Ice Prince Passion escrita por Annie ONeal


Capítulo 7
Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Esse ficou até grandinho hein? Espero que gostem ;)

Allen's POV



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  As palavras ecoavam na minha mente. Minha noiva, minha noiva, noiva, noiva, noiva. Comecei a me sentir tonto e enjoado, mas me mantive firme. Não podia aparentar fraqueza diante de uma dama. Me forcei a arrumar a postura, eu era um guarda, afinal, e tomar-lhe a mão e levar aos lábios.

  - Encantado, alteza. – Ela sorriu.

  - Encantada estou eu, que cavalheiro... Por que você não é assim Yell? – Yell olhava fixamente para mim, sem dúvida tentando ver o efeito daquela notícia em mim. Mas eu não ia dar o gostinho deixá-lo ver como podia me afetar. Inclinei a cabeça.

  - Se me dão licença... – Dei uma última olhada na direção do príncipe, que parecia querer dizer algo, parecia quase... Triste. Mas, de alguma forma eu não achava que a tristeza era genuína. Me virei e segui pelo corredor. Mas não rápido o suficiente, ouvi Yell me chamar:

  - Allen... – Me virei apenas por que era minha obrigação. – A gente conversa mais tarde.

  - Como quiser, alteza. – Por que eu sabia que isso ia deixar ele no mínimo irritado. Segui apressado, quase correndo pelos corredores do palácio, às cegas por causa das estupidas lágrimas que insistiam em subir aos meus olhos. Finalmente, consegui sair do palácio, estava no ar fresco do jardim dos fundos. Parei, me obriguei a respirar fundo e me acalmar.

  Senti o vento frio no rosto, os flocos de neve acalmando as lágrimas. Eu não ia chorar. Me recusava. Chorar por um cara quase desconhecido. Mas eu não podia negar que tinha doído, e muito. Quer dizer, de onde eu vinha, demonstrações de afeto tipo beijos, na boca ainda por cima, significavam que você sentia alguma coisa pela pessoa.

  Mas não. Ele estava noivo o tempo todo e não se importou em ressaltar um detalhe desses. Quase como o fato de ser príncipe. Mas isso era pior, muito pior. Mas de novo, o errado era eu. Ele nunca demonstrou sentir nada muito profundo por mim, eu que interpretei errado suas ações... Noite passada na torre tinha sido... Um momento. Apenas isso.

  Respirei fundo, ainda me sentindo enjoado. Parecia que meu café da manhã ia sair do estômago a qualquer momento. E pior, Wine estava lá. Vê-la depois de tanto tempo tinha sido surreal. E dama da princesa? Como ela tinha chegado à isso? Minha ex-namorada era apenas alguém diferente no vilarejo, como eu, e quando as coisas estranhas começaram a acontecer, incêndios e coisas do tipo... Descobriram que ela era da guilda do fogo e ela foi banida, expulsa, e essa era a história, até onde eu sabia.  Nunca achei que ela fosse voltar.

  Como se meus pensamentos tivessem ganhado forma, de repente ela estava ali, no jardim comigo, o vestido vermelho se derramando pela neve branca pura. E ela sorria para mim. Tentou se aproximar, mas dei um passo para trás. Eu ainda estava chocado. 

  - O que você está fazendo aqui? – Não era pra ter soado tão rude assim. Ela sorriu de modo compreensivo, como se não esperasse outra coisa de mim.

  - Não está feliz em me ver, Allen? – Pra ser bem sincero não, mas eu era um cavalheiro e não ia dizer isso.

  - Não vai gostar da resposta. – Ela riu, como se estivesse se divertindo. Eu estava a pondo de vomitar.

  - Não posso dizer que estou surpresa. Sabia que você ficaria ressentido. Lamento que as coisas tenham acabado do jeito que acabaram.

  - Tanto faz. – Me virei. Precisava de espaço, precisava pensar. Wine pareceu entender. Essa era uma das coisas que eu ainda admirava nela; ela captava as emoções de todos ao redor com uma facilidade incrível. O que ela fazia a seguir nem sempre era o mais sensato, mas que ela sabia, sabia.

  - Vou deixar você sozinho agora. – Ah sim, isso seria muito bom, obrigado. – Vamos ter tempo de sobra pra pôr o assunto em dia. – E eu não gostava nem um pouco desse fato. Voltar a convier com ela ia ser no mínimo estranho. Ela se virou, voltando para dentro do palácio sem olhar para trás.

  Enfim sozinho pude me permitir sentir toda a raiva. O sentimento parecia me queimar, consumir por dentro. Me ajoelhei na neve, o frio ao meu redor parecia me isolar do resto do mundo, ao menos por enquanto. Após alguns minutos me forcei a pensar racionalmente. Do que eu estava com raiva? Traição? Ele não tinha absolutamente nada comigo que merecesse tal nome. Mal éramos amigos. O beijo tinha sido algo impensado, momentâneo, nada significativo. Certo?

