Luz Dos Olhos Teus escrita por alinica, Licka Labres


Capítulo 7
Em paz


Notas iniciais do capítulo

Bem, esta semana consegui me organizar melhor.
Agradeço a Báah Black que betou este capitulo em cima da hora e tb pela linda capinha que ela presenteou a fic. Obrigada, Flor!!!!
Este capitulo é muito lindo, pelo menos eu achei...em meio a tantas coisas ruins, o Jake acha um porto seguro.
Bora ler, meninas!
Bjs!



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Hoje fazia exatamente um mês e meio que eu sofri o acidente, estava bem, conseguia me mexer me movimentava bem. Estava com poucas dores. Já tinha me livrado da cadeira de rodas, eu não iria ficar andando com aquilo já me bastava não enxergar. Ainda estava com a perna engessada e estava usando uma bengala. Eu continuava cego e isto estava me matando, me tornando uma pessoa que não sou. Pelo menos eu já estava em La Push.

Eu acabo me irritando com todos e com tudo, não consigo comer sozinho, não consigo ir ao banheiro sozinho, isto me incomoda e muito. Minha mãe vive no meu pé, esqueceu dos outros filhos, do meu pai... Hoje eu vou falar com ela, chega, não agüento mais. Neste momento ela entra em meu quarto.

– Mamãe, vamos conversar. – Ela estava interrogativa. - Eu não quero ninguém aqui o tempo todo em cima de mim, não quero ninguém perto de mim. Não estou nem falando com as pessoas que estão trabalhando na minha casa, não quero muito contato, mesmo conhecendo-as desde criança, não quero pena de ninguém!

– Jake, meu menino, eu não posso simplesmente abandoná-lo no estado que você se encontra. Não quero sair...

– Mãe! - Cortei bruscamente. - Você tem mais o que fazer, do que ficar aqui comigo o tempo todo, não adianta que sua simples presença não vai fazer com que eu enxergue novamente, não adianta ficar aqui me olhando com pena, vendo eu me sujar, vendo que eu estou assim porque minha maldita cabeça quer! O papai precisa de você, o Embry, as meninas, a casa, a empresa, os outros que faze parte da equipe... Todos precisam de você, menos eu! Porque eu não posso nem ir a lugar algum, não preciso de companhia. Não quero piedade de ninguém! Quero encontrar alguém, um enfermeiro, uma pessoa que possa cuidar de mim e não dar mais trabalho pra ninguém. Só com ele que irei tentar ter mais paciência.

– Tudo bem Jake. Eu lhe entendo, mas saiba que não é trabalho nenhum cuidar de você, eu te amo meu menino, mas vou fazer o que você quer, qualquer coisa peça a alguém para me ligar.

A conversa surtiu efeito. Ela disse que assim mesmo viria me ver de vez em quando e se eu precisasse, fosse à hora que fosse, era para chamá-la. Sei que ela saiu triste, mas é o certo.

Mandei chamar o tio Gabriel e conversei com ele.

– Tio Gabriel, eu preciso que o senhor encontre um enfermeiro para mim. Precisa ter paciência, pois eu sei que eu não estou com nenhuma, precisa ter uma voz agradável, pois é a única coisa que poderei fazer, ouvir. Esclareça bem como estou, pois terá que aprender a lidar comigo.

Ele concordou e também me prometeu que verificaria tudo pessoalmente todos os dias e que pediu a Emily, sua filha, que servisse de governanta para supervisionar o serviço dos empregados que eu teria, quando ele mesmo não pudesse. Gostei das medidas que ele tomou.

Emily vinha todos os dias de manhã, supervisionava meu café e minhas demais refeições feitas pela cozinheira, que era uma senhora da reserva. – Dora - que foi uma espécie de babá para minha família, quando moramos em La Push. Supervisionava também o jardineiro que eu havia pedido para cuidar do jardim que minha mãe disse que estava abandonado, pedi também para ele limpar a piscina e mantê-la sempre limpa, seu nome era Phill. Um senhor muito simpático e que ficava assobiando o dia inteiro nos meus ouvidos... e que por sinal era marido de Dora. Até que era bom, pelo menos não estava mais atrapalhando ninguém, empregando pessoas. Tinha também uma mocinha que ia limpar a casa algumas vezes na semana. Nunca nem ouvi a voz dela.

