Apaixonada Pela Serpente 3 - Estressada Com O Dest escrita por Angy Black


Capítulo 15
As quatro Poções Proibidas parte II




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Hermione parara de escrever olhando pela vidraça de seu quarto enquanto lembrava dos acontecimentos daquele dia. Olhara a madeira escura que continha naquele ambiente e as longas cortinas verde-escuras. Um ambiente meio frio e imperialista, grandes quadros que Hermione sabia pertencerem aos Malfoy, cobriam as paredes.

Do lado de fora da janela podia ver uma noite estrelada e muito abaixo o pátio da mansão, um imenso jardim de rosas brancas. Sabia que aquela era a sala em que vira Draco e Dan jovens duelando, mas não lembrava de ter visto aquele jardim de rosas na outra visão... Nem a estatua, nem o lugar onde vira Draco e Dan tocando violão. Aquela não era a Mansão Malfoy de antes.


– Granger! – aquela voz congelara sua espinha. Hermione permanecia em choque ainda de frente para a janela e de costas para de onde vinha aquela voz. Sabia de quem era, e ouvi-la ali de novo, tão firme e fria, deixara-a tensa.

– Levante-se. Chorar não vai adiantar. Só você pode fornecer a força de que você mesma precisa. – se virara devagar com medo do que viria.


Ela vira a si mesma, uma garota de cabelos bagunçadamente cacheados caída de joelho no azulejo frio da sala. Apoiava-se nas duas mãos de forma exausta, podia ouvir sua respiração ofegante. Ephram Malfoy permanecia indiferente a três metros dela, com a varinha apontada para o chão e a outra mão na cintura, como a pose do zorro. Hermione ia se aproximando de Ephram e a Hermione do futuro aos poucos e cautelosamente, rondava-os temerosa, sem conseguir decifrar aquela visão. Ela enfim fora capturada?


– Por favor,... Não agüento mais. – pedia a Hermione do futuro levantando os olhos para o loiro de forma sofrida.


– Levante-se! – ordenara Ephram de forma impaciente.


– Dói... – ela dissera quase sem voz.


– Não vai doer mais quando você controlar... – ele dissera firme.


– Eph... – mas ela não terminara, pois logo fora jogada para trás por um feitiço do loiro, como se esse a tivesse socado com um taco de beisebol.


Ephram estendera no ar cinco pequenas esferas de vidro que voaram avassaladoramente em direção a Hermione.

Hermione vira a si mesma desviar de três das esferas, desviando-as com a própria Magia Elemental do vento. Mas duas delas bateram em cheio contra a sua perna e ombro abrindo feridas causadas por uma reação química da própria esfera. A Hermione da visão gemera de dor, enquanto a Hermione real quase gemera junto conforme aquela cena agonizante.


– Levante-se, Granger! – ordenara Ephram, assustando agora até a Hermione real. Ela vira a Hermione da visão levantar os olhos raivosos e exaustos para o tio de Draco que respirara entediado. – Levante-se, Hermione. – ele repetira mais calmo.


– Não. Me. Chame. De. Hermione. – ela dissera pausadamente. O loiro permanecera calado observando-a, estudando-a enquanto ela se levantava. – Por que está me olhando assim?


– Nada... Você me lembra alguém. – ele dissera de forma sombria, Hermione vira a si mesma olhá-lo em compreensão e desconfiança.


Ela sabia a quem ele se referia. Lílian Evans. O que será que ele estava fazendo com ela? Sabia que ele era o único especialista vivo na Magia Elemental... Mas nada parecia se encaixar. Por que não a matava de uma vez?
Agora Ephram estendera no ar magicamente três punhais que giravam no mesmo lugar e foram igualmente em direção a castanha. Mas dessa vez ela abrira os braços com força fazendo com que uma onda invisível passasse por eles desintegrando-os.


– Muito bom. Você está mais forte... – ele recomeçara a falar mais firmemente enquanto Hermione apenas respirava com dificuldade tentando se manter em pé. – Mas não o suficiente. Prepare-se! – ele dissera apontando a varinha para ela.


Hermione se assustara com o que iria ver. A própria Hermione da visão parecia temerosa. Então era aquela hora... Ele iria matá-la. Mas ela não ouvira nenhuma maldição da morte, vira apenas a si mesma ser atingida por algum feitiço que a fizera cair de joelhos nos chão. Enquanto a Hermione da visão gritava seus cabelos balançavam perante uma ventania que só circulava ela.

Todos os móveis do ambiente começavam a se estremecer fazendo um barulho perturbador. Como se uma manada estivesse passando. Vira Ephram gritar com autoridade para uma Hermione que mal conseguia manter os olhos abertos perante a força que fazia para não gritar, se entregar a dor.


– Agüente firme. Sei que já agüentou dores maiores que essa. – dissera Ephram, Hermione parecia não ouvir. – Ou melhor... Você já sentiu a Cruciatus no seu corpo antes, lembra? Vamos... Agüente, sei que consegue. Reaja, Granger!


– Não consigo... – ela dizia em meio aos próprios gemidos de dor. Seus braços já estavam abertos enquanto a ventania dobrava em intensidade e alguns objetos já começavam a atravessar a sala. A Hermione real permanecia assustada e sem entender que realidade era aquela e como adquirira aquele poder.


– Por quem você vai chamar? Não pode chamar por ninguém! Potter? Não sabe que você está aqui. Draco? Não quer mais saber de você. Por quem você vai chamar? – Hermione já começara a sentir ainda mais ódio daquele Malfoy miserável, pelo seu tom de voz debochado e indiferente, via a Hermione da visão segurar os cabelos com as duas mãos de forma suplicante.


– Dan! – gritara a Hermione da visão assustando-a ainda mais. “Dan?”, pensara ela. Ephram quase rira.


– Dan... – repetira ele achando graça. – Parece que Draco não é mais o seu herói, não é?


– Pare! – a Hermione da visão gritara para Ephram com ódio, fazendo agora a ventania que a cercara cercar o loiro também. Ephram parecera gostar da reação dela, o que confundira a Hermione real.


