.

Hospital de Konoha.

Nuvens escuras encobriam o azul do céu. O ar trazia o cheiro da chuva, que batia levemente no vidro da janela, como se pedisse permissão para entrar. E Sakura gostava daquilo, de certa forma ouvir o barulho da chuva a acalmava, mesmo estando em um quarto de hospital vazio e chato.

Ultimamente as coisas mais simples faziam a rosada sorrir, ela sentia como se tivesse sido privada de tudo o que era belo por um longe período de tempo. Mas como poderia ter certeza já que os últimos dias eram como um borrão em sua mente?

Ela tinha lembranças de seus pais, amigos e familiares, mas todas as imagens eram como um sonho. O tipo de sonho que você acorda se perguntando se foi real ou não. E, por incrível que pareça, Sakura não se incomodava com isso. Tirando os momentos em ela sentia que seus miolos iam derreter de tanta dor de cabeça... No geral ela se sentia em paz. Literalmente. Já que algo lhe dizia que ela havia enfrentado uma grande “batalha” anteriormente.

– Bom dia – Disse sua enfermeira enquanto entrava com sua bandeja de café da manhã. – Que surpresa você já estar acordada.

– Não consegui dormir direito – Sakura confessou com um ar sonhador – Sinto que hoje o dia será diferente.

– Diferente bom ou diferente ruim?

– Não sei – A garota confessou ainda encarando a chuva que batia em sua janela. – Não sei...

.

Alguns corredores distantes dali.

O Hospital estava em seus dias normais, ou seja, movimentado. E lá estava aquela cabeleira loira, apressada e preocupada como sempre. Mas naquele dia em especial, havia levantado com um peso enorme no peito, passou a noite em claro relembrando cada detalhe do que aconteceu nas ultimas semanas e não poderia estar se sentindo mais culpado.

Era apenas o Naruto sendo o Naruto.

Andando devagar pelos corredores ele parecia perdido em pensamentos, olhando para os lados como se sentisse que ali já havia acontecido algo muito importante, e alguma coisa dentro de seu coração dizia que não deveria descobrir. Sua imaginação começou a vagar automaticamente, mas aquilo só o deixou mais pra baixo.

Com um impulso Naruto balançou a cabeça de um lado para o outro na tentativa de afastar aquela sensação estranha que estava sentindo em seu interior. Decididamente ele não gostava de estar ali.

De repente, já perto do quarto de Sakura, o loiro avistou um rosto conhecido.

Ele não esperava o encontrar ali.

Sasori estava sentado no corredor encarando seus próprios pés com uma expressão apreensiva e um sorriso tímido no rosto, parecia um tanto... Satisfeito. O que deixou Naruto muito curioso.

Já fazia um tempo que o Uzumaki queria saber qual era a dele em relação à Sakura, e o vendo ali resolveu que aquela era a hora perfeita para eles terem uma conversa. Então se aproximou.

Sasori estava perdido em devaneios e mal o notou chegando, mas ao ouvir um pigarro levantou seu olhar, encontrando os olhos azuis e desconfiados de Naruto.

Os dois se encararam por longos segundos, até que o ruivo resolveu se pronunciar.

– Posso ajudar?

Naruto soltou um suspiro e apoiou as costas na parede de frente para ele, depositando as mãos nos bolsos da calça jeans. Não era sua intenção discutir nem nada do tipo, apenas conversar, pois se sentia como se fosse o único que ainda não sabia o que estava rolando, e odiava aquilo. Já fazia um tempo que ele queria entender qual era a ligação entre Sasori e sua amiga rosada. A questão era: como perguntar isso de maneira simpática?

Resolveu ir direto ao ponto.

– Por que se importa tanto com a Sakura-chan? Você estava lá quando fomos resgatados, estava com ela na noite do baile e esta aqui agora. Por quê? – Naruto perguntou sem hesitar.

– Bom, e-eu... Eu vim ajudar – Sasori ficou desconfortavelmente surpreso com a pergunta.

– Você não respondeu minha pergunta.