O que estava me incomodando agora eram as noites, eu ainda tinha pesadelos. Fora que estava sempre sozinho. Isto estava me enlouquecendo. Já fazia duas semanas que eu estava em La Push, eu precisava de um enfermeiro, urgente.

Então em um fim de tarde, chega meu tio Gabriel e disse que havia conseguido uma enfermeira para me ajudar.

– Encontrei Jake. Ela está se mudando para cá, procurando emprego e não tem o menor problema em ter que ficar aqui. Mas você percebeu? É uma mulher. Será que você conseguirá controlar este mau humor, esta amargura?

– Vamos ver, se ela não se intrometer em minha vida, não quiser mandar em mim eu acho que consigo ter um pouco de paciência. Você acha que ela é capaz? Que idade tem? E, tio, o mais importante, fala direitinho? Por que com a cegueira a minha audição ficou bem sensível, preciso de alguém com uma voz calma e que fale corretamente, por que ninguém merece ouvir um monte de porcaria e não poder fazer nada! Ah, outra coisa, de preferência que fale francês, eu tenho alguns livros que gostaria de ler, como agora estou impossibilitado, pelo menos posso ouvir, se ela não tiver um sotaque horroroso será bom.

E ele me leu o currículo dela.

_ Vanessa King, 19 anos. Fala francês, italiano, espanhol, alguns dialetos, entende alemão e russo. Apesar da pouca idade ela tem experiência com trabalhos em Londres, tem cartas de recomendação de vários pacientes. Agora eu acho que o que você precisa é ouvi-la, saber se aguentaria a voz dela por muito tempo. Eu achei a voz dela super agradável.

– Marque uma entrevista para amanhã, agora vou me recolher.

Estava cansado, com vários pensamentos insanos. Que minha mãe não me escutasse.

Ainda usava uma venda nos olhos, pois a claridade me incomodava um pouco. E também eu tinha medo de tirá-la e continuar sem conseguir enxergar nada. Às vezes eu chorava ao me lembrar do rosto das pessoas da minha família, lembrava até de rostos de pessoas que eu só havia visto uma vez ou por fotos. Me lembrava das paisagens lindas que eu já tinha visto, dos países que eu conheci.

Nunca me esqueci da Escócia, que lugar lindo! As tais charnecas repletas de urzes, no inverno rigoroso as tunderstorms, os castelos, cheguei a ouvir o som da gaita de foles... Realmente foi um lugar que me marcou muito e eu nem sei por que. Acabei que sonhei com a Escócia, com um lobo castanho avermelhado passeando pelas charnecas em meio a uma tempestade, sendo seguido por uma menina, de lindos cabelos vermelhos, não vi seu rosto, mas senti que a conhecia.

[***]

Hoje era a tal entrevista com a moça enfermeira. Que Deus me ajudasse, tive uma noite horrível. Estou sem um pingo de paciência.

Pedi para Emily me levar até a biblioteca, fazia tempo que eu não descia, meu quarto era no andar de cima e como eu ainda tinha dificuldade de me mover sem me machucar ficava somente no meu quarto. Antes, porém, aproveitei para falar com Dora. Ela me serviu almoço. Eu comia muito devagar para não me sujar e para não me machucar usava somente colher. Isto me deixava muito constrangido.

Pedi que assim que a moça chegasse, levasse ela até a biblioteca. Pedi para Emily colocar o exemplar de Les Misérables sobre a outra poltrona, já que havia pedido para as poltronas ficarem próximas à porta da varanda que chegava ao jardim de inverno. Ah! Como era linda a vista dali, pena que não podia apreciá-las.

O tempo parecia se arrastar.

Ouvi o barulho – mínimo - da porta abrindo, então senti o cheiro dela. E que cheiro! Me atingiu como um raio, era um cheiro doce de morangos com chocolate, um cheiro quente, que me fez querer na mesma hora lamber a pele dela. Oh! Meu Deus! Mas o que é isso? Eu não tenho nem idéia de como ela seja, mas seu cheiro se apoderou da minha consciência, grudou e não sei como fazer para tirar ele de mim. Foco Jake, foco!

– Por favor, se aproxime e sente-se nesta poltrona ao meu lado. Gostaria que você lesse este livro para mim.

