Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

"Meu faro falha muito, isso eu tenho que concordar, mas quando acerto, é fatal."
Não tá fácil para os Lins.
Enjoy.



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Tudo faz sentido.

Noite da confraternização. Briga com um artista da festa. Eric é dançarino. Murilo não se bica com Eric. Eric deve ter torcido o pé quando caiu para trás...

Murilo calado.

“Eu fiz pra te proteger”.

“E-eu... eu quis dizer as mulheres em geral”.

“Presença mal-intencionada”.

“Machucou alguém importante”.

“Mereceu o que levou”.

Murilo confiante.

De repente o ar ficou escasso e eu não sabia onde estava. A zoada da farmácia, dos clientes, das chamadas num microfone, dos atendentes, tudo fica longe. A sensação é que as coisas pararam, assim, congelaram. Tudo vai se encaixando... Sei que às vezes demoro a perceber as coisas, mas dessa vez, ah, dessa vez é demais.

– Lena, você está bem?

Eric soou preocupado, até me tocou no ombro para me fazer voltar à realidade que nem tinha percebido que havia saído. Continuava sem ter o que lhe dizer. Eu nem tinha como começar a questionar sobre o assunto, porque muitas coisas perpassavam na minha cabeça, encontrando encaixes e mais dúvidas.

– E-e-eu não sei... então foi com você que Murilo brigou na festa?

– Er...

– Responde, Eric!

Murilo me... enganou. Indignada, tirei a mão de Eric de meu ombro e exigi mais respostas. Que dissesse tudo logo, sem mais enrolações ou enganações. Ajoelhou, rezou, meu amigo. Ele não podia levantar todo esse assunto para depois dar para trás, eu não ia deixar.

– Pensei que você soubesse... mas, foi sim. Nos encontramos depois de minha apresentação numa festa. Ele veio com um papo de não me aproximar mais de você, senão ele me faria “me arrepender”. Respondi que ele não sabia do que estava falando, que estava enganado... Eu não tinha feito nada com você, aí ele partiu pra cima de mim todo furioso falando que era muito debochado. Daí foi o desastre...

– Oh, God.

Abaixei a cabeça com a mão na boca visualizando assustada o que ele me dizia. E eu ainda cuidei dele! Burra! Idiota! Como ele pôde fazer isso? Não já havia largado de mão? O que ele queria com tudo isso? Murilo realmente achou que eu não iria descobrir?

É bom ele se certificasse de seu caixão, pois homicida eu estaria.

Atordoada, levantei bruscamente, desnorteada sobre para onde seguir. Embaralhada com tudo, as imagens vindo em minha cabeça, as evasivas do meu irmão, a raiva... Ele ia me pagar!

– Lena, espera, onde vOCÊ VAI?

Corri passando batido pelas pessoas, clientes e a mãe de Eric que também me grita ao longe. Algo no meu peito se abria, as coisas começavam a se borrar a minha frente, e não eram bem as lágrimas que aos poucos foram chegando pelo caminho sem sentido que eu traçava pelo Center, era essa loucura toda me deixando mal. Esbarrei em uns, topei em outros, não me desculpei, não tinha senso para isso. Sem perceber passei pela porta da loja onde Vini estava e ele apareceu no corredor, me chamando. Parei mais a frente, sem virar-me para ele.

Ao ver que eu não estava bem, foi ao meu encontro, onde eu me escondia com as mãos ao rosto, a raiva se espalhando por pequenos espasmos pelo meu corpo, reflexo do pouco choro que já tinha começado. Como eu iria dizer a ele?

– Milena, o que foi? Amor, me diz o que aconteceu.

Abraçou-me e nem o conforto de seus braços me sanava. Passava a mão nas minhas costas, chamava-me novamente por eu não o responder, ele também começava a ficar agoniado. Meu ódio começou a surgir e aí mesmo que as palavras não saíam, porque isso tudo era demais pra mim.

Pensei por onde começar, como encadear tudo, porque ainda estava processando tudo, engolindo cada palavra que tinha ouvido, juntando as peças desse quebra-cabeça que realmente me quebrava a cabeça, unindo esses malditos pontos que isoladamente pareciam tão inocentes. Eu sabia que tinha algo errado, eu sabia. E o que tanto evitei viver tudo aquilo de ruim, estava saindo do túmulo que eu tinha enterrado.

Era desgastante.

– Mi, você está me assustando. Me fala, fizeram mal a você?