– Agüente! – brigara Ephram e dizendo firmemente. – Eu não sou o Conl. Não sou o Potter. Não sou o Draco. Sou seu treinador. E eu não me afeto te vendo sentir dor. Não tem ninguém aqui que tenha pena de você, Granger!

Draco estava no Três Vassouras, o local estava todo decorado com fitas vermelhas e douradas. Um palco onde uma banda arrumava a aparelhagem de som. Em cima do palco havia uma imensa faixa flutuante com os dizeres “Hermigatinha, boa sorte! Você é a melhor! Te amamos!”. Ele olhara em volta onde o bar estava repleto de estudantes de Hogwarts, incluindo Luke, Roger e outros sonserinos. Potter e seus seguidores se encontravam organizando o bufe. Ainda vira de soslaio a ruiva mirim dar uns berros autoritários para Jack que segurava uma tigela de doces e quase os deixara cair.


Draco continuara por rondar o Três Vassouras à procura de Hermione. “O que estaria acontecendo?”, pensara ele. O que de tão importante estava acontecendo ali que não estivesse sujeito a alteração? De certa forma, conforme andava por aquela realidade distante, sentia-se bem. Longe dos problemas presentes, longe da raiva que estava sentindo de Hermione, a vontade de feri-la... Para assim ter uma desculpa covarde para fugir, não ter de enfrentar tudo aquilo sozinho. Se ao menos tivesse ali a certeza que tudo terminaria bem. Ou que ela o amava também...


Fora então que notara costas nuas, num vestido frente única, os cachos caindo-lhe pelos ombros. Parecia distante, pensativa, triste... O que aconteceu? “Será que eu morri?”, pensara Draco maldosamente com um sorrisinho sarcástico nos lábios enquanto se aproximava das costas da castanha. Ele a contornara engolindo em seco percebendo que ela tinha lágrimas nos olhos, levara um susto ao ouvir a voz de Dan a sua frente que colocara a mão no ombro de Hermione.


– Podemos ir embora, se quiser. – Daniel estava diferente, o cabelo raspado até bem curto, uma pequena barba mal feita no queixo uma aparência um tanto diferente que lhe dava um aspecto mais triste e sofredor mesmo por trás do seu ar debochado e canalha.

Algo acontecera. “Merda, não é que eu morri mesmo...”, pensara Draco sarcástico. Ele vira Hermione dar um sorriso quase animado para Dan.


– De jeito nenhum. Vocês fizeram isso para mim. É maravilhoso. – ela dissera olhando em volta.


– Mas Draco não vai vir. – ele dissera com um olhar caloroso fazendo o sorriso de Hermione murchar aos poucos e se transformar num sorriso triste. ”Uffa, eu não morri.”, pensara Draco respirando mais facilmente.


– Não, ele vem sim. Ele disse que viria. – ela dissera confiante. Dan sorrira para ela e então avistara algo atrás deles.

Tanto Hermione quanto o Draco real se viraram para conferir o que era. E ele notara que se tratava do Draco do futuro que chegava no Três Vassouras numa cara amarrada observando toda a decoração do ambiente e finalmente encontrando o olhar de Hermione que prendera a respiração.

Draco olhara com o cenho franzido para a sua cópia do futuro se perguntando o que ele fizera dessa vez, já sentindo desprezo pelo Draco do futuro, pelo seu olhar superior. Tinha algo mais naqueles olhos cinza. Ele estava diferente. Era como se uma fera maligna e cruel se encontrasse por trás daqueles olhos cinzas. Tinham pouca expressão, porém uma porcentagem absurda de mistério, como se estivesse possuído por Tom Riddle ou coisa assim. Não parecia ele.


Vira o Draco do futuro ir a passos rápidos em direção a Hermione que ia também apreensiva em direção a ele. Ele olhara para os lados notando que as pessoas presentes logo se viravam para continuar seus afazeres não querendo parecer bisbilhoteiros. Draco acompanhava a cena bem de perto, até que eles ficaram bem próximos um do outro.


– Draco... – começara Hermione numa voz rouca.


– Tome... – ele dissera numa voz fria cortando as palavras da castanha de uma forma seca.


Entregara-lhe um pergaminho amassado de forma bruta, como se não quisesse manter muito contato com a pele da garota. Draco vira o Draco da visão ainda dar uma última olhada para o pergaminho amassado na mão fechada da garota e então subira as íris cinzas para as castanhas, onde Hermione achara um olhar tão magoado quanto decidido, e uma pequena fúria que fazia aquele pergaminho na sua mão esquerda esquentar.


– O que é isso? – perguntara a castanha tentando não mostrar medo em sua voz.


– De agora em diante eu não devo mais me preocupar com você. – ele dissera numa voz fria e olhara novamente para o pergaminho e depois para ela que mantinha o cenho franzido. Draco vira esse ritual dos dois com nojo de si mesmo. – Você tinha razão em tudo o que disse. Sem exceções. – Hermione permanecera ainda encarando Draco de forma desconfiada até que optara por abrir o pergaminho de forma desesperada, mas Draco a impedira. – Não agora!


– Por que não? – perguntara Hermione de forma brusca encarando-lhe agora muito próxima uma vez que ele se sobrepusera para impedi-la. O Draco real sentira-se com um pesar no peito ao notar o olhar raivoso e magoado de Hermione, era um olhar ainda mais intenso e terrível que qualquer outro que já lhe dera. O que ele fizera?


– Porque isso não tem nada a ver com o que estou dizendo a você. Não quero que esse conteúdo te confunda agora. – os dois continuaram por se encararem por longos segundos, Draco notava tenso um olhar castanho revoltado e perdido a sua frente e engolira em seco. – Quero que vá embora. – ele dissera bruscamente assustando a castanha. – Vá para a França e de preferência fique por lá. Não volte para Hogwarts.


– Quem é você pra me dizer pra não voltar a Hogwarts? – ela perguntara com raiva, mas o loiro respondera apenas com um sorriso seco e sarcástico. Então a castanha tentara se acalmar e voltar a falar de queixo em pé fingindo não se intimidar por seu tom sarcástico. – Você disse que não queria que eu me afastasse de você, que iria comigo aonde quer que...


