PDV NESSIE

Senti o clima tenso logo após minha tia sair, mas mesmo assim resolvi ignorar, peguei uma maçã na mesa e dei meia volta indo para o meu quarto. Assim que entrei, fechei a porta e me joguei na cama. Comecei a comer a maçã enquanto divagava.

Eu havia tido algumas seções de amassos com o Black, que era um brutamonte estúpido e que tinha feito com que eu ficasse de castigo, porque sim, era ele naquela festa disfarçado de esnobe. Aquela história de irmão gêmeo não colaria comigo nem se eu fosse míope.

Com um bufo inconformado procurei o meu celular no lugar onde eu sempre o colocava: na mesinha ao lado da minha cama. Porém tudo o que eu encontrei foi um pedaço de papel. Sentei-me na cama e olhei para o papel, era um bilhete.

“Seu celular, computador e cartões de crédito foram confiscados. Você ficará sem eles por tempo indeterminado e seus primos já foram advertidos para não te emprestarem nada disso.”

Eu não acreditei no que o bilhete dizia, então levantei imediatamente jogando o resto da maçã na lixeira e comecei a procurar minhas coisas. O computador não estava na escrivaninha e os meus cartões de créditos sumiram da minha bolsa, até mesmo o reserva. Eu revirei o quarto todo, mas não encontrei nenhum deles.

Desabei na cama ao final, estarrecida e irritada. Quando a minha tia havia feito isso? Eu não podia acreditar que ela levou o castigo mesmo à sério. Como eu iria sobreviver sem celular? Uma garota precisa falar com as amigas, não precisa? E o que dizer da internet? Era essencial para a minha vida. E eu nem mesmo podia fazer uma terapia de compras para tentar esquecer tudo isso.

Maravilha, eu estava sem amigas, sem vida social e sem grana. Agora só faltava que um meteoro caísse na minha cabeça e me matasse logo de vez.

Aquilo não era justo! Eu não merecia essa tortura! E a culpa era do Black!

Parti como um touro enfurecido escada abaixo e comecei a procurar aquele idiota. Ele iria me pagar e como ia. Eu o faria confessar a verdade para a minha tia ou o mataria, o que viesse primeiro.

Passei pela sala, pela cozinha, quase atropelei uma empregada, mas o vi no jardim através de uma janela. Pisando fundo eu fui até lá, podia até imaginar o chão afundando enquanto eu passava e minha cara não estava das melhores.

Ele estava tranquilamente recostado em uma árvore. As mãos atrás da cabeça e os olhos fechados apreciando a brisa que soprava. A visão quase me fez esquecer o que eu tinha ido fazer ali. Eu disse quase.

__Você.__ Disse entre dentes enquanto apontava um dedo para o seu peito.__ Eu estou de castigo e a culpa é sua!

Ele abriu os olhos imediatamente e me encarou como se eu estivesse louca. Ah, eu estava, louca de raiva.

__Olha, eu posso ser culpado de muita coisa, mas não faço ideia do que você está falando.__ Ele disse afastando a minha mão para o lado.

Eu serrei os punhos ao lado do corpo e o fuzilei com o olhar. Ele apenas ergueu uma sobrancelha para mim, o que me fez bufar.

__Estou falando da festa.__ Disse para ver se clareava as lembranças em sua cabeça emperrada.

__Continuo sem entender.__ Ele falou e cruzou os braços em uma atitude desafiadora.

__Ah, não se faça de esquecido. Você estava lá...__ Comecei, mas ele me interrompeu.

__Pera. Eu não estava em festa nenhuma ontem.

__Está querendo me irritar um pouco mais, não é?__ Indaguei estreitando os olhos.

__Longe de mim querer irrita-la.__ Ele falou ironicamente.

__Escuta aqui. Você me meteu nessa confusão e vai explicar pra minha tia...

__Escuta aqui você! Eu não vou fazer porcaria nenhuma, porque eu não fiz nada dessa vez!__ Ele bradou irritado.

Então aquele idiota simplesmente saiu de perto e me deu as costas.

