Cap. IX – Pequenas mentiras 

Uma grande comemoração acontecia no salão e em todas as partes possíveis da Fairy Tail, muitos magos amigos de outras guildas também estavam lá assim como foi em todos os casamentos que ocorreram. O som era ensurdecedor e logo mesas, cadeiras e quaisquer objetos iriam voar, mas isso era outra história.

Usando uma lácrima de comunicação sofisticada, Cana caminhava na direção contrária ao fluxo de pessoas em busca de um lugar tranquilo. Tinha demorado quase duas horas para se livrar das fotos e de seu acompanhante. Entrou em um dos quartos dos dormitórios que ficavam disponíveis e trancou a porta as suas costas.

Com uma mão foi retirando aquele vestido azul de gosto duvisoso revelando a lingerie que usava por baixo. As marcas que antes eram protuberantes agora já estavam quase que como normal de seu corpo e não como uma aberração que as pessoas não conseguiam tirar os olhos. Tirou a sacola onde tinha deixado uma roupa mais confortável para festa e ativou o aparelho em sua mão com magia.

Em menos de trinta segundos uma imagem holográfica do rosto de Kagura surgiu e ela realmente pareceu aliviada em vê-la. Entretanto foi apenas coisa de um segundo, em seguida sua face intransponível brotou e ela provavelmente estava reparando na falta de roupas da morena.

- Cana-san, muito bom vê-la, onde está?

- Olá, Kagura, estou na Fairy Tail. Hoje foi o casamento do Gray.

- Fairy Tail? – a mulher novamente se viu surpresa – Pensei ter dito que não voltaria aí até ter resolvido as coisas.

- E realmente não era minha intensão, mão não podia deixar de vir ao casamento do meu praticamente irmão.

- Oh sim, entendo... Fui convidada, mas decidi ficar onde estou, as coisas não andam nada boas. Soube que foi atacada a pouco, imagino que se estou falando com você, eles estão mortos.

A morena suspirou.

- Não exatamente, só consegui matar um deles. Os outros quatro não estavam lá melhores do que eu e aquela pessoa chegou muito perto, mas aparentemente kami resolveu me dar uma chance. Três amigos meus da guilda apareceram na cidade e passaram a semana no hospital, salvando minha cabeça. Você sabe que ele gosta de trabalho limpo.

- Realmente muita sorte, Cana-san, mas imagino que ainda não acabou. Não pretende contar a Fairy Tail?

- Temos um contrato de confidencialidade, lembra-se?

- Essa cláusula foi anulada quando nossas guildas passaram a serem possíveis alvos, foi o que também estava no contrato. Bacchus-san não teve alternativa, ele foi emboscado ao tentar salvar um dos amigos, se acha que passou perto da morte, ele a cumprimentou.

- Oh meu kami... Por isso não tenho ouvido mais nada sobre ele. Está bem?

- Agora sim e temporariamente afastado da Quatro Cerberus. Mestre Goldmine forjou um afastamento por conduta inadequada e está escondido assim como eu. Aparentemente fui a única da missão que não sofreu danos após o trabalho.

- E imagino que pretenda continuar assim. – um sorriso surgiu na face da Alberona –

- Não sou de fugir da batalha, mas a situação é muito mais do que posso lidar no momento. Mestra Serena quis minha cabeça quando contei... – deu um pequeno sorriso como se estivesse se lembrando de algo – Disse que fui uma pirralha idiota e que deveria ela mesma cortar meu pescoço.

- Eu não acho que seria diferente por aqui, tirando o fato de que a Fairy Tail não ficaria quieta... Enfim, foi um serviço sujo, mas alguém tinha que fazer. Evitamos uma possível guerra.

- Às vezes me parece que foi idiotice mesmo, nós bem sabemos que o ERA estava mais interessado em seus próprios assuntos do que no bem estar dos magos e não-magos. Se não fosse assim, não hesitariam em deixar o circo pegar fogo para usar nossas guildas como prova de força.

- Sei disso, mas graças a qualquer coisa, foi evitado. Graças a essa missão garantimos a segurança das guildas legais por alguns anos pelo menos.

- E ganhamos nossas cabeças a prêmio.

- Nada é perfeito. – a morena sorriu – Kagura, acho que estou sendo seguida por aquela pessoa, não acho que os outros virão atrás de mim tão logo, mas agora a coisa tornou-se meio pessoal... Matei Elora antes de ir para o hospital.

As sobrancelhas da outra maga se franziram.

- Elora? Conseguiu matá-la? Por isso ela saiu do meu encalço... Mas porque foi atrás de você se estava na minha pista?

- Foi uma emboscada, eles trabalham sozinhos, mas foram contratados para ter nossas cabeças a um preço inimaginável... Seria com certeza a próxima. Não sei onde está, mas é bom mudar de lugar, se Elora estava na sua pista é perigoso ter batido tudo.

- Oh mas que droga! Vou contatar mestra Serena e ver o que fazer... Sinceramente acho que deve contar pelo menos ao seu mestre pela segurança dos que ficam. Imagino que deva estar de partida muito logo, mas apesar de o trabalho ter que ser limpo, não hesitarão em usar reféns.

- O mestre está doente, não posso dar mais essa preocupação a ele, mas talvez eu fale com meu pai... Talvez ele possa fazer algo em sigilo... Ou não...

- Cana-san, por que a matou? Digo... Não é algo que nós de guildas legais aprovamos como método... Não que eu esteja te repreendendo...

