga!

Respirei fundo tentando ignorar a dor infernal que fazia com que todo meu corpo queimasse, deixei-me imaginar que o suor frio que escorria em minha testa fosse apenas água, tentei imaginar que a dor que sentira no momento fosse apenas um fraco incomodo, forcei-me a enxergar a verdade e passar por cima das cenas pavorosas que meu psicológico colocava em meu caminho e apoiei meus braços no chão, me levantando com dificuldade.

— Nunca, Lorien. — Sussurrei com dificuldade, me colocando de pé. — Nunca me cederei a você.

Ela rosnou e a dor que eu sentira se multiplicou em todos meus músculos e novamente me pus ao chão e naquele momento, ao ver o poder que ela tinha sobre mim, notei que aquela mulher tinha uma ligação realmente forte comigo e se eu queria detê-la, devia jogar o seu jogo.

— Tem certeza que não irá dizer? — Sua voz agora fazia com que meus ouvidos doessem e seus olhos brilhavam em um tom vermelho sangue enquanto suas veias saltavam pelo pescoço pálido. Meu pulmão doía a cada vez que eu respirava até finalmente o ar me fugir várias vezes. — Hein, querida?

— Desculpe-me, por favor, me desculpe. — Cuspi as palavras com dificuldade e desgosto, realmente teria que deixar meu orgulho de lado caso desejasse ganhar esse jogo. — Eu sou sua, você tem controle sobre mim, mas faça isso parar, por favor...

Lorien mostrou seus dentes brancos em um sorriso vitorioso e a minha dor e angústia que tomava conta de todo meu ser passou em um piscar de olhos.

— Boa garota — ela deu tapinhas em minha cabeça como se eu fosse um animal doméstico. — Você ainda vai ter que aprender a respeitar sua mamãe, porém, não irei lhe castigar por isso, mas da próxima vez...

Deixando uma ameaça subliminar ela desapareceu novamente, me deixando jogada ao chão embasbacada e inconformada com o que acabara de acontecer.

Levantei-me do chão frio com certa dificuldade, me recuperando do ocorrido e respirando fundo. Cobrindo-me com a toalha, caminhei até o grande armário de meu quarto, pegando uma peça qualquer de roupa e a vestindo em seguida. Após o que acontecera havia desistido de tomar banho, vai que a louca da Lorien resolva aparecer novamente e me agarrar enquanto me lavo.

Dei uma gargalhada baixa de meu pensamento ridículo e também do papel que ela fizera, aquilo fora muito estranho, e quando eu falo muito, eu não estou exagerando.

Desci as escadas de minha casa e pude notar que Natallie não estava mais cantarolando no chuveiro, sentei-me sob o sofá desconfortável da sala de estar fechando os olhos e ponderando.

— Vou contar tudo ao Gregory, sua pestinha. — A voz aguda de Natallie fez com que meus olhos se abrissem. — Dessa vez você não me escapa.

— O que você vai contar para ele, sua vadiazinha? — Interroguei indiferente, imitando o seu tom de voz com sarcasmo.

— Não adianta fingir, Doroth — ela deu uma gargalhada, sentando-se ao meu lado do sofá. — Eu escutei você e sua namoradinha. Quem diria que você é uma lésbica encubada?

— Eu? Lésbica encubada? — Repeti suas palavras, gargalhando do absurdo que ela falara. — Você está louca, meu amor. Louca! Não tente arrumar historinhas para fazer com que o Gregory fique ao seu favor que não vai adiantar, acredite em mim, Natallie.

— Ah, é? — Ela deu um sorriso irônico para mim. — Você não sabe do que eu sou capaz, Doroth. Posso ser bem pior do que você imagina.

— Ai meu Deus! Que medo dela, ela é muito perigosa, fujam! — Zombei de sua ameaça. — Natallie, a única que deve temer aqui é você, que além de ser uma cretina que só sabe se aproveitar ainda acha que pode me ameaçar.

Senti uma ardência conhecida em meu rosto e a raiva subia a minha cabeça e eu não me controlei, avancei em sua direção com todo o ódio que guardara em meu peito desde o momento que a encontrei em minha cozinha.

— Não toque em mim novamente. — Rosnei, sentindo meus olhos se azularem aos poucos enquanto apertava minhas mãos ao redor de seus braços. — Nunca.