– Era mentira isso também. – cortara Draco de forma brusca, Hermione levantara mais ainda o queixo de forma desafiadora fingindo não se afetar. Draco vira o Draco da visão engolir em seco, mas manter sua posição indiferente. – Era tudo mentira. – Hermione engolira em seco e Draco acompanhara tal processo enquanto outro silêncio se estendia entre eles. – Vá embora. – terminara simplesmente.


– Eu posso tentar me afastar de você... Mas a França não seria o suficiente.


– Seria para mim. Não tem mais graça brincar com as suas atitudes... Com o seu coração. – dissera ele ainda no seu tom indiferente.


– Pensei que meu coração fosse o seu maior alvo, Draco Malfoy. – ela dissera numa voz elegantemente debochada, quase o parabenizando.


– Não gostei do que alcancei... – dissera ele com um pouco de repugnância. – Mas tudo o que eu acho eu já deixei claro ontem. Eu só vim lhe entregar isso, eu não perderia tempo para ir embora se fosse você.


– Quem disse que você alcançou? – dissera Hermione quase sem voz com os olhos embaçados.


– Vai embora! – ordenara o loiro em voz alta. Hermione olhara em volta e o Draco real fizera o mesmo, notando que todos não conseguiam mais fingir que não prestavam atenção. A castanha se voltara para Draco.


– É isso aqui... – Hermione dissera ainda num sussurro com a mão direita em cima do seu colo esquerdo onde pode sentir as suas palpitações aceleradas – Que quer ficar. Lembra? “Quem eu realmente sou.”... Esse aqui. – Draco ainda olhava contrariado de Hermione para o colo dela e o Draco real respirava com dificuldade com uma vontade absurda de abraçar Hermione e matar a si próprio de porrada. – Você é um falso, Malfoy. Eu poderia te amaldiçoar, te fazer sentir um décimo do que eu sofri se eu realmente não sentisse tudo o que disse sentir.


– Não, não poderia. Pois você é fraca... Seus meios de ataque são tão patéticos quanto os de defesa. Seu coração guarda uma chave patética. Mas a sua parte mais fraca é a personalidade. – ele dera uma pausa notando o cenho franzido da castanha. – É tão ridícula que mesmo depois de tudo o que eu te fiz, nem me odiar você consegue. Se tornou uma garota burra. Fácil demais de se desestruturar. Até seus sentimentos são de porcelana. – Hermione continuara em silêncio apenas o encarando no olhar mais forte que tentava. – Não adianta esconder sua mágoa atrás desse falso olhar superior. – debochara ele. – Isso acaba por não distanciar muito a sua índole da minha. – Draco dera um curto sorriso debochado ao ver o silêncio da castanha e se virara para ir embora, mas ouvira ela se pronunciar.


– E agora você vai embora...


– É. Não quero te ouvir cantar. – ele se virara para dizer. – Não me interessa mais as suas canções, entende? E nem você. – “Você é patético!”, Draco dissera para a sua cópia do futuro como se ele pudesse ouvi-lo.


– O seu pergaminho, pode levar... Não o quero. – dissera ela ainda tentando se manter firme. Draco fechara o sorriso, voltando para o seu olhar sério. – E você não sabe nada sobre os meus sentimentos.


– Sei sim... – o loiro dissera com a voz arrastada. – Pois são eles que te diferenciam de mim. Já disse.


– Eu nunca vou... Te perdoar. – ela dissera quase sem voz, deixando uma lágrima escorrer pelos seus olhos.


– E quem é que está pedindo perdão aqui,... Sangue-ruim?


Ela permanecera parada vendo-o sair do Três Vassouras, ouvindo-o dizer um sarcástico “Boa Festa” junto de uma sarcástica reverência enquanto passava da porta do bar. E depois se virara decidida indo em passos firmes em direção ao palco. O Draco real vira-a passar por Dan decidida, ignorando o seu chamado.


Todos no bar acompanhavam Hermione subir no palco e segurar o microfone com agressividade, olhava para a porta do bar por onde Draco havia saído. O Draco real ainda perguntava com tristeza, esquecendo-se de que ela não podia ouvi-lo. “Para quem você vai cantar? Ele foi embora...”, e logo se corrigindo com pesar: “Eu fui...”.


– Mesmo que você não possa ouvir... – ela murmurara, como se só o Draco real a ouvisse. – Ou não queira...


Então num gesto simples com a varinha fizera aparecer em cima do piano um pergaminho contendo algumas notas. O pianista da banda um homem de mais ou menos trinta anos e de barba, mas numa aparência jovem, acenara afirmativamente e começara a seguir as notas do pergaminho e começara uma melodia arrepiante, terrivelmente sofrida, lembrando a Draco o próprio uivo das sereias. Conforme a música se prolongava os outros músicos começavam a acompanhá-la e tocando todos ali presentes. Draco ainda dera uma rápida olhada para Dan e vira-o sério aparentemente mal por causa de Hermione. Quem podia culpá-lo? Sentira uma fisgada de ciúme, mas também de consideração. Logo Hermione começara a cantar.

