A vida seguia seu curso, Bella e eu continuávamos nos encarando no estacionamento, dia após dia. Os mesmos gestos, o mesmo ar nervoso, o mesmo frio na barriga. Mas ela sempre passava direto.

Eu sei, eu tinha que tomar uma atitude, mas se eu o fizesse estaria colocando a menina que eu amo em perigo.

As aulas corriam normalmente já há duas semanas. Bella e eu tínhamos algumas destas juntos e na classe de Biologia éramos parceiros. Sempre que tínhamos algo a fazer juntos, ela evitava ao máximo falar, sempre com gestos ou escondendo o rosto por baixo do cabelo. O cheiro me incomodava ainda, o aroma e o desejo também, mas não mais que o desprezo que emanava dela.

Eu sabia que a culpa era minha, que devia pedir perdão, mas pedir perdão implica em ser amigo dela, ser amigo implica querer estar sempre com ela... e... estar sempre com ela implica em querer tocá-la e beijá-la mais uma vez e assim... colocá-la em perigo.

Não que ela não estivesse em perigo constante com 5 vampiros na escola e um deles incrivelmente atraído pelo sangue dela, mas quanto mais perto mais tentador fica.

Emmett dia desses me contou que já sentira uma sede assim quando ainda não era vegetariano. Não gosto nem de lembrar do resultado... e me imaginar machucando Bella me maltratava cada dia mais.

Hoje ela estava excepcional, os cabelos soltos em cachos, os lábios avermelhados pelo frio e a pele rosada. Eu adorava dias frios, só pra vê-la assim, rosinha, corada... frágil. Seu perfume parecia diminuir de intensidade, mas sua aparência ficava ainda mais exuberante.

“Linda não?” – Alice riu e passou por mim no refeitório, sentando-se ao meu lado.

Assenti com a cabeça e não desviei o olhar de Bella. - “Vai lá maninho...” – Alice encorajou, vendo meu olhar e o de Bella se cruzarem pela décima vez só hoje.

Eu brincava com uma maça entre as mãos.

“Vou machucá-la?” – perguntei em voz baixa.

“Não” – respondeu prontamente.

“Você não buscou o futuro Alice” – ela semicerrou os olhos e me viu de pé ao lado de Bella, Bella não me encarava, mas bem, estava viva.

“Vocês ficarão bem” – sussurrou.

Lutei internamente, segurando minha bunda na cadeira. Num esforço infantil cravei as unhas em meu braço e rugi baixo pela dor. Alice me olhou atordoada.

“Até quando vai lutar contra seus sentimentos Edward?” – ela se levantou brava, seguida por Emmett e Rosalie que sumiram pelo corredor.

Continuei no mesmo lugar, o olhar perdido na carne dos lábios de Isabella.

“Já pensou em falar com ele ao invés de ficar só olhando, Bella?” – Jéssica falou asperamente notando nossos olhares, mas em seu pensamento questionava por que eu olhava Bella e não ela.

Eu não gostava nada de Jessica, uma menina fútil e egoísta. Vi Bella abaixar os olhos para a mesa e prender a respiração como se contasse até dez. Ela virou o rosto e encarou o de Jéssica.

“Ele gosta de outra...” – Bella grunhiu, pegou suas coisas e saiu apressada pelo mesmo corredor que meus irmãos.

Minha reação imediata foi ir atrás, mas o toque sutil de Jasper em meu pulso me deteve.

“Vai machucá-la” – ele soltou seus poderes me fazendo acalmar e me sentar novamente.

“Ela não pode acreditar que eu não a ame Jasper...” – murmurei.

“Ela viu você beijar outra...” – Jasper riu e em sua mente reviveu o beijo.

Aquilo me causou repulsa e fiquei imaginando como Bella se sentira, afinal, horas antes ela que estava em meus braços.

Eu conseguia sentir ainda a sua respiração pesada pelo sono, os lábios doces nos meus, o coração martelando firme encostado ao meu peito... sua pele quente na minha... a voz sussurrada... o beijo.

Arfei e me levantei decidido a ignorá-la ainda mais. Se ela duvidava mesmo que não gosto dela, eu a faria ter certeza disso.

Jasper estranhou minha mudança de humor, mas nada disse, apenas me seguiu. A próxima aula era de literatura, Bella e eu sentávamos um de cada lado de Jéssica. Jasper seguiu seu caminho para a sua própria sala de aula.

Me sentei lançando um sorriso torto para Jessica que corou e deu um sorriso tímido.

“Não!!! Ele sorriu pra mim, pra mim!” – olhou Bella com ar vitorioso e me encarou novamente – “E não pra essa menina sem sal...” – seus pensamentos eram abomináveis. Me dava nojo, mas era a única forma de ouvir e saber mais de Bella.

“Bella, me explica... ele gosta de quem?” – Jessica sussurrou e completou em seus pensamentos “claro que não seria de você Isabella Swan”.

