People With Problems escrita por MrsHepburn, loliveira


Capítulo 19
Dia Anormal




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Minha missão está indo mais ou menos bem. Na medida do possível. Estou fazendo o máximo que eu posso para me manter feliz e animada e não agir como uma vaca pra cima de todo mundo. Não sei se eu gosto dessa nova eu toda amorosa e certinha, mas certamente Christian gosta. Ele vem elogiando meu progresso e pedindo que eu faça algumas atividades que ele sempre propõe e eu tenho que aceitar porque aparentemente isso vai me fazer bem. 

Ele também pediu que eu não contasse pra ninguém sobre Rose ou o que ele me disse naquele dia, e eu guardo esse segredo também. Porém, ele vem fazendo cada vez mais perguntas sobre o meu pai - e na frente de todo mundo. E eu posso estar sendo boazinha, mas eu tenho um limite, então me recuso a conversar sobre a maioria das coisas. Não é de uma hora pra outra que eu vou abrir a boca e falar sobre meu pai com a maior facilidade. 

Estou ajudando a senhora Kowki a fazer um bolo pra Rose. Rose, Kristin e Dover saíram pra fazer alguma coisa, que vai servir pra distrair Rose. Estou fervendo chocolate em uma vasinha, enquanto a senhora Kowki bate com força a massa e Perry também está aqui, picando suspiros. O bolo da senhora Kowki, como toda comida que ela faz, é elaborado e tenho certeza que vai ficar bom. Está escuro lá fora e a senhora Kowki está cantando baixinho. Danny está dormindo e não deixamos Liana entrar na cozinha, pra não ficar tentada com a quantidade de comida boa na cozinha. Olho para Perry. Ele está se matando pra cortar o suspiro sem deixar nenhum farelo, e eu franzo o cenho quando ele quase corta o dedo tentando. 

-Perry. 

-Quê? -Ele levanta o olhar. Vou até ele, abaixando o fogo da panela. 

-Aqui. -Eu digo, pegando uma faca e sentando na cadeira do lado dele. -Tenta fazer assim. -Pego um suspiro e começo a cortar, diferente de como ele estava cortando. Ele olha, com uma cara confusa, mas tenta repetir e consegue. -Viu? É melhor. E você estava quase se cortando. -Levanto de novo. 

-Emerson, pode desligar o fogo e botar o chocolate dentro de uma vasilha, depois botar na geladeira? 

-Tá. -Faço o que ela manda, mas antes pego um pouco do chocolate com o dedo e provo. Quando olho para Perry, ele está olhando para mim. E eu estou com o dedo na boca, lambendo o chocolate. 

Fico ROXA. Principalmente pela expressão de desespero em seu rosto. Quero pedir desculpas, mas seria pior. Porque ele perceberia que eu percebi o que está acontecendo. 

Tiro o dedo da boca, lavo a mão e não olho mais para ele. Ajudo a senhora Kowki a tirar a primeira parte da  massa do bolo do forno e botar na mesa. 

-Agora, querida, você vai pegar a vasilha e espalhar aquele chocolate aqui em cima. -Ela aponta para a massa. Assim que começo, caio na risada. 

-Isso é tão legal. -Jogo o chocolate feito uma criança pequena, aproveitando a sensação, o chocolate desce, fazendo um desenho bonito na massa. 

-Agora, Perry, jogue o suspiro. -Perry pega e começa a jogar os pequenos pedaços de suspiro na massa, e eu me inclino para frente pra ver como fica o suspiro branco caindo no líquido marrom. Então acontece. 

Perry segura meu cabelo, para ele não tocar na massa. 

É só isso mesmo, mas se antes eu fiquei roxa, agora estou branca. Não sei porque, mas cada gesto que ele faz me deixa ou roxa ou vermelha ou branca e a ponto de desmaiar. Ele segura do lado do meu rosto, e eu não consigo mais olhar pra massa, mas fingo que não ligo e analiso o contraste do claro e escuro na massa. Quando me recomponho e dou um passo pra trás, ele solta meu cabelo e me encara. 

