A sala mal iluminada e fria era ocupada apenas por uma mulher sentada em uma majestosa poltrona em frente à lareira, um livro pesado em uma das mãos e uma xícara na outra. Ela bebericou o chá e o colocou na mesinha redonda de ferro escuro retorcido ao seu lado, sem tirar os olhos do livro de capa de couro preta. Ela só desviou o olhar quando a grande porta dupla no outro lado da sala se abriu revelando uma criatura pequena e encurvada seguida por uma mulher com um bebê de alguns meses sentado em seu braço, chupando o dedo e olhando curioso ao redor.

– Bella! Preciso de um favor. – A mulher loira disse se adiantando para a irmã, passando sem nem notar o elfo fazendo uma reverencia aos seus pés e se retirando.

– O que?

– Lucius me pediu um favor. Tenho que encontrar alguém na Travessa do Tranco e...

– Você quer que eu vá? – Bellatrix perguntou se levantando da poltrona.

– Não. – Narcissa balançou negativamente a cabeça. – Não. Ele disse que tem que ser eu. Preciso pegar alguma coisa que o Lorde das Trevas pediu.

– Eu posso fazer isso! – A mais velha exclamou, um brilho passando rápido pelos seus olhos.

– Lucius disse que tem que ser eu. – Narcissa balançou outra vez a cabeça, os longos cabelos dançando em suas costas.

– Você não tem a marca. – Bella argumentou, levando inconscientemente a mão ao antebraço esquerdo e estreitando um pouco os olhos.

– Eu sei. Mas ele já disse para o bruxo que eu que iria buscar. Ele me descreveu. Você não parece comigo.

– O que você quer? – Bellatrix se sentou novamente, um leve tom de impaciência surgia na sua voz.

– Não posso levar o Draco.

Bellatrix levantou as sobrancelhas olhando para irmã, parda em pé ao seu lado, Draco ainda com a mão na boca em seu braço.

– Você tem elfos.

– Não confio neles com o bebê.

–Você confia em mim com o bebê?

– Sim.

– Cissy, eu nem conheço ele direito. – Falou olhando, mesmo sentada, de cima para baixo para Draco.

– Devia. Ele é seu sobrinho.

– Narcissa...

–Por favor! Eu estou atrasada! Não tem mais ninguém com quem eu posso deixá-lo.

– MacNair.

– MacNair gosta de decapitar animais. – Narcissa revirou os olhos.

– Dolohov.

– Não sabe cuidar nem dele mesmo.

– Snape.

– Ele colocaria o Draco dentro de uma poção.

– Rosier.

– Bella!

– Narcissa!

– Por favor!

– Eu não sei cuidar de crianças. – Respondeu secamente.

– Ok. Então vou pedir para a Andromeda. – Narcissa riu minimamente e se virou em direção à porta.

– Não mencione aquela traidora do sangue! – Bellatrix berrou se levantando de um pulo.

Narcissa se virou sorrindo para a irmã mais velha.

– Vai ficar com o Draco?

– Ok, Narcissa! Eu fico com ele! – Respondeu impaciente e irritada.

– Ótimo. Tem uns brinquedos para ele aqui dentro. – Falou tirando um pequeno saquinho roxo de dentro das vestes e colocando na mesinha, ao lado da xícara de chá, já quase vazia. – Tem fraldas ai dentro também.

– Fraldas? – Bella perguntou fazendo careta.

– É. Ele usa.

– Narcissa... – Bellatrix falou levando a mão a cabeça.

– Eu tenho que ir. Toma ele aqui. – Falou entregando o filho para a irmã.

Bellatrix hesitou por alguns segundos antes de pegar o menino por baixos dos braços e segura-lo longe do corpo.

– Ele não vai te morder, Bella. – Narcissa falou mordendo os lábios para não rir.

– Vai logo antes que eu me arrependa.

Narcissa beijou a cabeça do filho, que balançava as pernas no ar e acenando para a irmã, saiu.

Bellatrix ficou por um bom tempo parada no meio da sala, sem se mexer desde que havia pegado o sobrinho, que ria um pouco para ela. Os dois viraram ao mesmo tempo a cabeça quando mais uma vez a porta de abriu.

– O que você está fazendo? – Rodolphus perguntou olhando a cena.

– Cissy deixou ele aqui. – Falou acenado pesadamente com a cabeça em direção ao menino.

– E você vai ficar assim até ela voltar?