"Ouvir Musica"

Broken heart One more time
(Coração destruído mais uma vez)
Pick yourself up
(O apanhe você mesmo)
Why even cry?
(pra que chorar?)
Broken pieces In your hands
(Pedaços quebrados em suas mãos)
Wonder how you'll make it whole
(Desejo saber como você o fará inteiro)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)
Of mine
(dos meus)

Someone said
(Alguém diz)
A broken heart
("Um coração quebrado)
Would sting at first
(Pode ferir uma vez)
Then make you stronger
(mas fará você ficar forte")
Wonder why this pain remains
(Você quer saber o porquê que esta dor continua)
Were hearts made whole just to break?
(Seriam os corações feitos inteiros somente para serem
quebrados?)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)

Creator
(Criador)
Only You take brokeness
(somente Você pega o destruído)
And create
(E cria)
It into beauty once again
(dentro dele beleza novamente)

You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
You know
(Você sabe)
You pray
(você ora)
This can't be the way
(Esta não pode ser a melhor forma)
You cry
(Você chora)
You say
(você diz)
Something's gotta change
(Alguma coisa está mudando)
And mend this porcelain heart
(E emenda este coração de porcelana)
Please mend this porcelain heart
(por favor emenda este coração de porcelana)
Of mine
(dos meus)
Of mine
(dos meus)
Creator
(Criador)



Hermione mantinha o rosto escondido pelos cachos castanhos. Sua cabeça caída pra frente mirando o chão. Nenhuma alma naquele bar ousava respirar audivelmente. Só se ouvia o choro baixo de Hermione. Draco sentia que seu peito ia explodir de raiva e desespero, não conseguia vê-la daquele jeito. O que diabos acontecera? Nunca a ouvira cantar com tanto sofrimento antes ou chorar daquela forma na frente de outras pessoas.

Ninguém se atrevia a fazer algum movimento, ou não sabiam qual fazer, apenas observavam com pesar o choro melancólico daquela garota, como se não soubessem que ela era capaz de tal ato. Ela se afastara do microfone devagar, ainda de cabeça baixa e lentamente descera do palco e atravessara o bar indo embora num ritual assistido por todos, inclusive Draco.
“Eu ouvi, Hermione, eu ouvi...”.

**


O som do falatório invadiu os meus tímpanos. Demorou para que eu tomasse consciência que estava de volta à masmorra de Snape. Aos poucos fui identificando as perguntas animadas dos demais alunos e a voz arrastada, porém autoritária do professor tentando tomar ordem da situação.

A visão do tio do Draco atacando uma cópia minha num futuro desconhecido ainda formigava perante meus olhos. Olhei um pouco receosa para a minha esquerda e vi um Draco sério, mirando a mesa a sua frente com o cenho franzido. Ele teria visto o mesmo que eu? Não, ele não estava presente naquela cena. Mas então o que ele teria visto? Ele então me olhara, sem se virar para mim exatamente. Mantinha o mesmo olhar, porém seu peito subira e descera lentamente.


– Como podem ver a Poção Obsidiana não se trata exatamente de uma poção prazerosa. Acho que nunca ouvi falar de um relato feliz dessa poção. – ouvi a voz de Snape em algum lugar daquela sala, como se estivesse se divertindo com nossas expressões. Eu e Draco ainda mantínhamos o contato visual. – Por que não compartilham com o resto da turma a experiência que acabaram de obter? – convidara Snape numa voz falsamente convidativa.


– Então, Draco, quem vence a guerra? – ouvi alguém perguntar.


– Viu a própria morte? – brincara um. Finalmente Draco olhara para trás e se virara para a turma. Eu permanecia de costas, porém o olhava de rabo de olho, ele também olhara para mim.


– Então, Sr. Malfoy, qual foi a lição que aprendeu com essa experiência? – perguntara Snape ainda se divertindo. Vi Draco passar os olhos por toda a turma até se virar novamente para o professor.


– Pode ser alterada sim! – dissera ele firmemente no que se seguiu de uns três minutos de puro silêncio na sala, até que em passos rápidos se adiantara para fora da sala batendo a porta com força.


Eu me virara apreensiva para vê-lo ir embora, depois vi um sorrisinho satisfeito nos lábios do seboso. Como aquele sádico se divertia com isso? Parecia o Moody falso se divertindo usando a maldição da morte na sala de aula. Draco se referira à Poção Obsidiana claro, que Snape dissera mostrar um futuro certo, que não está sujeito a alteração. Draco parecera obviamente não concordar com isso. Como eu queria perguntar o que ele tinha visto.


– E você, Sr. Conl? – fora então que eu me lembrara de Dan, olhando à minha direita.


Também já virado para turma, com as mãos nos bolsos da calça, mas com um olhar sério e vago no piso da sala. Seu olhar afetado batia em incrível contraste com seus cabelos espetados de forma extravagante em direção ao teto. Não era de costume aquele rapaz debochado manter um olhar daqueles.

Ultimamente eu já devia ter me acostumado com as recentes mudanças na personalidade de Daniel Conl, mas aquele olhar não, me irritara e vagamente incomodara como seu constante mau humor e ironias agressivas. Aquele olhar me preocupara. Por um instante meu ressentimento por Daniel Conl se apagara e tive vontade de abraçar aquele meu amigo debochado. Ele parecia terrivelmente magoado. Com certeza parecia ter tido a pior das visões.


– Dan...? – eu murmurara para ele de forma preocupada. Mas ele levantara os olhos para Snape. O mesmo olhar que a minha versão do futuro levantara para o tio do Draco que a torturava.


– Também acha que Antares Sérpia estava errada nos relatos da própria criação? – perguntara Snape. Aquilo chamara a minha atenção. Me virei para Snape com o cenho franzido. – Todas as Quatro Poções Imperdoáveis foram criadas por Sérpia, eu não comentei isso? – não, não comentara e aquilo me surpreendera.

Eu olhara para a pedra obsidiana em cima da mesa e logo um nome me veio a mente “Sérpia das Pedras” como Snape mesmo se referira a ela uma vez. Fiquei pasma por um tempo. De certa forma e sem muito motivo eu acabara por criar uma certa simpatia pela tal Sérpia, mas parecia que toda hora alguém vinha e falava um podre dela.


– Achei que Sérpia era do Exército contra as forças das trevas de Slytherin! – comecei a me alterar, aquela história já estava me confundindo por demais, por um segundo lembrei de Lílian Evans em minha cabeça contando sobre Sérpia e Slytherin. – Como ela pode ser a criadora de tantas poções das trevas e... Como ela começou esse envolvimento absurdo com Slytherin?... Pelo amor de Merlin! Como a maior guerreira do exército contra as forças das trevas começou a se envolver com Magia Negra? – eu parara de falar já sem fôlego sentindo meu rosto esquentar ao ver que todos naquela sala me encaravam confusos. Harry e Ron chegaram a se entreolhar com espanto e preocupação. – Digo... – eu continuara mais calma e até um pouco envergonhada. – Ela era boa. – logo me arrependi de dizer isso sentindo o modo como soou infantil. Snape dera um pequeno sorrisinho debochando.


