Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 8
Capítulo 8: Brincadeira de mal gosto




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–Lagartixa mutante! –Gritei com as pernas bambas.

Uma garota morena se levantou do gramado. Ela segurava um violão vermelho alaranjado. De passo em passo foi cantarolando até chegar mais perto.

Nada gosta de não fazer nada
Todo telefone quer tocar
Uma janela é tão infeliz fechada
Quanto um carro sempre no mesmo lugar
♫♪

Ela chegava mais perto e pude ver o quanto era bela. Cabelo liso castanho escuro caindo sob um pouco a baixo dos ombros e lá fazia curvas finas em ondas. As bochechas dela eram um pouco fundas e pálidas igual a sua pele branquinha. Suas maçãs do rosto eram carnudas e macias como o mais maduro pêssego. Olhos esverdeados e castanhos que reluziam a luz. Uma franja perfeita cobrindo a testa e caia para o olho direito.

Um relógio parado não existe
Um som sem som tem uma vida ruim
O apêndice é o órgão mais triste
Por que comigo não vai ser assim?
♫♪

A mais bela e leve voz que eu já ouvi, tão poética e boemia. Cintilava pelos meus ouvidos como o mais leve correr das águas por um rio que serpenteia pela floresta de primavera.

E aí eu marco três consultas
Antes de adoecer
E aí eu faço um estardalhaço
Só pra ter o que fazer
♫♪

O nariz dela era um pouco grande porém fino e bem definido que a deixava mais charmosa. Os lábios definidos não tão carnudos e nem tão finos, pareciam mais com pétalas de lótus.

Ela usava uma camisa listrada preta e branca moletom com calças jeans pretas. Um sapato Nike de caminhada fazia o mínimo som contra o gramado que era pisoteado lentamente.


E aí eu me complico toda muito
Pra depois me resolver
E essa história demora horas
Só pra ter o que fazer
♫♪

Quando o violão dela tocou a ultima nota meus olhos brilharam e meu coração se derreteu. Não me lembrava de mais nada antes de vê-la cantar e tocar ao meu encontro.

–O que achou? –Ela deu um sorriso brilhante como um raio de sol.

–P-perfeito... Magnífico. Divino! –Completei minha frase ao descrever a tal celeste música.

–Oi, sou Milena Frantines. –Ela estendeu a mão me cumprimentando.

–Phoebe Battler. –Sorri para ela

–A tal “lagartixa mutante” não vai lhe fazer mal. –Milena brincou com os dedos entrelaçando-os pelas cordas de violão.

–Que diabos é aquilo?

–É o Peleu. É o dragão que protege o velocino de ouro.

–Velocino do que? –Estreitei a cabeça.

–É como uma capa de ouro que protege as fronteiras do acampamento. –Milena caminhou até a quadra de tênis tocando levemente já se preparando para cantar.

Eu fui atrás seguindo aquelas doces notas.

Já te fiz muita canção
São quatro, ou cinco, ou seis, ou mais
Eu sei demais
Que tá demais
♫♪

Cada verso fazia o sol brilhar mais radiante do que nunca.

–Eu chego com um violão
Você só tá querendo paz
Você desvia pra cozinha
E eu vou cantando atrás
♫♪

-Hoje eu falei

Pra mim

Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é
♫♪

-Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
♫♪

-Se juntar cada verso meu
E comparar
Vai dar pra ver
Tem mais você que nota dó
Eu vou ter que me controlar
Se um dia eu quero enriquecer
Quem vai comprar esse cd
Sobre uma pessoa só?
♫♪

-Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é
♫♪

-Hoje eu falei
Pra mim
Jurei até
Que essa não seria pra você
E agora é
♫♪

–Você é mesmo filha de Apolo? –Perguntei encantada com as últimas notas que cintilavam ao vento do inicio de uma tarde ensolarada.

–Sim. –Ela se sentou a grama bem a frente de Peleu.

O dragão não se movimentou, cochilando e bocejando fumaça das suas narinas de da sua boca.

