Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 41
Capítulo 40


Notas iniciais do capítulo

Úúuuuuuuultimo capítulo da terceira temporada!
Nossa, fui longe. E não se desesperem, tem post saindo em breve com a continuação (já mencionei ser uma looooong-fic?) :D No entanto, o começo do fim está próximo... Já disponibilizei a abertura da temporada seguinte (só checarem no perfil). Lá tem umas ressalvas, casts e curiosidades.

Bom, parei em enrolar e aí vai o esperado capítulo!
Enjoy.



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Um grito de “já vou” seguido de diversos latidos se aproxima da porta que bati campainha. Estranhei ter sido uma voz masculina, pois Lucas devia estar trabalhando numa noite de sábado. E é ele quem abre, tentando segurar para que Nemo não avance, nem fuja.

– Ora, ora.

– Olá, garotão.

– Brigado.

Me abaixo para receber o carinho (ou pedido de carinho) de Nemo que chega sem cerimônias. Estava tão animado que pulava em mim e Lucas teve que o puxar. Se eu lhe contasse da minha última peripécia com cachorros... bom, eu não podia demorar.

– Estava falando com o Nemo.

– Sei. Finjo que acredito.

– Tá. Vim trazer de volta seu pluggin de videogame que mamãe pegou emprestado. Foi de muita utilidade.

Ele recebe o objeto em mãos com os fios enrolados e olha balançando a cabeça com total descrença pelo que presenciou de minha mãe. Até parecia que ele não conhecia a figura.

– Você não imagina minha cara quando eu vi que era um pedido sério. E não acredito que eu perdi essa cena. Merda de virose.

– Então por isso que você tá aqui? Pensei que Leila ou sua mãe atenderiam a porta, menos você.

– Mamãe saiu com umas amigas e Leila tá de plantão. Nem pra cuidar de mim ficou. Eu aqui todo lascadinho e fraco.

– Tá parecendo o Murilo resmungando.

– Não queria que nossa despedida fosse assim. Mamãe disse que vocês vão amanhã de manhã cedo, né?

– Mudança de planos. Vamos esperar a irmã de Vini chegar para que ela possa ir com a gente.

Houve um problema na estrada que conecta a cidade do pai de Vinícius e pista principal, uma ponte havia arriado e apenas veículos de baixo porte poderiam passar. Como Filipe teve que voltar mais cedo para a capital, antes desse desastre, Iara meio que ficou presa na cidade. Ela ligou para Vini enquanto estávamos jantando na praia no dia anterior, pediu para ele resolver um problema de correspondência que o síndico do antigo apartamento dele – atual dela – havia requerido. Aparentemente apenas Vini poderia ir lá, pois constava seu nome nos registros, deixando Iara de mãos atadas mais ainda. Ok, ele disse que iria passar logo na segunda de manhã e desligou.

Da minha cidade para a dela era apenas uma hora de diferença, sendo a dela mais longe. Então pensei numa ideia logo que Vinícius me explicou a razão da ligação e esperei o convencer. De que Iara poderia vir conosco, se ela conseguisse uma carona até pelo menos a rodoviária.

Claro que Vini ficou incerto de início, ele não muito “chegado” na “irmã”, mas aceitou mais rapidamente do que quando contei pra Murilo. Ele realmente tinha encasquetado com a garota. Então ficou combinado que Iara chegaria umas 10h30 da manhã, almoçaria em minha casa e partiria conosco na viagem de volta.

– Já fazendo a média com a cunhadinha, é?

– Longa história. Mas nada de média, juro. Tá de cama é?

– Febre passou faz umas horas, tô aziando vendo tv.

– Hum. Papai promoveu um último jogo. Um com todas aquelas regras malucas que inventamos no feriado de Natal. Pena que você tá mau, ia te convidar.

– E eu vou. Não perco uma jogatina dessas neeeeeeeeeeeem... doente.

Proclama tão lúcido e firme que me pergunto se a febre voltou.