Revirei os olhos e tentei prestar alguma atenção a aula. Bella rabiscava no caderno visivelmente chateada, a peguei olhando para mim algumas meses, mas nossos olhares não se cruzaram em nenhuma delas.

Jessica estava inclinando o corpo para mim e eu me afastando delicadamente, mas estava ficando sem espaço na cadeira então derrubei um lápis e precisei fazê-la se mover pra pega-lo do chão.

“Obrigado” – respondi voltando a minha posição confortável na cadeira.

“Disponha” – me disse toda graciosa, argh.

“.. quero a redação na minha mesa amanhã antes da aula iniciar...” – ouvi o professor dizer e nos dispensar da aula.

Busquei as mentes tentando saber que redação, era a primeira vez que me sentia perdido na aula.

Jéssica e Bella já saiam enquanto eu continuava sentado, tentando descobrir qual o tema.

Mike passou por mim com cara de assustado e foi para o lado de Bella, cheio de pensamentos românticos, respirei bem fundo contendo todo meu desejo de tirar todo mundo de perto dela e levá-la comigo para algum lugar, pra ficarmos a sós, conversarmos e nos abraçarmos de novo.

Reprimi uma careta e me levantei, seguindo o restante da turma para a aula de educação física. Eu era dispensado desta aula, mas era prazeroso ver Bella tentar jogar qualquer esporte.

“Ele vai pra Educação Física?” – Jessica balbuciou para Mike que me olhou de lado.

“Parece”

“Humm” – ela soou feliz – “Ta indo pra me ver, aposto!” – completou em seus pensamentos.

Respirei fundo de novo e o perfume de Bella alcançou minhas narinas... não será fácil, nada fácil me manter longe.

“Hey Edward” – Alice me chamou encostada a entrada da quadra – “Melhor não ir”.

“Oi Alice” – respondi sem humor – “E por que?”

Ela nada disse, apenas me mostrou. Bella aparentemente jogava basquete, tentando fazer um passe se atrapalhou e a bola ricocheteou da trave para ela atingindo seu rosto. O sangue se espalhou pelo nariz quebrado e eu a ataquei.

Puxa... era tão bom saber que eu ainda a colocaria em perigo.

Sem nada dizer, fui até Bella e toquei seu ombro. Ela me encarou perplexa e surpresa. Senti as batidas do coração se alterarem demasiadamente, o rosto ruborizou e os lábios se fundiram num sorriso forçado.

Ela levantou o olhar e ficou encarando o meu sem nada dizer, fiz sinal para que me acompanhasse e ela atendeu prontamente, quando estávamos suficientemente longe de ouvidos maldosos ela abriu a boca.

“Resolveu fingir que eu existo?”

Eu merecia a raiva dela, mas senti meu coração saltar – como se fosse possível – e morrer de novo.

“Não Bells... eu...”

“Bella ou Isabella pra você” – resmungou.

Franzi o cenho e me perdi um pouco no que queria dizer sentindo a tristeza na sua voz e a raiva contida.

“Isabella, me desculpe lhe dirigir a palavra, porém foi necessário...”

“Hum..” – mostrou indiferença, mas sua pulsação a denunciava.

“Melhor você não jogar basquete hoje”. – sugeri tentando alertá-la.

“Ah é?? E por quê? Por que você não quer?”

“Só não jogue está bem?” – fixei os olhos nela e senti sua mão apertar a minha, até o momento não tinha reparado que a segurava pela mão.

Bella respirou fundo e olhou na direção do meu ombro, eu sabia o efeito que tinha sobre as pessoas, mas era inevitável querer que ela ficasse bem. Levar uma bolada no rosto, quebrar o nariz e sangrar não era algo que eu queria que acontecesse a ela.

“Acha que não sei jogar?” – ela sussurrou.

“Não Bella, confie em mim... não quero que se machuque, só isso.”

“Acha que não posso me cuidar sozinha só porque me trancou naquele armário de medicamentos Edward? Você é bem presunçoso se acha que um joguinho de basquete é perigoso depois de tudo o que passei”.

Bella parecia bem alterada e algumas pessoas estava prestando atenção a nós.

“Bells... Isabella...” – tentei não demonstrar minha irritação suavizando a ruga em minha testa e afagando sua mão – “... confie nas visões de Alice”.

Bella arregalou os olhos e procurou Alice no corredor atrás de mim, ouvi Alice murmurar um sim a alguns passos de distancia e Bella me encarar de novo.

“Ok” – ela se desvencilhou de mim e entrou na quadra – “Eu mereço, tenho 5 babás agora” – ela sussurrou consigo mesma, mas eu pude ouvir.

Ela não podia só aceitar uma ajuda? Deveria ter deixado ela quebrar o nariz.

Sai irritado para a aula de matemática avançada com a Sra Marri, uma francesa naturalizada americana e letrada em Harward.

Sentei na primeira fileira como de costume e Emmett logo ao meu lado.

“O que te aborrece?” – ele perguntou em sua mente.