–Os garotos loiros que estavam jogando aqui... –Tentei ser o mais delicada possível para aquilo não soar como uma afronta. –Eles também eram filhos de Apolo? –Eu estava meio embriagada com os angelicais acordes do seu violão vermelho alaranjado.

–Sim, são meus meio irmãos. Você quer se referir a cor do meu cabelo, não é? –Ela tocou mais baixo deixando o som quase ambiente.

–É que Iryena falou sobre os filhos de alguns deuses serem característicos de seus pais...

–Eu sou uma exceção. Nem eu sei o motivo, mas sou filha legítima de Apolo. –Ela se levantou e ofereceu a mão para que eu levantasse.

Me apoiei em sua mão e me levantei.

–Aonde vamos? –Perguntei observando o sol.

–Quíron vai pedir para alguém do chalé de Hermes lhe escoltar para lá. –Ela disparou lentamente na frente cantarolando algumas coisas desconexas que eu não entendi muito bem. Acho que ela cantava em latim.

Ficamos falando sobre o acampamento, as regras, as fronteiras, sobre os filhos dos três grandes deuses e sobre as atividades cansativas do acampamento.

Quando me dei conta, já estávamos em frente a casa grande.

Quíron conversava de braços cruzados e mão no queixo com uma expressão confusa para um garoto a sua frente.

O garoto devia ter em torno de 17 ou 18 anos. Seus olhos eram um tom castanho esverdeado. Cabelos lisos caindo sobre as orelhas. Pele clara coberta por uma camisa preta a baixo de uma jaqueta de couro também preta. Jeans pretos e um cinto preto.

Para um dia de sol, usar jaqueta preta e roupas pretas deveria ser um pesadelo.


–Não importa Chris. Você tem de usar o uniforme, qual a dificuldade disso? –Perguntou Quíron ao tal garoto.

–Qual é, não vejo motivo para ficar colocando uma placa do acampamento por baixo da minha jaqueta. –Ele fez um bico de raiva e pôs as mãos nos bolsos do jeans.

Logo perceberam nossa presença no ambiente e imediatamente mudaram a postura.

–Nossa... Pegou Chris Rodrigues. –Milena sorriu de soslaio.

–Ele é charmoso. –E estava comprometido, tira o olho Phoebe, calma, ele esta comprometido –Quem é a namorada dele?

–Como sabe que ele tem namorada? –Milena perguntou.

–Não faço ideia, mas eu sempre sei dessas coisas. –Caminhei lentamente até entre Quíron e Chris Rodrigues.

Os dois trocaram olhares que eu daria tudo para saber o que eles falavam sem dizer nada.

Milena sussurrou algo inaudível, consegui ouvir um “te” mas não entendia o que ela havia falado.

–Sr. Battler, procurei pela senhorita por um tempo. –Quíron sorriu e apresentou o garoto. –Este é Chris Rodrigues.

Chris estendeu a mão, logo nos cumprimentados com um firme aperto de mãos.

–Phoebe Battler? –Ele sorriu e abaixou o olhar dos meus sapatos até a ultima ponta de cabelo. –Sou Chris Rodrigues do chalé de Hermes.

–Oh... Sim. –Sorri pensando no que ele havia pensado na minha aparência.

–Bem, vamos indo, o chalé lhe aguarda e quanto mais rápido pegar um beliche para você melhor. –Ele me guiou alguns passos a frente até Quíron bater o casco no chão.

–Não se esqueceu de nada? –Perguntou Quíron.

–Ah, é mesmo. –Chris entregou-me uma muda de camisas laranjas.

–Obrigada. –Agradeci a ele e a Quíron.

– Laranja abobora, laranja cenoura e laranja puro. Os três tons. –Ele brincou sorrindo e trotando fazendo um circulo.

Gargalhei e corri até ele, logo ele se abaixou e eu dei um beijo na sua bochecha.

–Obrigada de verdade, obrigada mesmo. –Abracei-me ao seu pescoço e segui até Chris mais uma vez.

