Ice Prince Passion escrita por Annie ONeal


Capítulo 12
Lucy


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo simplesmente fluiu. Isso quase não acontece então o/ Ficou meio emocional também, tomara que vcs gostem =3

Espero que tenha ficado tão bom quanto eu achei que ficou. Sei lá.
Vamos ao que interessa.

Yell's POV



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  Eu tinha tido um mal pressentimento quando vira a porta do quarto entreaberta, mas ver Allen ali em pé, no meio do quarto superara todas as minhas expectativas. Não sei bem como devia estar minha expressão, mas a dele desabou quando me viu, todo o encantamento sumindo rapidamente.

  Eu devia me sentir invadido não é? Ou... Deveria sentir alguma coisa. Raiva, frustração? Mas eu não sentia nada. Ele veio até mim com uma cascata de desculpas, mas eu não estava ouvindo. Minha alma pareceu retornar ao corpo quando ele me tocou, me pegando pelos ombros e balançando.

  - ...hein Yell? Você este me ouvindo? – Ergui meus olhos focando nos dele. De repente voltei à realidade.

  Me soltei dos braços dele recuando até a porta para fechá-la. Já era bem ruim ele estar ali, nem mesmo eu era permitido ali, e as coisas podiam piorar se alguém nos visse. Não era pra ninguém nunca entrar ali além de meus pais. Fechei a porta suavemente e me virei para encará-lo. Não sabia muito bem o que dizer.

  - Como foi que você... – Ok, isso não era importante. Respirei fundo. Ele continuava com aquele olhar de espera então, disse o que sabia que ele queria ouvir. – Está tudo bem. – Mesmo que não estivesse. Ele parecia saber, mas desviou os olhos escuros de mim e voltou a olhar o quarto.

  Observei-o absorver cada detalhe do ambiente. Ele olhou para os olhos azuis gelo da minha irmã, a cascata de cachos louro dourados, o vestido rosa claro e a expressão de superioridade sem arrogância que ela sempre ostentava. Ou melhor dizendo, costumava ostentar. A pintura era tão real que as vezes eu me esquecia que era apenas um retrato. Eu sempre evitava entrar ali de dia, a iluminação parecia aumentar a sensação que ela ainda estava lá. Além de a noite ser mais seguro, claro.

  - Ela é sua irmã? – A pintura em tamanho real ficava no centro da parede esquerda do quarto. Desviei os olhos de lá me sentindo subitamente enjoado. O cheiro das rosas frescas que minha mãe insistia em repor todos os dias estava começando a me deixar tonto.

  - Minha falecida irmã. – Esclareci. Allen virou-se para mim parecendo genuinamente triste.

  - Eu sinto muito.

  - Não precisa sentir. Não a conheceu. – Ele recuou como se eu tivesse dito que ela era uma bruxa ou algo assim. Eu me sentia cada vez mais ausente. Entrar ali com outra pessoa era... Estranho pra dizer o mínimo. As paredes rosa claro, o guarda roupa intacto e sem poeira, as joias em cima da penteadeira como se ela fosse sair do banho de espuma e as colocar a qualquer momento...

  - É como cristal, - Me ouvi dizer. – Lindo, mas frágil. Uma fantasia à beira da estante pronta para cair e quebrar. – E era assim que eu me sentia. Repleto por cacos de uma fantasia que eu mesmo destruíra, mas que a presença de Allen me fez notar que eu estava me cortando com as pontas estilhaçadas.

  Senti os braços dele ao meu redor, e o olhei surpreso. Eu nem mesmo notara quando ele se aproximou. Ele me segurava com cuidado e me olhava preocupado.

  - Você está pálido. Vem, vamos sair daqui. – Ele me levou até a porta e eu olhei o quarto iluminado como se fosse a primeira vez que entrava ali. Senti um ímpeto destrutivo perigoso se apoderando de mim, eu queria quebrar tudo, cada vaso de rosas, cada jóia. Queria pôr fogo no quarto e quem sabe assim eu seria capaz de seguir em frente.

  Mas não fiz nada disso, claro. Tudo se mante à perfeição que era e quando Allen me largou, estávamos no corredor. Ele trancou a porta com a chave que eu não tinha notado tirar do meu pescoço e pegou minha mão me levando para longe dali. Uma parte de mim estava agradecida e outra gritava querendo voltar.

  De alguma forma, ele me conhecia mais do que eu pensava, me levou ao único lugar que eu geralmente tinha paz, com exceção do quarto de minha irmã, o lugar que eu considerava meu refúgio apesar da ironia da fragilidade das paredes. A torre de vidro.