– Boa... – repetira ele. – Ah! Essa santa ingenuidade de vocês estudantes. – ele dissera se virando para os demais alunos, senti que sabia o que ele ia dizer. – Sempre querendo classificar os demais bruxos de bons e maus. Estamos em guerra! Não existe bons nem maus numa guerra. – sabia que já tinha ouvido aquilo em algum lugar, de relance lembrei de Bellatrix e Ephram, mas logo fui distraída novamente pela aparição de Harry naquela discussão. Ele levantara-se de sua carteira e dissera simplesmente.


– Com licença. – e dizendo isso recolhera seu material e fora para fora da sala obviamente não satisfeito com os dizeres do professor. Eu sorri de lado, me lembrando da visão heróica que sempre tive de Harry e tive orgulho de ser amiga dele. Logo Ron fizera o mesmo e o seguira. Snape olhara de rabo de olho os dois se retirarem, obviamente não se afetando nem se surpreendendo, pelo contrário adorando aquela pequena “rebelião” em sua aula, e se voltara para Daniel.


– Sr. Conl? Também acha que o futuro que viu pode ser alterado? – eu me virei para Dan apreensiva. Sua voz me pareceu muito distante e até cortante.


– Não. – Snape parecera surpreso pela primeira vez. Eu não parava de olhar Daniel que não me olhava por nada.


– Vejam só. Finalmente uma alma sensata nessa sala de aula. – dissera Snape. Então Daniel continuara a falar no mesmo tom.


– Mas quanto as suas teorias sobre guerra... Nunca vi uma alma tão longe da sensatez como a sua. – eu senti um sorriso se espalhar pelos meus lábios, não acreditando nas palavras dele. Snape ficara branco e raivoso, porém Dan continuara. – Tendo tantas informações sobre tantas guerras e até já tendo participado de uma, é de se admirar que um bruxo até mesmo graduado como você se desempenhe a implantar a dúvida e descrença nos seus estudantes, uma vez que somos nós que acabaremos por decidir nesta guerra o fim que vocês começaram. Afinal o senhor já devia ter aprendido algumas coisas sobre caráter, uma vez que mora numa escola há tantos anos. Não sei quanto de “mau” tem num bruxo bom, ou quanto de “bom” pode haver num mau bruxo. Mas sei que nunca devemos confundir um com o outro. Pior do que ser um bruxo mau é ser um bruxo sem posição tomada. Pois é nessa escolha que se encontra o seu caráter. Uma pessoa que não sabe discernir uma coisa da outra não pode se dar ao luxo de ensinar.


Vi Snape respirar vagarosamente como se estudasse Dan de forma astuta, dividido em lhe mandar uma maldição da morte e desafiá-lo ainda mais.


– O que está querendo dizer, Sr. Conl? – perguntara o professor na sua voz arrastada. – Está insinuando alguma coisa?


– Acho que já deixei demasiadamente claro aqui o que quero dizer. – respondera Dan sem se intimidar.


– Ainda não ficou completamente claro para mim. – desafiara Snape mais uma vez. Não é possível, o ranhoso gosta de ser odiado pelos alunos, só pode.


– Então, talvez “caráter” seja algo além da sua compreensão. – terminara Dan.

Puder ver Snape morder os próprios lábios e um último olhar de indiferença de Dan antes de sair porta a fora da sala. Depois disso a aula chegara ao seu fim e eu, sem pensar duas vezes corri ao encalço de Dan.
Eu corria pelos corredores de Hogwarts, sabia que Dan precisava de mim, a cara dele não era das melhores, tinha alguma coisa. Mas então eu escutara alguém gritar o meu nome, mas eu ignorara mesmo assim, precisava achar aquele loiro debochado, foi quando senti alguém segurar a minha mão. Me virei e dei de cara com um par de esmeraldas, Harry parecia preocupado. Parei de supetão voltando-me melhor para ele.


– Preciso falar com você. – ele dissera respirando com dificuldade, aparentemente correra atrás de mim. – É importante.

Eu adentrara pelo quadro da Mulher-Gorda logo depois do Harry, aquele ambiente completamente avermelhado e dourado estava vazio. Harry ligara a lareira e eu desejei que ele não houvesse feito isso, pois o calor na escola estava infernal. Ele olhara para os lados e se voltara para mim de forma apreensiva.


– Descobriu alguma coisa sobre a Lestrange? – eu perguntara tentando conter a ansiedade.


– Não. – ele dissera e eu me irritara de leve já que era o único assunto que eu queria ouvir antes de falar com Daniel Conl.


– Então o que foi? – eu perguntara meio agressivamente, mas logo eu me arrependera ao notar aquele olhar preocupado e ansioso.


– Você confia em mim? – ele perguntara, eu franzi o cenho não entendendo de fato o porquê daquela pergunta.


– Claro, Harry... – eu respondera rabugenta, já que a resposta era óbvia.


– Sabe que eu nunca te faria mal e que tento te proteger desde que éramos crianças? – ele dissera apreensivo. Eu começava a me estressar perdendo a fala umas três vezes.


– O que aconteceu, Harry?


– Primeiro responda!


– Claro que sei!


– Então faça o que eu digo. – ele dissera quase eufórico e pausando para respirar, então voltara a falar. – Se afaste do Malfoy! – eu o encarara ainda por um tempo surpresa.


– O que? – eu começara de forma arrastada totalmente ofendida, e começara a notar que eu estava prestes a dar uma lição de moral nele sobre meu relacionamento com Draco quando ele fizera sinal com a mão para que eu calasse a boca e o escutasse antes e levantara um pergaminho negro à altura dos meu olhos. – O que é isso? – ele me entregara o pergaminho, mas confiante de si.


– Apenas leia. É uma carta de Lucio Malfoy. – aquela carta queimava em minhas mãos, mas eu só tinha vontade de atacá-lo.


