O moreno acordou revigorado, parecia que nada tinha acontecido, a não ser pelas roupas rasgadas e o sangue manchando sua camisa, lembrava-o dos momentos angustiantes que passou com o demônio Abaddon, sentando-se observou o lugar, foi jogado no mesmo quarto, só agora com mais calma e desconfiança reparou no local, havia um ar clássico, móveis antigos e de mogno negro, constatando com as paredes de tons escuros com quadros de paisagens e alguns retratos de família, a succubus nem se dera ao trabalho de tirar os antigos indícios de humanidade da casa, ali havia fotos da menina ruiva, aquela que a demônio possuiu o corpo, a casca como eles diziam, as imagens mostravam uma menina simples, com roupas leves e sorriso tímido, não a poderosa e sedutora succubus, em cima da mesa havia livros abertos que lhe chamaram atenção, aproximando-se percebeu sobre o que eram, mitologia antiga, estava detalhado cada demônio, deuses e seres sobrenaturais, aos olhos dos humanos é claro, afinal demônios não escreviam livros sobre si, apenas mostravam suas faces obscuras para serem temidos e descritos como sádicos. Ali em uma página começava a história de Lilin, citava a deusa succubus, fruto da rainha Lilith, ela seria descendente de grandes deuses, afinal Abaddon era um dos mais temidos deuses, descrita como uma jovem de aparência sedutora, os cabelos de um vermelho fogo, olhos de um dourado intenso, a perfeita deusa da beleza, era considerada mais bela do que a própria Afrodite, isso fez com que a deusa a maldiçoasse por toa eternidade, que nenhum deus seria capaz de se apaixonar por ela, apenas desejá-la como carne, por prazer, neste tempo ela era prometida a um deus, aquele ao qual ela se uniria, com essa maldição ele a abandonou, deixando-a em pedaços de amor, a succubus havia se quebrado e diz na lenda humana que por esse mal vendeu sua alma a Lúcifer, se tornando demônio, corrompendo almas e matando pessoas com o prazer.

Folheando os livros ele descobriu mais coisas sobre os demônios que os torturou, tanto os jovens que conheceu antes quanto Abaddon ao que mais temia em sentido de descobrir onde estava a sua família escondida, isso o fez lembrar-se do irmão e do pai, aqueles que sobreviveram à invasão, o irmão era menor, adolescente ainda, com dezesseis anos, já seu pai era um pesquisador de meia idade, professor em uma grande universidade da cidade, até a noite da grande explosão, como todos acreditam que tenha sido aberta as portas do inferno, sua mãe e o seu irmão de colo acabaram sendo mortos, ele acreditava que ela tinha sido possuída e que todas as crianças menores de cinco anos fossem mortas, isso aconteceu com os outros que sobreviveram, mulheres que deram a luz há pouco tempo eram possuídas e seus bebês mortos, algo que ainda chocava a muitos, e pra ele e seu pai foi uma grande perda, o irmão mais novo fora o que ficara mais abalado, aquele que era ligado diretamente à mãe e o bebê recém-nascido, mesmo com as perdas eles tinham que sobreviver, e naquela mesma noite fugiram se abrigando no mato enquanto escutavam explosões de ataques humanos contra os seres do inferno, nada humano foi forte o suficiente para vencer os demônios que invadiram a terra, e com isso a raça humana passou a se esconder.

– Bisbilhotando porquinho? – perguntou a ruiva encostada junto à porta.

– Tenho nome. – retrucou afastando-se de lá sem olhar pra ela, observando o resto do quarto.

– Pra mim é porquinho, porquinho delicia. – riu sentando-se na cama – Gostou do que leu?

– Creio que tenha outra versão dos fatos citados ali. – comentou voltando os olhos pro livro depois novamente pra janela.

– Afrodite é a verdadeira vadia da história, tirando isso só mais um fato que não citaram ali esta correta. – afirmou com a mente distante – Não fui eu que vendi minha divindade, minha alma como os humanos dizem, foi Lilith, ela nos traiu e ainda vai pagar por isso.

– Lilith vendeu sua alma? Que tipo de mãe é essa? – questionou chocado.

– Ela é uma procriadora, não mãe. – sorriu amargamente – Vendeu a minha e a da Abaddon em troca de ser a esposa de Lúcifer, conseguiu.

– E o que aconteceu com os dois? Você e Abaddon?

– Nós ficamos presos no inferno. – comentou sombria.

– Nem mesmo demônios merecem isso. – afirmou finalmente olhando pra ela.

Ali aconteceu algo que pareceu impossível, os olhos de Lilin brilharam por segundos, mostrando o tom claro, a visão se uma pessoa normal, olhos claros, perto do dourado descrito nos livros, mas o corpo que ela possuía não podia se transformar como a antiga deusa succubus, apenas destacou a tonalidade douradas em um verde claro que poderia ser confundido como ouro. Era uma coisa nova, uma descoberta incrível o que mostrava que Lilin poderia ser humana, ser mortal, em visões diferentes Joseph viu uma pessoa boa ali dentro, apesar de ser demônio, ela poderia sentir, mas por outro, ele viu uma forma de seduzi-la e matá-la por sua imperfeição demoníaca, ela seria presa fácil, ele poderia conquistar e destruir, e faria isso, a sobrevivência falou mais alto, mas nem tudo pode sair conforme os planos, afinal, ele é humano, e sentimentos não se podam, é inevitável não se apaixonar.