Premonição 7: Clube da Morte escrita por Lerd


Capítulo 5
Profundo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 5 está aí, gente :DDEu postei uma "wish list" de atores que interpretariam os personagens da fic, caso vocês queiram ver. Está aqui: http://premonicaofanficsource.blogspot.com.br/E eu estou editando e melhorando cada vez mais a wikia das minhas fanfictions! Caso vocês queiram ver, está aqui: http://premonicaofanfics.wikia.com/wiki/Final_Destination_FanficsPor último: eu revisei esse capítulo duas vezes, mas por ele ter vários "grandes momentos", algo pode ter passado batido. Então se vocês verem algum errinho, podem me avisar, por favor ^^ Bom, é isso. Enjoy :D



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A mulher chegou ao bar e instalou-se de maneira taciturna. Chamou Cassiel e pediu uma dose de tequila. O rapaz serviu-a e ficou discretamente a observando. Ela era negra e belíssima. Usava uma regata branca e um paletó negro de mangas três quartos por cima. Parecia ser uma tira ou algo assim, pela sua postura.

— Outra. — Kitty pediu.

O rapaz então subitamente a reconheceu como a policial do dia do zoológico. Como ela parecia não tê-lo reconhecido, Cassiel nada disse. Serviu-a mais uma vez e voltou a seus afazeres.

Mas Kitty observava-o de cima a baixo. Subitamente sentiu-se atraída por aquele homem e não escondeu seus interesses. Ele pareceu interessado, então bastou apenas uma troca de olhares e os dois logo estavam fazendo sexo no minúsculo apartamento em que ele morava, logo após o seu turno na boate acabar. Cassiel não fazia sexo a dois anos, de modo que a relação não foi muito longa. O rapaz adormeceu quase que imediatamente.

A inspetora deitou a cabeça no peito dele e ficou observando a escuridão daquele quarto. Sentia-se vazia. Fazia mais de duas semanas que nada era descoberto a respeito do Cara de Coelho, o que era o maior período de tempo que ele já ficara inativo.

Mesmo quando não estava fazendo suas vítimas, Bunny Facedava alguns pequenos sinais de vida, às vezes só para a detetive. Eram sucintas mensagens de texto irrastreáveis, e-mails anônimos, e por duas vezes correspondências sem remetente. Nunca era nada de mais, apenas infames piadas a respeito das vítimas. Kitty bufava e frustrava-se, mas pelo menos era uma pista. A cada ocasião ela tinha a esperança de que fosse encontrá-lo, fosse atrás da mensagem de texto, do e-mail ou da correspondência. Aquela inatividade sugeria a detetive que ele estava planejando algo grande.

Mas o que aquele homem de aparência sisuda e peito quente e macio tinha a ver com tudo aquilo? Ele era apenas mais uma maneira de tentar deixá-la aliviada. Sempre funcionava momentaneamente, mas assim que o orgasmo acabava, Kitty estava de volta com um fantasma em suas mãos.

A policial levantou-se e se vestiu. Observou no relógio do celular que já eram seis da manhã. Colocou os sapatos e pensou em sair e deixar o rapaz dormindo, mas o seu movimento fez com que ele acordasse.

— Eu não queria te acordar, desculpa. Eu estou de saída. — Disse.

O rapaz esfregou os olhos e disse:

— Você não se lembra de mim né?

— Como? Desculpe-me.

— Do dia do zoológico.

Aquela frase paralisou o coração de Kitty. Ela estava pronta para sacar a arma que estava em seu paletó, mas Cassiel continuou explicando, ainda sonolento e sem perceber a reação da detetive:

— Você falou pra gente ir embora porque os animais estavam fugindo e aquela merda toda.

— Ah, sim. — E suspirou aliviada. Por alguns segundos ela vislumbrara todo um cenário em que havia feito sexo com o serial killer ao qual estava perseguindo. Daria um bom livro, pensou, assim que a história foi esclarecida. — Me desculpe. Eu vejo muitas pessoas todos os dias.