  Então por que eu me sentia tão mal, abandonado, traído, sem chão? Falando em chão, ao baixar os olhos notei que a neve ao redor do ponto em que eu estava ajoelhado estava mais funda, como se... Ah, besteira. Eu devia estar ali a mais tempo do que pensava.

  Me levantei decidido a ignorar os sentimentos confusos e nada próprios e voltar ao palácio. Ainda sentia o estomago revirado, mas acreditava que teria força suficiente para mantê-lo no lugar. Era só não pensar... Neles, e tudo ficaria bem.

  Foquei minha mente nos assuntos mais urgentes, nas coisas suspeitas que eu tinha visto pela manhã. Quando a princesa chegara, Manfred tinha ficado perto demais da carruagem, e mantivera os olhos fixos nela o tempo todo. Podia ser só coisa da minha cabeça por que eu simplesmente não ia com a cara dele, mas eu tinha achado estranho. Porém antes de falar com meu mentor, achei melhor ter mais provas. Ele podia estar apenas cativado pela beleza dela. Ops, falando no diabo...   

  Ele estava parado logo à frente do corredor que eu tinha acabado de virar e aproveitei que ele não tinha me visto para me abaixar atrás de um vaso com plantas. Me senti meio ridículo espionando ele assim, sem nenhum motivo concreto ou uma suspeita razoável, mas era minha intuição falando. Ele estava conversando com alguém, de costas para mim, e todo aquele corpo bizarramente grande não me deixava ver quem era. Me esforcei para ouvir alguma coisa do diálogo baixo e sussurrado, mas apesar do corredor estar vazio e silencioso não consegui captar nada por inteiro;

...por perto, não perca de vista...

...pode ser a chave, mas ainda não é nada certo...

...ajuda. Mas não tenho certeza de que concordaria em...

  Aos poucos ele e a pessoa misteriosa foram se afastando e logo, só restava o silencio. Eu não ia ousar presumir nada a partir do que tinha ouvido, podia significar um mundo de coisas diferentes, das mais prováveis às mais ridículas. Decidi não pensar naquilo por enquanto. As peças se juntariam quando fosse a hora certo?

  Tentei volta para meu posto por caminhos alternativos, fazendo de tudo para evitar um possível encontro com as três pessoas que eu menos queria ver no momento, que muito provavelmente estariam juntas. Acabei encontrando Meena, que por acaso estava tomando um ar na parte no varanda suspensa da frente, onde eu geralmente ficava. Eu fiz uma mesura respeitosa e estava prestes a sair quando ela disse:

  - Não precisa se retirar, jovem guarda. Eu já estava de saída. – Ela veio andando para dentro com uma suavidade e graça fora do comum, e parecia que ela estava flutuando. Passando por mim ela concluiu: - Sei que a chegada da prometida pode não ser agradável, mas por favor, não abandone o jovem príncipe. Você é o primeiro em muito tempo que consegue chegar até ele.

  Antes que eu pudesse replicar, ela já havia ido. As palavras dela se misturaram à confusão em minha mente e só serviram para me deixar ainda mais frustrado e perdido. Abandonar? Era ele que... Que não contava as coisas, que me tr-.

  Ok, pausa. Respirar fundo. Não posso pensar nisso. Não agora.

*¨*¨*¨*¨*

  Quando o vento gélido da noite acariciou meu rosto fazendo subir um arrepio eu soube que estava na hora de entrar. Ir para meu quarto e uma boa noite de sono me deixaria novo em folha. Meu suspiro formou uma nuvenzinha de vapor no ar frio e logo desapareceu. Eu ri sozinho.

  Dentro do castelo estava frio, mas pelo menos não ventava. Assim que cheguei no meu quarto acendi todas as velas. Eu gostava da iluminação indireta e fraca que elas proporcionavam, o ambiente ficava aconchegante e confortável. Troquei de roupa sem pressa, tentando fazer minha tensão e energias negativas me abandonarem com a facilidade que o uniforme negro podia ser tirado do corpo.

  Quando deitei, o quarto já estava devidamente aquecido e eu sentia o sono e a exaustão se abaterem sobre mim. Eu fechei os olhos mais do que pronto para dormir, quando uma batida na porta soou. Fechei os olhos com força e enterrei a cabeça no travesseiro macio. Podia ser apenas parte do sonho, vai ver eu tinha dormido tão rápido que-... Não, lá estava ela, insistente, firme.

  Com um suspiro me levantei. Passei a mão rapidamente pelos cabelos, se fosse Lou eu não queria parecer desleixado. A maçaneta estava fria como gelo e, sinceramente, isso devia ter me dado a pista clara. Quando abri a porta e vi quem era, imediatamente tentei fechar, mas Yell me impediu.

  - Ei, ei, o que foi? Eu só quero conversar. – Eu larguei a porta, vencido, e me afastei, permitindo que ele entrasse e meu erro começou aí. Recuei para longe, para perto da janela e cruzei os braços, encarando-o.