– Só avisa quando começar a delirar, não quero Leila tentando me matar.

– Aquela lá quer meu enterro depois que, sem querer, quebrei o espelho dela. Devia ter era pena de mim, são sete anos de azar. Sabe o que são seeeeeeete anos de azar, Milena?

– Ô se sei. Só queria saber onde tanto arranjei espelho pra quebrar, porque azar é o que mais me aparece. Digo pra mamãe preparar uma canja?

– Já jantei, valeu. Vou só trocar de roupa, fechar a casa e prender o Nemo. Vejo vocês jajá.

~;~

Ajustei um programa de tv de músicas para ser nossa trilha sonora como sempre fazia. Mamãe e vovó arrumavam a mesa da copa para todos os participantes, os outros só enrolavam esperando. Quando Murilo desceu com o jogo em mãos, papai desceu logo em seguida com uma determinação tamanha. Declarou ele:

– Esse jogo é uma questão de honra agora, eu ganho.

Isso porque seu time havia perdido o jogo que rolava durante nosso jantar. Enquanto vovó distribuía as cartas, também fiz meu pronunciamento:

– Por mim aqui é cada um por si. Ai daquele que jogar bomba em mim e pior daquele que tentar me proteger.

O jogo começou tenso. Eram 8 pessoas. Geralmente cada um recebia 7 cartas, dessa vez começamos com 9. Papai realmente queria dificultar todo o jogo, um perfeito desafio. Mamãe, coitada, era principiante numa mesa de bichos vorazes e altamente estratégicos. Estava ali para aprender na marra, comprando carta após carta a cada ligeira mancada que dava. Isso dava uma média pra aliviar a tensão fora a falação toda de Lucas. Essa noite ele falava pelos cotovelos (culpei o antitérmico que ele havia tomado), não tinha uma conversa que ele não dominava.

Ao contrário das outras vezes, isso o desconcentrou muito, o que fez ser uma concorrência a menos. Além de que, pra entrar na brincadeira (e estratégia), hora e outra eu tocava sua testa para avaliar como andava sua temperatura. Lá pela quinta vez, ele já tava achando que eu tava de sacanagem.

– Gente, ou isso é assédio ou é tramoia dela. Desculpem a sinceridade, senhor Otávio... Murilo e Vinícius.

Os três me olham discretamente sobre suas cartas e então sérios para Lucas. Deviam estar na dúvida se aquilo era só pra zoar ou desconcentrá-los. Eu apostava nas duas opções. Mas fiz meu teatro também.

– Olha, a gente se preocupa com o estado de saúde das pessoas e é isso que se recebe em troca. Olhares desconfiados e de desprezo.

– É tramoia dela.

Falam papai e Murilo juntos, quase combinados. Falsamente ofendida, abro a boca num descaramento de fingir espanto e ultraje. Apelo ao jogar minha carta, uma escolha que agradou vovô que estava ao meu lado. Ele era o que estava com menos cartas em mãos. À sua direita, na ponta da mesa, papai se mantinha impassível com seu leque de 5, combinando com vovó, ante a vovô, que estava muito da calada para anseio geral. Continuei dando trela pra Lucas.

– Sabe, pode existir uma terceira opção aí.

– Possivelmente, já que se fosse assédio, eu ainda ia apanhar por ser teu objeto de abuso. Já viu quantos homens têm nessa mesa pra defender a honra que nesse caso nem seria tua?

Ok, gargalhei e tão logo zanguei quando Lucas me faz comprar 2 cartas.

– Lucas, quanto mais você fala sobre isso, mais você se ferra.

– É, eu tô vendo pela veia saltitante na testa do seu pai. Brincadeira, seu Otávio!

Uma olhada significativa de meu pai foi duro o bastante para ele se calar. Brincou de fechar um zíper na boca e vovô o fez jogar a “chave” fora. Aí perguntei como teria chave se de primeira instância era um zíper. Como era possível?