Cassiel abriu um largo sorriso que derreteu Kitty. Ela levantou-se da cama e deu tchau com a mão. O rapaz resmungou:

— Promete não me esquecer dessa vez?

Kitty observou-o calmamente durante vários segundos. Ele é o diabo de belo. Maldito. E então sorriu de maneira doce. Retirou seu cartão do paletó e deixou-o sobre a mesinha que ficava ao lado da cama. Ali estava o seu número de celular.

— Prometo. — Ela disse, e então abriu a porta e saiu.

Cassiel abriu os braços e colocou-os atrás da cabeça. Em seu rosto havia um leve e malicioso sorriso.

x-x-x-x-x

Crystal lia distraidamente. A loja estava vazia e silenciosa, de modo que a leitura era sua melhor opção de distração. Na capa do jornal a matéria estampada era aterrorizante:

Estrela em ascensão morre em acidente durante peça.

A garota já lera toda a matéria, pequena, de meia página. O motivo era claro: o acidente havia acontecido na noite anterior, de modo que o jornal teve pouco tempo para apurar as informações e escrever uma matéria maior. Com toda certeza o periódico do dia seguinte traria pelo menos umas três páginas dedicadas a Themis Aghata Dellis e seu fatídico acidente, já que ela era relativamente conhecida dentro do meio teatral. Além disso, havia o fato de que o acidente fora brutal. Aquela história ainda renderia algumas manchetes.

Pobre garota, Crystal pensou. Aquela tragédia instintivamente a fez lembrar-se do acidente ao qual sobrevivera duas semanas antes. Até aquele dia não sabia nem ao menos o nome do rapaz que indiretamente a salvara. Queria agradecê-lo, talvez? Não sabia dizer por qual exato motivo, mas não conseguira tirá-lo de sua cabeça durante todos aqueles dias que se seguiram. Sabia que precisava pelo menos encontrá-lo. Saber seu nome, sua história. Lembrava-se de que ele estava ao lado de uma garota oriental que...

Bingo!

Abaixou-se e começou a vasculhar as revistas que mantinha guardadas em um pequeno armário dentro da loja. Encontrou rapidamente a que procurava. Era uma revista de distribuição gratuita que listava instituições de caridade e ONGs de toda ordem. Claro, eu conheço aquela garota.

Encontrou a foto e o número de telefone da instituição de Grace Seoung Porter na página 3 da revista. Crystal agradeceu este presente da memória. Como podia ter se lembrado daquilo apenas duas semanas depois? Talvez tenha sido porque eu foquei apenas no rapaz. Eu jamais conseguiria encontrá-lo se ficasse presa a ele...

Encarou o número de telefone impresso no papel. Deveria ligar ou não? Como abordaria a tal Grace? Se ela ao menos soubesse algo a respeito do rapaz...

A dogtag. É isso. Ele é um militar.

Teve uma ideia melhor. Desistiu de ligar para Grace. Pegou o notebook que usava para trabalhar e entrou em sua conta do facebook. Digitou o nome completo de Grace (olhando para a revista na hora de fazer isto) e encontrou rapidamente seu perfil. Então fez uma rápida pesquisa e descobriu que ela tinha quase duas mil pessoas adicionadas. Crystal jamais conseguiria encontrar o rapaz assim. Então utilizou a ferramenta de busca da rede e procurou pelos amigos de Grace que trabalhavam para o Exército dos Estados Unidos. Comemorou ao ver o perfil na tela.

Cassiel Hendrix era o nome dele. Tinha 26 anos e aparentemente, pela sua foto de perfil, era pai de uma menininha de um ano e alguns meses. Crystal procurou seu número de celular nos dados, mas não encontrou. Então tentou procurar por seu nome no Google.

Espantou-se com a primeira página de resultados. Durante os quinze minutos seguintes, dedicou-se a ler todas as notícias relacionadas à Cassiel. Ele havia ficado cativo na Síria por dois anos, e voltara aos Estados Unidos fazia alguns meses. Ela lembrava-se vagamente de ouvir sobre isso nos noticiários, mas a televisão, pela falta de tempo, não citava o nome de nenhum dos soldados. Na internet, pelo contrário, essa informação podia ser facilmente encontrada.