A morena entortou a boca e se abaixando devagar colocou o menino sentado no chão.

– Aonde você vai? – Ela perguntou ao ver a capa pesada pendurada no braço do marido.

– Encontrar com o Karkaroff.

– Não vai me deixar sozinha aqui com ele! – Falou apontando para o menino no chão.

– Igor está me esperando.

– Ele que espere.

– Bella...

– Você não vai! – Falou sacando rápido a varinha e apontando para Rodolphus.

– Eu preciso ir! – Ele respondeu, a mão a meio caminho da própria varinha.

– Ah! Não vai, não! – A mulher gritou, faíscas vermelhas voando da ponta da varinha.

Draco gritou alegre e tentou pegar as faíscas com a mão.

– Já sabe como o distrair, Bella. Eu preciso ir.

Ele se aproveitou da distração momentânea da mulher, que virou a cabeça para o menino, e saiu quase correndo da sala.

– Abby! – Ela berrou nervosa quando notou a ausência do marido.

Menos de trinta segundos depois o mesmo pequeno elfo que havia trazido Narcissa até a sala apareceu ao lado de Bellatrix.

– Porque demorou tanto?

– Desculpe, senhora. Abby estava...

As ultimas palavras do elfo, no entanto foram ofuscadas pelo tapa que Bella deu na lateral da cabeça do elfo, fazendo-o cair.

– Levanta logo e cuide do bebê!

– Sim, senhora.

Ela se sentou outra vez na poltrona e pegou o livro, enquanto Abby se sentou ao lado de Draco no chão. Menos de cinco minutos haviam se passado quando o menino começou a chorar alto.

– Abby!

– Abby não fez nada, senhora. Abby estava apenas distraindo o bebê e ele começou a chorar. Abby não teve culpa, senhora! – O elfo tentou se explicar, esfregando nervosamente as mãos.

– Sai daqui elfo imprestável! Vou falar para o MacNair cortar sua cabeça e vou levar para O Largo Grimmauld – Falou mais uma vez batendo forte na criatura, que saiu rapidamente da sala no mesmo momento que Bellatrix se abaixava para pegar Draco no colo. – E você está chorando por quê? – Acrescentou rispidamente olhando para o menino, agora devidamente seguro em seu colo.

Ele continuou a chorar, cada vez mais alto, ficando mais e mais vermelho, o rosto mais molhado, causando uma expressão de repulsa no rosto da tia. Ele só parou alguns minutos depois quando ela pegou um brinquedo de dentro do saquinho que Narcissa havia deixado e começou a chacoalhar na frente da criança.

– Eu vou matar a Narcissa. – Ela resmungou olhando para o garoto, mais calmo, mas com o rosto ainda todo molhado no seu colo. – Nunca mais fico com você.

Draco riu para ela, mordendo a orelha do centauro de pelúcia em suas mãos. Em um movimento rápido ele se inclinou, largou o brinquedo no chão e enroscou as duas mãos nos cabelos cheios da mulher.

– Merlin! Me larga! – Exclamou tentando segurar as mãos dele que se mexiam rapidamente dentro de seus cabelos. – Merlin!

Bellatrix pegou a varinha e apontou para Draco, no mesmo segundo as duas mãos do menino se juntaram, como se presas por uma corda. Ele olhou das mãos para a varinha e depois para a tia, que o sentou na poltrona do lado da sua.

– Agora fica quieto ai. Para de bater os pés! E não chora! – Ela olhou para baixo, abaixando as pálpebras pesadas e erguendo o queixo para olhar para o menino, que não parou de bater os pés pequenos na poltrona, causando um leve tum tum tum incessante.

Bella apontou mais uma vez a varinha para ele e segundos depois sorriu satisfeita e se sentou novamente no seu lugar. Voltando para seu livro e seu chá.

Narcissa volto cerca de uma hora depois, o rosto ligeiramente vermelho e suado. Ela entrou rápido na sala e parou em frente às duas poltronas, olhando do filho, com os pés e mãos juntos e a boca bem fechada, para a irmã.

– O que você fez, Bellatrix?! – Perguntou em voz alta, acenando a varinha para o filho, o soltando e pegando-o no colo.

– Fiz ele ficar quieto. Depois de ensino como. Agora leva ele embora daqui. – Falou colocando a mão nas costas da irmã e meio empurrando, meio encaminhando-a a porta. – E não volte tão cedo. – Completou colocando Narcissa e Draco no hall grande que antecedia a sala e fechando a porta.