  Cercado pelo céu claro e sem nuvens, eu me senti voltar ao normal, aos poucos. Fazia muito tempo dês da última vez que eu surtara assim por causa dela. Ali, ele me deu um pouco de espaço, mas depois de um tempo me aproximei dele novamente. Ele me deu um abraço e eu me senti protegido. Aceito. Como fazia tanto tempo que eu não me sentia. Abracei de volta com força, sem conseguir me lembrar da última vez que me senti próximo assim de alguém.  

  Me sentei no chão fazendo um sinal para que ele fizesse o mesmo. Depois, me deitei olhando para o céu através dos vidros. Ele continuou sentado em silencio, e eu senti que precisava falar alguma coisa. Mas quando eu abri a boca as palavras escorregaram antes que eu as pudesse deter ou filtrar e, de repente, eu estava contando tudo a ele.

  - Lucy era perfeita. Tudo que uma futura rainha deve ser. Educada. Gentil. Racional, mas sensível. Dominava a neve como nem minha mãe conseguia. Era a filha e a irmã perfeita também. Ela era cinco anos mais velha que eu, mas brincava comigo o dia todo quando éramos pequenos. Nunca respondeu, nunca foi repreendida. Eu refletia um pouco disso por causa dela conforme ia crescendo. – Fiz uma pausa. Allen estava quieto, me olhando. – Ela sabia todas as leis e as boas maneiras. Ela ia ser uma rainha... Melhor que qualquer outra. Eu nunca fui o foco por causa disso, eu era o caçula, minha mãe vivia agarrada comigo e meu pai me ensinou todas as coisas legais que não ensinava a ela. Tipo blefar jogando cartas ou como fazer as caretas mais legais. Rainhas não fazem isso então nessa parte eu meio que me sentia especial. Não cresci educado para ser rei, as tarefas difíceis eram só da Lucy. E ela nunca reclamou.

  - Um dia, perto do aniversário de dezesseis anos dela, ela estava brincando comigo no jardim suspenso quando.... Tropeçou e caiu lá de cima. Não morreu da queda, por causa da fonte no andar abaixo, mas ficou muito mal. A agua quase congelada quase a afogou e....- Fiz uma pausa porque minha voz estava falhando.

  - Não precisa continuar se não quiser. – Allen disse suavemente. – Entendo que foi difícil pra você.

  - Acredite, foi bem mais difícil pra minha mãe e pro meu pai. Ela morreu poucos dias depois. Eu fiquei com ela cada segundo, mas depois que ela morreu minha mãe trancou o quarto e me proibiu de entrar lá. As coisas mudaram drasticamente depois disso. Mesmo que eles nunca tenham falado explicitamente sei que me culpam pela morte de Lucy. Meu pai só passava tempo comigo para me ensinar as leis e coisas que eu devia saber pra ser rei. Eu nunca mais o vi sorrir. Minha mãe passou dias no quarto chorando e quando saiu, não queria me ver. Demorou para me olhar nos olhos de novo. – Demorara mais tempo do que eu gostaria de admitir.

  Allen secou uma lágrima que eu não tinha notado deixar cair. Fechei os olhos me sentindo exausto de repente. Não voltava ao passado fazia muito tempo, mas um peso parecia estar sendo tirado de meus ombros.

  - Quando as coisas se ajustaram numa nova rotina, as coisas viraram um inferno pra mim. Tive que aprender em poucos anos o que ela tinha levado a vida pra ser. E meus pais não aceitavam nada abaixo da perfeição. Cada detalhe. Se eu fizesse qualquer coisa fora do que era esperado do comportamento de um rei a repreensão era sempre a mesma, “Lucy não fazia assim”, “Lucy não diria isso”, Lucy isso Lucy aquilo. Ela assombrava cada minuto da minha vida e eu sabia que nunca ia conseguir ser como ela. – Trinquei os dentes sentindo a memória vívida arder. De certa forma ainda era assim.

  - Um dia entrei no quarto da minha mãe sem ela perceber e achei a chave. Não precisava nem testar, eu sabia. Roubei a chave e ela achou que tivesse perdido e eventualmente arranjou outra. Fiquei surpreso por não ser acusado, mas eu me comportava tão bem que acho que ela não achava que eu seria capaz disso. Mas era foi a ponta do iceberg. Quando eu entrei no quarto a primeira vez foi algo... Eu sentia ela lá. Tudo ficara tão intocado que... Não sei explicar. Eu cheguei a chamar o nome dela e quando ninguém apareceu, eu chorei, pela primeira vez por ela. – Admitir isso não era fácil mas as palavras estavam simplesmente saindo.

