Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 33
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Ok, PRECISO dizer que esse capítulo foi um dos mais mais mais mais ♥ ♥ ♥ de escrever! E não falo só pelo shipper, pois ele engloba mais que o casal.
Lembro que tava pela metade quando do nada o notebook morreu, porque a tomada onde a bateria tava tinha estourado sem eu perceber e, meu Deus, tive um TRECO daqueles. Por sorte, havia outra bateria de notebook pra me salvar.

Enjoy.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410172/chapter/33

O jantar foi simplesmente maravilhoso. O dia todo estava sendo assim.

Mamãe ficou mais radiante que ao longo dos preparativos, preparou até seu especial de bacalhau, que Murilo deu seu jeito de resmungar quando de bicudo foi espiar a cozinha antes de todos se sentarem a mesa. Era só um jantar de apresentação de Vinícius, eu dizia à minha mãe, mas ela insistia em cada coisa, fazia um fuzuê, pois disse ter perdido muita coisa nos últimos meses e isso eu não podia lhe tirar. Com um argumento desses eu deixei, além de que ela estava bem engraçada.

Pela tarde jurei não dormir, queria aproveitar bastante do que era esse dia, mas acabei dormindo. De certa forma, isso foi agradável, dado quanto com “quens” e como eu dormi. Logo depois do almoço, meus familiares tiveram que sair de volta a seus trabalhos. Mamãe ia só terminar alguns detalhes que faltava com uma distribuidora e passar no jornal para pegar minha avó para umas comprinhas do jantar. Meu irmão não quis ir e ainda bem que não foi. Essa foi sua boa ideia depois de muito tempo.

Ele ainda não falava comigo, não diretamente, mas sempre que podia, ele fazia umas pequenas coisas por mim. Como alcançar alguma coisa na prateleira alta da estante, entregar alguma revista, passar-me um recado de vovó, levantar parte da poltrona quando um brinco meu tinha caído por lá. Fazia calado, desconfortável, mas fazia. Nessa tarde, no entanto, quando fez pipoca, não sei se tinha planejado só para ele, e quando me viu no meio do sofá esperando o filme que ia começar, acho que sorriu. Acho.

Uma coisa que sempre curti fazer com meu irmão é assistir a filmes no sofá junto dele. Porque ele gosta de comentar e eu de contrariar cada argumento que disser, além de poder jogar pipoca nele à vontade e rir das nossas teorias geniais que fazíamos para os personagens e tramas. Temi que dessa vez ele estivesse calado e o que meio que me tirou desse receio foi a presença de Vini, que sentou ao meu lado, fazendo de mim uma garota no meio dos seus dois homens numa relação de reconstrução.

O filme que estava no seu começo era 11 Homens e Um Segredo, que já tínhamos assistido umas milhares de vezes e não custava assistir mais umas quinhentas. Tinha o Brad Pitt, afinal. E o Matt Damon!

Murilo deixou a bacia de pipoca ao meu colo, para minha surpresa. Vini, por outro lado, me ofereceu umas minigelatinas que ele havia encontrado no mercado ao lado da loja dos meus pais. A única hora que o deixei sozinho foi quando teve que estacionar o carro, e foi essa hora que ele aproveitou. Gelatina de tangerina e uva, não tinha de morango ou limão... Ainda assim foram o toque de delicadeza do dia.

Desleixados ficamos por muito tempo. Esparramados, na verdade, os três com os pés apoiados na mesinha da sala. Às vezes alguém falava, mas não tinha muitas respostas. Quando a pipoca acabou, Murilo percebeu ao caçar alguma na bacia que jazia só com os milhos não estourados, ele olhou para mim. Pensei que fosse pedir que eu fizesse mais, então ele mesmo levantou e foi atrás. Numa atitude nada dele, devo dizer.

Enquanto as pipocam eram preparadas no micro-ondas ele ficou de butuca no vão da entrada da cozinha, de onde dava para ver o filme. Quando foi obrigado a sair, ele gritou, bem numa cena que devia ser zuadenta, mas estava silenciosa. Quem respondeu foi Vini:

– O que aconteceu?

– Té parece que você não sabe. A pilha falhou.

Então ele voltou, deixou a bacia ao meu colo mais uma vez e retornou a cozinha para nos trazer sucos. Se ele esperava me impressionar, ele estava conseguindo. Com minha guarda baixa desse jeito, não precisava de muito e ele estava excedendo expectativas. Ele estava tentando, como Vinícius havia dito.