Com uma base para bolar sua história, Crystal discou o número da instituição de Grace. Deu sorte e foi a própria quem a atendeu, mostrando uma pessoalidade que deixou a garota impressionada. Mentiu que trabalhava para o setor de RH do exército e que precisava do endereço de Cassiel, já que todos os dados haviam sido perdidos durante uma pane no sistema. Quando Grace perguntou como Crystal sabia que ela conhecia Cassiel, a garota já tinha uma mentira pronta. Disse que a mãe dele, Tina, estava listada como uma das voluntárias da instituição de Grace, de modo que a mulher deveria ao menos ter o número dela. A oriental aceitou aquele argumento e cordialmente passou o número do celular de Cassiel, dizendo não ter certeza de seu endereço. Crystal agradeceu e desligou.

Ainda estava com o número em mãos quando o sino da porta tocou, anunciando que um freguês havia entrado.

x-x-x-x-x

Cody estava lavando a louça quando Marissa chegou do trabalho. Eram cinco da tarde, e ela havia sido dispensada mais cedo. Erika ainda não havia chego, decerto estava na redação. A médica lera a respeito da morte de Themis, e sabia que ela era noiva de um jornalista que trabalhava para a Anubis. A redação devia estar um caos. A Erika deve estar trabalhando como louca.

— E aí, maninha! Te mandaram embora? — O rapaz brincou.

Marissa riu. Como eu vou dizer a ele que ele precisa ir embora? Ele é meu irmão, é meu próprio sangue. Mas, por outro lado, ele é um homem crescido. É capaz de cuidar de si mesmo. Já o Jamal...

E então a loira lembrou-se das palavras da assistente social: isso não precisa ser algo traumático ou que destrua a família de vocês. Basta que vocês aluguem um apartamento ou algo assim, em que o rapaz possa morar.

Cassiel!

— A gente precisa conversar, Cody.

O rapaz assentiu com a cabeça, continuando:

— Claro, mas espera eu lavar a louça. Vai fazendo um café enquanto isso.

A irmã concordou e rapidamente colocou a água na cafeteira. Cody enxugava a louça e a guardava no armário. Estava sem camisa e descalço, usando apenas uma bermuda vermelha, item que fizera parte de um antigo uniforme de basquete do rapaz, da época em que ele estava no high school. A loira terminou o café antes que ele terminasse sua tarefa, então o serviu em duas xícaras e sentou-se de frente a bancada da cozinha onde Cody estava. Tomou alguns goles e ficou observando o irmão.

— Pronto. — Ele disse, jogando o pano de prato na pia. — Manda bala.

— Ok. Antes de tudo eu preciso te dizer que eu te amo muito. Você precisa saber disso, sempre. Você, a Erika e o Jamal são as coisas mais importantes na minha vida. Eu jamais conseguiria viver sem nenhum de vocês. Você sabe disso né?

— Claro que eu sei, mana. Eu também te amo. — Ele disse, soltando um sorriso brincalhão.

— Eu preciso que você alugue um apartamento. — Ela disse, de repente. O rapaz fez uma expressão de surpresa. — Eu não estou te expulsando daqui, mas eu acho que seria legal que você tivesse um espaço em que pudesse ficar mais a vontade, não sei. Trazer umas namoradas... — E riu discretamente. Cody não conseguiu rir junto.

O rapaz pigarreou antes de dizer:

— Mas eu não tenho dinheiro. Eu não tenho nem um trampo ainda. O Skeelz falou que vai me dar uma resposta amanhã, mas mesmo assim... A grana não é muito alta. Não é suficiente pra pagar um apartamento.

Há duas semanas que ele fala que o Skeelz vai lhe dar a resposta amanhã. Oh, Cody...

— Eu já pensei nisso. — Marissa confirmou. — Eu vou pagar a metade do aluguel do seu apartamento. As despesas da casa, porém, vão ficar por sua conta. Eu só vou pagar o lugar onde você vai morar, mais nada.

