A noite estava clara e fresca no jardim d'A Toca. Já era tarde e Hermione e Gina estavam sentadas na escada que levava ao jardim dos fundos, conversando em voz baixa para não acordar os que já estavam dormindo.

– Vai ser estranho. - Hermione falou.

– É. Não consigo imaginar como Hogwarts vai estar.

– Muita gente não vai estar lá.

– Não acho que vai ser um ano muito alegre.

– Nunca fui para lá sem o Harry e o Ron.

– Sinceramente... - Gina falou suspirando. - Eu queria que eles fossem.

– Eu também. Mas já desisti de tentar convencer o Ron. Mas eu entendo... Ele não vai deixar o George sozinho na loja.

– Até porque se ninguém "forçar", George não vai voltar para a loja.

– Vai ser um ano estranho.

– O que vocês duas estão fazendo aqui? - Um ruivo alto de pijama apareceu na porta da cozinha.

– Conversando. - Hermione respondeu inclinando a cabeça para trás para falar com o namorado.

– A mamãe está louca atrás de vocês duas.

– Por quê? - Gina perguntou.

– Você sabe por que. - O irmão respondeu olhando para o chão.

A verdade é que desde a morte de Fred, Molly Weasley não suportava e quase se desesperava em não saber onde todos estavam nem que fosse por cinco minutos. Queria todos perto dela. Talvez para ter certeza absoluta de que todos estavam bem, talvez para não se sentir tão sozinha.

– Tudo bem, nós vamos entrar. - Gina respondeu se levantando.

As duas entraram na casa junto com Ron. Harry e a Sra. Weasley estavam sentados na mesa da cozinha tomando uma xicara de chá.

– Onde vocês duas estavam?

– Lá fora, mãe.

– Já está tarde. Melhor vocês irem dormir para não nos atrasarmos amanhã.

– Tudo bem. Estou com sono mesmo. - Gina disse e como se quisesse provar bocejou na mesma hora. - Você também vem, Hermione?

– Vou.

– Vou subir com vocês também. - Ron disse.

Os três subiram as escadas até o andar do quarto de Gina, que antes de sair da cozinha deu um beijo em Harry. A ruiva entrou no quarto deixando Ron e Hermione no patamar em frente à porta.

– Você não vem mesmo? - Ela perguntou já sabendo e intimamente concordando com a resposta.

– Não. - Ele disse passando a mão pelo rosto dela. - Eu queria ficar com você o ano todo, mas não vou, Hermione. Eu não posso ir.

– Eu sei. - Ela respondeu respirando fundo. - Vai ser muito estranho não ter você e o Harry em Hogwarts comigo.

– Você vai ficar até melhor sem a gente. Menos trabalhos de poção para corrigir.

Ela riu baixo e dando um beijo nele entrou no quarto.

– Tentando convencer o Ron a ir para Hogwarts?

– Não convencer. Só confirmar que ele não vai mesmo.

– Nossa! Quer tanto assim ele longe de você?

– Claro! Não suporto o Ron! - A morena respondeu sorrindo.

A manhã mal tinha começado quando a senhora Weasley bateu na porta do quarto de Gina.

– Acordem! Não quero aquela correria de sempre.

Hermione e Gina se levantaram lentamente e levaram mais tempo que o normal para se arrumarem. Desceram para a cozinha quase meia hora depois e encontraram Molly sentada à mesa cheia de pães e bolo.

– Bom dia. - Ela deu um sorriso fraco e rápido. - Estão animadas?

– Para falar a verdade, mãe, não.

Harry e Ron desceram uns quinze minutos depois e se sentaram na frente de Gina e Hermione. Apesar da correria tradicional A Toca estava anormalmente quieta para uma manhã de retorno a Hogwarts. Hermione, Gina, Harry, Ron e Molly saíram de casa em silêncio e assim chegaram a King's Cross.

A viagem até Hogwarts também foi muito mais calma e silenciosa do que o normal. Era tudo muito recente. Muitos tinham sido afetados. É claro que a alegria, a felicidade de ter um mundo livre de Voldemort e seus Comensais ainda viria, mas o pesar ainda era grande. Sem contar a apreensão em não saber o que encontrariam na escola. A última vez que a maioria dos estudantes vira Hogwarts ela estava em ruinas.

Gina, Hermione e Luna, que tinha encontrado as amigas já dentro do trem, desceram na pequena estação de Hogsmead e logo avistaram Hagrid chamando pelos alunos do primeiro ano.

– Oi, Hagrid! - Hermione disse o abraçando.

– Olá, meninas. Como vão as coisas? - Perguntou com um sorriso não tão alegre.

Gina lhe lançou um fraco e rápido sorriso e deu de ombros.

– É, eu sei. - Ele disse baixinho. - Vai ser um ano... Interessante.

– É. - Hermione comentou tristemente, abaixando um pouco os olhos. - Bom... Mas todos os anos que tive aqui foram interessantes, então não vai ser muito diferente.

Os alunos do primeiro ano começaram a se aglomerar em frente a Hagrid. As três mulheres se dirigiram as carruagens.

– Hum... Então é assim que são os testralios. - Gina disse se aproximando de um.

– Ah! Eles são fascinantes! - Luna exclamou em seu típico tom de voz sonhador.

– São realmente... interessantes. - Hermione falou suspirando.

Elas entraram em uma das carruagens e em alguns minutos conseguiram ver Hogwarts. O terreno estava muito mais limpo do que estava quando a deixaram pela ultima vez. Não havia mais destroços por todos os lados. Muito menos corpos. Mas ainda havia algumas pequenas torres em ruinas. Hogwarts, assim como todo o mundo bruxo, ainda não tinha se curado completamente.

Havia mais alunos para serem selecionados do que normalmente. Nascidos trouxas que tinham sido impedidos de ingressar na escola no ano anterior, devido às leis em favor dos sangues-puros, tinham sido convocados outra vez. Eles pareciam ser o que mantinha a normalidade da noite: assustados e fascinados ao mesmo tempo.

No final do banquete de abertura do ano Minerva, agora finalmente a diretora, se levantou calando os murmúrios por todo o salão. Seu discurso foi não muito longo, mas conseguiu incluir desculpas a novos alunos nascidos trouxas que deveriam ter ingressado no ano anterior, uma breve homenagem a todos que lutaram na batalha e um minuto de silêncio aos mortos.

– Acha que as coisas vão voltar ao normal ainda esse ano? – Hermione perguntou já no dormitório da Grifinória tarde da noite.

– Acho que as coisas nunca vão voltar ao normal. – As duas responderam juntas e deram um pequeno sorriso.

– Mas se você pensar bem, nosso normal não era nada bom. – Gina disse levantando a sobrancelha.

– É. Tem razão. Então... bom... acho que temos que achar um jeito de tornar tudo melhor do que era o “normal”.

– Isso não vai ser tão difícil. Afinal não tem mais Voldemort por ai.

– É. Nós vamos conseguir.