  - O que você quer? – Eu estava irritado demais para me importar em provoca-lo com os pronomes.

  - Conversar. – Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça de flanela e baixou os olhos. Não disse mais nada por um bom tempo. Eu acabei fazendo a pergunta que não queria calar:

  - Porque não me contou...? – Ele deu ombros. - Eu nunca teria deixado você me beijar se soubesse que você-...

  - Ei, espera. – Ele me cortou com tanta firmeza e autoridade que eu me calei imediatamente. - Não confunda as coisas. Ela não tem nada a ver com o que está acontecendo entre a gente. – Eu quase ri.

  - Como não tem?! Você está noivo, comprometido. Você ao menos sabe o significado dessa palavra? – Geralmente não sou assim. Eu estava meio irritado, só isso.

  - Eu não sou comprometido, sou prometido. São duas coisas bem diferentes. Quando você está comprometido se importa com a outra pessoa, sente algo por ela. Eu não sinto nada pela Alyss. Não temos nada em comum além de pais tentando evitar um possível guerra. O casamento é só uma fachada.

  - Ainda é um casamento. – Eu disse seco.

  - Eu não me casei ainda. Allen, esquece ela. – Eu bem que queria.

  - Você mente pra mim o tempo todo. Como espera que eu-...

  - Do que está falando?? Eu nunca menti pra você. – Irritado, me dei conta que era verdade. – Você nunca perguntou se eu era noivo. Eu apenas escolhi não te dar essa informação.  

  Me virei de costas para ele, provavelmente não era o mais educado a se fazer na presença de um príncipe, mas eu estava cansado de discutir. Parecia não ter fim. Encarei a noite calma pela janela esperando que ele se tocasse que a conversa tinha acabado e saísse do quarto mas é claro que ele não fez isso.

  Ao invés disso ele se aproximou de mim. Eu não queria virar para ele ou olhá-lo por que sabia que ia fraquejar. Eu precisava me manter firme e... De repente senti os braços dele ao meu redor. Devagar, com carinho, ele deslizou os braços por mim e me abraçou. Senti um nó na garganta, e uma calma estúpida que eu não queria sentir.

  Tive vontade de tirar os braços dele de mim e me afastar, mas alguma coisa me impedia. Senti o corpo começar a relaxar. Deus, aquilo era... A boca dele? Tinha dado um beijo na minha nuca e eu senti um arrepio, uma corrente elétrica.

  - Ela não é nada em comparação a você. Deixa ela pra lá, Allen... – Ele sussurrou. Me virei para ele, sem me afastar no entanto.

  - Há mais alguma coisa que eu precise saber? – Yell hesitou.

  - Não. Que afete a gente não. – Mas eu ainda não estava seguro. O choque da tarde ainda não tinha passado.

  - Você jura?

  - Juro. – E ele me beijou. Não de maneira leve e educada como da primeira vez, mas como se exigisse alguma coisa. Seu lábios se moviam contra os meus de um jeito quase agressivo, e por tudo que era mais sarado, eu estava gostando. Pousei minhas mãos nos quadris estreitos dele e ele interpretou isso como um sinal para ir em frente.

  Yell lambeu meus lábios e eu abri a boca arfando e ele aproveitou a oportunidade, intensificando o beijo. Nossas línguas se enroscaram e eu podia sentir que ele estava ficando excitado. Talvez excitado demais. Com a cama tão perto as coisas estavam ficando perigosas e eu temia perder o controle.

  Ele se afastou ofegante e encostou a testa na minha. Deu um sorriso e falou, num sussurro rouco;

  - Pode ter certeza que eu nunca beijei ela assim. Nem ela nem ninguém. – E por algum motivo, acreditei nele.

  - Já chega de falar dela. – Eu respondi.

  Dessa vez, eu tomei a iniciativa. Parecia a coisa mais natural a se fazer. Ele aceitou de bom grado, dando um pequeno suspiro quando nossas bocas voltaram a se juntar. Eu estava me sentindo quente, queimando por dentro. E não era de raiva, como mais cedo, mas de desejo. Fiquei assustado com a intensidade daquilo, como em um momento eu estava fugindo dele e no segundo seguinte o queria.

  Ele me puxou em direção à cama, e acabei indo, meio que caindo por cima dele. Eu sabia o que ele queria, mas também sabia que não podíamos. Não ainda. As coisas estavam muito frágeis ainda. Eu não queria estragar tudo com uma noite intensa e impensada. Me afastei tirando as mãos dele de mim delicadamente.

  - Tudo bem, chega. – Ele deu um gemido insatisfeito, mas não insistiu. Deitei ao lado dele e fitei o teto pensando no que tínhamos acabado de fazer. Ainda me sentia tremendamente quente. Ele se sentou e baixou os olhos pra mim.

  - Você ainda quer que eu vá...?

  - Não.         

      


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Comentários me inspiram u.u

Vejo vcs no próximoo o/