Olhei em no fundo de seus olhos, enquanto ela se paralisava de medo em meus braços, ver a dor tomando conta de seu corpo e da sua alma me fazia sentir cada vez mais satisfeita.

Não queria alimentar-me de sua alma nesse momento e sim me divertir com ela, fazê-la reviver todos os momentos de dor que já passara em sua vida através de sua própria mente era inacreditavelmente fantástico! O prazer tomava conta de cada molécula de meu corpo e não conseguia forças para parar, ela reviveria todos seus momentos ruins de medo, dor e desespero em um transe e sua alma era sugada aos poucos para dentro de mim, até a sua morte.

— Doroth? — Uma voz conhecida fez com que meus dedos se afrouxassem nos braços de Natallie, me impedindo de terminar meu serviço. — O que você está fazendo? Pare com isso!

Ao virar-me para porta, largando Natallie ao sofá com expressão assustada, deparei-me com meu pai e Jaxon com uma mistura de expressões confusas, assustadas e irritadas, ambos paralisados.

— Tudo bem? — Natallie repetiu a interrogação de meu pai, levantando-se do sofá em um movimento ligeiro, dando uma gargalhada assustada. — Está péssimo. Essa menina é um tipo de monstro, ela fez eu lembrar daquilo, eu vi tudo, senti tudo novamente!

— O que está acontecendo aqui? — Exclamou Gregory. — Exijo explicações claras! Desde a morte de sua mãe você vem agido de maneira estranha, mas agora bater na minha namorada é intolerável!

Um alívio percorreu meu corpo no momento que escutei suas últimas palavras, por sorte ele apenas achava que eu havia a agredido. O que teria que me focar no momento era em o que fazer para manter a Natallie calada.

— Ela não estava me batendo. — Natallie retrucou, para minha surpresa. — Foi apenas uma conversa nossa, eu assumo que a provoquei, desculpe, amorzinho.

— O que? — Interroguei, confusa. O que estava acontecendo com aquela mulher? Com certeza isso não custaria barato para mim, pelo menos disso eu tinha certeza.

— Não, papai. — Jaxon me fitou com os olhos. — Esse é o monstro que matou a mamãe, a gente tem que salvar a Super Doroth antes que o monstro...

— Calem a boca! — Dessa vez meu pai quem gritou, provavelmente se sentindo ainda mais confuso. — Jaxon, os malditos monstros não existem! Já falei! E Doroth, dessa vez passa, mas da próxima você se verá comigo.

— Que seja, papai. — Cuspi as palavras com nojo e desgosto, saindo pela porta sem esperar que falassem algo em resposta minha atitude, como tenho feito frequentemente ultimamente.

Confesso que sentira uma leve vontade de ir para o bosque e fingir que todos meus problemas eram apenas um pesadelo, mas nem o som que me chamava para o mesmo fazia com que me esquecesse da cena de Lorien em meu banheiro minutos atrás, ela me enojava ainda mais do que meu pai e Natallie.

Uma leve enxaqueca tomava conta de mim enquanto eu caminhava nas calçadas de barro vermelho e olhava para o pôr do sol, que não fazia seu papel de maneira correta ao levar em conta o frio que fazia. Eu estava faminta novamente.

Apesar de Lorien ter dito que aprenderia a controlar os meus “instintos assassinos”, a fome crescia cada vez mais dentro de mim, fazendo com que meus olhos mudassem de cor repentinas vezes.

Preto, azul. Preto, azul. Preto, azul. Lutar contra meu interior se tornava cada vez mais difícil. Respirei fundo e acelerei meus passos até um bar próximo à praça que havia na cidadezinha.

A decoração era rústica, como no Jack’s — o bar o qual conversara de maneira civilizada com Asher pela primeira vez — porém o ambiente era menos familiar e homens com seus dezoito a quarenta anos bebiam líquidos e misturas indecifráveis.

Adentrei o local, sentindo-me um pouco tonta ao resistir e não atacar em meio de tantas almas impuras, e alcancei o balcão, sentando-me na banqueta alta e logo em seguida gesticulei para a balconista.

— O que deseja, moça? — Interrogou a ruiva com seu forte batom sobre os lábios, vestida com um corpete vermelho justo e ousado o bastante para seduzir qualquer homem.

— Hm, o que você tem de mais forte? — Respondi com uma pergunta, sem saber o que responder na verdade. — Não me responda, apenas me traga.

