Two Pieces escrita por Olavih


Capítulo 14
Visita de papai


Notas iniciais do capítulo

Hey aí está mais um capítulo. Aproveitem e obrigada pelas reviews do capítulo passado. Tenho certeza que a Elysia ficou super feliz com elas.



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Assim que entrei no quarto, Marcelo percebeu que havia algo de errado. Ele descolou seu rosto da janela e virou seu olhar para mim, preocupado. Fechei a porta calmamente e me sentei na cama, olhando para ele.

—Certo, qual o problema dessa vez?

—Eu quase fiz com a Kamilla. — disse mais baixo. Marcelo arregalou os olhos.

—Você o que? — ele quase gritou.

—Shh. Calado, credo. Eu e Kamilla quase transamos.

—Ela chegou a ficar sem blusa? — balancei a cabeça em sentido negativo. Ele suspirou.

—Mas eu não queria parar. Não conseguia quase.

—Rafael, Rafael. Você tá brincando com fogo Rafael. Quer que aconteça de novo? Quer que vire um caso Lívia de novo? — ele estava se referindo a uma antiga namorada minha. Nós namoramos por seis meses até que ela ficou grávida. Ela não chegou a ter a criança, perdeu com três meses. Depois disso nem eu nem ela nos falamos mais. E eu prometi a mim mesmo que só faria isso de novo com alguém que eu realmente gostasse. Não que eu não tivesse certeza do que sentia pela Kamilla. Mas ela tinha 16 anos.

—Eu sei ok? Não vai se repetir.

—Acho que digo em nome do mundo quando digo: ufa! — ele voltou seu olhar distraído para a janela. Fiquei em silêncio e meus pensamentos voltaram a Kamilla. O corpo pequeno dela em baixo do meu, suas mãos em mim, aquela respiração curta que ela fazia quando eu a beijava no pescoço, seus olhos intensos, aquela boca...

Saltei da cama atraindo a atenção do Marcelo.

—O que foi?

—Vou tomar um banho gelado. — disse e corri para o banheiro escutando as gargalhadas de Marcelo.

—Sabe o que é engraçado? Nós já ficamos e eu nem sei seu nome completo. — disse Kamilla distraída.

—É Rafael Morais Andrade. — respondi olhando para ela. Estávamos na grama, curtindo a brisa. Era a hora do café da manhã, mas nós não estávamos com fome. Só queríamos curtir uma ao outro o tempo todo. Daqui a dois dias acabava o meu castigo e eu iria voltar para São Paulo. Então, por enquanto, evitávamos falar sobre isso.

Kamilla estava sentada na grama, e eu deitado em seu colo. Ela tinha um olhar perdido, os olhos castanhos esverdeados fixados mais a frente, sem se focar em nada. O rosto parecia ter mais sardas e a boca estava levemente rosada, assim como as bochechas. Passava seus dedos distraidamente pelos meus fios loiros, não parecendo nem reparar que estava fazendo o movimento. Ela sorriu ao ouvir minha resposta.

—Kamilla Cristina Lima Campos. — ela respondeu e depois escondeu as mãos no rosto. Arregalei os olhos em surpresa.

—Cristina? — sorri travesso.

—Sim, Cristina. Minha mãe que escolheu. Além de me abandonar ainda me deixa com um nome ridículo. — ela disse em tom divertido. Ri de seu desgosto. — Mas não ouse contar isso a ninguém, está ouvindo? Ninguém além de você sabe disso. Menos Elisa, talvez.

—Espera nem Geovanna ou os professores sabem? — ela negou em silêncio.

—Eu pedi a Elisa que tirasse da chamada. Acho esse nome extremamente vergonhoso. — rimos.

—Que dia você nasceu?

—8 de agosto, e você? — respondi.

—25 de março. — ela respondeu. — cor favorita?

—verde.