  - Foi como se eu tivesse entrado e guardado lá a minha vontade, minha ânsia de ser ela, de ser um substituto à altura. Ficou lá, em algum lugar no meio dos livros de romance dela. A partir daí foi quando eu comecei a ter minha própria personalidade e meus pais não gostaram nem um pouco. – Eu mesmo não gostava algumas vezes. Ok, na maioria das vezes. Eu era do jeito que era por culpa deles. Omiti essa parte, não achei que fosse relevante. – Ir lá se tornou algo diário e eu comecei a falar com ela, quase como uma reza, e as vezes ouvia ela respondendo. – Coloquei o verbo no passado apesar de não ser tão passado assim. Ainda ontem eu a tinha ouvido, mas eu sabia que aquilo era loucura. - E pra mim o quarto se tornou um santuário, como era para minha mãe.

  - E eu invadi esse santuário... – Allen falou pela primeira vez, um murmúrio baixo e culpado.

  - Melhor você que qualquer outra pessoa. Acho que ela teria gostado de você. – Eu disse, me surpreendendo por que era, como tudo que eu tinha dito até então uma verdade muito sincera. Acho que nunca tinha dito tantas coisas verdadeira para ele de uma só vez. - Para o rei e a rainha eu sou o filho rebelde que infelizmente vai herdar o trono. Eles só não tiveram mais filhos por que iam ter que esperar demais e eu ainda ia ser um empecilho, já que tinha vindo primeiro. Enfim... Depois de um tempo eles desistiram de lutar contra o que eu sou. Agora eles só me ignoram.

  Fizemos uma pausa, eu estava realmente cansado de tanto falar, de me lembrar, de ser sincero, tudo. Allen fazia um carinho nos meus cabelos que era reconfortante.

  - Eu sou ridículo não é...? Apenas um príncipe frustrado que vive na sombra da irmã morta. – Eu sentia meu velho eu sádico voltando.

  - Não é assim.... – Allen tinha um tom compassivo, paciente. – Você passou por muita merda, mas a culpa não é sua.

  - É dos meus pais.

  - Não.

  - Sim.

  - Não, Yell. Não totalmente. Eles só estão... Confusos. – Ele fez um pausa. – A tragédia, assim como o amor, deixa as pessoas cegas. – Não respondi de imediato por que aquela era a coisa mais verdadeira que eu já tinha ouvido na vida. E eu concordava completamente. Ele devia me amar já por que não enxergava quem eu era. Ou eu era um ótimo ator. Mas isso não vem ao caso, ele estava falando do amor deles pela minha irmã, então deixei pra lá.

  - Eles queriam e ainda querem me mudar. Mas as pessoas não mudam, Allen. Elas só se enganam achando que podem mudar a si mesmas ou os outros. – Olhei o céu que começava a se tingir de vermelho e dourado anunciando o pôr-do-sol.  

  - Nada é tão ruim que nunca acabe. – Allen disse com um sorriso. Eu sorri também, mas não como ele. Me ergui e me aproximei.

  - Nem tão bom que seja eterno. – Completei. O sorriso dele sumiu e antes que ele dissesse alguma coisa juntei nossas bocas num beijo lento. Eu não queria falar agora. Muito já havia sido dito. Demais.

  Ele correspondeu com um carinho que quase fez eu me sentir emocional de novo. Quase. Mas as coisas tinham limites e eu tinha chegado no meu. Me levantei puxando Allen junto e deixei bem claro, em meio aos beijos, o que eu queria.

  -Eu preciso sentir você de novo. Aqui, agora, preciso ter certeza que ainda consigo sentir alguma coisa. – Por que eu me sentia congelado por dentro. Afinal eu era o maldito Escolhido do Inverno não era? Mas só quando eu estava com ele eu me sentia vivo.

  Allen apenas concordou e me beijou com mais intensidade, de um jeito perfeito. Tudo que eu queria fazer agora era esquecer, e só com ele conseguia isso. Mas ele conseguiu me pegar de surpresa e me fazer esquecer de tudo realmente quando disse baixinho;

  - Eu te amo, Yell.

  Isso tirou meu fôlego, e fez meus olhos arderem. Mas eu apenas voltei a beijá-lo e fingi não ter ouvido.            

         


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Notas finais do capítulo

Pro pessoal que não gosta do Yell emotivo, foi a ultima vez ele vai demorar pra ficar assim de novo ok? Modo Sádico On.

Eu reeeeealmente ia apreciar comentários nesse ><

Preciso da opinião sincera de vcs! Por favor =3

Se tivr ficado ruim, sejam bonzinhos ok?
Ou não x.x


Até o próximooo o/