11 Homens e um segredo era um filme longo. Depois de um tempo, um soninho começou a me pegar e era mais porque tinha acordado cedo. Mas não queria dormir e perder nada. As piscadas foram ficando mais pesadas sem minha permissão, eu já não ouvia bem o que os personagens estavam dizendo, o que era a ação da cena ou quem estava mais bonito, o Matt Damon ou o Brad Pitt – é que a cada vez que assistia eu tinha uma escolha diferente. Minha única decisão no momento não foi sobre os atores, mas sim para onde pender a cabeça. Com Vini eu estava assegurada, com Murilo... uma interrogação.

E foi em seu ombro que deitei, deixando minha cabeça cair para a esquerda conforme o sono estava me dominando. Senti quando ele se remexeu embaixo de mim, por um momento pensei que ele iria se afastar... mas não, Murilo estava se ajeitando para me receber. Me fez sair de seu ombro quando passou um braço por mim e me aconchegou a si. Beijou-me o topo da cabeça, pendeu a cabeça na minha e fez carinho no meu braço, como há tempos ele não fazia. Não demorou muito e dormi, dispersando meu cansaço de ter perambulado pela cidade de manhã. Acho que tinha acordado muito muito muito cedo mesmo.

Aí que mamãe chegou e bateu palmas para um susto geral.

– Que negócio é esse de VOCÊS três dormindo até essa hora? Já são 17h30!

Eu simplesmente estava debruçada por cima de Murilo e Vini quase deitado às minhas costas, pendendo para meu ombro. Era a pior posição que ele poderia ficar sendo que mal tinha se recuperado das dores no pescoço. Se eu não o conhecesse, diria que estava querendo aquela tala de novo. Suspirando devagar fomos acordando, nos mexendo, saindo um da “jurisdição” do outro. Murilo nada falou novamente e, para não ficar evidente esse seu silêncio, fui tratar de reclamar com Vini sobre a tala, que ele definitivamente se recusou em voltar a usar.

Fizemos um lanche na cozinha ouvindo mamãe de um lado para o outro querendo tudo perfeito e vovó nos contando a confusão que a bendita mulher fez no supermercado porque tinham levado seu carrinho quase pronto. Não sabia se eu ria ou se eu sentia um profundo facepalm de imaginar a cena que ela fez com os funcionários. Rolou até seguranças! Era minha mãe mesmo...

Ainda na cozinha enquanto ela preparava o jantar, me ofereci para ajudá-la, afinal dona Tili tinha pedido o dia de folga depois do almoço para resolver umas coisas de família e eu não queria sobrecarregar minha mãe. Quem disse que ela ligou? A mulher tinha uma energia que eu não sabia dizer de onde era essa tomada que ela tinha arranjado. Vovó que lhe ajudava, mas a minha ajuda ela negou veemente. Era só um jantar, poxa! Eu não ia casar não!

Quando os homens da casa – papai e vovô – chegaram, aí que foi zoada mesmo. Mamãe começou com toda sua falação sobre o supermercado, vovô adorando toda a movimentação, vovó contando outras partes, papai querendo ter aparecido lá como herói e Murilo se divertindo com elogios a nossa amada mãe pela bravura de peitar os seguranças. Dado um tempo parei para observar a todos e vi que Vinícius fazia parte dali, daquele pequeno cenário corriqueiro e familiar, não como um intruso como algumas vezes me senti enquanto estava com ele e Djane. Nem papai e vovô poderiam negar a identidade dele de já parte de nossa família.

Meus pais me deixaram usar seu quarto para que eu me arrumasse porque, de acordo com mamãe, eu merecia uma entrada triunfal pelas escadas e não tinha como fazer isso saindo do meu quarto. Bom, decerto não foi tão triunfal assim, pois cansei de esperar ser chamada e desci logo, eu não estava a fim de frescuras e estava bem ansiosa por tudo. Mais um minuto no quarto e não sei o que faria.

Enquanto esperava tinha ligado para a sogrinha. Ah, Djane estava que era só a alegria, nos parabenizando, mandando mil beijos, planejando fazer o mesmo na casa de seu Júlio. Quis falar com minha mãe, só que eu como eu fui deixada “reclusa” no quarto, não dava, não ainda. Meu Deus, quando nossas mães se conhecerem... Eu sinceramente nem sei como vai se suceder isso, já que mamãe tem me surpreendido e muito também.

Lá embaixo estavam todos absortos em conversas. Não me notaram até que eu cheguei à metade dos degraus. Murilo foi o primeiro a me perceber, estava na poltrona que dava um bom acesso visual a onde eu estava. Ele levantou-se, chamando a atenção de todos para onde olhava, eu descendo. Para essa noite escolhi um vestido branco perfeito (http://migre.me/bRhdm), nada too much para a ocasião: tomara-que-caia prissado marcado por duas tiras pratas que passavam logo abaixo do busto, com uma calda que caía em leves babados até meus pés.