Ao ouvir ela se movimentar e se sentar na poltrona ao meu lado, senti que ela se movimentava com delicadeza e seu cheiro ficou ainda mais inebriante. Senti ela ficar surpresa, talvez pela escolha do livro. Sorri com isto, ela deu um mínimo suspiro e começou a leitura.

Senhor! Que voz é esta? Parecem sinos delicados tocando ao sabor do vento, perfeita! Era uma leitura difícil, já na primeira página saberia se ela fala mesmo francês. E me surpreendi - francês clássico - sem gírias, com entonação adequada, sem nenhum sotaque. Fiquei maravilhado. A voz dela me acalmava, era um bálsamo para mim. Somente com a voz ela conseguia me fazer esquecer.

Fazia tempo que eu não sentia o tempo passar. Como fico estagnado, o que mais me custa é passar o tempo. Com ela, nem senti. Ela foi lendo e eu fui entrando na história, sua voz penetrava minha mente e eu ficava imaginado aquela menina ruiva do meu sonho, mesmo sem face, com aquela voz dela e aquele cheiro... Pai! Estou ficando maluco!

Quando ouvi o pigarro de tio Gabriel, senti que o meu tempo com ela havia acabado. Estiquei o braço e consegui segurar a mão dela rapidamente antes que ela saísse. Talvez ela não quisesse ficar depois de tudo tão monótono e parado.

– Você poderia se mudar hoje mesmo? Você aceita o emprego? Pois por mim, você já está contratada.

– Claro que sim, eu me mudaria hoje mesmo se conseguisse transporte. Fico feliz por ter agradado.

– Tio Gabriel, o senhor poderia providenciar para ela se mudar hoje mesmo? Porque amanhã, pela manhã já gostaria que ela estivesse aqui.

– Com certeza Jake. Eu mesmo a levarei até a cidade e a trarei de volta. Vou falar com Emily para ela providenciar as acomodações para Srta. Vanessa.

– Muito obrigada pela oportunidade, farei o possível para mantê-lo bem.

Eu pedi e se precisasse eu imploraria que ela ficasse. Que tio Gabriel levasse ela, onde quer que fosse e a trouxesse de volta. De volta para mim, mesmo não dizendo isto em voz alta.

Na hora que eu toquei sua mão, senti um choque percorrer meu corpo inteiro, meu coração acelerou, algo se agitou em meu ser. Eu queria me enterrar naquele corpo, sentir aquele choque me percorrer novamente, me prender a ela e nunca mais soltar.

Como vou fazer com o silêncio, agora que provei de sua voz de sinos? O que fazer no silêncio, se eu só queria ela ali, do meu lado, falando, nada que fosse, mas me preenchendo com seu ser, seu cheiro? Agora sim, enlouqueci e vez!

Eles saíram e pedi para Emily me levar até meu quarto. Ela me levou até o banheiro e me entregou uma roupa para dormir. Me entregou também um lanche e comi vagarosamente. Me guiou até a cama e me colocou para dormir. Custei a conciliar o sono, inclusive ouvi o tio Gabriel e Vanessa voltarem e ela se acomodar no seu quarto. Só aí que relaxei e consegui finalmente adormecer.

Sonhei novamente com a menina de cabelos vermelhos e desta vez ela me falava que agora cuidaria de mim. Ela tinha a voz da Vanessa.

No outro dia, pedi para Emily chamá-la no meu quarto, já que eu não descia.

– Bom dia, Jacob.

– Bom dia. Pode me chamar somente de Jake, assim como você pediu que eu a chamasse de Ness. Será que você poderia ler o jornal para mim, Ness?

– Claro! Você não quer descer? Sentar ao sol, pegar um ar... Sei lá, ou talvez a biblioteca?

– Não quero ficar subindo e descendo toda hora. É melhor eu ficar aqui mesmo, não vai fazer diferença, afinal eu não estou enxergando nada. Descer só iria dar trabalho para os outros.

– Mas aqui você fica muito confinado e você não está preso, está cego, mas isto não significa que você está impossibilitado de viver.

– Olha eu só preciso que você leia para mim, já que eu não posso ler, ou melhor, não posso fazer nada e nem ver nada.

– Eu só acho que você continua vivo e pode fazer as coisas diferentes. Sinto muito pelo que aconteceu.

– Eu não quero a sua piedade. Nem a de ninguém! Tudo o que eu quero é ser informado do que está acontecendo no mundo fora da escuridão a que estou confinado. Isso é pedir muito?