O rapaz deu com os ombros e tomou um gole do café. Estava amargo, Marissa e Erika gostavam de tomá-lo sem açúcar. Enquanto Cody colocava toneladas de açúcar no líquido, Marissa foi dizendo:

— E não é você quem vai pagar a outra metade do apartamento.

— E quem é então? — O rapaz perguntou. — Com quem eu vou dividir o apê?

— Cassiel.

— O seu amigo? O doidinho do zoológico?

— Não fala assim dele, Cody!

— Desculpa.

— O Cassiel é um colega de quarto maravilhoso. Ele viveu dois anos numa sela com dúzias de outros soldados. Ele sabe dividir, ele não incomoda as outras pessoas. Ele é a melhor pessoa que você poderia encontrar pra dividir um apartamento.

Cody ficou vários segundos refletindo sobre aquela ideia. Tomou duas xícaras de café enquanto isso. Marissa serviu uns pães e fez sanduíches para eles comerem. O rapaz continuou em silêncio por muito tempo. Tinha escolha? Provavelmente não. Não gostava da ideia de dividir um apartamento com um estranho, mas podia funcionar. O tal Cassiel parecia meio doido, mas não era folgado. É, pode funcionar.

— E o que o seu amigo acha disso? — Cody disse de repente.

— Ele ainda não sabe. — Marissa riu, dando uma mordida em seu sanduíche. Engoliu e disse: — Mas ele topa, com certeza. Ele tá morando num quartinho minúsculo atualmente. Ele vai concordar.

— Mas ele não tem uma filha ou algo assim?

— Tem, a Julia.

— E ela vai morar com quem?

— Ela mora com a avó.

— E por que ele não mora com a velha também?

— Cody! — Marissa disse, em tom de reprimenda.

— Desculpa. — O rapaz repetiu pela segunda vez.

Marissa riu.

— Ele precisa do próprio espaço. Igual a você.

Os dois conversaram por mais alguns minutos, enquanto tomavam café. O diálogo terminou quando Erika chegou em casa, completamente esgotada. Cody a cumprimentou e deixou as duas sozinhas, seguindo para o seu quarto. Havia prometido para a irmã que conversaria com Cassiel a respeito da ideia. Marissa não o apressara.

x-x-x

Cody sentou-se na frente do computador e abriu a biblioteca de músicas. Colocou pra tocar Sympathy For The Devil, dos Rolling Stones, e entrou no pequeno banheiro que havia em seu quarto. Deixou a porta aberta para que pudesse ouvir a música enquanto tomava banho. Quando saiu, enxugou-se e trocou de roupa rapidamente. Deitou na cama e ficou observando o teto.

Pensou em Cassiel e no dia que eles saíram do zoológico. De uma forma meio torta, ele devia sua vida àquele homem. Se não fosse a suposta visão dele, Cody teria morrido naquele dia, era muito provável. Por algum motivo ele nunca pensara naquele dia e nem na premonição de Cassiel. Estava vivo e era isso que importava.

Marissa lhe contara sobre a conversa que tivera com ele, a respeito daquele dia. Ela lhe contara sobre os estranhos sonhos do homem, como se eles estivessem destinados a morrer. Seria impossível? E então fez a ligação entre os fatos. A conversa que a irmã tivera com Cassiel. Os sonhos dele. A morte da garota no teatro.

Ela saiu do zoológico com a gente, eu lembro. É a namoradinha do jornalista que trabalha pra Erika. Caralho...

Levantou-se num pulo e correu até o computador. Em uma pesquisa rápida, descobriu que a garota se chamava Themis Aghata Dellis. E sim, como suspeitava, ela namorava o tal do Ulysses. A coincidência dos fatos arrepiou os pelos da nuca de Cody.

Decidiu compartilhar aquela história. Acessou a deep web e procurou um fórum que tratava de assuntos paranormais.