No final do corredor uma enfermeira olhou de cara feia para os dois, levou o dedo indicador à boca pedindo silencio e voltou aos seus afazeres.

Depois disso Naruto continuou esperando uma resposta de Sasori, que estava envolto a seus próprios pensamentos. Não podia contar que estava “cuidando” dele e de Sakura por um pedido de Itachi. E não queria contar que tinha sentimentos (ainda não compreendidos por completo) pela cerejeira. Tinha que inventar algo convincente, e rápido, algo que até o Naruto cairia.

– Hm... Sabe, é que... – Sasori começou a juntar as palavras tentando formar uma boa explicação.

De repente uma musica começa a tocar, fazendo Naruto e Sasori se assustarem. Do outro lado a enfermeira voltou a fazer sinal de silencio, só que dessa vez com raiva. Ao perceber que era o seu próprio celular tocando, o ruivo levou a mão ao bolso imediatamente. Olhou desconfiado para o aparelho e um inesperado nome estava lá.

Itachi.

.

Em algum outro lugar de Konoha.

O sol já tentava se impor por sobre as nuvens naquela manhã de outono enquanto o vento frio bagunçava a copa das árvores e as folhas no chão. Era cedo, e Deidara dormia feito um bebê, aproveitando finalmente seu dia de folga.

De repente um barulho irritou seus ouvidos e o fez resmungar ao perceber que era seu celular tocando em algum canto do quarto. Ele abriu os olhos apenas para confirmar que era cedo demais para atender uma ligação em pleno sábado. Provavelmente era da galeria de arte onde ele e Sasori trabalhavam, alguém querendo saber “onde esta isso?” “onde esta aquilo?”. Hoje não quero me estressar com nada, nem com a minha arte! Foi o que ele pensou deixando o celular tocar até cair a ligação.

– O doce som do silêncio – murmurou com a voz rouca de sono e sorriu.

Alguns segundos depois e...

– Droga! De novo?

Ele hesitou, decidindo se levantava ou não. Por fim acabou concordando em atender.

Levantou sonolento e tateou sua calça jeans jogada ao lado da cama até encontrar o maldito celular no bolso de trás. Assim que olhou para o visor se surpreendeu com quem estava ligando.

– Itachi? – Ele indagou ao atender – Cara, por que você ta me ligando essa hora da madrugada?

– Bom dia pra você também, Deidara. – Itachi respondeu com a respiração e a voz um tanto descompassadas – E só pra você saber já passa das 6 horas da manhã ai.

– Então isso quer dizer que... – O loiro tentou fazer as contas, mas seu raciocínio ainda não tinha acordado.

– Quer dizer que aqui são 11 da noite. Enfim, isso não interessa. O que eu tenho pra te contar é que é importante. Escute com atenção porque eu não tenho muito tempo.

Deidara suspirou percebendo que lá vinha uma longa história, então se sentou na cama e tentou se manter acordado o máximo possível.

– Escuta – O Uchiha começou – consegui uma informação importante sobre a nova localização do Orochimaru. Parece que ele esta ma...

– Espera! O que te faz pensar que dessa vez é o lugar certo? – Deidara o questionou – Itachi, não quero ser pessimista, cara. Mas você sabe melhor que ninguém que esse Orochimaru já morou em vários lugares ao mesmo tempo.

– Eu sei – Respondeu convicto, do outro lado da linha – Sei que já fui em muitos lugares errados desde que comecei a procurar pelo meu irmão, mas dessa vez é serio. Consegui bons contatos e hoje recebi um email com um nome e a foto de uma casa. Então resolvi me encontrar com a pessoa que me mandou.

– Você ficou doido, cara!? – Deidara gritou – A pessoa poderia ser um louco psicopata ou...

– Fica calmo! Eu analisei a imagem por dias, esta meio desfocada, mas tem um garoto na entrada da casa e eu posso jurar que é o Sasuke.

A ligação ficou muda por alguns segundos.

Ambos tentavam digerir a informação.

– Deidara... Eu achei meu irmão!