Ness não pode evitar sentir a amargura por trás daquelas palavras.

– Tudo bem, eu vou ler para você. Afinal, foi para isto que você me contratou, para ler e cuidar de você. Mas ainda não acabei por hoje vou deixá-lo em paz, mas ainda conseguirei fazer você ver que está vivo e que pode fazer muitas coisas.

– Ok! Tudo bem, depois nós voltamos a este assunto. Mas agora será que você poderia, por favor, ler o jornal?

Ness não se conteve e riu. Ficou feliz com o êxito de sua conversa, ou melhor, pequena discussão com Jake.

– Ah! Você me acha engraçado? Garanto que não conseguiria viver como eu estou vivendo.

– Não é isto, tenho plena convicção que deve ser realmente muito difícil ficar sem enxergar. Eu ficaria aterrorizada, desesperada, mas teria que me conformar e agradecer por estar viva. Porém eu estou sorrindo por que eu acho que ainda conseguirei fazê-lo sentir o mundo em vez de somente vê-lo, lhe farei concessões, saberei entender a amargura, frieza, mas pense melhor, as pessoas se preocupam, pois gostam de você e vê-lo assim já é difícil imagina lhe ouvir assim? Bem, agora vamos ao jornal. O que você quer que eu leia primeiro?

– Esporte e automobilismo, se têm alguma notícia das corridas. - Eu lhe disse afoito por novidades, mas o que ela falou ficou martelando na minha cabeça. Outra coisa, eu não consegui esquecer o som do riso dela. Teria que ouvi-lo mais vezes.

– Ok.

E assim passou um período da manhã, ela leu alguns artigos que eu pedi depois de ela me falar alguns títulos. Era muito perto do almoço quando Emily veio me avisar que o Sam havia chegado para minha avaliação. Sam era marido de Emily e médico no posto de La Push.

– Olá, Jake. Como você esta hoje? Hum! Estou vendo que não está sozinho. Muito prazer sou Samuel, pode me chamar de Sam. Sou médico aqui de La Push e quem está mais próximo para cuidar do Jake Lobo, aqui.

– Olá Sam, sou Vanessa, mas pode me chamar de Ness. Sou enfermeira e também estou aqui cuidando do Jake. Foi ótimo conhecê-lo, vou deixá-lo para que possa examiná-lo e lhe aguardo para conversarmos lá embaixo. - Disse Ness ao cumprimentar Sam.

– Jake após Sam te examinar, já estará na hora do almoço. Você quer comer aqui mesmo ou você quer descer? - Ness se dirige a mim neste momento, sinto ela muito próxima e seu cheiro me entorpece.

– Peça para Emi trazer meu almoço aqui mesmo. Descansarei um pouco após almoçar.

– Ok! Volto mais tarde, assim que você pedir para me chamar.

– Ok.

Ouvi ela se retirando do quarto e Sam chegando mais perto para começar a me examinar.

– Bem, já fazem mais de quinze dias após sua cirurgia da retirada do pino da perna. Mais uma semana e poderá retirar este gesso. Este sentindo alguma dor?

– Não Sam. Nada de anormal. Acho que esta tudo na mesma. A perna não tem incomodado, só tem coçado um pouco, mas se vou poder retirá-la daqui a uma semana já fico mais aliviado.

– E quanto aos olhos? Sentiu alguma coisa? Tem retirado a venda?

– Não sinto nenhuma dor, nada. E não retiro a venda. Tenho medo. Sei que não vou conseguir enxergar então já fico desesperado antes mesmo de pensar em retirar.

– Bem, eu vou retirá-la, preciso examinar seus olhos.

– Ok.

– Tudo limpo, perfeito. Jake isto é coisa da sua cabeça não tem nada de errado aqui. Cara, você precisa começar a se comandar, controlar seu cérebro, seu psicológico. Este seu medo esta fazendo você bloquear mais ainda.

– Eu não consigo Sam. Eu não posso tentar e continuar a não enxergar, cara! Não consegui nem achar minha companheira, cara, o imprinting não vai funcionar em mim, eu não enxergo para ter imprinting. Meu chamado de lobo não vai acontecer... As lendas não são para mim!