__Cínico!__ Eu gritei para ele.

__Maluca!__ Ele devolveu antes de entrar na casa.

PDV BELLA

Esme estava sentada ao meu lado e esperava pacientemente que eu falasse alguma coisa, mas vendo que eu não sabia o que dizer ela pousou uma mão em meu ombro e tomou a inciativa de quebrar o silêncio.

__Sabe Bella, meu filho está tão confuso quando você.__ Ela começou.__ Eu conversei com ele e acompanhei tudo o que aconteceu até ontem.

Eu apenas assenti. Não tinha ideia de que ele havia contado tudo para a mãe, mas ela agora estava ali ao meu lado e provavelmente iria tentar proteger o filho. Porém, não era isso o que sua expressão demonstrava. Ela parecia terna e compreensiva, e foi isso o que mais me surpreendeu.

__Não estou aqui para discutir com você.__ Ela esclareceu.__ Achei apenas que deveria conversar com você, para tentar desfazer alguns maus entendidos entre você e o meu filho.

__Maus entendidos?__ Ponderei.__ Então ele não me odeia?

__Longe disso, Bella.__ Ela sorriu para mim.__ Edward poderia ter conversado mais com você ontem sobre isso, só que ele não teve tempo. Era muita coisa para absorver de uma vez e...

__Eu fugi.__ Completei.

__Sim, porém você teve os seus motivos para fugir, assim como ele teve os motivos dele para não ter reagido.__ Ela soltou um leve suspiro.__ Vocês interpretaram a situação cada um à sua maneira.

__Acho que nossas atitudes e escolhas nos colocaram nessa confusão.__ Admiti tanto para ela quanto para mim mesma.

__Mas não é tarde demais para vocês resolverem isso.__ Ela afirmou.

__Você acha?__ Questionei insegura.

__Eu tenho certeza.__ Ela disse se levantando e me lançou um sorriso largo.__ Você vem comigo?

PDV EDWARD

Depois que a minha mãe saiu eu resolvi ir para a biblioteca, afinal era o lugar mais tranquilo da casa e a única coisa que eu queria era um pouco de paz. Assim que adentrei o cômodo vazio e silencioso, procurei um livro qualquer entre as estantes e me sentei no grande sofá em forma de L para ler.

Entre os parágrafos das páginas eu me perdi em pensamentos e todos iam apenas para uma direção, ou melhor, para uma única pessoa: Bella. Relembrei partes da nossa conversa de ontem no jardim e tentei imaginar como foi a sua vida.

Sem a mãe e constantemente doente. Pude imaginar várias idas ao hospital e médicos indo e voltando sem uma boa notícia. Aquilo fez com que eu me perguntasse se ela tivera uma infância, amigos e momentos despreocupados.

Tentei imaginar como teria sido estar em seu lugar e rapidamente eu pude compreender porque ela havia preferido esconder a verdade de mim.

Soltei um suspiro cansado e pousei o livro ao lado, esquecendo-me dele. Então me deitei no sofá, fiquei encarando o teto até sentir que meus olhos começavam a pesar e deixei que se fechassem aos poucos até cair no sono.

Acordei com uma batida suave na porta. Esfreguei os olhos e olhei para a porta. Minha mãe havia colocado a cabeça para dentro do cômodo e me lançava um leve sorriso.

__Desculpe se acordei você, querido.__ Ela falou enquanto eu me sentava no sofá.

__Não tem problema.__ Eu disse um pouco sonolento.

__Eu só vim avisar que tem uma visita para você. Quer que eu peça para que entre?__ Ela disse e eu espantei o sono para longe.

__Claro.__ Respondi.

Ela abriu a porta e deu passagem para a pessoa entrar, fechando a porta em seguida e deixando-nos sozinhos. Eu pulei do sofá imediatamente com a surpresa.

__Bella?__ Eu quase não consegui balbuciar.