Infligir preocupação não era minha intenção, mas que eu podia fazer ou reagir? Não respondi em palavras, só balancei a cabeça em sinal de sim, encostada em seu peito enquanto tentava respirar melhor e não aceitar tudo como a verdade. Tinha que ser mentira... Mas esse meu desejo é tardio, uma vez que vi Eric naquele estado. Isso que me alterava mais, começava a me deixar louca.

– Quem? Me fala, eu resolvo.

– Nã-ã-ão... só eu posso fazer isso.

Mesmo de gaguejando, minha voz era gélida. Funguei ao peito do meu namorado e tentei passar as mãos nos olhos para ver melhor. Vini me soltou e quis exigir que eu falasse, segurou-me pelo rosto gentilmente para que eu dissesse o nome do desgraçado que citei. Ele estava tão perturbado quanto eu já.

– Não, eu mesmo acabo com ele. Quem é ele? Ele está aqui? Onde?

– Ele? A pessoa que mais achou que podia me enganar... Murilo.

Seu olhar se perdeu o foco e até me soltou, desacreditado. Bom, bem-vindo ele fosse, pois eu também estava com esse choque transpassando minhas células. Não era uma coisa boa.

– O quê? Como assim?

– Ele mesmo. Depois de tudo que passamos, ele... como ele pôde, Vini?

– Espera, eu não estou entendendo. Do que está falando?

– Ele! Ele se meteu com quem não tinha nada, NADA a ver. E machucou pra valer... Mais uma vez fez do Eric uma vítima. Depois que tudo o que houve...

– Lena, você não diz nada com nada. Eu... não estou entendendo. Eric? Você o viu?

– Vi. Ele estava na farmácia... Vini, o cara tá de muletas, torceu o pé. Perdeu o teste dele, que há tempos se preparava. Sabe como isso era importante para a carreira dele? Está machucado e Murilo se acha o quê pra atacá-lo do jeito que fez?

– Eu num sei... P-protegendo você?

Retrucou, assim, na lata. Vai me dizer que ele também queria justificar os atos errados de meu irmão? Não tinha justificativa, oras! Não havia saldo bom a ser considerado. Fico mais transtornada ainda.

– Ah, então você concorda? Fala sério! Por que ninguém acredita que o Eric é inocente? Eu já disse umas mil vezes e ele não me ouve. O Eric não me machucou, nunca!

– Olha, Milena, pelo jeito que seu irmão falou...

Dei um passo para trás e congelei um olhar duro em Vinícius no meio do corredor. As pessoas passavam por perto e desviavam, observando nossa conversação. Ainda não tinha começado a gritar, mas senti que logo começaria, pois...

– Como assim “pelo jeito que meu irmão falou”? Você... sabia disso?

Conteve-se, olhando para baixo, a boca uma linha sem resposta.

Oh, no.

– V-você SABIA?

De braços cruzados para não fazer besteira, eu permaneci ali, mais derrotada e decepcionada. Ele balançou a cabeça e levantou para mim, aproximando-se a ponto de me segurar pelos braços, precipitado sem muita força. Seu tom era penoso e explicativo.

– Mi, tenta me ouvir.

Desvencilhei-me dele com brusquidão. Sentia-me vaga pelo corredor do Center e vários olhos em mim. Nenhum poderia me tirar dessa.

– E-eu... não acredito. Eu NÃO acredito... Há quanto tempo?

– Mi...

Determinada, virei-me para ele. Respostas, eu precisava delas, imediatas.

– Diz, Vini, DIZ.

– Olha, vamos conversar...

Mais uma vez ele se aproximou, segurou minhas mãos e quis apaziguar. A revolta se tornou maior por essa sua postura meio passiva, que também não se importava por machucar pessoas sem saber se estava sendo justo. Como ele poderia defender uma proteção que ele mesmo odiava? Ah, sim, porque não era COM ele...

– Eu estou conversando, eu falo, você fala, eu pergunto e é você quem não responde. Quer saber? Me solta. Se não vai me dizer, também não se aproxima, o próximo pode ser você.

– E-eu... eu posso explicar.

– To vendo você se explicar... Cúmplices! Esse tempo todo! Como espera que eu possa confiar? Você o acobertou, não foi? Quando eu achei tudo estranho, ele te contou para que pudesse ter alguém para disfarçar, não é? Eu vi a troca de olhares de vocês, eu vi, caramba!

– Espera, Milena, vamos devagar, vamos conversar.

Afastei-me mais dele.