Cody conseguia acessar aquele submundo online desde que tinha quatorze anos, de modo que para ele era uma tarefa simples. No começo se chocara com muita coisa que vira, mas aprendera a não procurar o que não estava pronto para ver. Desde então usava a deep web apenas para discutir sobre métodos (muitas vezes ilegais) para suportar a abstinência da cocaína e para compartilhar experiência com outros ex-viciados sem o medo de estar sendo vigiado, coisa que acontecia na surface web. Orgulhava-se de dizer que não tivera nenhuma recaída desde que largara as drogas.

Criou um tópico chamado “O clube da morte”. Parecia atrativo e enigmático o suficiente para que outras pessoas clicassem nele. Digitou:

Essa história aconteceu comigo e com uns conhecidos e é muito, muito estranha. Vocês não precisam acreditar, eu estou postando isso apenas para o caso de alguém aí fora saber alguma coisa. Bom, vamos lá.

Há algumas semanas eu, minha irmã e algumas outras pessoas estávamos no Roar Zoo. Sim, aquele zoológico em que os animais fugiram. E sim, foi no mesmo dia! É aí que a história fica estranha. Um dos rapazes que estava com a gente disse que viu o acidente! Ele disse que teve uma premonição. Foi uma parada muito doida. A gente acabou saindo de lá pra ajudar o cara, mas ninguém realmente acreditou nele. Mas então aconteceu.

O pior vem agora: esse cara tá dizendo que tem sonhos com a gente morrendo. Ele vê as pessoas que saíram do acidente morrendo! Um maluco, certo? Bom, eu acho que nem tanto. Uma das garotas que saiu do acidente, uma atriz chamada Themis Aghata Dellis, morreu ontem durante a estreia da peça “Cassandra”. Podem procurar aí no Google. Eu confesso que estou um pouco assustado.

E se eu também for morrer? E minha irmã? Eu geralmente não acredito nesse tipo de história, mas é impossível não ficar com um pouco de medo.

E enviou. As respostas provavelmente demorariam um pouco para vir, então Cody desligou o computador e resolveu tirar um cochilo.

x-x-x-x-x

Crystal decidiu que não iria mentir. Era a pior coisa que poderia fazer. Ela queria ganhar a confiança de Cassiel, queria poder entendê-lo. Não poderia iniciar a conversa deles se desculpando por ter mentido. No telefone foi sucinta, mas sincera: disse que estava no zoológico no dia do acidente e que vira toda a cena que se passara. Pedira para se encontrar com ele para agradecer. O rapaz relutou, mas aceitou. Eles se encontrariam no shopping do centro, às seis horas da tarde, quando a garota fechava a loja e ia pra casa.

A wicca decidiu que não trocaria de roupa. Estava usando um vestido florido reto e de pano leve que ia até seus joelhos. Em seus pés havia um par de sandálias de salto baixo. Descreveu suas roupas para Cassiel, para que ele a encontrasse, e desligou. Saiu do trabalho às cinco e meia e foi a pé até o shopping.

Encontrou com o homem sentado em uma sorveteria, tomando distraidamente um milk shake. Ele vestia uma camiseta cinza sem estampas e uma calça camuflada. Crystal cumprimentou-o, tirando-o de seus devaneios:

— Oi.

Cassiel pareceu realmente surpreso. É a garota dos olhos intrigantes. A da jaula... E sentiu seu estômago embrulhar com a lembrança da morte dela em sua visão.

— Posso me sentar? — Ela perguntou. Cassiel foi cavalheiro: levantou-se e puxou a cadeira para ela. A garota agradeceu e se sentou. Chamou o garçom e pediu um milk shake igual ao do rapaz.

— Seu nome é Crystal, certo?

A garota assentiu com a cabeça. Havia dito aquela informação pelo telefone.

— Você é mais doida do que eu, se não me acha um maluco...

— Por que você diz isso?

O rapaz deu com os ombros.

— Eu sei lá. Mas pessoas normais não ficam tendo esse tipo de visões. Acidentes e tal...

— Acidentes? No plural? — Crystal se surpreendeu.

Cassiel concordou.