—Verde também. Acalma-me. — ela deu de ombros. Assenti em silêncio. Continuamos conversando sobre nós e nossas experiências como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

***

Encostei-me à parede assim que ouvi seus passos. Eles foram se aproximando aos poucos e me preparei. Assim que a figura de Kamilla cruzou o meu olhar meus braços voaram para sua cintura a puxaram contra a parede. Pensei que Kamilla ficaria feliz. Mas, como se agindo por impulso assim que foi prensada contra a parede seu punho atacou rápido e sem que eu percebesse. Apenas senti a ardência no meu olho esquerdo.

—Porra Kamilla o que foi isso? — ela se assustou. Parece que finalmente tinha notado que havia batido em mim. Coloquei a mão em meu olho que latejava.

—Oh meu Pai, era você? Perdoa-me, me perdoa, me perdoa. — ela colocou a mão sobre a minha e a retirou dali. Assim que viu o olho fez uma careta.

—Tudo bem, eu queria ser um cara romântico, mas vi que não vai dar, né? — ela riu fraca.

—Mas que droga também tinha que me pegar desse jeito? Como se quisesse me sequestrar?

—Você nunca viu filmes românticos? Os mocinhos fazem isso com as mocinhas.

—Ah calado. — ela disse. Fez outra careta. — tá doendo muito.

—Sim. Mas pode melhorar com um beijo.

—Você não tem jeito mesmo. — ela riu e me deu um selinho. Revirei os olhos e ela riu mais alto. Então me beijou de verdade. Nós damos as mãos e seguimos pelo corredor.

—O que está fazendo fora da sala?

—Hã... Bem... É que agora é aula de física sabe, e eu odeio a professora então...

—Você ia fugir. — previ. Ela sorriu como uma criança pega no flagra. — que lindo hein Kamilla? Pois eu vou te levar para a sua sala. — ela arregalou os olhos e ameaçou fugir. Só que eu agi mais rápido e a peguei no colo e a coloquei por sob meus ombros. Senti murros sendo desferidos em minhas costas.

—Me larga, isso é maldade. A mulher é uma...

—Não quero saber o que ela é. Você vai e pronto. Castigo por ter acertado meu olho. — ela riu.

—Te odeio.

—Também te odeio querida. — chegamos à sala de aula. Bati na porta e uma professora alta de cabelos pretos e aparentando ter trinta anos abriu a porta. Espantou-se quando nos viu.

—Possa ajudar? — coloquei Kamilla no chão.

—Peguei essa menina má fugindo. — escutei risos na sala e ri também. Kamilla arrumou o cabelo e bufou.

—Eu fui a um banheiro.

—Claro. — concordou a professora. — por meia hora. — ela completou e mais risos foram proferidos. — céus o que houve com seu olho?

—Ah, só um acidente. — eu disse sem dar mais detalhes. A professora sorriu com uma pontada de malícia.

—Se quiser eu te ajudo a cuidar desse seu acidente. — sorri malicioso.

—Ele não precisa. — retrucou Kamilla com a voz irritada. — e agora se não se importa em parar de cantar meu namorado, eu gostaria de entrar na sala e os alunos de ter aula. — ri da reação de Kamilla. A professora pareceu ficar ofendida.

—Entre Kamilla. Antes que eu perca a paciência. — Kamilla apenas deu de ombros, se virou e me deu um selinho. Depois seguiu para a sala. A professora fechou a porta sem ao menos falar tchau. Dei de ombros e segui para meu quarto, pensando no tédio que enfrentaria.

Porém não houve tédio algum. Assim que cheguei ao meu quarto e me joguei na cama escutei três batidas na porta. Sem ter coragem para levantar, gritei um “entre” e a pessoa se ofereceu. Uma figura carrancuda, de olhos azuis e rugas na testa apareceu de trás da porta. Meu pai entrou e fechou a porta sem nenhum ruído.

—Rafael. — cumprimentou. O convidei a se sentar e ele assim o fez.

—Gabriel. — eu o imitei. Ele franziu o cenho.