– Eu não quero conversar, você também não. Vocês querem é me enrolar de novo! Pois que... Deixa pra lá. Eu vou embora.

Dito isso, a passos rápidos segui pelo corredor para sair dali, que tornaram-se uma pequena corrida, chegando ao estacionamento da frente, perto da avenida que cortava o bairro, de um lado o Center, do outro, faculdades e mais pontos comerciais. Passava a mão no rosto para que aquilo logo cessasse, pois chorar naquele momento era de uma raiva que estava querendo sair do controle. Vinícius me seguia, tentava acompanhar meu passo e até me bloquear, só que eu me metia entre as pessoas que chegavam e saíam para aumentar nossa distância. Nessa hora, ele já gritava ao longe, chamando mais atenção para nós.

– EU NÃO SABIA QUE ELE IA FAZER ISSO... ELE ME LIGOU ENRAIVECIDO. EU DISSE PARA ELE NÃO FAZER BESTEIRA, MAS SABE COMO ELE É. EU TENTEI IMPEDIR, OK? EU JURO QUE TENTEI...

Com uns metros nos separando, eu ainda parei e me virei para responder. Mas eu não gritei, o que parecia ser pior, pois a mágoa ia corroendo mais. O deboche foi minha forma de melhor lidar com isso.

– E você “jura” que sabia disso desde a festa? Meu Deus, isso está cada vez pior... Você disse que era seu Júlio ligando.

– E era meu avô. Mas o Murilo logo depois.

Tinha que sair de perto dele, tinha que ir... para qualquer lugar que fosse. Vi a avenida, o sinal fechado de não sei quanto tempo. Lancei minha última vista ressentida a ele e me joguei na avenida a correr pela faixa de pedestres. A bolsa transversal batia na minha bunda e nas minhas pernas de tanto que me danei a fugir. Só que a avenida era grande para se atravessar, dois lados dispersos. Quando eu chegava ao meio-fio ouvi uns motores avisando que já iam dar partida, mas eu não quis parar e não parei. O sinal abriu sem que eu percebesse e os carros avançaram na minha direção.

Era uma barulheira tão grande, gritos, sustos, xingamentos, aclamações, buzinas, motores, freios. Me vi diante de um capô de carro preto que por pouco não me pegou, freou de vez bem em cima de mim que minhas mãos se espalmaram nele. Mal parei por essa e saí ainda na faixa de pedestres atravessando adoidado pedindo passagem a todos que queriam avançar mais. Eu não pensava, eu agia e só.

A massa torrente de carros e mais motos, caminhões e ônibus correram pela avenida depois de eu chegar ao outro lado. Na calçada, o vento que todos eles produziam por sua velocidade me balançavam os cabelos soltos. Às minhas costas, tinha todo esse cenário. Era fim de tarde, estava escurecendo e eu tinha que pensar rápido em lugar para ficar.

Ao dar uma checada geral onde eu estava, pensei em apenas uma pessoa. Flávia. Estava bem perto da casa dela, era preciso eu só correr. O que não seria muito problema, dada à adrenalina que ainda corria pelo meu corpo. Apesar de sentir-me esmagada pelas descobertas, alguma força havia para continuar. O choro quis se apoderar de mim ainda alterada, mal respirando. Tinha que prosseguir, acreditava que se ficasse parada, dali não sairia mais e alguém, como Vinícius, logo me alcançaria.

Ouvia seus gritos do outro lado da avenida, impedido de atravessar pelo tráfego que aproveitava o sinal aberto. Era meu golpe de tempo. Por um momento só me virei para ver a cena. Ele olhava os carros, a avenida, doido para cortar todo aquele espaço. Meu nome ecoava de sua boca, pedidos de espera, preocupação... Isso não valia mais nada. Que se jogasse nos carros, eu não ia sentir nada. Perigo não significaria algo a mim naquele momento, tampouco sua aflição, angústia ou pesar.

Ele estava merecendo, eu não.

Segui. Me meti pelas ruas do bairro, quebrando em uma e mais acolá, traçando meu caminho para a casa de Flávia. Não sabia se estava em casa, só torcia. A noite que chegava ia alarmando os postes, que aos poucos estavam sendo ligados para iluminar o ambiente. Passando por uma terceira rua, me sentia cansada... ainda assim não parei. Baixinho ouvi o celular tocando, chamando sem parar. Era um tanto irônico minha trilha falando de boa vida (Good Life) quando não estava exatamente assim.