Por ter combinado uma saída para depois dali, marquei um pouco a maquiagem na região dos olhos, prezando uma leveza que combinava com o vestido, com sombra prata esfumada ligeiramente por um marrom. Lápis preto e rímel incolor pareciam mais adequados. Minha combinação não era nada como conjunto destrambelhada da Milena num vestido branco que vesti na primeira noite em que vi Vinícius, nada como aquele pano de estudante universitária saída de uma tragédia com lama, de sapatilhas. Eram saltos altos agora – milagrosamente confortáveis, de pedrinhas brilhantes que seguiam numa correntinha do meu tornozelo aos meus dedos dos pés.

O jeito com que Vinícius, no outro sofá, levantou e sorriu aquele seu sorriso que amo, num discreto erguer dos lábios feliz foi o bastante para me recordar daquela noite em particular, de que me defendeu com unhas e dentes, que ficou injuriado pela forma que Djane havia me tratado. Minhas visitas ao hospital aos poucos foram trazendo esse mesmo sorriso que ele me joga.

Como o Murilo, vestia roupas um pouco formais para o que eu tinha lhes pedido – meu irmão bem social (http://migre.me/bQV9z) e Vinícius de camisa branca formal e gravata escura (http://migre.me/g2RZv– sem o smocking), ambos lindos. Uma bela combinação fazíamos os três, pensei quando desci os últimos degraus e Vinícius foi me receber ao fim deles. Estendeu-me a mão e a recebi com aquela que pendia a sua pulseira, que ele visivelmente se contentou. Ainda que não combinasse com o look por ter traços dourados, eu quis deixar bem enfático.

Para quebrar o momento, sim, minha mãe deu seu piti:

– Mas não era pra ter descido agora! Ainda nem achei a câmera! Otávio!

Sobrou pra papai, que, do lado de meu irmão e de meus avós, observava-me abobalhado como se nunca tivesse me visto arrumada na vida. Poxa, quer dizer que no Natal eu tava como? E na homenagem da vovó? E em outras ocasiões? Ele não tinha me olhado assim.

– Otávio, estou falando com você!

– Oi? Oi, amor, tá aqui a câmera.

– E por que não me disse? Por que ainda não tá tirando fotos?

Eu mereço mesmo...

Ele despertou e tirou umas. Abracei Vinícius e nem precisei me esticar por causa dos saltos. Estava tão emocionada que agradeci internamente a mim mesma por ter optado pelo rímel incolor, vai que eu logo começaria a deixar uma e outra lágrima caísse, não queria dar alarde em ninguém. Mas Vinícius percebeu, logo que funguei sem querer. Ainda em seus braços, vi meus familiares nos observando e mamãe principalmente toda trabalhada nos suspiros.

– O que foi?

– Nada. Só... feliz.

– Então vem, vem me fazer feliz.

Nos sentamos todos na sala para um pouco de conversa. Papai quase foi estapeado por mamãe quando ele tentou tirar-lhe a câmera das mãos, ele viu que estava me constrangendo. Vovô estava mais respeitoso, não fazia gracinhas, resmungos ou comentários indiscretos – talvez vovó tinha o colocado na linha. Foi logo depois que Murilo inventou de espiar o jantar, quando mamãe o chamou para ajudar a colocar tudo à mesa. Não teve esse que não riu na sala ao ouvi-la reclamando com ele, e ele dizendo que assim não a amava mais. Diferente de mim, ela caiu na dele, foi toda toda cheia de desculpas pelo seu comportamento. Não saiu de lá sem um “eu te amo” da vida vindo dele. Na realidade, melhor dizer “arrancado” dele.

Eu não tinha vergonha por eles serem assim, desse jeitinho. Ora me irritavam mesmo, mas ora... os amava de verdade. Estar na presença de todos apresentando um novo pedaço da minha vida era uma sensação diferente no peito. Cada olhar capturado deles me dizia ser a coisa certa na hora certa.

Todos à mesa conversávamos como uma noite de férias passadas, como fora o Natal dias atrás, fluídos, alegres, divertidos, sorridentes. Papai estava na cabeceira com seu ar de orgulho, mamãe e vovó logo em seguida. Murilo do lado de nossa mãe, vovô de sua mulher. Eu poderia ter sentado logo depois do meu irmãozinho, mas por causa da suposta rixinha de vovô, preferi pegar o lugar a seu lado para evitar umas questões e deixar que Vini ficasse próximo a Murilo, de frente para mim. Queria conversar com esse velhinho e levaria até uns biscoitos, preparada para o que viesse, porém, era algo para se adiar depois de ter combinado ir ao Satellite essa noite.