— Mas esses outros não são exatamente visões, são só sonhos. E eu nem estava dando muita bola pra isso, até... — E então o loiro puxou um jornal que trazia guardado dentro de seu bolso. Na verdade era apenas o recorte de uma matéria. Crystal sabia exatamente do que se tratava.

A morte daquela atriz. “Estrela em ascensão morre em acidente durante peça“,dizia o título.

— O que essa notícia tem a ver com qualquer coisa? Eu não compreendo...

E então a sua bebida chegou. Crystal agradeceu ao garçom e começou a tomá-la, enquanto Cassiel começava a explicar a história:

— Eu falei com a minha amiga Marissa hoje mais cedo. A Themis estava no acidente. Ela saiu porque o namorado dela quis falar com a chefe. A chefe, no caso, é... Namorada? — E Cassiel confundiu-se com a maneira como deveria se referir a Erika. Para ele aquela situação era tão normal que ele jamais havia parado pra pensar se existia um termo diferenciado para casais formados por duas mulheres. — Isso, namorada, da minha amiga Marissa.

— Você tá querendo dizer que se você não tivesse tido essa visão...

— A Marissa e a Erika teriam ficado no zoológico. O rapaz e essa moça também, por consequência. Eles morreriam no zoológico.

Oh meu Deus! A cabeça de Crystal deu um nó. O que ela deveria pensar?

— Eu aceitei me encontrar com você por isso. Eu não tenho mais ninguém com quem falar. Eu acho que a Marissa, a minha mãe e alguns outros poderiam acreditar em mim, mas eu não sei. Eu preciso organizar minhas ideias, meus argumentos. Com alguém que me veja de maneira clara, objetiva. Alguém com quem eu não tenha nenhum tipo de relação prévia. Você.

Crystal sentiu seu coração bater mais forte. Se aquela era uma cantada, Cassiel era péssimo em paquera.

— Mas o que você pensa sobre tudo isso? A garota morreria no acidente do zoológico e morreu em outro. Grande coisa. É uma coincidência bizarra, mas é uma coincidência.

Cassiel então ergueu o dedo, pedindo pra falar. Crystal educadamente passou a palavra para ele.

— Lembra que eu mencionei os meus sonhos? — E a garota assentiu positivamente. — Pois então. Nesses sonhos eu vejo todo mundo morrendo. Todas as pessoas que saíram do acidente. Isso inclui você e eu.

— Isso não quer dizer nada. — Crystal respondeu. — É apenas uma reação do seu cérebro diante de tantas tragédias.

— Eu também acharia isso, se fosse você... Mas acontece que eu comecei a ter esses sonhos antesda morte dessa garota.

O coração de Crystal parou por alguns segundos. Cassiel falava de maneira calma e séria. Não parecia ser nenhuma brincadeira. Por algum motivo, Crystal acreditava nele. Se não acreditasse não teria nem ao menos saído do zoológico. Cassiel não tinha motivo algum para enganá-la. Ela o procurara. Ela quisera marcar aquele encontro. Mas isso é horrível...

— Isso significa... Que todos nós vamos morrer? — Foi tudo o que ela conseguiu dizer.

Cassiel deu com os ombros. Finalizou seu milk shake e resolveu perguntar:

— Por que você acreditou em mim, naquele dia?

Dessa vez foi Crystal quem deu os ombros. Não disse nada.

Cassiel então ficou longos segundos encarando aqueles belos olhos de ressaca.

x-x-x-x-x

Grace e Tina passeavam pelo shopping de braços dados. A oriental tinha várias sacolas de compra em seus braços, todas elas destinadas a sua instituição. Eram roupas para as crianças. Camisetinhas e calças, meias e roupas íntimas. Tina também carregava uma porção delas.

Havia duas outras sacolas, porém. Em uma delas havia um descolorante de cabelo. Era para Grace. Ela decidira, de uma hora para a outra, que ficaria loira. Estava animada com aquilo, e Tina também. Na outra sacola havia algumas garrafas de suco que as duas haviam comprado. Ambos os frascos eram da mesma cor.

— As crianças vão amar essas roupas, Tina. Eu estou tão animada!