Quíron deve ter achado que ia falar algo em seu ouvido pois ficou com os olhos arregalados e a boca entreaberta. Seguiu até Milena e pousou sua mão no seu ombro direito, ele seguiu com ela até a lateral da casa grande e sumiu conversando algo com ela.

Chris e eu estávamos a caminho de um chalé marrom avermelhado, com colunas de madeira rústica também avermelhadas e descascando uma demão de tinta. Uma antena repousava a cima do segundo andar do chalé e logo meus olhos foram guiados para um símbolo que ficava um pouco a cima da entrada do chalé. Era a imagem de duas cobras entrelaçadas em um cetro alado.

Alguns sacos de dormir estavam empilhados dobrados um em baixo do outro ao lado da porta. Uma placa na janela dizia:

Ousado aventureiro, decida de uma vez:

Faça a campainha cantar e aguarde o perigo

Ou acabe louco de tanto pensar:

“Se eu tivesse tocado, o que teria acontecido?”

–O que foi aquilo? –Chris perguntou me fitando.

–Aquilo o que? –Tirei o foco daquelas palavras.

–Você beijou Quíron, vai dizer que também é verdade que abraçou o Sr. D? –Ele riu como se aquilo fosse uma mentira que alguém o contou de fofoca.

–Sim, ele é um deus muito especial. –Brinquei sorrindo e indo em direção a campainha bem no momento em que Chris entreabriu os olhos em uma cara de paisagem.

–Não! –Ele gritou tentando me impedir.

Mas já era tarde, meus dedos já tinham apertado a campainha e o som dela vibrava dentro do chalé.

Chris correu pulando por cima do parapeito da varanda e caio rolando na grama amarelada do jardim.

Em cima de mim alguma telha se abriu e de lá caiu possas de um liquido branco. Era tinta, tinta branca, jorrava do teto em cima de mim, litros e litros me pintando todinha. Em quanto caia consegui atirar as camisas para o jardim e ela não haviam se molhado, porém já eu, completamente pintada de branco. Abriram a porta e de lá saíram crianças pulando e despejando de alguns jarros de barro penas brancas.

Uma menina veio e me colocou um chapéu de adversário só que em cima da boca e isso ficou parecendo um bico e galinha. Agora eu era uma galinha penosa com um bico colorido de aniversários infantis.

–Parem, parem! –Gritou Chris em quanto seus irmãos riam de mim

Todos gritavam frases como: “Haha, olha a cara dela!” ou “Não acredito que alguém caiu nessa!”

–Parem, é a novata! –Chris segurou o riso e correu para ou meu lado afastando seus irmãos.

Meus olhos tremeram e arderam com a tinta que me queimava a íris.

–Basta! –Gritei tinindo de raiva. Todos se calaram e pararam de me caçoar, até mesmo Chris pareceu enrijecer como pedra.

Arranquei o chapéu de aniversário e pus a mão sobre o rosto tentando engolir os soluços. Sabia que não podia chorar na frente de ninguém, eles não podiam me ver chorar. Não olhei em volta, apenas corri subindo as escadas e abrindo qualquer porta na frente tentando encontrar o banheiro.

Quando finalmente encontro um cômodo cheio de azulejos brancos meio sujos nas frestas, entro de vez sem nem ver se tinha alguém lá dentro. Tranco a porta e enfio minha cara numa pia de mármore pardo. Abro a torneira e limpo o máximo que consegui, então cai dentro da banheira branca de porcelana gélida.

Abri a torneira de bronze ao lado da minha cabeça e a água saiu perfeita, quente fervendo, bem na temperatura que eu precisava para relaxar os nervos, relaxar a raiva e a dor que eu sentia naquele momento.

Minhas roupas ainda estavam cobrindo o meu corpo, não me preocupei em retira-las, apenas deixei a água levar toda a tinta e as penas. Meus olhos pesaram e lá mesmo eu dormi.





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Notas finais do capítulo

O que estão achando, deixem seus comentários e se quiserem, podem dar sugestões e opiniões sobre cada personagem.



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