~;~


Meu faro falha muito, isso eu tenho que concordar, mas quando acerto, é fatal.

Ao longo dos dias eu percebi umas coisas estranhas e não dei muita bola, já que não conseguiria imaginar do que se tratava, que eminência era essa. Devia ser uma besteira qualquer. E é, só que do tipo séria.

Pensando bem, eu tive alguns indicadores, feito de conversas, rondas, perguntas, atitudes. A começar por aquele silêncio suspeito de Murilo de quando machucou o braço/ombro, as coisas estavam bem na minha cara e eu não as vi. Ou não quis ver? Verdade que a conversa que os dois ex-homens de minha vida compartilhavam sempre deixava uma dúvida no ar, sobre o que tanto, eles como amigos, falavam.

Eu não era egocêntrica de pensar que era só sobre mim, mas saber agora que eles estavam mancomunados me deixou um tanto perdida. Como Murilo pôde? Como Vinícius pôde? Como...? No domingo mesmo, depois de sair da casa de seu Júlio, eu tive um indício quando meu namor..., quando Vini procurou saber sobre umas coisas dos meus relacionamentos passados. Estranhei e não desconfiei, tampouco liguei. Que raiva de mim de não ter percebido! Que ódio de não ter podido impedir, interferir, o que seja! Eles não tinham o direito!

Aperto o urso de pelúcia enorme de Flávia nos meus braços e nele enterro meu rosto. A marca da decepção em lágrimas tinha cessado, mas a mágoa continua. Sentada no chão do quarto de minha amiga, ela tenta me consolar faz “minutos” – horas? Não sabia dizer... – o tempo todo abraçada de lado, esperando por mais respostas minhas que não fossem múrmuros ou monossílabas não muito audíveis. Foi Vini quem a avisou.

Quando eu havia chegado finalmente à porta da casa de Flávia, estava tudo fechado e quieto. Ainda assim toquei a campainha umas três vezes em breves intervalos. Um vizinho que estava mexendo no portão de sua casa ao lado me informou que não tinha ninguém. Ainda bem que vaguei até a esquina perto de lá, pois logo Vinícius apareceu. Pensei que ele faria o mesmo, de tocar a campainha, mas não, ele olhava para casa. Demorei a ver, estava escuro, ele estava tentando falar com alguém no celular. Não era o meu, pois já tinha parado de tocar. Devia estar querendo chamar reforço, o cúmplice dele.

Para meu espanto momentâneo, meu celular tocou. Eu ia desligá-lo se fosse um dos dois. Vi que era Flávia, preferi atender.

– Alô?

– Graças a Deus você atendeu. Onde você está? Está bem?

– Eu... num sei. Tô na esquina da tua casa.

– Vinícius me falou que vocês brigaram feio. Quando me disse que sumiu, fiquei logo agoniada. Eu disse para ele verificar a casa, você o viu?

– Estou vendo.

Minha amiga se mostrava um tanto exasperada para minhas reações sem força. De onde ela falava tinha muita zoada, e ainda assim parecia me ouvir bem.

– Vini está aí perto de você?

– Ele não está me vendo, mas sim, eu o vejo.

Está encostado com a testa no muro da casa dela, espalmando a coluna da garagem. Parece que está ao celular. Está cabisbaixo, não dá para olhar bem. Mas não mencionei isso a minha melhor amiga.

– Milena, o que foi isso?

– Acredite, Flá, eu também me faço a mesma pergunta.

– Olha, estou chegando aí em... vinte minutos no máximo. Segura as pontas aí.

Foram os minutos mais longos que esperei, acho. Ao longe eu o observava nervoso, bagunçando os cabeços, meio perdido andando de um lado para o outro. Um tempo depois Vinícius se sentou no banco de granito que a casa daquele vizinho oferecia na calçada. Lá ele conversou com alguém pelo celular mais uma vez e desistiu. Demorou, mas desistiu. Hesitante, fez seu caminho de volta, desolado. Não me doía vê-lo assim porque achava que merecia.

Sem demora meu celular recomeçou a tocar. Era Djane. Há.

Devia ser para ela que ele estava ligando. Apertei no botão vermelho de meu aparelho cada vez que ela tentava novamente. Não queria falar com ninguém, muito menos me explicar. Mesmo depois de ele ter desaparecido, eu não saí de onde me escondia, somente quando um carro apareceu na porta da casa de minha amiga. Era ela quem havia chegado. Saí do meu esconderijo e a abracei forte no meio da rua mesmo.