– Como conseguiu isso? – eu o interrogara.


– Creio que ele esteja mentindo pra você.


– Mentindo sobre o quê? – eu perguntara com raiva.


– Leia a carta, Hermione.


Eu sentia meu peito inflar de desespero, olhava de Harry para o pergaminho em minhas mãos, do pergaminho de volta para Harry. Não queria ler aquilo, não queria descobrir que Draco estava mentindo para mim. Não queria me decepcionar de novo e descobrir que Draco tem realmente um motivo terrível para estar afastado de mim. Preferiria achar que só estava de birra comigo, que era apenas uma fase. Eu não conseguiria me decepcionar de novo e estava odiando Harry por colocar em minhas mãos essa oportunidade.


– Eu não tenho que ler isso. Pertence a Draco. E você não devia também se meter nos assuntos dele. – eu dissera de nariz em pé. Harry me olhara incrédulo obviamente não acreditando na minha reação ou minha passividade.


– Hermione...!


– Eu confio no Draco. – eu o cortara e ele permanecera perplexo. Eu respirara fundo. – Sei que não estamos muito bem e que ele não tem me contado algumas coisas, mas... Eu confio nele. – eu engolira em seco sentindo que meu peito doía ao mesmo tempo que um alívio passageiro o preenchia. – Eu devo isso a ele .


E devolvendo o pergaminho para Harry me adiantei pra fora daquele Salão Comunal onde antes trocava confidências com Harry e acreditava cegamente em suas palavras assim como ele fizera comigo.

Andei sem rumo pelo castelo sentindo um pequeno remorso ao perceber que eu acabara de renegar pela primeira vez a confiança e amizade que Harry sempre tivera por mim durante todos esses anos. Finalmente percebi o real preço de dar confiança a Draco. Era um preço caro, mas eu realmente lhe devia isso. Depois de todos aqueles meses desconfiando dele, ele merecia crédito, era o mínimo já que eu ainda não tinha coragem de lhe dar amor. Eu lembrara dele na neve gritando comigo, jogando na minha cara que minha confiança nunca durava mais de dois dias. Ele estava certo. Eu não fora nada justa com ele. Sempre fraquejava nas primeiras representações de problemas. Eu não iria fraquejar agora... Justamente quando nosso namoro está em crise, agora mesmo que eu preciso ser forte. Forte por nós dois. Esperar até que Draco resolva seus problemas e venha até mim.

– Vamos descansar um pouco? Por favor... – Daniel implorava se jogando na cadeira. Francamente parecia até que eu era a professora.


– Acabamos de descansar! – eu exclamara revoltada. – Por isso estou atrasada. Qualquer um agüenta mais.


Ele respirara entediado daquele jeito ligeiramente arrogante, como se fosse uma merda de desperdício de tempo estar ali comigo. Sério, ele já foi meu amigo. Lembro vagamente disso.


– Não adianta você ficar as próximas horas da madrugada se contraindo e dizendo feitiços animagos, você não vai se transformar hoje. Tão pouco chegará ao próximo estágio assim. Você ainda não está preparada!


– O ano está acabando, tenho pouco tempo para aprender isso... – eu reclamava.


– Hoje foi um dia cheio, Hermione...


– Daniel! – eu pressionara e ele tirara as pernas da mesa se virando pra mim de forma irritada que até me assustou um pouco.


– Você não está entendendo. É só abrir um livro que fico com vontade de fazer outra coisa. Qualquer outra coisa. No meu antigo regime de vida os “professores” costumavam ganhar algo em troca do seu trabalho. Mas eu não ganho nada, pelo contrário: te ver tentando apressar o ritmo natural da animagalia é extremamente irritante. Isso leva tempo, Hermione.


– Ofereci guloseimas. – eu dissera com contrariedade.


– Não estou falando disso. Não estou me sentindo motivado, só.


– Se sentindo motivado? Sou eu que preciso ser motivada, eu que estou aprendendo aqui! – eu brigara batendo na cintura de raiva. Ele fizera um som de deboche com a boca. – Imagino que podia estar fazendo coisa muito melhor no momento.


– Duvida? – ele se virara pra mim notando o meu deboche. – Eu tenho uma donzela experiente e sem expectativas românticas me esperando nesse momento. – eu levantara uma sobrancelha e dera uma curta risada seca em deboche vendo que era o velho Daniel Conl sonserino canalha e sem nenhum afeto especial pela minha pessoa que se encontrava ali.


Donzela experiente e sem expectativas românticas? O que quer dizer com isso? Que ela só quer se envolver carnalmente? – eu fizera cara de fingida adoração. – Quem é essa Deusa?


– No momento ela prefere o anonimato. Mas ela deixou claro que se houver um desejo mútuo ela não hesitará em satisfazer minhas necessidades físicas. – ele dissera simplesmente, como se falasse de quadribol. Senti nojo daquele cara.


– O que é isso? Uma relação aberta ou um contrato de livre comércio? – eu perguntara dividida entre o sarcasmo e a repugnância.


Mas ele se virara pra mim respirando pesadamente e eu prestara atenção. Afinal, por mais absurdo que parecesse eu queria ouvir o que ele tinha a dizer, pois era a primeira vez em algum tempo que ele me dava alguma atenção. E acho que nem ele percebera isso. Porque do jeito que estava se tivesse percebido não continuaria.


– Ouça, se tivesse a chance de ficar com alguém sem cobranças e sem compromissos, sem primeiro encontros, sem esperar telefonemas, totalmente superficial, 100% casual... O que faria? Você toparia?


– Uma relação sexual totalmente vazia, fria e insatisfatória? Me parece genial. – eu dissera sarcástica.


– Não prestou atenção. Falei sério. Mas a oferta é por tempo limitado. Quero saber. O que faria? – eu o olhara como se estivesse olhando para uma criancinha que precisava entender que Papai Noel infelizmente não existe e que renas não voam. Por favor, vamos convir que por mais que Daniel Conl queria parecer assim, esse não é quem ele realmente é.