- Eu queria só incapacita-la e fugir, mas outros caçadores vinham atrás, se eu ficasse lutando com ela não conseguiria me defender deles. Foi necessário, se ela soubesse a hora de desistir não teria perdido a cabeça. Mas não é realmente algo que me orgulhe. O problema agora é que se antes era um joguinho para ele, agora...

- Compreendo, agora deixou de ser um jogo. Obrigada por dar notícias, pela informação, cuidado e vamos manter contato. Talvez quando Bacchus-san estiver totalmente recuperado possamos traçar um plano para terminar com isso, não dá para fugir para sempre.

- Realmente não gostaria de chegar a esse extremo, mas eles já mataram Devon e Serah, agora que arranquei a cabeça da Elora... Acho que não dá mais para seguir por outro caminho.

- É como já disse, era um serviço sujo, mas alguém tinha que fazer pelo bem da maioria. Cuidado, Cana-san e pense bem antes de ir embora sem proteger seus amigos, a ignorância pode ser uma dádiva, mas em nosso caso, mortal.

- Cuide-se Kagura e nos falamos logo.

Desligou.

Fechou os olhos e as imagens daquela maldita noite na divisa do reino apareceram diante dos olhos. Realmente não gostava da ideia de ir embora na surdina sem falar com ninguém, mas se fosse dar explicações, Fried acabaria colocando-a contra a parede e não queria envolvê-lo mais nisso.

Suspirou tentando afastar essas imagens e colocou o vestido vinho que havia trazido. Aproveitaria aquele dia com os amigos e iria embora antes mesmo que notassem. Obviamente que daria um jeito de cuidar dos amigos, não queria que nenhum deles fosse minimamente machucado, mas também já tinha 90% dos problemas resolvidos só por ir embora.

Chacoalhou a cabeça e saiu do quarto, já tinha ficado tempo demais longe. Aproveitaria todos os momentos já que não sabia quando poderia voltar para vê-los novamente. Estava absorta em pensamentos e não notou um par de braços a puxando. Chegou muito perto de atacar a pessoa, mas por sorte viu que era Fried antes.

- Onde estava? Num minuto tava do meu lado e do outro sumiu.

- Ah... fui tirar aquele vestido horrendo!

- Eu não achei o vestido tão feio... Mas nesse também não tenho do que reclamar... – o Justine sorriu –

- Oh kami, ainda não me acostumei com esse seu lado cachorrão like a lord... – a morena jogou os braços ao redor dos ombros dele – Sabe Fried, muito obrigada!

- Nani? – o mago piscou algumas vezes – O que foi que eu fiz?

- Um monte de coisas... Vou sentir saudades.

- Pensei que depois de voltar dessa vez ia se tornar mais assídua por aqui, mas de qualquer jeito eu sempre posso te ver por aí.

- Hum... Acho que estou sóbria demais e falando bobagens!

O mago de runas a fitou docemente e acariciou o rosto com uma das mãos quando ouviu o som da valsa vindo do primeiro andar.

- Me concede essa dança, milady?

- Será um prazer.

***

Alguns quilômetros de Magnólia em uma estrada alternativa...

Gildarts caminhava pela trilha, alargando-a sem se preocupar com seus rastros, em seu atual estado de humor, a última coisa com que se preocuparia era isso. Com certeza tudo o que ouviu sobre como os filhos trazem preocupações de deixar os cabelos brancos era verdade. Bem, pelo menos era algo com que podia lidar de uma maneira que entendia bem, os punhos.

Sentiu a aura mágica das pessoas que estava procurando e apareceu na clareira sendo fitado pelo grupo dos quatro homens. Pobres criaturas, realmente fizeram uma má escolha indo por aquele caminho. Antes que pudessem pensar, o mago crash destruiu tudo ao redor.

Ninguém encostava em sua filhinha e saia impune, sem dizer que mais ninguém no submundo pensaria em aceitar aquele trabalho depois do que faria. Sem dizer do adicional que isso lhe daria... Matar dois coelhos com uma cajadada só.

Mandou um recado mágico enquanto amarrava os pobre diabos com uma potente corda mágica, a próxima parada deles seria na prisão do conselho até o fim dos dias. E com certeza levariam alguns amiguinhos junto.

***

Na sede do ERA, departamento de proteção e manutenção da ordem...

Doranbolt recebeu uma mensagem e rapidamente a encaminhou para Larhs que passou os olhos e suspirou. As coisas nunca eram tranquilas quando se tratava da Fairy Tail. Olhou para o amigo e deu um sorriso amarelo.

- Acho que vamos fazer uma visita a Magnólia.

- Gildarts-san realmente capturou quatro Shibukais?

- Bem, Doranbolt, Gildarts Clive não foi escolhido como mago santo há muito tempo porque ele não faz o tipo que o conselho procura para representar os magos... E também soube de um incidente onde esses mesmo foram muito machucados... Minhas fontes não revelaram quem foi que os incapacitou, mas o que importa é que não estavam em sua melhor forma.

- De qualquer forma é impressionante. Mas por que se meteu nisso?

- Não sei, realmente ele não é do tipo que sai por ai fazendo boas ações, entretanto ele devia para o conselho de umas coisas do passado, isso vai quitar a dívida dele.

- Melhor irmos então, temos que estar lá quando ele chegar.

- Sim, sim... Vá avisar o esquadrão que vou reportar aos conselheiros. Saímos logo em seguida.

Continua...