Na sua sala, no seu sofá, sentei. Flávia tinha dito para esperar, passou por mim com umas sacolas brancas médias de compras e sumiu pela casa. Saía ligando as luzes por onde ela passava. Num estado de apatia fiquei, até sentir um peso diferente que sentou ao meu lado, com um perfume masculino. Por um segundo temi ser Vinícius, me questionando como teria ele entrado ali quando eu não mais o tinha visto.

Será que ele tinha ligado novamente para minha amiga? E ela falou onde eu estava? Preparando uma resposta não importando o que viesse, me virei de imediato, dando de cara com Gui de cenho preocupado.

– Gui?

– Eu soube. Quando Vinícius ligou, Flávia estava no caixa pagando as coisas. Eu que atendi de primeira na verdade. Peguei todos os atalhos possíveis correndo na avenida para evitar o engarrafamento do horário de pique. Como você está?

– Me sinto... estranha.

– Quer que eu faça algo? Precisa de alguma coisa? Só dizer.

Queria muitas coisas para saber nomear. E só uma ele podia fazer.

– Me abraça?

Acatou meu pedido e de brinde deu-me um beijo na cabeça. Desejei ser, esse beijo, mágico que faria tudo voltar no tempo, como se fosse um botão que ativasse esse módulo que me permitiria ver as coisas claramente ou mesmo fazer as coisas de um jeito diferente. Esse já não foi acatado.

De volta às pelúcias que faziam coçar meu nariz, mais uma vez a briga com Vinícius se rodava na minha cabeça. Faz tempo que Gui tinha ido embora – ele não podia ficar, por mais que quisesse – e Flávia me acalentava no seu colo. Meu celular dentro da bolsa começa a tocar The Lazy Song, o que não parecia compatível à cena de sofrimento. Deixo tocar até cair e torna a tocar mais três vezes. Talvez só agora Vini havia conseguido avisar meu irmão. Sem chances para ele também. Quando meu celular para de tocar, o de Flávia começa.

– É ele, Milena.

– Eu não vou falar.

– Deixa comigo, tá? Alô? Sim, ela está comigo. Desculpa, Murilo, ela não quer conversar. Melhor vocês darem um tempo... Eu cuido dela... Claro, ela dorme aqui, sem problemas. De nada. Olha, antes vocês não insistirem... deixa amanhã chegar para ver como fica, sim? Ok. Claro. Tchau.

Flávia levanta e diz que vai preparar algo para o jantar. Apostava que nada ia descer, nem se água ela me oferecesse, porque uma pior preocupação começava. Trazer toda essa situação com Eric e Murilo era trazer tudo o que um dia deixei para trás... Será que esse “tudo” iria se revelar? Teria eu que me explicar? Eu não quero pisar nesse mangue de novo, coisas ruins e feias saem de lá e meus pés só iam afundar. Mas quem errou foram eles! Por que eu teria que me explicar?

A pergunta mesmo que estava me pegando era: o que viria agora?

A trégua desse rolo todo durou muito, meu silêncio. Tardou e explodiu. Quer dizer, agora sinto que vai explodir. Não quero cavar até a China para desenterrar o que mais tive de me esforçar para deixar para trás... Toda aquela carga suja de Denise estava sendo jogada na minha cara. E na de Eric. Ele que levou literalmente o primeiro golpe.

Fora ele quem Murilo encontrara na confraternização da empresa. Eric era o dançarino, o artista a quem Aline tinha se referido e eu não fiz a conexão. Quer dizer, como poderia pensar isso? Tenho que acusar minha felicidade desses dias para poder acreditar que foi ela que me deixou nesse estado de tola?

Ah, doce felicidade açucarada para acobertar o cítrico e o azedume do que está embaixo... Até os problemas que tinha em mente estavam sendo deixados para trás. Eram muitos e agora são nada. Reclamam da minha ingenuidade e por vezes da minha desconfiança, mas está aí, eles que me deram o golpe primeiro. Meu próprio irmão e meu namor... Namorado? Não sei mais.

Lembrando-me de cada deslize meu de não ter percebido nada disso, tenho também em frescor uma memória da noite passada. Tão relaxada, despreocupada e distraída. Eu poderia ter visto! Poderia não, eu DEVERIA! Que tola, que papel estava prestando...

Então, o que viria agora?


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Notas finais do capítulo

Como diria a música do Chris Daughtry, 'what about now'?



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