– Acho que se quisesse fazer sexo casual com alguém agora, estaria fazendo. Em vez de estar tendo um papo hipotético a respeito. É o que eu acho.


– Aff. – ele dissera se jogando novamente na cadeira.


– Agora podemos voltar aos estudos e termine a Poção do Elemento e não se esqueça de me avisar quando devo parar o feitiço temperalto no ambiente. Você sentirá a temperatura ambiente melhor do que eu.


– Não quer um cafezinho também, não? – ele dissera irônico entre dentes.


– Ou se preferir... – eu comecei esperançosa, ele me olhara de lado. – Pode conversar comigo...


– Sobre o que eu conversaria com você? – ele começara ríspido. Eu sentira algo rachar no meu estômago.


– Você anda estranho...


– Estou ótimo! Agora vamos embora, que eu estou morto de sono já. – ele dissera se levantando com irritação e indo embora, parara apenas na porta quando eu retornara a falar.


– E na poção? O que você viu?


– Isso é particular.


– Você pareceu muito afetado... – um silêncio se estendera naquela sala, um silêncio perturbador onde eu só via as costas largas dele subirem e descerem com sua respiração pesada. Então ele se virara pra mim numa animação sarcástica.


– Sabe o que eu percebi, Hermione? Que não devo me preocupar com o que me afeta futuramente. Se eu pensar nisso agora, eu vou ficar maluco. Devo me preocupar com o que me afeta agora. Com o futuro eu me preocupo amanhã. – então ele ficara sério. – E você devia fazer o mesmo. Aliás... Meus problemas não deviam te incomodar... O problema não é seu, é?


– O que quer dizer...? – eu perguntara não entendendo aquele tom agressivo.


– Quero dizer que você tem sorte em enxergar tão pouco a sua volta. Continue com suas aulas, Hermione. Vai precisar unicamente disso na sua guerrinha particular. – e dizendo isso me deixou sozinha na Sala Precisa completamente confusa e com uma ligeira raiva dele. Pelo menos do tom dele, já que fora a única coisa que eu identificara naquele discurso.

**

Draco Malfoy estacionara a sua Nimbus a duzentos metros do chão ao lado de um dos aros do campo de Quadribol. Seu cabelo loiro platinado debatia-se em todas as direções por causa do vento e estava apenas com uma regata branca grudada no corpo por causa do calor que mal conseguia ser amenizado pelo vento. Eram quatro e meia da manhã, mas não conseguira ir dormir, então voava sozinho por Hogwarts evitando ser visto pelo zelador nas áreas de mais risco.


Nas alturas era mais fácil não pensar na sua visão do futuro, no que acontecia com Hermione. Mas em compensação as lembranças do seu presente tempestuoso o atormentavam em cheio não importando a quantos metros do chão estava. As cartas do seu pai continuavam por alcançá-lo. “O Lord quer te ver. Precisa cumprir a sua missão. Agora mais do que nunca!”, essa fora a pior de todas. E fora também a carta que sumira de sua mochila naquela manhã. Ah! Se descobrisse que o Potter tinha alguma coisa haver com aquilo. Nunca teria tanto prazer em cumprir aquela missão.

E Hermione... ?Fora então que notara uma presença em um dos corredores do castelo no sétimo andar. Draco apertara os olhos para ver quem estava acordado àquela hora para lhe dar a devida detenção quando notara que se tratava da própria e a seguira em sua vassoura do lado de fora da escola de forma que ela não o pudesse ver, até a sala de música. Draco achara aquilo estranho, mas optou por saltar da vassoura no corredor da escola e ir atrás dela.


Draco entrara na sala depois de uns segundos meditando a respeito e vira uma surpresa Hermione sentada de frente para um piano. Ele a olhara de lado desconfiado.


– O que está fazendo aqui? – ela que estava com uma aparência cansada parecera ligeiramente feliz e aliviada em vê-lo.


– Tenho que terminar a música do encerramento do ano. – ela dissera quase gaguejando. – Mas estou sem idéias.


– Por que essa hora? – ele interrogara. Se não estivesse demasiadamente escuro naquela sala, Draco teria visto seu rosto corar.


– Não tenho muitos horários livres. Agora também, ninguém incomoda. – ele se aproximara do piano no seu passo arrastado, ainda com seu olhar sério e superior.


– Eu podia te por em detenção por isso. – ele disse sério de forma indiferente, mas fora o suficiente para a castanha abrir um sorriso de orelha a orelha de forma animada.


– Eu sei. E eu não me queixaria muito... – ela dissera ainda sorrindo meigamente, o que fizera o loiro engolir em seco. Ele se sentara no banco do piano ao lado dela mirando as teclas do piano. Lembrara por acaso de suas aulas obrigatórias perante toda a sua infância na Mansão dos Malfoy. Apesar de ser realmente muito bom naquele instrumento, sempre gostara mais das cordas trouxas do violão. – Senti sua falta... – ela dissera quase sem voz. – O que tem feito?


– Pensado muito... – ele respondera sincero de cabeça baixa. Hermione encarava seus fios platinados soltos em direção ao chão. – Ando meio preocupado. Tenho umas coisas para acertar...


– Que coisas? – a castanha perguntara, mas o loiro não respondera. Hermione sentira seus olhos arderem e sua garganta ficar seca, sentindo que aquilo não era bom sinal. Mas tentara mudar de assunto, não queria chateá-lo ainda mais. Se virara novamente para ele e tentando parecer mais animada. – Sabe? Este piano... Realmente é lindo... Eu adoro piano. Me transporta para um lugar mais confortável quando toco em suas teclas. Me sinto melhor por dentro. Minha canção não parece então apenas palavras dentro de mim.


– Hermione... – dissera Draco tentando não se desviar do assunto, mas a castanha o cortara não querendo ouvir a coisa ruim que ela sabia ele tinha pra dizer.


– Sabe tocar? – ela se virara para ele fingidamente animada. Ele a olhara e vira as lágrimas se debatendo nos olhos castanhos da garota e quis se matar por isso.


