Coloquei um vestido florido e minha jaqueta jeans. Meus cabelos estavam presos em um coque porque não tinha tido tempo de os pentear. Eu não estava com frio, mas meus braços me tomavam inteira em um abraço e eu fazia carinho em mim mesma. Caminhei de cabeça baixa até a praia. O sol estava se pondo, lindo como sempre. Era triste como o sol continuava lindo, nos meus dias felizes e nos meus dias tristes. Me senti um pouco egoísta com meu pensamento, mas eu realmente queria que o sol sentisse a minha dor e se guardasse, pelo menos por aquele dia. Mas aquele podia ser um dia feliz para alguém e eu não tinha o direito de exigir isso.

- Imaginei que ia te encontrar aqui – a voz de Aaron soava como meu refrão favorito.

Me virei e antes que pudesse começar com qualquer desculpa, ele me puxou para os seus braços. Aproveitei o abraço por alguns segundos mas logo me dei conta que talvez ele soubesse o que aconteceu e me senti envergonhada. Me soltei dele e olhei em seus olhos:

- Você sabe? – sussurrei

- Eu sei como são problemas familiares – ele disse com um sorriso calmo – Sou um expert.

Eu sorri.

 - Você quer – ele parecia assustado. Com medo de falar algo errado – Você quer chorar?

- Já fiz isso o suficiente – eu disse, me sentando nas pedras. Ele se sentou ao meu lado e colocou sua mão sobre a minha.

- Você quer falar sobre outra coisa? Ou talvez assistir algo? Comer algo?

- Quero ficar quieta – eu disse, um pouco seca demais.

- Ok.

Esse era o momento em que você espera que o garoto se levante ofendido e nunca mais retorne suas ligações. Mas ele acariciou minha mão e ficou ali, três horas sentado comigo. Sem dizer nenhuma palavra. TRÊS HORAS. Uau, eu devia beijar muito bem para valer esse sacrifício!

- Está escurecendo Emma – Aaron disse depois de um tempo, tentando não me tirar do meu momento – Sei que você quer ficar, mas seus pais...

- Claro – eu disse e me levantei.

Nós andamos por poucos segundos sobre as pedrinhas barulhentas até eu esticar meu braço e pegar em sua mão. Nós entrelaçamos nossos dedos e eu encostei meu rosto um pouco abaixo de seu ombro. Ele beijou minha testa e nós continuamos caminhando até em casa, falando somente o necessário.

***

- Emma – a voz fina estava do meu lado. Ou talvez estivesse nos meus sonhos, eu não tenho certeza – Emma.

Abri meus olhos e encontrei Lizzie deitada na minha cama, me encarando.

- Sim?

- Eu quero ir para a casa da vovó.

Eu estava sonolenta demais para levar qualquer coisa que Lizzie falasse a sério.

- Ok, nós conversamos sobre isso amanhã.

- Não – ela disse, seca – Eu preciso ir para a casa da vovó.

Me sentei e fiquei séria por um momento.

- Esse garoto, ele não está te ameaçando ou...

- Não Emma, credo, é claro que não. Eu só quero um tempo desse lugar.

- Esse lugar é nosso lar. E costumava ser ótimo. – disse, voltando a me deitar.

- Quer saber – Lizzie se levantou e foi difícil encontrar sua sombra no escuro – Você é como eles. Queria que eu te contasse as coisas mas fica ai, sendo a pior irmã do mundo. Quando você ia me contar que tem um namorado?

Me sentei novamente.

- Eu não tenho um...

- Um inferno – Lizzie sussurrou enquanto balançava os braços.

- Quando você começou a falar assim comigo garota? – Senti meu sangue ferver – Não sou sua mãe, mas você me deve respeito. Eu nunca fiz nada que te desse o direito de não me respeitar.

Lizzie sugou o ar por um momento e fez o que eu mais temia. Chorou.

- Por favor – ela dizia em meio aos soluços – Eu não quero mais ficar aqui. Não até as aulas voltarem. Só são duas semanas.

Então eu me levantei e comecei a arrumar as malas.