—Então, estou aqui. O que quer? Seja breve. Tenho uma entrevista para daqui a pouco.

—Ah eu não ousarei tomar seu precioso tempo. Só queria te pedir um favor.

—Você? Pedindo-me alguma coisa? — ele perguntou desconfiado. Assenti antes mesmo de responder.

—Quero que me arrume um apartamento aqui em Goiânia. Não precisa nem ser um de luxo, ou um dos seus. Pode me arrumar um dos seus amigos. Eu pago. Posso arrumar um trabalho. — pude ver a surpresa em seu rosto. Sem demora a velha sobrancelha franzida ocupou seu lugar de sempre.

—Quer se mudar para cá? Mas você odeia esse estado.

—Nunca disse isso.

—Disse sim. Quando tinha 14.

—Disse que odiava o Araguaia. Mas como sempre você não me ouve.

—Não vamos começar com isso de novo.

—Concordo. — falei em tom firme. Ele pareceu me analisar.

—Por que quer se mudar?

—Não quero voltar. Estou cansado de viver em São Paulo e quero ficar mais perto da minha família agora. — não era totalmente mentira. Era apenas parte da verdade. A verdade era que eu queria ficar mais próximo da Kamilla. Mas meu pai nunca ia aceitar. Ele tem certos problemas em aceitar pessoas que não sejam de família ou ricas.

—Você os odeia.

—Não, eu não os odeio. Só não estava pronto para encará-los de novo.

—E agora está? — ele levantou as sobrancelhas ao perguntar.

—Sim. Até os vi nesse fim de semana. — ficamos em silêncio por alguns segundos.

—E a faculdade?

—Eu já larguei faz três meses. — levantei os braços indignados

—Impossível. E não me falou nada.

—Eu tentei. Mas você nunca está em casa.

—Eu trabalho. Ao contrário de você que não faz nada.

—E todo esse trabalho está servindo para quê? Você não sai de casa, não aproveita o seu dinheiro e passa muito pouco tempo com sua família. Elisa nem anda te vendo mais e toda vez que vocês se veem rola briga.

—E quando você está em casa para ver? Sempre está saindo pra beber e me arrumar dor de cabeça. Só sabe agir como um moleque e nunca assume responsabilidades. — ele se levantou e eu o segui. Ficamos mais próximos.

—Olha só, não quer me arrumar um lugar? Tudo bem. Posso ficar aqui até arrumar uma quitinete e...

—Quitinete? Tudo bem, quem é ela?

—Ela quem? — me fiz de desentendido.

—Ela. A garota pelo qual você quer ficar. Vamos Rafael, eu te conheço. Sempre atrás de um rabo de saia. — ele respondeu ríspido. Cerrei os punhos.

—Já disse que não há ninguém está bem? Só quero ficar aqui. Gostei desse lugar.

—Você vai me contar ou não?

—Por que eu deveria te contar qualquer coisa? — explodi. — você nunca esteve perto de mim. Nunca foi meu pai quando eu precisei de verdade.

—Eu sempre fui seu pai. Sempre paguei a pensão...

—EU NUNCA PRECISEI DO SEU DINHEIRO.

—DEVOLVA-ME ENTÃO. — ficamos em silêncio, tentando nos controlar.

—Kamilla Campos. Ela é daqui e tem 16 anos. — respondi a sua pergunta de antes.

—uma órfã? Está pegando uma órfã?

—Ela não é só uma peguete, é minha namorada. Futura pelo menos. E eu gostaria que você a respeita-se.

—Tudo bem. Quero conhece-la.

—Nem pensar.

—Não discuta. Avise-a que vamos jantar hoje. No mesmo restaurante de sempre. Se você não falar com ela eu vou. — ele ameaçou. Eu hesitei. — isso mesmo. Estejam pronto ás 7:30. Não se atrase, mandarei um carro. — e assim ele saiu sem me deixar ao menos protestar.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem hein? No mínimo 4 reviews.