– Não. – mentiu ele. Ela dera um sorriso meigo, mais equilibrada.


– É fácil, é só me seguir... Tente me acompanhar. – ela dissera pondo os dedos numas determinadas teclas do piano.


Ele a imitara colocando também as duas mãos no piano nas mesmas notas que ela, porém mais para a esquerda. Então ela começara a tocar bem devagar e pacientemente enquanto ele prestava atenção e logo ele a seguira se unindo a melodia lenta e sofrida.

– Viu?... Não tem mistério.


Era um som sofrido e quase repetitivo, seria uma boa canção se tivesse uma boa letra, ele notara. Mas fora obviamente improvisada por ela ali, só para ensiná-lo. Primeiro ele via o detalhe de suas mãos, como eram diferentes das dele. Finas e delineadas, eram obedientemente seguidas pelas dele, pesadas e ásperas. Aquele momento doía. Um momento em que estavam com certeza muito mais próximos do que muito outros dias em que estivessem lado a lado. Fazia tempo que não estavam tão próximos assim um do outro e ele não queria que aquele momento terminasse. Mas sabia o que tinha que fazer.


– Você é muito bom. Parece que já tem prática. – ela dissera enquanto tocavam. – Deve ser um talento natural. – ele apenas sorrira de leve sem dizer nada, deixando apenas que aquele bom momento se prolongasse pelo maior tempo possível.


Mas depois do que pareceu cinco minutos os dedos pararam e a melodia cessara dando início as desesperadas palpitações de ambos os corações. Agora os dois mantinham a cabeça abaixada, mirando as teclas do piano cobertas pelos próprios dedos, sabendo que não podiam mais fugir.


– Por que está me evitando? – começara a castanha quase sem voz e sem desviar os olhos dos próprios dedos. Draco sentira seus olhos arderem, mas mantivera-se forte. – Não vê que preciso de você? – Ficara outro silêncio perturbador, até que Draco respondera.


– Temos que terminar. – ele dissera na sua voz calma e firme, sem tirar os olhos do piano. Hermione sentira uma lágrima escapar da órbita de seus olhos e rolando até seu maxilar e pingando em um de seus dedos. – Acho que você precisa mais de outras coisas do que de mim. – ela não dissera nada. Era mentira aquilo, mas não conseguia forças para dizer nada. – Acabou pra mim... Não consigo mais ficar ao seu lado.


– Você não... – ela perdera a voz por um momento e Draco quase chorara adivinhando o que ela ia perguntar. – Me ama... Mais?


– Tenho algumas coisas para acertar... – ele dissera, ignorando a sua pergunta. – Não posso me preocupar com você, Hermione.


– Mas você disse... Que me amava. – ela insistira ainda sem olhá-lo. Dessa vez ele não dissera nada. Depois de um silêncio ela se virara para ele, mas ainda sem encará-lo nos olhos cinza que continuavam vidrados nos próprios dedos. – Draco, eu posso amar voc...


– Eu não quero mais machucar você. – ele a cortara com a voz mais firme se levantando do banco de forma brusca e ficando de costas para ela, não querendo ouvir aquela afirmação dela, não querendo ouvir nada que o fizesse mudar de idéia. – Não te quero mal. Mas entenda... Não posso mais lutar por nós dois. Estamos de frente para um mundo em que nossa relação é impossível. É inacreditável o quanto conseguimos ir longe até. Mas não dá pra irmos mais longe que isso.

Hermione sentia-se vazia, despedaçada... Tinha vontade de protestar, mas não encontrava forças. Não conseguia forças para convencê-lo a não desistir dos dois. Não tinha esse direito. O loiro olhara de rabo de olho para ela, incapaz de encará-la de frente.

– Sinto muito.


– Eu posso amar você. – ela dissera finalmente ao levantar os olhos borrados para ele, ignorando a determinação dele. Ele respirara fundo sentindo que as próprias glândulas lagrimais estavam prestes a lhe trair.


– Não posso mais te esperar. – ele dissera rouco. – Sinto muito.


– Draco... – ela chamara, enxugando as próprias lágrimas e tentando se manter forte.


– Acabou. – ele a cortara decidido e então a olhando de lado. – Por favor não insista. É a morte pra mim te ver assim.


E dizendo isso fora embora deixando para trás alguém que no decorrer do caminho lhe pareceu mais um pedaço de si mesmo, que não acreditou que conseguira deixar para trás e continuar respirando. A ferida ainda estava aberta e sangrava, parecia que seu corpo gritava pela parte ficada para trás, mas não conseguia parar de andar. Não conseguia olhar para trás. Ele nunca olhava para trás.


Já se esquecera do porquê terminara com ela, aquele motivo tão claro em sua mente lhe escapara agora. Só sentia dor, só se lembrava dos olhos castanhos borrados diante dele. Perdera a vontade de respirar estando longe dela, não tinha mais gosto pela vida.


Mas sentira um terrível alívio ao sair daquela sala, livre da necessidade de machucá-la ou da tarefa de ser uma boa pessoa, uma pessoa que ele nunca poderia ser. Mas principalmente satisfeito com a certeza que ela não seria mais o alvo do seu pai ou de Voldemort. Ela não atrapalharia mais os seus planos, não teriam mais motivo para acabar com ela. É, mas logo ela a odiaria... Se por infelicidade do destino não pudesse fugir de sua missão ela sofreria absurdamente... E seria ainda pior se eles ainda fossem namorados nesse dia.

Ele sabia que ela se encontrava agora em algum lugar daquele castelo, encarando o chão gelado da Sala de Música com dor e desespero, uma mágoa tão gélida que congelava as lágrimas em seus olhos. Duvidava que ela conseguisse chorar, conhecia o orgulho ferido daquela leoa que recolhia todas as suas lágrimas quando ela mais precisava delas. E por isso sabia que estava sendo ainda mais doloroso. Seu corpo todo devia estar chorando silenciosamente e desesperadamente remoído por não conseguir expressar isso.


Como queria voltar... Abraçá-la... Como queria não ser um Malfoy.

Continua...


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