Não tive resposta, porque alguém levou bomba de minha avó. Murilo.

– Porra.

Palavrões foram vetados, então um coro se fez.

– COMPRA.

Não demorou muito para ele levar outra bomba, do meu namorado dessa vez.

– Puta merda, Vinícius. Você é meu amigo ou não?

Mamãe interviu antes que o coro gritasse “compra”.

– Foram dois palavrões, compra duas vezes.

– Não, vale só como um.

– Se barganhar mais, leva três.

Papai ordenou e Murilo teve que aceitar.

Na reta final, por incrível que pareça, a batalha era entre mim, vovó, com duas cartas e mamãe, com quatro. O resto variava de cinco a doze. Murilo estava com dois leques já. Uma jogada de papai mudou todo o cenário e assim ficou apenas ele e mamãe na batalha. Quando ela gritou Uno, comemorou com um hi5 (bater as mãos) com Vinícius (já disse que eles estão muito amiguinhos?) e logo papai também atingiu a marca de uma carta, porém, esqueceu de gritar seu Uno, o que acarretou na compra de uma carta, e de mais outra quando soltou uma das palavras proibidas.

Sim, mamãe venceu. Sorte de principiante foi o que geral alegou.

Descrente por derrotado toda a banca, ela fez questão de levantar da cadeira para sair pulando pela casa pra espalhar sua vitória. Mentira, ela foi buscar a câmera para registrar esse momento único.

Recebendo uns tapinhas de Murilo, papai permaneceu à mesa enquanto todos iam se dispersando, falando de jogadas e outras coisas mais. Quando fui falar com ele, vovó piscou pra mim e tudo que pensei anteriormente se fortificou numa grande desconfiança. Vini e Murilo saíram para a sala pra ajudar mamãe com a foto que ela queria e eu aproveitei o momento com papai.

– Acho que não foi dessa vez que o senhor ganhou.

Com um sorrisinho discreto e um olhar desviado, ele ordena as cartas para colocá-las na caixinha direitinho. Presunçoso todo me responde, mas sem ser direto, como sempre:

– E quem disse que eu não ganhei?

– Mamãe que ganhou.

– Justamente.

Eu sabia! Sabia que ele não foi descuidado nada, ele não gritou o Uno de propósito, para dar mais chances pra mamãe de ganhar. Vovó também tinha sacado. Só não entendi como ele poderia se considerar vencedor da partida...

– Mas...

– Olha como ela está feliz.

Nem preciso olhar pra sala se podia ouvir muito bem a alegria dela se alastrando por toda a casa. Até aumentou o volume da Tv quando uma música animadinha do Usher tocava. Meu pai sabia bem a figura com quem estava casado, além de ser esse bom marido pra ela. Nesse quesito, eu tinha tirado a sorte grande por ter pais assim, que é uma coisa bem difícil de encontrar nesse mundão.

– E adivinha quem ela vai fazer feliz daqui a pouco?

– Ai, pai, eu podia ter viver sem essa última.

– E eu sem encontrar minha filha aos beijos com um cara na minha varanda.

– PAI!

– Você que começou.

Bagunça meu cabelo, beija o topo de minha cabeça e sai para festejar a vitória. Sigo-o para a sala, onde mamãe faz caras e poses para os dois homens de minha vida, divertidos. Justo quando me junto a eles, paro pra ouvir a música que tocava... e reconhecer a voz.

Trilha sonora citada: OneRepublic – Life In Color

http://www.youtube.com/watch?v=BkShZ3bwKq8

Como uma lâmpada se acendendo, uma ideia me ocorre e gosto ainda mais quando alguém me enlaça pela cintura e, pode não ser Good Life, mas era meu Ryan cantando pra mim, uma nova canção que trilha bem o quadro da noite. Não tinha clipe, só mostrava uma foto da banda. Antes de me entregar ao ritmo, checo na tela o título. Life in Color. Gostei.