– Calma Jake. Você precisa sentir seu coração, sentir a sua alma. Quando você enxergar ela, será somente uma confirmação. As lendas são para todos e você é merecedor, você é o lobo, cara, o lobo é um animal sobrevivente de 300 mil anos atrás... Você é um sobrevivente, irmão! Você precisa ativar as características do lobo de verdade, super audição e visão noturna, enxergar no escuro, cara, tipo sexto sentido... Precisa sentir as coisa ao seu redor. Não se entregue, você esta vivo e ainda viverá por muito tempo.

–Está bem, Sam! Vou tentar não vou me entregar sem lutar.

– É isto ai, irmão! Você é nosso Alpha, você apresentou ao mundo os Quileutes.

– Obrigado Sam. Pela força, pelas palavras, pela amizade.

– Não precisa agradecer, fazemos isto pelos nossos, pelos que amamos! Até mais. Ah, antes que eu me esqueça, apesar de ser gordinha, sua enfermeira é uma ruivinha linda, educada, atenciosa e muito encantadora.

– Eu sei, senti isto também.

–Ah! Você viu? Você ativou seu outro lado, cara! Percebeu sem enxergar.

– É verdade. Sabe, ela me acalma e somente isto já esta valendo para mim.

– Bem, agora vou indo mesmo. Até mais Jake!

– Até Sam.

Ele saiu e eu fiquei pensando em tudo o que conversei hoje pela manhã, tanto com Sam, como com a Ness. Eu acho que eles têm razão. Eu preciso tentar viver, afinal estou cego sim, mas estou vivo.

Mais tarde, Ness entrou no quarto. É claro que não a vi, mas eu senti seu cheiro doce e quente... Percebi ali como ela estava tomando conta de tudo a minha volta. Tão pouco tempo e ela já estava impregnada em mim.

Ela se aproximou delicadamente da cama e me chamou baixinho, talvez por medo que eu ainda estivesse dormindo.

– Jake?

– Já estou acordado. Você poderia me ajudar a descer? Por favor? - Falei já me sentando na cama.

Ela me encaminhou ao banheiro para uma rápida higiene, claro que ela teve que deixar tudo pronto e me entregar as coisas na mão, mas eu conseguia me virar sozinho.

Então fomos descendo, muito devagar, ela me apoiando.

Vanessa me levou para o pátio. Pude sentir pelo pouco sol batendo na pele, mesmo frio, tinha um solzinho meio tímido, mas que aconchegava.

Sentamos-nos e ela disse que estávamos na varanda dos fundos, próximo a piscina.

– Que maravilha! Tem uma piscina aqui, coberta. Seria ótimo se tivesse sistema de aquecimento, adoraria nadar, me exercitar.

– Você tem a minha autorização para usar a piscina, ela é aquecida sim e o Phill tem mantido ela limpa. Acho que até eu mesmo poderia usá-la, mesmo com certo cuidado.

– Muito obrigada, nadarei todos os dias. Eu também acho que você deveria usá-la, exercício físico é sempre bom, descansa a mente, fortalece os músculos, tira o stress. Mas você só poderá usá-la após a retirada do gesso que o Sam me disse que só falta uma semana. Coisa boa, já poder se locomover melhor, você não acha?

– Sinceramente, não vai fazer muita diferença para mim.

– Pare com isto. Você vai ver como tudo ficará melhor, mas vamos continuar com a leitura de Les Misèrables.

E assim passou um bocado de tempo. De repente ela parou e disse:

– A capacidade de alguém mudar através do amor é tocante. Fica a mensagem. Todo mundo pode tornar o mundo melhor. Basta querer. Amar o próximo, eis a questão. Jean Valjean era no início um homem rancoroso, ele é transformado por um gesto de amor ao próximo. A generosidade iluminou seu coração. Ele redescobriu os valores éticos e criou uma nova consciência.

– Acho que ele se sentia só e isolado. Eu disse, pensando no que ela estava me falando.

– Mas depois ele foi feliz, apesar das adversidades, ele foi brilhante ao conseguir assumir melhor posição, aprender uma lição. E ele conquistou amigos fiéis, devido a estas qualidades tão incomuns. Se não fossem estas qualidades aprendidas no decorrer de sua vida, ele não teria conseguido.

– Então, devemos confiar dar e receber amor, ter amigos, viver a generosidade. É isto?