Perry e eu não conversamos muito. Mas somos campões em ficarmos encarando. Ele me olha. Eu olho de volta. E nenhum de nós desvia tão cedo. E o problema é que o olhar dele me ASSUSTA. Não porque é assustador, mas porque não consigo entender. 

E isso acontece toda vez que eu olho pra ele. 

Perco a competição e desvio o olhar. Passo o resto da noite lavando a louça ignorando olhar para ele. A senhora Kowki termina o bolo e eu e Perry vamos para a cama, antes dos outros chegarem. 

O aniversário de Rose é a coisa mais engraçada que acontece desde que eu entrei nesse lugar. Em primeiro lugar, porque tudo dá errado. Os balões que Chris enche estão todos estourados por alguma razão, Dover acorda chorando e totalmente depressivo de dar pena e chove demais lá fora. Depois, Rose não pode andar de bicicleta -que era o seu presente -porque está CAINDO O CÉU lá fora, e parece que todo mundo acordou de mal humor. 

Não que isso deixe Rose menos feliz, porque ela está extasiada, sorrindo pra todo mundo e todo mundo está fazendo o esforço de ser legal com ela porque ela está um ano mais velha. Eu e Kristin levamos ela pro nosso quarto e brincamos de Barbie humana com ela (fazendo sua maquiagem e tentando penteados legais) e depois Danny e ela entram em uma acirrada competição de xadrez e ela ganha. Não acho que ele perdeu de propósito, porque ele está meio avoado e preocupado com o humor do irmão, e Rose fica feliz. 

A única parte boa é a do bolo. 

-Quem vai ficar com o primeiro pedaço? -Kristin pergunta. Estamos todo ao redor da mesa e cantamos parabéns para ele, seguido pelo sopro da vela. Rose dá de ombros. 

-Eu. -Todo mundo ri. 

-Depois? 

-A senhora Kowki. -Ela dá um pedaço, sorrindo para a mulher. -Chris. -Ela diz e meu coração aperta um pouquinho. Pai e filha. Quem diria. -O.K. Dover, esse é pra você. -Ele dá um sorrisinho, mesmo que pareça meio fora desse planeta. -Emerson. -Ela dá e eu fico surpresa. Ela sorri como uma criança e eu resisto a vontade de dar um abraço nela. Rose me lembra Mack. Depois, continua entregando e nós, comendo. Finalmente, todos estão sentados  e de barriga cheia. 

Quase. Não dá pra não querer mais o bolo.

-Perry, Emerson, vocês estão de parabéns. -A senhora Kowki diz. Perry e eu trocamos um olhar. É meio automático. Depois, olhamos para ela. 

-Obrigado. -Ele diz, na mesma hora que eu digo "obrigada". 

-Formam uma boa equipe. -Pausa. Por que ela está dizendo isso? Ninguém de nós responde, e cai um silêncio inconfortável. Kristin começa a falar sobre alguma coisa, porque percebe que eu estou sem graça com tudo isso e as coisas passam para outro assunto. Depois, nós juntamos na sala para ver um filme. 

-Terror. -Danny diz. 

-De jeito nenhum. -Eu replico. 

-Comédia romântica? 

-Não acho que seja da idade de Rose. 

-Qual é, ela tem TREZE ANOS. -Rose parece bem feliz quando Perry diz isso.

-Vocês acham que ela quer ver o quê, My Little Pony? 

-Barbie?

-Polly? -Todo mundo olha para Rose, esperando que ela escolha. 

-High School Musical? -Alguém adiciona, e então a gente explode em risadas, o mal humor de hoje cedo desaparecendo. 

-Parem de zoar da minha cara. -Rose diz, depois tira o cabelo da frente do rosto. -Quero ver 007.

-007? Qual? -Dover pergunta, confuso. 

-Não sei, Cassino Royale. -Ela diz, do nada. 

-Sério? O do Cassino? -Tem... mulheres nele. Mas Rose com certeza já deve saber dessas coisas. Ninguém fala nada. Até Chris abrir a boca. 

-O.K. -Me surpreende ele ter o filme e deixar sua filha ver, mas bota para nós e começamos a assistir. 