~;~

Antes de acompanhar Lucas até sua casa, minha avó nos chamou para uma última conversa. Deixando a família falando pela sala ainda bem animada pela vitória impressionante de mamãe, fomos os dois até o quarto de minha avó para ver o que ela queria nos mostrar. De pé na porta, observamos vovó Marília vasculhar o guarda-roupa e voltar com um pacote para Lucas.

– Quero que fique com isso.

– O que é?

– Abra.

Cuidadoso, ele apoia o pacote na escrivaninha para pode abrir sem que rasgue nada. Vovó se abraça, espera pela reação dele assim como eu, com o diferencial de ela saber o que era aquilo. E justamente por saber que havia um toque meigo e delicado em sua forma de sorrir.

Ao tirar o embrulho de papel pardo, Lucas puxa um caderno de brochura marrom. Não era novo, mas também não tão velho. Surpreso por algo que reconhece na capa, ele fica sem palavras... E nem precisava delas, pois sua expressão já era uma boa resposta.

– Um diário dele? Do meu avô?

– Sim. Encontrei essa semana dando uma geral nuns armários. Espero que não se importe, mas li um pouco... São pequenas histórias aleatórias que presenciou no seu dia-a-dia de reportagens. Como jornalista de cultura, ele viveu por muitos lugares diferentes, viu todo tipo de manifestação cultural e não só daqui. Algumas coisas ele não quis deixar apenas na memória. Já tinha visto ele escrever algumas vezes na redação mesmo, mas nunca esperei ver esse caderno de novo.

Engolindo a seco, vovó captura com o dedo uma lágrima que teimava sair. Lucas, por outro lado, mantinha-se boquiaberto, olhava do caderno para vovó e vice-versa. Pareceu ter feito um esforço para falar. Ou mesmo para controlar sua respiração que começava a ficar alterada.

– Obrigado, dona Marília, muito obrigado. Mesmo. E-e-eu...

Sem cerimônias, ele se joga nos braços de minha avó, que o recebe bem e... bom, eu me emociono pela cena. Sei o quanto significa para ambos esse achado. Permaneço na porta só de olho mesmo. Pisco rapidamente para que a água que se concentra nos olhos se desfaça antes de sair deslizando.

– Gostou?

– Nem sei o que dizer, dona Marília. Nada parece o bastante.

Se desvencilham do abraço e vovó passa a mão pelo rosto dele antes de deixar um beijo na testa. Sem jeito, Lucas coça os olhos com a palma da mão, enxuga rápido os indícios de sua emoção, me olha de rabo de olho e abraça novamente minha avó.

Aí que vem o empata pelo corredor:

– Ô Milena, mamãe tá perguntando que horas ela pod... O que tá acontecendo aqui? Que vocês estão fazendo?

A presença de Murilo faz vovó e Lucas pularem de seu lugar. Se eu não o puxasse pela camisa, ele iria entrar no quarto pra dar uma conferida melhor. Saí o empurrando de lá com um “shiii” que o deixou bem incomodado.

– Que foi, hein? Que tava rolando ali?

No corredor ele tentava se desvencilhar de mim pra ver melhor o que estava às minhas costas. Ou pelo menos ouvir alguma coisa. O mais gentil que pude o barrei.

– É coisa deles, não se mete.

– Mas...

– Nada de “mas”. Qual era sua pergunta?

Coça e meneia a cabeça para uma conclusão bem a cara dele.

– Hum... agora esqueci.

Sem querer dou uma fungada, que não passa despercebida. De olhos entrecerrados, meu irmão esquece sobre o quarto e me percebe, motivo de meu revirar de olhos.

– Tu tá chorando?

– Não... foi umas coisas que vovó tava remexendo no guarda-roupa, aí espirrei.

– Eu não ouvi nenhum espirro.

Ele estava me sondando? Mesmo? Depois de tudo?

– Não sou escandalosa pra espirrar.

– Hum.

– O que você achou que era, hein?

– Num sei. Com vocês nunca sei bem o que esperar.