— Nós tivemos sorte de encontrarmos essa promoção.

A oriental concordou. As duas estavam no quarto andar, o último. Andavam de maneira lenta, observando todas as vitrines. De repente, um homem passou correndo por elas, segurando uma bolsa. Ele acabou esbarrando em Grace e a derrubando, fazendo as sacolas se espalharem pelo chão. Um segurança e uma senhora idosa corriam atrás dele. Um assalto, Tina pensou. Não estamos mais seguros em lugar nenhum...

— Que horror. — Grace murmurou, recolhendo as sacolas. As roupas e os frascos haviam ficado espalhados pelo chão. Tina abaixou-se e começou a ajudá-la. Foi então que ela viu, há alguns metros dali, Cassiel. Ele estava conversando com uma garota desconhecida.

— Olha. — A mulher apontou. Grace observou a cena e uma expressão não muito alegre surgiu em seu rosto.

Era claro que ela tinha uma queda por Cassiel. Achara, após aquela noite em que lhe deu conselhos, que a sua amizade prosperaria. Que eles acabariam por se tornarem... Íntimos, talvez? Poderia evoluir. Mas então ele desaparecera e eles só se comunicavam através de mensagens e telefonemas. Para Grace aquilo era extremamente frustrante.

— A gente vai dar um “oi” ou...?

— Se você não se importar. Eu queria tentar convencê-lo a ir passar a noite lá em casa hoje. — Tina comentou.

A oriental concordou com a cabeça, e as duas seguiram na direção da dupla. Elas cumprimentaram Cassiel de maneira educada, mas não muito calorosa. O rapaz então apresentou Crystal como uma “amiga”. Tina foi educada com a jovem, enquanto Grace preferiu ficar calada. A cigana tentou manter-se invisível, temendo que fosse desmascarada.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Cassiel perguntou.

— Compras. — Grace respondeu. — Pra instituição. Espera... — E então a lembrança da ligação que recebera mais cedo ligou as coisas. — O seu nome... Você é a Crystal que me ligou mais cedo? A do RH?

Oh, merda. Quais seriam as chances de isto acontecer?

— É ela sim. — Cassiel confirmou. — A Crystal me conheceu antes de eu ir para a Síria.

Grace aceitou aquela resposta, sorrindo. O rapaz discretamente olhou para a outra garota, soltando um olhar que dizia: você me deve explicações. Crystal suspirou em agradecimento. Enquanto Tina e Cassiel conversavam, as duas outras garotas decidiram lhes dar licença. Grace colocou as sacolas em cima de um banco e apoiou-se no parapeito de vidro. Crystal estava ao lado dela. Lá embaixo as pessoas pareciam ser do tamanho de formigas.

— Quer um suco? — A oriental ofereceu.

A outra garota aceitou e Grace pegou as bebidas de dentro da sacola. Entregou uma para Crystal, enquanto tomava a outra.

— Suco de maracujá. Meu preferido. Me acalma. — E sorriu.

Crystal percebeu que a oriental parecia depressiva. Queria perguntar o que estava acontecendo, mas aquela seria uma intromissão e tanto. Elas mal se conheciam. Por que você tem essa necessidade de querer conhecer e entender todo mundo que conhece, Crystal? Por quê?

Distraída em seus pensamentos, a cigana não viu o erro. Grace delicadamente abriu a garrafa e virou o descolorante, engolindo muito do líquido antes de perceber o erro. Crystal olhou para ela e, ao ver a sua expressão de nojo, entendeu o que havia acontecido.

— Cassiel! — Ela gritou instintivamente.

Em um segundo as coisas começaram a passar em câmera lenta. Todos os sinais estavam ali. Como Cassiel não percebera?

Em sua mesa, no cardápio. “Diet Shake” era o que estava escrito, mas as três primeiras letras estavam claramente em negrito. Tina segurava uma sacola de uma farmácia, mas dentro dela havia apenas uma garrafa de suco. O jornal. Estrela em ascensão. Acidente.