Sei que durmo porque, quando sou acordada, não estou nem mais na sala. Estou na minha cama. E quem me acordou foi Liana. A chuva parou e está super escuro. Olho o relógio. Duas da manhã. 

-Liana? -Ela nunca fala comigo fora das caminhas matinais. Tem algo errado. 

-Preciso da sua ajuda. 

-O quê? 

-Preciso que você me leve pra algum lugar. 

-A essa hora? -Ela quer ir pro meio do mato se matar, por acaso? Melhor não perguntar. 

-É meu marido. Ele quer que eu me encontre com ele, acabou de aterrissar. 

-Como você sabe? 

-Por que ele me ligou antes e disse que aterrissaria aqui agora. Me deu um endereço. -O marido dela? Aquele que a largou?

-O que ele quer?

-Conversar.... -Ela sussurra. -Acho que quer voltar comigo. E eu estou mais magra. Vai dar certo. 

-Não acho que é uma boa ideia. 

-Por favor.

-Isso é loucura. Por que eu?

-Porque eu confio em você. Você só tem que me levar até o final da estrada, e eu ligo para um táxi. 

-Liana, eu vou estar ferrada se descobrirem. 

-Eu sou maior de idade. Não podem me prender aqui se eu não quero. E eu estou bem mentalmente. Não sou maluca ou não tenho consciência do que eu estou fazendo. 

-Por que seu marido não vem aqui?

-Ele não quer.

-E você tem que ir lá?

-Emerson, por favor. -Ela está desesperada. Mesmo. Então eu pulo fora da cama. Conseguir as chaves é bem fácil porque estão no balcão e a porta está aberta. Tento não fazer barulho, mas meu coração é alto o suficiente pra acordar a casa inteira. Adrenalina corre nas minhas veias.

-Eu estou ferrada. -Conto pra Liana, quando saímos.

-Posso explicar para eles depois que foi por uma boa causa. Eles vão me entender. -Entramos no carro. Me sinto tão mal por estar entrando aqui sem permissão de Chris que me assusta. Pelo menos ninguém acordou. 

Assim que caímos na estrada, Liana respira fundo e eu percebo que ela está usando salto alto e um vestidinho vermelho. Pronta pra arrasar. Acho que esse é o plano pra conquistar seu marido de novo. e pessoalmente, acho que vai conseguir. 

-Obrigada, querida. Muito obrigada. -Ela diz. Estou surpresa por ela não se sentir acanhada em pedir ajuda para uma adolescente com metade da sua idade, mas ela não está mesmo nem aí. O medo e adrenalina passam conforma vou levando-a para o final da estrada, e quando ela chega, me dá um abraço. 

-Você vai ficar bem? 

-Sim, vou chamar um táxi. Não se preocupe, vou falar com Chris quando voltar.

-Vai voltar?

-Claro, é só uma noite. Obrigada.

-Sem problema. -Digo, embora sei que eu estou CHEIA DE PROBLEMAS por causa disso. Chris vai me matar. Oh, não! Eles podem me expulsar? Será? Por que eu não pensei nessas coisas antes? Ugh. Ugh, ugh, ugh.

Volto pra estrada com a velocidade acelerada e pensando porque fui tão idiota a ponto de concordar com isso. No que eu estava pensando? Só pra ajudar Liana? Não. Aghhhhhhh. Vão me matar. Me mandar pro hospício, porque é onde mandam as pessoas que não podem ficar aqui. Quase começo a chorar. 

E então, a tragédia acontece. No meio do caminho, da quase escuridão, apenas cortada pela luz da frente do carro, aparece um vulto. Eu freio, mas dá pra ver que bati no  que quer que seja. 

Oh oh. 

Me inclino para frente, assustada e com o coração na mão. 

Acabei de atropelar uma vaca. 


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Notas finais do capítulo

GENTE O PROXIMO CAPITULO HE
HE
HE
ESPEREM CENAS PERRY+EMERSON
CENAS FOFAS
VCS N TEM NOÇÃO DO QUE EU TENHO PREPARADO
TCHAU