– O que isso quer dizer?

– A festa de homenagem da vovó, por exemplo. Ele mexeu na fiação do microfone para falhar. Quem levou a culpa fui eu ainda.

– Ai, Murilo, ele se entregou, lembra? Mas já que entramos no assunto, tem uma coisa que eu queria te perguntar. Só... não pode ser aqui.

A sobrancelha desconfiada dele sempre tão presente nem aflige mais efeito em mim, que só volto a empurrá-lo para que continue pelo corredor. Passamos pela sala, onde meus familiares ainda estavam conversando animadamente que nem notaram a gente meio que se refugiando para a varanda. Me encosto numa coluna com os braços cruzados ao passo que meu irmão prefere uma cadeira que tem lá, reclinado para frente sem se jogar ao apoio das costas. É direto.

– O que você quer saber?

– O que foi aquilo de... de...

Era tão estranho perguntar isso.

Finjo me ocupar de segurar os cabelos com o pompom, ventava um pouco.

– De...?

– De achar que Lucas era gay.

– Ah. Hum... Tive uma conversa estranha uma vez com a irmã dele. Ela que insinuou isso.

Me parece inconcebível. Imito a sobrancelha dele de outrora.

– É sério. Eu tinha a abordado porque queria saber se... olha, não encara isso de um jeito ruim, tá? Queria saber se ele tinha algum interesse em você, porque algumas vezes saímos juntos e vocês ficavam muito juntos mesmo. Queria me certificar da companhia que ele era.

Suspiro pesadamente ao levar uma mão ao rosto. Eu já devia esperar uma coisa parecida antes mesmo de ele ditar o “não encara isso de um jeito ruim” porque eu tinha prévias suficientes para crer numa coisas dessas.

– Continue.

– Aí Leila disse que eu não tinha com o que me preocupar, porque Lucas não tinha interesse por você, não do jeito que imaginei. O negócio é que ela usou um tom, sabe, aquele que dá a entender outra coisa. Como se ele não participasse do... time.

– Por isso que você não frescava com ele?

– Milena, você sabe que faço tudo por sua proteção.

– Sei, sei, não precisa ficar repetindo. Responde.

Se antes ele ficava alternando o foco dos olhos pelo ambiente, agora ele só olha para baixo. Envergonhado? Não sei dizer, a varanda estava escura porque ninguém se lembrou de acender a luz de lá. Só dava para ver que esfregava uma mão na outra. Ansiedade?

– É, digamos que isso meio que me convenceu. E eu não o via com garotas, não do jeito como normalmente são os caras.

Lucas só era discreto, oras! Qual o problema com isso?

– Eu num acredito... quer dizer, pior é que eu acredito.

Balanço a cabeça para assentir que acreditava mesmo, tão típico dele. Idiota, mas ele. Ando de um lado pelo outro pelo espaço da varanda à sua frente e sinto que me segue parado na sua cadeira. Como ele pôde se convencer fácil disso? E como ele guardou uma história dessas? Por que não me falou?

– Tá chateada?

– Num sei. Faz quanto tempo isso?

– Hum. Uns dois anos...

Explodo. Então controlo o volume de minha voz, alguém poderia ouvir.

– DOIS ANOS? Dois anos que você acha que ele era... você-sabe-o-quê?

– Não precisa jogar na cara também, eu já entendi.

Firmo-me com braços cruzados novamente, dificultosa de prosseguir com uma pergunta que mal se articula dentro da cabeça. Que “sinais” ele teria visto? Por dois anos! Dois anos! Foi quase logo que chegamos na cidade para cuidar de vovó. Só de faculdade tenho dois anos. Depois que ela melhorou que eu voltei pra me matricular no ensino superior.

– Eu não acredito que vô perguntar isso... mas você já se sentiu, er.. cantado?

Murilo também fica desconfortável, se remexe devagar no lugar onde está sentado. Me recosto na coluna para ouvir que mais “sem-noçãozisse” viria dele.