Dei um sorriso forçado ao vê-la se afastando, uma música country tocava baixinho no ambiente e as pessoas ali presentes gargalhavam e gritavam, não devia se passar das seis horas da noite, porém o lugar estava cheio. Não desejava imaginar como seria isso pelas madrugadas.

— Você não é muito nova para beber isso, hein? — Um rapaz, com seus mais ou menos vinte e dois anos, interrogou com uma voz e sorriso pervertido assim que a balconista colocou o copo com uma bebida transparente em minha frente.

— E desde quando idade significa algo? — O encarei assim que escutei o som grave de sua voz na banqueta ao lado e devolvi o sorriso, falando com o mesmo tom.

— Hm, resposta na ponta da língua. Adorei. — Ele mostrou seus dentes brancos em um sorriso seguido de uma gargalhada gostosa de se ouvir. — Mas veremos se você consegue virar tudo.

Encarei o copo. Lembrar-me de que lá dentro havia uma das bebidas mais fortes do bar fez um enjôo embrulhar meu estômago e a tontura que a sede de almas me causava aumentava a cada instante. Respirei fundo e fechei meus olhos, colocando a boca do copo sobre meus lábios e sentindo o líquido amargar e queimar todo meu corpo. Aquilo era horrível!

Pisquei meus olhos várias vezes seguidas, sentindo pontos negros em minha visão.

— Não duvide de mim. — Sussurrei, aproximando meus lábios de seu ouvido. — Sou capaz de muitas coisas.

— Só acredito vendo, princesinha. — Uma de suas mãos grandes alcançara a minha perna esquerda apertando-a.

— Não mostro minhas habilidades em público. — Aproximei-me. Sentir sua mão em minha pele fez meu enjôo aumentar ainda mais, porém me mantive em meu “joguinho de sedução” do qual esperava ganhar algum lucro.

Ele sorriu com seus brancos dentes novamente, se levantando da banqueta sem dizer nenhuma palavra e pegando minha mão em seguida, me guiando até o provável depósito do bar. As caixas onde as bebidas eram mantidas tomavam conta de todo o pequeno cômodo e era quase impossível se movimentar no lugar.

— Agora que estamos a sós você pode me mostrar tudo que sabe. — O rapaz segurou minha cintura com força e beijou meus lábios de maneira selvagem. — E eu adorarei ver.

Continuei sem dizer nenhuma palavra, apenas retribui o beijo, chegando cada vez mais perto. Não sentia desejo ou atração naquele momento, tudo que eu queria ela saber o sabor de sua alma e saciar minha fome.

Encostando-me em um dos amontoados de caixotes, ele me levantou, fazendo com que prendesse minhas pernas em volta de sua cintura, passando suas asquerosas mãos por todo meu corpo e arfando de desejo. Interrompendo o beijo, puxei sua camisa em um movimento rápido, tirando-a, o beijando ferozmente em seguida.

— Daria tudo para te provar, delícia. — Apertando minhas coxas com força e mordendo os lábios logo em seguida, ele falou em meio um gemido abafado.

Sentir seu membro rígido fez meu ódio subir e por um piscar de olhos minhas íris tomaram a coloração azul por completo e eu o encarei com o meu fiel sorriso macabro, respondendo frase com um tom irônico.

— Então me dê sua alma.

Menos de um segundo após minha frase avancei em seus ombros, apertando-os até ficarem roxos. Um alto estalo seguido de um grito de dor fez com que eu deduzisse que algum de seus ossos havia sido quebrado. Sorri ao ver sua expressão dolorosa, sentia cada vez mais completa a cada vestígio de dor que encontrava em sua pessoa.

Olhando em seus olhos e mantendo paralisado, eu brinquei com sua alma. Fazendo com que ele se lembrasse de todos os momentos ruins e de todos seus medos, eu fui sugando e me alimentando de cada gota de sua alma até seu corpo cair morto em meus braços.

Fechei meus olhos e, jogando o corpo para dentro de um dos caixotes, soltei uma gargalhada de superioridade e prazer. Estava mais forte naquele momento, ver nos olhos daquele porco o quanto ele sofria fora melhor do que eu imaginava.

Realmente, a Lorien havia me feito um grande favor.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Críticas? Elogios? Recomendações? hein, hein? hahahaha, beijinhos.



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