PDV BELLA

Acordei apenas no dia seguinte, havia dormido mal durante a noite, pois as lembranças me perseguiram até em meus sonhos. Sentia meu rosto inchado pelo choro, minha garganta seca e meus olhos deviam estar vermelhos. Mas nada disso era pior do que o peso que sentia em meu coração, do que essa tristeza que se abatia sobre mim nesse momento.

Obriguei-me a sentar na cama e levantar, foi uma tarefa difícil, pois cada músculo do meu corpo parecia entorpecido. Caminhei em passos lentos, praticamente me arrastando até minha penteadeira, pude então encarar a minha imagem no espelho.

Eu estava pior do que pensava, meu olhar estava baixo mesmo eu encarando o espelho a minha frente, a maquiagem de ontem estava toda borrada pelas lágrimas já secas, e meu rosto parecia um pouco inchado. Eu suspirei pesadamente e pesarosamente para o meu reflexo abatido.

Charlie. O pensamento me ocorreu, ele ainda não havia me procurado para saber de ontem e provavelmente estaria esperando algumas explicações hoje. Eu não me sentia em condições de mentir mais ainda para ele, provavelmente diria toda a verdade se ele insistisse no assunto.

A verdade. Gemi com o pensamento, não era uma boa ideia confessar a verdade para meu pai, ele não entenderia e para piorar, ficaria ainda mais preocupado comigo, eu não suportaria encarar seu olhar, nem hoje nem nunca mais, se ele descobrisse a verdade.

Eu mesma havia me colocado nessa situação, primeiro mentindo para meu pai, depois para Edward, alguma hora isso teria que se tornar insustentável, mas eu não esperava que fosse logo agora, mentir estava me arruinando, mas era a única saída que eu enxergava desde aquele dia...

Lembro-me perfeitamente...

Flashe Back On:

Eu estava especialmente feliz aquele dia, era uma felicidade simples, eu tinha nove anos e como toda criança fiquei animada com um passeio. Havia passado metade do verão praticamente sem fazer passeios e estava ansiosa para conhecer a Veneza, mas papai não queria que eu ficasse passeando por ai sem ele, estava preocupado, aliás, como sempre.

__Já podemos ir papai?__ Perguntei ansiosa, ele riu.

__Podemos sim.__ Ele anunciou e eu sorri largamente.

O reboquei do nosso quarto no hotel para o elevador, esperei impaciente até estarmos no térreo, papai ria da minha pressa e pedia calma. Só me acalmei quando entramos no carro, papai deu o endereço ao motorista e me ajudou com o cinto de segurança, colocando o seu depois. O carro logo estava acelerando.

Estávamos indo visitar os Cullens em sua casa de campo, eu ainda não sabia quem eram os Cullens, mas papai falava com entusiasmo sobre eles e eu estava louca para conhecê-los.

__Já chegamos?__ Perguntei pelo décima vez durante o trajeto.

__Quase.__ E papai voltava a repetir o mesmo, sempre com a maior paciência.

Depois de mais uma tentativa e de receber a mesma resposta eu tentei me acomodar no banco e ficar quieta, esperava que o tempo passasse mais rápido, então fiquei apenas olhando pela janela acompanhando com os olhos os intermináveis vinhedos, as plantações comerciais e familiares se estendiam até perder de vista.

Entretive-me em observar as cores, eram tantas. Depois de um tempo eu finalmente obtive a resposta que esperava.

__Chegamos.__ Papai disse finalmente.

O motorista parou em frente a uma linda casa de campo dentro de uma propriedade muita bem cuidada, a minha ansiedade apenas aumentou com a expectativa de conhecer as pessoas de quem tanto ouvi falar.

Assim que o motorista abriu a porta papai me ajudou a tirar o cinto, ele saiu primeiro e eu fui logo em seguida. A claridade do lado de fora me deixou encantada, eu adorava o calor, e tudo era tão verde ali, era praticamente uma visão maravilhosa depois de dias enfurnada no hotel.

Era tudo tão amplo. Quando percebi papai já estava se adiantando, eu o acompanhei até a entrada, não foi preciso tocar a campainha, coincidentemente alguém estava saindo pela porta.

__Charlie.__ Uma mulher de sorriso caloroso o saudou.

__Esme.__ Papai disse a cumprimentando, o olhar da mulher veio até mim.

__A sua filha?__ Ela indagou.

__Sim. Bella, essa é Esme.__ Charlie nos apresentou.

__Prazer.__ Sorri tímida.

__Digo o mesmo querida, mas entrem, por favor.__ Ela convidou.

Fiquei observando o lado de dentro enquanto os dois conversavam, mas eu também ouvia a conversa.

__Aproveitei que estava na cidade e vim vê-los.__ Charlie iniciou.

__É uma pena que nem todos estejam aqui, Carlisle acabou de sair, foi à cidade, e meu filho Edward está cavalgando.__ Ela parecia lamentar não tê-los todos ali naquele momento.

__Teremos outras oportunidades de estarmos todos juntos.__ Papai a confortou.

__Claro, claro.__ Ela sorriu.

__MÃE!__ Um chamado ao longe interrompeu a conversa.

A essa altura já estávamos os três na sala, papai e Esme sentados e conversando enquanto eu continuava a olhar tudo com curiosidade, principalmente a parede repleta de fotos de toda a família.

Olhei para a entrada instantaneamente juntamente com Charlie e Esme, pela porta apareceram duas crianças aparentemente da minha idade e carrancudas, um menino e uma menina.