Muitos e muitos elogios se derreteram à minha mãe, nada modesta, sobre todo o jantar, as comidas, as bebidas – ela serviu vinho mesmo, eu que fiquei na água pra vovó não se sentir sozinha nessa, afinal, não podia beber. Eu estava quase para gritar que Vinícius era meu namorado, não meu noivo. Imagine o que mamãe vai fazer quando eu for pedida em casamento? Tenho medo só de pensar.

Já pelo fim do jantar, ninguém havia comentado, as conversas rondaram e rondaram, mas não foram diretas, falávamos das coisas na capital, de como nos virávamos, algumas historinhas, papai emendava outras, risos e risos, enfim... era hora. Olhei Vinícius a minha frente e capturei sua mão sobre a mesa. Nessa hora papai falava algo sobre... bom, eu não tinha noção do quê, e ele parou. Simplesmente parou e todos se viraram para ver o que tinha o calado assim, de repente. Então tomei coragem e falei:

– Mãe, pai... vovô e vovó... Murilo. Este é meu namorado, Vinícius.

Papai ficou sério, levantou-se. Estendeu a mão para Vini, que de prontidão levantou-se também, meio perdido como todos, e apertou a mão de meu pai. Que não o soltou de imediato, para minha preocupação. O que ele estava fazendo?

– Então, meu rapaz, não se importa em fazermos algumas perguntas, importa-se?

Ai, não.

– Não, claro que não.

– Quantos anos têm?

Ele não tá fazendo isso, ele não tá!

– Vinte e três, senhor. Faço vinte e quatro logo em janeiro.

– Você sabe que Milena tem vinte, não?

Eu nem conseguia olhar para outro no cômodo da copa, alternava entre esses dois sérios. Com o nervoso sob a pele, eu estava morrendo na cadeira só por assistir.

– Sei. Essa diferença não significa nada perante meus sentimentos, pode ter certeza.

– O que faz da vida? Estuda? Trabalha? Com quem vive?

– Bom, perdi o semestre pelo acidente que sofri, mas logo ingressarei de volta. Faço arquitetura e trabalho num escritório de imóveis. No momento estou na casa de minha mãe, não pude reaver meu apartamento ainda depois do ocorrido com meu pa... com meu tio.

– Hum. Quais suas intenções com minha filha?

– PAI!

Ok, nessa eu TIVE que me manifestar. Foi instinto, juro!

Papai nem desviou o olho, tampouco Vinícius, muito seguro de si.

Sério que só eu estava preocupada?

– Ele disse que não se importaria em responder, ele se comprometeu. Então?

– As melhores possíveis, senhor. Não apenas quero ser digno dela, mas digno para ter um relacionamento sério com ela. Se minha história de vida o preocupou de alguma maneira, peço que espere mais um tempo que as coisas estão se ajeitando. E estão assim, na realidade, por amar sua filha. Não só foi minha luz quando mais precisei, quero ser uma luz para ela também.

Rímel incolor, te amo. Porque pisquei e uma lágrima me escapuliu. Deu tempo de pegá-la antes que descesse a bochecha. Ele disse que me ama. Ele disse que me ama! Ele disse pro meu pai que me ama! Eu não acredito que ele fez isso...

Papai continuava impassível, mas estampou um sorrisinho irônico ao rosto.

– Decorou esse discurso?

– Não, senhor.

– Vocês já brigaram?

– Claro, senhor. Digo, todo casal tem que discutir para o bem de seu relacionamento. Não somos perfeitos, mas respeito eu tenho e ela também, posso afirmar.

– Hum. Ok.

E o soltou, simples assim.

Mas nem tive tempo pra respirar.

Papai já ia voltar a se sentar quando Vinícius o chamou de volta, ainda de pé:

– E, senhor?

– Sim?

– Não posso pedir permissão para amá-la porque isso não faz parte de seu trabalho de pai, mas peço sua benção para que isso que eu sinto por sua filha Milena esteja de acordo com as formalidades. Esse pedido só pode ser dirigido ao senhor e sua esposa, mesmo tendo seu representante, Murilo, concordado.

Ok.

Ok.

Murri.

Murri de morte morrida e se não tivesse sentada numa cadeira, estaria estatelada, é isso. EU não acredito que ele está fazendo ESSE pedido FORMAL aos meus pais. AOS MEUS PAIS. Acho que fiquei de olho duro, módulo estátua encarando a mesa. Eu realmente não esperava por essa.

