O Sorriso Psicopata escrita por Wendy


Capítulo 19
O mundo é cheio de detalhes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoas ^^



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Já estava de madrugada quando voltamos para o circo. Todos estavam orgulhosos do que haviam feito e queriam finalmente descansar para o próximo show. Apesar dos pesares, eu havia gostado de passar um tempo com esse pessoal, eles eram muito divertidos juntos, mesmo com suas diferenças. Falei que iria assistir aos shows novamente, sempre que pudesse e eles afirmaram que iriam trazer novos truques. Despedi-me de todos que havia conhecido, porém não encontrei Melina. Conversamos muito pouco, mas mesmo assim, queria me despedir dela também.

–Eu queria dizer tchau para Melina, mas não a encontrei em lugar nenhum... –Falei, observando ao meu redor. –Você poderia dizer isso por mim?

–Melina? –Perguntou Lauren.

–Sim, uma loira de cabelos curtos um pouco ondulados e olhos claros, que estava ao meu lado mais cedo. –Lauren parecia continuar em dúvida, então continuei. –Ela já estava sem maquiagem quando eu a vi e usava um simples vestido azul.

–Do que você está falando, Jane? –Agora ela estava ainda mais em dúvida. –Não tem ninguém do jeito que você descreveu por aqui, principalmente chamada Milena.

–Então quem... Alguém de fora sabe o que vocês estão fazendo!

–Mas, como nós não saberíamos? Sempre deixamos algumas pessoas de guarda!

Lauren disse que iria avisar os outros e que tomariam mais cuidado.

Fui para casa e dormi por um bom tempo, sem sonhos, mas também sem pesadelos, apenas um sono tranquilo, sendo interrompido apenas pelo gélido e úmido focinho de um animal em meu rosto. O gato de Tia Violet já estava acordado e pedia por comida.

Os raios de sol invadiam o lugar, já estava um pouco tarde e meu estômago concordava com isso. Procurei algo na geladeira e fiz um sanduíche e achei uma lata de refrigerante para acompanhar a refeição. Ao olhar para a comida, lembrei-me do que Dra. Natasha havia falado sobre uma refeição mais saudável. Essa noite, eu iria entregar-lhe o que havia pedido, eu havia ganhado a aposta.

***

A escuridão já tomava conta da cidade quando fiquei frente à frente ao portão de Natasha, eu carregava a mochila com os itens que ela encomendara. Dessa vez não havia nenhum lobo e eu não cairia ao tentar pular em um galho novamente; Toquei a campainha. Não demorou muito até que o portão abrisse automaticamente e entrei na enorme casa pela segunda vez.

A médica me esperava em sua sala, acompanhada de uma taça de vinho e um antigo livro.

–Vejo que foi ao circo ontem à noite. –Disse ela olhando para a mochila em minhas mãos. –Divertiu-se?

–Foi um grande show. –Entreguei a mochila.

Natasha retirou os recipientes da mochila, abriu-os e os estudou com o olhar e o olfato e esboçou um sorriso, depois pediu que eu a seguisse até o laboratório.

–Sua família acredita que precisou ir para o hospital por motivos de emergência. –Ela disse enquanto acendia as luzes do local subterrâneo.

Quando finalmente pude enxergar bem, entendi o que ela queria dizer: Thomas estava inconsciente em uma mesa de cirurgia. Não consegui evitar um sentimento estranho, queria que não precisasse o sentir... Seria preocupação? Aumentava a cada segundo em que o ruivo continuava naquele estado.

–Você prometeu...

–Não se preocupe. –Interrompeu-me ela. –Eu cumpro minhas promessas. Foi uma aposta interessante e você a venceu, meus sinceros parabéns.

***

Aquelas duas noites passaram lentamente. Não consegui evitar vários pesadelos, de modo que dormi por menos tempo. E também havia a insônia e as alucinações que pioravam cada vez mais. Não entendia os motivos de aquilo estar acontecendo, não entendia os motivos de tanta preocupação e medo. Medo? Sim, eu estava com medo. Não conhecia essa sensação muito bem, era algo estranho para mim. Não compreendia o que era estar repleta de pressentimentos ruins, premonições de coisas que ainda não haviam acontecido, mas faziam sentir-me culpada. E se tudo desse errado? E se não passasse de uma grande mentira? As palavras “E” e “Se” nunca estivaram tão participativas. A culpa abria caminho pela minha mente, aumentando a cada minuto. Eu estaria ficando louca? Os sentimentos realmente são coisas inexplicáveis.

***

Quando o dia amanheceu, saí para caminhar no parque da cidade e respirar um pouco de ar puro, estava precisando disso.

Observei o lugar à minha volta: as plantas, as pessoas, os cachorros caminhando e brincando com seus donos. Havia gente de todos os tipos: Altos, baixos, brancos, morenos, jovens, idosos, loiros, ruivos... Mas um em especial prendeu minha atenção, parecia-me familiar. Aproximei-me, otimista de que meu cérebro não estaria enganando-me e ele não estava.