__Mãe, o Emmett escondeu a minha boneca.__ A menina, que era muito menor que o menino, reclamou.

__Eu não.__ O menino negou.

__Ei, temos visitas.__ Esme os advertiu, mas seu tom era brando.

__Não há problemas Esme.__ Papai riu simpático para os dois, que deixaram de lado a antiga briga.

__Quem é ele mamãe?__ A menina perguntou.

__Esse é Charlie, um amigo da família, ele veio nos visitar juntamente com sua filha.__ Esme disse nos indicando, só então as duas crianças me notaram.

__Oi.__ A menina veio até mim sorrindo, ela parecia uma fadinha.

__Bella, esses são Emmett e Alice.__ Esme nos apresentou com um sorriso doce.

__Prazer.__ Repeti novamente tímida.

__Por que não vão brincar um pouco?__ Esme sugeriu.

__Tá legal.__ Respondemos os três, ri levemente da coincidência.

Deixamos os adultos conversando na sala e seguimos para o lado de fora, para o gramado verde, Emmett se sentou no chão assim que paramos.

__Ai, Emmett, você vai sujar sua roupa.__ Alice fez careta, ele deu de ombros.

__O quê que tem?__ Ele indagou.

__Meninos.__ Alice revirou os olhos e em seguida me encarou.__ Ignore meu irmão, Bella.

__Não me importo.__ Disse me sentando no gramado como Emmett.

__Finalmente alguém menos fresca que essa daí.__ Ele disse.

__Não enche Emmett.__ Alice revirou os olhos.

__Por que vocês estavam brigando a pouco?__ Perguntei.

__Ele escondeu a minha boneca.__ Alice bufou.

__Se ele disse que não escondeu você devia dar pelo menos um voto de confiança para ele.__ Falei.

__Eu menti.__ Emmett sussurrou pra mim, eu fiquei sem graça.

__Bella é seu nome de verdade ou é apelido?__ Alice indagou curiosa.

__Apelido, meu nome de verdade é Isabella.__ Esclareci.

__Isabella é bonito, por que usa um apelido então?__ Alice insistiu.

Pensei bem antes de responder, apenas alguns segundos enquanto encolhia minhas pernas trazendo-as para mais perto do meu corpo.

__Minha mãe.__ Disse simplesmente, ela sempre me chamou assim até onde eu me lembrava dela.

__Por que ela não veio com vocês?__ Emmett se manifestou, me encolhi mais ainda com a pergunta.

__Ela morreu.__ Soltei de uma vez com um longo suspiro, aquele assunto me deixava triste, eu quase não lembrava dela.

__Ah, foi mal a pergunta.__ Emmett disse parecendo arrependido.

__Tudo bem, você não sabia.__ Falei.

__Quer brincar, Bella?__ Alice trocou de assunto, eu a encarei.

__De boneca não, por favor.__ Emmett fez uma imploração engraçada, eu ri.

__De outra coisa então.__ Disse revezando olhares entre os dois.

__Esconde-esconde.__ Alice falou pulando no lugar.

__Você sempre trapaceia nesse.__ Emmett falou em tom aborrecido.

__Eu não.__ Ela fez bico.

__Esconde-esconde está bom.__ Eu intervi.

__Então o Emmett procura primeiro.__ Alice sugeriu.

Nós concordamos, Alice e eu fomos nos esconder, eu estava radiante, raramente tinha companhia pra brincar, já que não tinha irmãos. Corri para me esconder atrás de uma cerca viva, me agachei e encostei-me na murada de arbustos.

Do nada eu senti uma tontura, respirei fundo sentando completamente no chão e ficando com as costas apoiadas na murada, minha visão ficou meio turva e eu me senti fraca.

Sentia que poderia desmaiar ali mesmo, eu estava um pouco distante da casa para conseguir chamar alguém, o que me obrigou a tentar ficar consciente. Eu já havia sentido isso antes, e sabia o que vinha a seguir.

Levei uma de minhas mãos já trêmulas até o meu tórax, sentia um pequeno ponto inchado, era um linfonodo (ou íngua) que havia aumentado subitamente de tamanho, era indolor, mas quando aparecia um desses eu acabava passando mal.

__Te achei!__ Emmett comemorou, sua voz soou um pouco distante pra mim.__ Uê, você não parece bem.

__Não estou.__ Falei com a voz estrangulada, ele se agachou ao meu lado me olhando preocupado.

__Alice!__ Ele chamou.

__O que foi?__ Ela saiu de seu esconderijo e surgiu ao nosso lado carrancuda, logo percebendo meu estado.

__A Bella não tá bem.__ Emmett disse para a irmã.

__Eu vou chamar a mamãe.__ Ela disse e saiu correndo.

Ficamos apenas eu e Emmett novamente, ele se sentou ao meu lado e tentou em amparar enquanto a irmã não voltava com ajuda. Minha vista começou a pesar e eu me sentia a beira da inconsciência.

Passaram-se alguns minutos, eu não tinha uma noção muito boa de tempo, mas logo senti a aproximação de pessoas e um toque em meu rosto.

__Bella!__ Era a voz de papai e parecia alarmado.

Depois disso eu apaguei.

Flashe Back off

Depois de apagar eu acordei apenas no dia seguinte no hospital, papai ficou extremamente preocupado e angustiado com o ocorrido. Foi logo em seguida que eu compreendi que isso o fazia triste, então tentei evitar ao máximo deixa-lo preocupado, e foi assim que eu comecei a mentir.

Suspirei cansada olhando para o meu reflexo no espelho e me encaminhei para o banheiro, estava precisando tomar um bom banho se iria encarar Charlie daqui a pouco.