Depois da ascensão, vem a queda, alguém sussurrou em sua cabeça.

Ele correu, mas já era tarde demais.

Grace soltou um berro e sentiu-se tonta. Crystal esticou o braço para segurá-la, mas em um segundo ela não estava mais lá. A oriental caiu por cima do parapeito de vidro, direto para o primeiro andar. Em seus últimos segundos de vida, sentiu que voava para a felicidade.

Caiu dentro de uma rasa fonte, batendo com força a cabeça no fundo. Sua face ficou completamente esmagada, e em segundos a água transparente tornou-se rubra. A estátua de querubim então começou a vomitar sangue.

Cassiel olhou para baixo, chocado. Crystal sentou-se no chão e começou a chorar. Tina teve tempo de sentar em um banco e então apagou.

Está realmente acontecendo, foi tudo o que Cassiel conseguiu pensar.

x-x-x-x-x

Bunny Faceacompanhava as atividades de todos os sobreviventes, através da internet. Não fora difícil: tinha uma boa memória, e o tumulto que o militar causara fora suficiente para lhe chamar a atenção. As ligações entre eles eram claras, de modo que ele rapidamente conseguira links, nomes, idades e profissões. Sabia o básico sobre todos eles. Pelas suas contas, eles estavam em doze.

Onze, na verdade, após a morte da ruivinha. A velha e a criança não tinham nenhuma rede social, de modo que vigiá-los se tornava mais difícil. Sobravam os outros nove. Atualmente, estava particularmente interessado no que o tal do Cody tinha a dizer, mais ainda do que nos perfis dos tiras. O tópico que ele criara na deep web parecia explicar muita coisa.

O serial killer leu o texto com atenção. Sorriu maliciosamente. Não sabia se acreditava ou não naquilo, mas se o rapaz estava tão convencido de que estava amaldiçoado, qual o problema em lhe dar uma mãozinha? Bunny Facesentia-se faminto, mas desanimado. Aquele “clube da morte” poderia ser uma boa maneira de inspirá-lo. Suspirou.

Era fácil saber por quem começar. Uniria o útil ao agradável e faria algo que planejava fazer há meses.

Gatinha, gatinha. Seus dias estão contados. Um felino pode ser feroz, mas não é páreo para a astúcia de um coelho.

x-x-x-x-x

Jamal brincava sentado no tapete da sala de Erika e Marissa. Elas conseguiram autorização para que ele passasse a noite ali, de modo que estavam em polvorosa. A morena dormia no sofá, com a televisão ligada. Marissa passava roupas ao lado do garoto, enquanto Cody estava em seu quarto, provavelmente dormindo.

— Eu estou com fome. — O garoto reclamou.

— Eu vou te fazer um sanduíche, espera só eu terminar de passar essas roupas.

O garotinho concordou com um aceno de cabeça. Marissa dobrava uma camiseta quando ele se levantou. Jamal tropeçou em um dos blocos de madeira e enroscou sua perna no fio do ferro de passar roupa. Quando deu o primeiro passo, puxou o objeto para baixo.

Marissa soltou um grito.


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Notas finais do capítulo

Hmm, eu acho que não tenho muito a dizer nessas notas finais. A não ser que eu desafio vocês a me dizerem de onde tirei a parte que Cassiel se refere a Crystal como tendo "olhos de ressaca" (hahaha, não, não tem a ver com bebida) e algumas explicações sobre a morte da Grace. Eu estava pensando SERIAMENTE em deixá-la viva, como vocês podem ter percebido nas notas finais do capítulo 2 (acho). Eu estava tentando desenvolver tramas e plots pra deixá-la uma personagem ÚTIL até o fim da fic, mas... Não consegui. Grace ficar viva atrapalharia muitas coisas. Ela seria quase que um peso morto, sendo sincero. Por mais que eu tenha me apegado e gostado da personagem, ela teve que morrer pra que a fic pudesse seguir seu rumo.No próximo capítulo teremos o primeiro embate entre Bunny Face e alguns dos sobreviventes! Aguardem e verão :BBAbração e até mais :D



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