– Não exatamente, acho. Ele sempre me deixou duvidoso quanto a isso. De qualquer forma, eu ficava longe. Quer dizer, nada contra, eu só não... só não sou desse time.

– Deu pra entender que não é nada disso, né?

– É, parece que ele gosta de uma garota aí, que tava naquela apresentação de dança. A que trabalha naquela loja que fomos com ele.

– Megan.

– Essa mesmo. Uns caras me disseram... e depois teve a história com o Vinícius, eu preferi não deixá-lo mais alterado com minhas dúvidas das intenções de Lucas. Mas não importa agora, você é segura com o Vinícius e...

Interrompo-o de supetão com um sussurro que ele bem ouve. Isso o desnorteia.

– Eu não quero isso, Murilo.

– Você não quer o Vinícius? Depois de tudo?

Ele quase salta.

– Não, seu idiota, eu não quero essa dependência tua em cima do meu namorado. Como você quer que eu confie em você se nem pra mim você dá essa chance? Tem que parar com isso, você sabe.

Não dá pra ele se esconder sempre nos seus medos.

Com pesar, ele soa sério.

– Juro que tento. Não sabe o quanto.

E eu sei! Estive lá quando confessou. Posso não ter exatamente visto, mas ouvi, senti, me quebrou tanto quanto se quebrava naquela conversa. Antes que todo esse rebuliço ruim volte, empurro de volta ao coração, porque não era hora para aquilo. Não posso permitir, menos ainda comentar que sei tal fato. Me magoa por dentro também que algo tão antigo o machuca, que quero só abraçá-lo e fazer tudo passar. O caso é que não passa, não se ele continuar alimentando isso. Uma hora ele vai ter que aprender.

– Pois é, quero comecemos por aí. Vamos dar um jeito de consertar isso.

– Não é fácil quanto se diz.

– Mas só dá resultado se tentar.

Ficamos quietos por um momento, presos nos próprios pensamentos.

Mas quem disse que essa família aguenta silêncio por muito tempo?

– O que é que vocês tão dando pra sumir hoje? Quero ninguém longe de mim, não. Já vão sumir amanhã, então quero todos debaixo da minha asa. Bora, se mexam!

Às vezes não só me pergunto quem é minha mãe, me pergunto também quem seria eu sem ela. Porque não tem amor maior que não transborde dela. Não tem calor igual, eletricidade similar ou força como o laço que ela fez em nós, Milena e Murilo, quando nos deu à luz.

Que família foram me arranjar... e que família fui inventar de amar.


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Notas finais do capítulo

♥ Gostaram? A fase viagem-família termina por aqui e, com tantas descobertas e confusões, a temporada seguinte vai começar daquele jeito que se gosta, odisseias não faltarão.

Trechinhos pra aguçar a curiosidade?

—Mantendo o Equilíbrio - Um Novo Amanhã_

A melhor hora para o universo te ajudar é quando se está atrasada (o).
Mas é aí que ele te sacaneia e sacaneia bonito.
Ok, não estou atrasada, tempo ainda não começou a me faltar. Só choramingo ao me dar conta que fiquei presa no terraço de casa. Sim, eu consegui ESSA proeza.

[...]

Vejo pelo reflexo da porta de vidro de uma loja fechada a minha frente a imagem de um homem, imagem que quase me faz travar, porque ele se mostra potencialmente um... cara perigoso. E mais outro chega perto dele, apontando discretamente para mim. Gelei.
Era só o que me faltava. Ser assaltada! E de verdade dessa vez.

[...]

Nem nos prestamos a apertar as mãos, ele só me entrega um outro capacete que devia ser reserva. Coloco-o e Sávio o ajeita em mim sem cerimônias. Tão perto. Ele tem um belo, discreto e encantador sorriso.
Mentira que eu acabei de pensar isso! Mentira!

[...]

Nos vemos na outra página o/ Obrigada mais uma vez :)

Abs,
Alexis K.



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