Descemos as escadas rapidamente e fomos em direção ao quarto de Tom.

Isso não é bom. Ninguém tem permissão para entrar no quarto de Tom a não ser ele próprio, e eu claramente não sou o Tom.

Quando entrei, estávamos lá eu, Édi, Tyna, Tom, um cara que eu não conheço e uma garota da minha idade, que estava acorrentada (literalmente) á uma cadeira de força.

Eles interromperam abruptamente o assunto ao nos verem, o que me deixou um pouco desconfiada, considerando que só se interrompe o assunto quando: a) É particular, ninguém pode ouvir, ou b) O próprio assunto chegou.

-Chamamos vocês aqui para uma discussão importante, blá-blá-blá – Na verdade, ele não disse isso, mas quem disse que eu estava prestando atenção?

Eu olhava para a garota. Ela me era familiar, mas não por seus olhos vermelhos ou sua pele pálida. Tinha algo a ver com seus cabelos castanhos levemente ondulados, as roupas que ela vestia e... Um colar com pingente de coração.

Elevei a mão ao pescoço, pousando-a levemente no colar idêntico ao de minha melhor amiga: um colar com pingente de coração.

Daiana.

Ela me encarava, e pude perceber pelo canto do olho o rosto de Tyna inclinado para mim, mas eu não fazia ideia das conclusões malucas que ela tinha tirado, porém eu tinha certeza que ela sabia que a moça me incomodava.

Édi fez uma pergunta que chamou minha atenção:

-Onde vocês a encontraram?

“Na vitrine da loja de sapatos, Édi. É claro que ela veio atrás de nos! Atrás de mim!” pensei, analisando que ela poderia ter vindo ver se eu não havia virado churrasco como Liam, ou um pastel como a cabeça do vamp de cabelos verdes, ou se eu já não havia evaporado como água. Nossa, será que eu estou com fome? Comida foi o que não faltou aqui!

Voltando: Tom confirmou minhas teorias:

-Nos a encontramos há alguns minutos, enquanto lutava lá em cima com Al... Ela parece ter sido treinada. Não disse uma palavra desde que a capturamos, exceto que queria ver a Tatinha. – Édi arrumou sua postura a meu lado e Tom me lançou um olhar estranho... Será que ele desconfiava de mim?

Daiana abriu um sorriso tímido e nervoso ao mesmo tempo, logo dizendo:

- Tatá! Você me disse para atear fogo... E eu ateei, sejam lá quais eram seus motivos malucos. Fiz tudo o que você me pediu, mas ele me viu. Ele não me matou porque pensou que eu seria útil para te atrair. Mas ele precisava fazer com que eu não fugisse. Ele me transformou no que sou agora, para que eu não tentasse te encontrar já que você é aliada deles – Apontou para nos (Trocadilho!) –, e eles não me ouviriam, me matariam de uma vez. Fiquei três dias agonizando de dor, sentindo o cheiro horrível dos corpos que não haviam conseguido se transformar, mas não morri. Pelo menos, não totalmente. Eu sabia que teria que me alimentar mais cedo, ou mais tarde, mas eu não queria matar ninguém inocente. Então saí para a cidade caçar seres humanos que eram tão ruins quanto eu (assassinos, por exemplo), mas eu sabia que eles me vigiavam. A cada passo que dava, a cada vez que estremecia eu os via pelo canto do olho, me observando. Marcos finalmente me treinou, me explicando como ser um vampiro (tem até um manual sobre isso. Gozado, não?) e como sobreviver. Eu decidi fugir em uma de minhas caçadas, e consegui. Mas não pense que foi fácil, pelo contrário, eu tive que matar um vampiro experiente, até que te encontrei. Mas aquela velha não queria me deixar passar, como você a chamam mesmo? ...Al. Al não quis me deixar passar (Ela me atacou, sabia?) e eu tive que me virar com ela, e... – ela baixou a cabeça de repente, como se o próprio colo subitamente fosse muito interessante – sinto muito. Mas você me deve isso, Tatinha. Você tirou minha vida... Vai tirar minha morte também?

Todos olharam para mim, em choque, e eu comecei a suar. Todos, exceto...

- Mentirosa! – Disse Tom – Você matou Al!

A sala ficou em silêncio.