Palavrinha mágica: orgulho. "Eu estou orgulhoso de você". Cinco palavrinhas. E elas funcionam melhor que um eu te amo. Elas me causam mais reação que qualquer eu te amo. Não sei o motivo. Mas é como se, quando alguém sentisse orgulho de outra pessoa, dissesse "eu aceito todos os seus erros e tudo que você fez ou disse ou pensou de errado e mesmo assim sinto afeto por você, sinto amor por você, sou feliz em dizer que te conheço". Ou no meu caso "eu te perdoo por ter me socado e ter agido como uma babaca e continuo te amando". Talvez seja porque as pessoas dizem que me amam com mais frequência do que elas dizem que sentem orgulho de mim, e quanto mais raro, mais precioso.

Me sinto revigorada. Como se isso fosse uma chuva que lavou toda a lama da minha roupa ou algo assim. Finalmente, bem. Não sabia que a culpa estava me remoendo. Não fazia ideia. Mas depois das palavras do meu pai, ela foi embora, e sinto a diferença, porque faz toda a diferença. Talvez haja tantas outras palavras pra demonstrar o amor melhores que um "eu te amo", tantas coisas, ações, e sentir orgulho está no topo da minha lista.

Falo sobre isso na Conversação, quando estamos reunidos na ponte Nola outra vez. Digo tudo isso.

–Talvez isso fosse a confirmação que eu precisava. -Murmuro. -Amar uma pessoa é fácil. Ou pelo menos, constante. Mesmo que você odeie essa pessoa, no meio tempo chegou a amá-la ou ainda a ama, se você a conhece. Se você ama, você... bem, você ama. Mas se você sente orgulho dessa pessoa é porque se sente feliz em amar a pessoa. Não ama porque está apaixonado, ou algo assim, porque parece que estar apaixonado é estar enfeitiçado e não ter controle com relação as suas escolhas, mas você ama porque consegue ver as coisas ruins e as boas e escolher amar a pessoa e se sentir contente com a escolha. Dá pra entender? -Eles assentem. -Acho que era isso que eu precisava. Lembro de pessoas dizendo que me amavam. Lembro de pessoas dizendo que estavam apaixonadas por mim. -Embora os garotos tenham sido meio babacas, mas não digo isso em voz alta pra estragar o clima. -Mas não lembro de alguém ter dito que estava orgulhoso de mim. De quem eu sou. É como se agora eu tivesse finalmente acordado e percebido que está tudo bem eu ter problemas de raiva e ser triste de vez em quando porque alguém está orgulhoso de mim mesmo quando eu não sou uma pessoa tão boa. -Termino, e encaro a madeira da ponte, para não encontrar o olhar deles. Parte de mim acha que eu só falei besteira, e a outra parte está orgulhosa de si mesma por ter conseguido falar o tanto que falou. Mas o que eu acho pode ser diferente do que eles acham, então espero alguém falar alguma coisa.

–Você falou muito bem, Emerson. Muito bem mesmo. -Chris diz, e eu o encaro. -Melhorou bastante. Quem diria que você seria tão boa em falar o que está sentindo? -Faço uma careta pra ele, mas não estou brava pelo comentário. É verdade.

–Eu estou orgulhosa de você. -Kristin diz. Percebo que o seu tom é divertido, mas ela está falando sério.

–Eu também estou orgulhosa de mim. -Retruco para ela e ela me dá um empurrãozinho. Todos riem. -De você também.

–Obrigada.

–Vamos fazer um exercício.

–Se for pra correr, -Liana diz. -esqueça.

–Não esse tipo de exercício. Estou falando de um exercício mental. Quero que vocês pensem um pouquinho, depois digam do que têm orgulho. Foco em cada um de vocês. Quero respostas boas, não "tenho orgulho de ter comprado aquela roupa ontem" ou "tenho orgulho de bebido aquela coisa", etc. Quero respostas verdadeiras e profundas.

Ficamos um minuto exatamente em silêncio.

–Tenho orgulho dos meus erros. Clichê, eu sei. -Kristin levanta as mãos, em rendição. -Mas é verdade. Foram erros bem legais pra uma pessoa tão nova. -Rimos, embora a resposta tenha sido boa.

–Tenho orgulho da minha dedicação. -Liana diz. Hoje ela está usando shorts jeans, parecendo bem mais nova que alguns meses atrás e mais saudável também. Nos dois sentidos. -Só Deus sabe o quanto foi preciso.

–Rose, você tem orgulho de alguma coisa em si mesma? -Chris pergunta, naquele tom paternal que ele sempre usa com ela.

–Tenho orgulho de ser educada com as pessoas. -Ela diz, simplesmente. E mesmo que não seja algo tão profundo, faz a diferença.

–Me orgulho da minha lealdade. -Digo, pensando em minha irmã.

–Tenho orgulho do meu coração. -Perry diz, depois de mim. Uma resposta bem complexa.

–Quer explicar? -Chris pergunta.

–Não.-Perry dá de ombros. Olha pra frente. Quando a atenção de todo mundo passa para Liana, quando ela começa a falar outra vez, sinto a mão de Perry na minha, e tento reprimir um sorriso. Ele leva minha mão até suas pernas, que estão cruzadas, deixa ela lá, apoiada em seu joelho, junto com a mão dele.

–...Porque mesmo depois de todas as merdas que aconteceram, ele ainda está batendo. -Consigo pegar as últimas palavras de Liana. Suponho que ela também esteja falando do seu coração. Tenho orgulho de mim mesma por ter sido amiga de Danny, mas esse é um orgulho que prefiro guardar para mim, ao invés de contar a todos, apesar de eles já saberem disso. Não falo nada, e Chris comenta:

–Muito bem. Ótimas respostas. Quero que saibam, principalmente você, Emerson, que eu também tenho muito orgulho de todas as coisas que vocês citaram sobre vocês mesmos aqui, e de muito mais. Dos erros, dos acertos, das escolhas e das ações. Talvez não um orgulho tão grande em certas horas. -Seu tom de voz nos faz rir. -Mas assim como o amor, é um orgulho constante. E por opção. -Finaliza, e ficamos em silêncio. -Agora, vamos voltar, porque quase consigo sentir o cheiro da comida da senhora Kowki.

–Quem chegar primeiro lava a louça. -Perry me ajuda a levantar, e todos nós (com exceção Chris, porque ele é imune a lavar louça) começamos a correr, carregando nossos pequenos potinhos de orgulho pessoal.