Eu já estava bem perto quando Thomas virou-se para mim. Havia brilho em seus olhos azuis, que pareciam querer encher-se de lágrimas. Não estavam perfeitos, do ponto de vista das outras pessoas, mas para ele, era a coisa mais incrível que um ser humano poderia querer.

–Thomas?! –Falei, sorrindo.

–Jane?! –Aquele foi o sorriso mais feliz e sincero que eu já havia visto. –É você mesmo?!

Nos abraçamos e Thomas, exageradamente animado, me contava o quanto estava emocionado e como o mundo era belo e cheio de mínimos detalhes.

–Eu me lembro de estar caminhando, quando de repente desmaiei e acordei no hospital, mas desmaiei de novo. Depois só me lembro de uma médica me levar para o lado de fora, onde explicou para a minha família, que já me esperava, que a situação dos meus olhos estava piorando.

Dra. Natasha...”. Pensei. “Você realmente cumpre suas promessas...”.

[Flashback On]

Tudo estava meio claro e embaçado, uma criança ruiva corria para brincar com seu amigo, os dois ainda eram muito pequenos.

–Ei, vamos entrar naquela fábrica velha, ali! –Disse um feliz garoto de cabelos castanhos escuros, com uma franja que já estava precisando de um corte.

–Tem certeza? E se tiver alguém ou alguma coisa lá? –Disse o ruivo.

–Não, tem não, vamos lá! Você está com medo?

–Eu não!

–Então vamos logo, Thomas! –O garoto saiu correndo e passou por entre as barras de seu portão, o fato de ainda ser bem pequeno lhe ajudou muito nessa hora. Thomas fez o mesmo.

O lugar estava empoeirado e escuro, pouca luz entrava pelas velhas janelas quebradas.

–Brian? Cadê você? –O ruivo procurava seu amigo.

–Aqui! –Gritou. –Olha o tamanho dessas coisas, parecem latas gigantes, são maiores que eu!

–Ah, te achei! Esses negócios estranhos em que você está subindo estão vazios, Brian?

–Eu não sei. –Disse o garoto e bateu o pé na tampa abaixo dele. –Eles estão cheios de poeira.

Thomas espirrou e Brian riu de seu amigo, batendo o pé mais e mais vezes, levantando muito pó, até que um barulho muito alto foi ouvido, acompanhado de um grito. Brian caiu dentro da enorme “lata”, onde havia uma espécie de líquido e uma pequena quantidade do mesmo foi espirrada nos olhos de Thomas, ele não voltaria a enxergar.

O menino ruivo contorcia-se de dor no chão, infelizmente, não podia fazer nada para ajudar seu amigo, que tentava gritar desesperado, contudo, acabou afogando-se e só então, seu corpo aquietou-se, assim como sua alma.

***

Thomas acordou assustado, como sempre, em meio a escuridão. Havia sonhado com sua infância novamente. Sempre aquele mesmo sonho...

–Onde eu estou? –Perguntou confuso.

–No hospital. –Respondeu uma voz feminina familiar, com certeza já tinha a ouvido em uma consulta médica. –Houve uma complicação com seus olhos, mas se tudo correr como planejado, logo irá melhorar e muito. Mas agora... –Thomas sentia um pontinho de dor em seu braço direito. –Você precisa dormir mais um pouco...

Sentiu-se cansado e com sono e logo desmaiou novamente. Não sabia exatamente quando tempo havia se passado quando acordou.

–Abra seus olhos, Thomas.

O ruivo obedeceu. Um brilho muito forte invadiu os olhos do rapaz, mas em alguns minutos ele conseguiu observar ao seu redor. Pela primeira vez desde os seus cinco anos, Thomas enxergava. Estava sentando no corredor do hospital, ao lado de uma mulher com cabelos pretos e ondulados. O garoto começou a chorar como nunca havia chorado em toda a sua vida, porém aquilo era incrivelmente bom.

[Flashback Off]

Thomas e eu passamos a tarde juntos, nunca havíamos nos divertido tanto como nessas poucas horas de sol.

–Ei, eu vou buscar minhas irmãzinhas na escola, elas ainda não me viram assim, vão ficar muito animadas!

–Tenho certeza que sim! Bem eu vou para casa... Agora acho que não há necessidade nenhuma em acompanha-lo. –Ri.

–Quer que eu lhe acompanhe?

–Você vai se atrasar, suas irmãs não vão gostar nada da ideia, haha! Quem sabe, na próxima oportunidade?

–Tudo bem! –Sorriu ele. Era realmente incrível a sensação de vê-lo tão feliz. –Até mais.

***

O dia havia sido incrível e sorri ao lembrar-me disso enquanto caminhava para casa, acompanhada pelos últimos raios de sol do dia. A rua estava tranquila até que, de repente, senti que alguém segurava meus braços, de modo que eu não pudesse lutar ou correr e então um lenço foi forçado contra meu rosto. O cheiro era horrível e sufocava-me, então comecei a me sentir confusa e cansada, até que tudo se apagou.


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Notas finais do capítulo

E agora? O que vocês acham? u.u
Até semana que vem o/



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