“Nada” – sussurrei sabendo que só ele ouviria.

“Tem algo errado, você está assustador.” – ele riu.

Respirei fundo, ninguém estava me olhando a não ser Emmett e a senhora Marri, passei os dedos nas têmporas e abaixei a cabeça sobre a mesa. Minha mente vagou pelo corredor até chegar a quadra. Jessica nem prestava atenção e Bella, Mike olhava o corpo pensando e imaginando obscenidades, vasculhei toda a quadra tentando achar alguém que a observava. Ângela estava em pé perto da cesta de basquete olhando Bella correr atrás da bola que tocou seu pé e disparou para fora do perímetro do jogo.

Ângela segurava o riso, pois não era tão boa em esportes também, pensava em pedir ajuda a alguém e convidar Bella a participar do treino.

“Seria bom ter alguém treinando comigo” – suspirou com o pensamento.

Bella tinha prometido não jogar!!!

O “ok” dela ecoou na minha cabeça, ela na verdade não prometeu. Rangi os dentes e Emmett tocou meu braço.

“Cara...” – pensou – “o que foi?”

Levantei a cabeça e vi os olhos da Sra Marri nos meus.

“Será que ele está doente? Nunca vi um Cullen doente... coitadinho...” – ela pensava e caminhava na minha direção. Resolvi me aproveitar do pensamento.

“Posso ir ao banheiro?” – sussurrei apertando os dedos nas têmporas.

“Sim Edward vá, se precisar passe na enfermaria. Quer que seu irmão o acompanhe?”

A voz doce e sensível me acalmou um pouco. Eu ia responder não, mas Emmett se levantou pegando o passe das mãos da Sra Marri e foi comigo corredor a fora.

“O que há Edward?” – me encostou na parede.

“Ela vai se machucar, aquela menina teimosa!” – esmurrei a parede, sentindo o buraco que deixei no lugar.

Voltamos a andar, eu ia direto para a quadra tentar livrá-la do acidente, mas Alice tinha me visto machucar Bella... como fazer ela parar de jogar?

Voltei para a cabeça da Ângela e vi Bella com os joelhos flexionados, os braços um pouco para a frente do corpo como se esperasse algo, a bola estava indo em sua direção...e... ela pegou no ar e quase a derrubou, bateu duas vezes no chão, pegou na mão e arremessou para a cesta. A bola bateu no aro, rodou, rodou e caiu fora, rolando até os pés dela novamente.

O jogo reiniciou e Bella continuou parada no mesmo lugar.

Apressei meus passos sem sair da mente de Ângela, Emmett ao meu lado sem entender nada. Alice apareceu na minha frente num piscar de olhos, as duas mãos espalmadas no meu peito e o olhar preso no meu tentando me mostrar outra visão.

“Não vou machucá-la Alice, vou evitar que se machuque!”

Alice olhou para o Emmett o olhar num pedido de socorro, sua mente me mostrava Bella caída, um mar de sangue em volta.

Fechei os olhos com força sem parar de andar e fixei meus instintos e desejos em salvar e não alimentar.

“Emm...” – Alice melindrou.

Emmett segurou meus braços e pernas num aperto de urso, eu não podia rugir, nem usar minha força, alguém poderia ver. Lembrei de Heidy e mandei uma lufada de vento na direção dele, mas nada aconteceu, o aperto era firme.

Caminhei arrastando ele comigo.

Tinha um garoto bebendo água no bebedouro, fiz um jato voar em cima de Emmett que se assustou e me largou. Não dei tempo de pensarem, escancarei as portas da quadra e adentrei.

Bella estava novamente com a bola, arremessou... a bola bateu no aro e voltou direto no seu rosto, eu corri na minha velocidade e bati a mão na bola antes que atingisse o rosto de Bella, no segundo seguinte voltei para a entrada da quadra.

Somente meus irmãos notaram o ocorrido, os demais olhos só viram a bola se desviar sozinha.

Bella tinha fechado os olhos esperando o impacto e abriu devagar ao constatar que nada aconteceu, fez uma cara engraçada de vitoria e ameaçou andar. Eu tossi, queria que ela visse que eu estava certo e que deveria sim ter se machucado.

Bella olhou na minha direção com o coração em disparada, o sorriso morreu e seus lábios começaram a tremer como se quisesse falar algo ou chorar.

Ela balbuciou um obrigada sem som e saiu para se sentar nas arquibancadas.

Alice me tirou da quadra lançando um olhar significativo para Bella.

“Se ela tivesse te ouvido, você não teria se exposto Edward!” – Alice falou irritada olhando em volta.

“Ninguém viu” – quem era o paranóico geralmente era eu e não Alice – “O que foi Alice?”

“Alguém viu e alguém vai atrás de você... vi jornais estampando sua foto. Vampiro salva amor da sua vida das chamas” – ela imitou um jornalista.

“Chamas?” – Emmett e eu falamos ao mesmo tempo.

“É”.