– Um rapaz de surpresas estou vendo. Helena?

Mamãe saiu de seu momento lindeza-suspiros para gaguejar e segurar as lágrimas de orgulho que eu sabia que estavam vindo.

– S-s-s-sim, eu os abenço-o-o-o.

– Sim, eu, Otávio, os abençoo também. Algum argumento contra nessa mesa?

Silêncio e cabeças negando.

– E o mais importante. Filha, é este homem que trouxe a nossa casa com quem quer namorar mesmo?

Sou só eu ou isso tá parecendo um casamento informal?

– S-sim, pai.

– Então tudo bem. Ele está apresentado. Maaaas... se machucar minha filha, pode ter certeza, rapaz, que não vai ser só eu que vai te quebrar a cara. A fila aqui é grande.

– Sei disso, senhor. Não intento por nada disso, e se me der um acesso de loucura de fazer uma coisa dessas, pode deixar que eu mesmo virei aqui para pedir por isso.

Papai voltou a sentar-se e exclamou com gestos nervosos, mas felizes quebrando todo aquele climão sério. Eu já não sabia bem o que esperar dos outros, estavam me surpreendendo. Vini me sorriu e acho que estava tudo bem afinal.

Segurei o riso quando papai “cochichou”:

– Porra, esse garoto fala bem demais.

– Otávio!

Mamãe o repreendeu com um leve tapa no braço.

– Tá, tá, eu já entendi, vocês se amam, eu tô vendo. Ele sabe bem o que tá fazendo e com quem tá se metendo.

Eu poderia ter ido abraçar Vinícius depois dessa “sessão interrogatório e mira de bala”, mas o impulso que me veio foi de ir até meu pai, agradecê-lo e abraçá-lo. E assim o fiz. Logo todos estavam nos abraçando também, parabenizando pela “cena”. Abracei Vini e deixei meu irmão por último. Ele merecia o derradeiro. Nos braços dele descansei um pouco... Parecia meio tenso e depois relaxou mais. Então, numa leve surpresa, papai novamente cumprimenta meu namorado e adiciona uma ameaça, que me fez revirar os olhos dessa vez:

– E outra, não quero nenhuma escapada, indecências ou coisas do tipo em minha casa. Se eu pegar, eu não vou lembrar quem é você e te quebro na mesma hora, tá me ouvindo?

– Sim, senhor.

A expressão de Vinícius era a mais séria possível. E isso me fazia querer rir e muito, porque quase não o via assim. Diante das circunstâncias, eu entendia. Esperava que estivesse sendo ele mesmo e nada dessa coisa toda de querer impressionar os outros. Se fosse, o matava depois. Já papai, eu sabia que ele usava sua máscara de pai bravo, porque afinal ele era pai e podia “brincar” com isso o quanto ele quisesse... Mas suas brincadeiras tinham lá um fundo de verdade.

– Nada de movimentações nesses quartos. Nem cozinhas, banheiros, quintais, varandas, dispensas, corredores. Eu tô falando sério.

– Eu também, senhor.

Ok, eu não resisti. Nessa hora eu tive que enterrar a face no ombro de meu irmão que, mais leve, ria do nosso pai tomando conta da situação. Murilo, por fim, então falou comigo, como se tivesse desistido de ficar calado.

– E você reclamava de mim que era versão light de papai.

– Às vezes não tão light assim.

Saiu sem querer-querendo!

Senti que balançou a cabeça em afirmação, e logo me comprimiu mais no seu abraço. Sua respiração estava normal, apesar de seu coração estar acelerado. Ele sabia que eu o sentia assim, e nenhum de nós mencionou algo a respeito. Acho que só queríamos isso, ele sendo o irmãozão que ele era, que eu amava e sentia um tantão de falta.

– É, só às vezes... me abraça forte?

Como negar um pedido desses? Mesmo com tudo que tem acontecido, lá estava eu chorando de novo. Parecia o Natal, aquele rebuliço voltara. Abracei. E quer saber? Eu não queria sair. Mas mamãe acabou se enroscando na gente e logo só vi o flash. Me recompus rapidamente.

Se fosse por ela ficaríamos a noite toda ali. Com sua graciosidade e alegria me lembrou bastante a Alexandra no chá de bebê, pedindo com seus poderes e desejos de grávida (sendo que ela já tinha dado a luz) para que nós ficássemos mais na festa – e mamãe sabe que não é qualquer beicinho que me compra. Da sobremesa logo saímos para o carro. O dia ainda não tinha acabado e tínhamos mais uma parada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Owns de começo ao fim, acertei?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.