– Sim, com certeza, deve ser ótimo contar com amigos, receber algo de bom vindo de um ser humano é tão controverso no mundo de hoje, que deve ser algo mágico.

– Você fala como se não tivesse amigos, como se não soubesse como é bom viver estes sentimentos, como se não fosse feliz.

Sentiu que ela parou de respirar e quando falou foi com a voz levemente embargada.

– Bem... Posso continuar? Vamos voltar ao livro? Jean Valjean teve um inimigo, um ser que o perseguiu e tentou de várias formas trancafiá-lo novamente, fazendo com isto que ele troca-se de identidade para poder se reabilitar, para poder ter um pouco de sossego, para poder se equilibrar.

– E você concorda com este subterfúgio? Hoje isto seria considerado falsidade ideológica. O que você me diz? Você acha que omitir a sua verdadeira identidade possa fazer diferença? - Eu senti que ela estava tentando sair desta conversa, eu senti que ela ficou meio perturbada, resolvi insistir neste rumo.

– Sinceramente? Eu acho! Ás vezes os problemas não são as pessoas a nossa volta, pois sempre temos alguém que não vê nossos defeitos ou ainda os sentimentos que envolvem e sim o que o seu psicológico lhe cobra, lhe apresenta e lhe envolve ao passar por determinadas situações. As cobranças para sermos melhores, maiores, inteligentes, para nos sobressairmos são altas e cobram também altos preços de nossa mente e nossos corpos. Ás vezes até nossas almas são cobradas.

– E o que você acha disto? Os homens geralmente querem se sobressair, querem ser os primeiros em tudo. É praticamente um desejo nem tão secreto assim. Ambição.

– É claro que isto é normal aos homens, principalmente em esportes, mas hoje envolve também outros setores como: carreira, mulheres e tal.

– Então admite que nós homens somos ambiciosos? Todas as ambições são válidas, Ness?

– Acho que depende da ambição da pessoa envolvida. A ambição somente pela glória, pelo poder, deve ser questionada. A não ser que este poder acabe por ajudar aos outros, daí, por ser bem empregado, acaba por ser um desejo bom!

– Vejo que você tem resposta para tudo. Imagino que nossas leituras vão me forçar a espremer os miolos, se é que ainda os tenho. Porem é injusto visto que você pode ler tudo e se preparar melhor para nossas conversas, esclarecer sua mente. Eu já não posso, tenho que me conformar com aquilo que me chega aos ouvidos, permanecendo na escuridão.

Acho que ela me achou depressivo demais, pois rapidamente mudou de assunto.

– Sam me orientou de como tratá-lo, disse-me também que seria interessante eu procurar o Velho Quill. Quem é ele Jake?

– Ah, o Velho Quill é como se fosse o pajé de nossa tribo. Sam gosta muito dele e seguidamente alia seus conhecimentos com a ciência e utiliza de ambas formas para tratar seus pacientes. Por isto ele é tão bem quisto por aqui, nunca deixarão ele ir embora, deixaram-no ir estudar mas com a promessa de que ele voltaria para continuar sua parceria com o Velho Quill.

– Bem, eu gosto muito desta terapia alternativa, desta medicina natural. Acredito muito nisto. Utilizo muitas ervas, chás, aliadas com a ciência, como você mesmo falou. É magia. A natureza é mágica.

– Por nós termos cultura indígena acreditamos muito nisto, preservamos nossa natureza, nossos animais, nossa terra.

– Sei bem como é. Partilho desta mesma linha de conhecimento. Mas não tenho sangue indígena nas veias, tenho sangue celta.

– Nossa, é mesmo? Você é de onde?

– Bem... Eu... Eu sou do Alaska mesmo, mas tenho antepassados que vieram da antiga Escócia, da antiga magia céltica. Mas me dê licença, preciso ir ao banheiro.

– Sim, claro.

Não sei o por que, mas acho que ela fugiu do assunto.


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Notas finais do capítulo

Então, meninas, gostaram???
Eu espero que vcs tenham sentido realmente o que eu imaginei para ele, dor, tristeza, mas tb alento!
Bjs e ate a próxima!!!


Licka: Esse é um dos meus capítulos preferidos, nele a gente consegue sentir a dor do personagem, também porque se percebe que o sentimento nasce da alma, mesmo sem poder vê-la ele consegue sentir que ela é especial, diferente. Ainda vem muita emoção por aí. Bjos meninas.