Shade and Love escrita por Thality


Capítulo 11
Capítulo 10 – Garota Impossível


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!
Fazia muito tempo que eu não postava nada e peço desculpas por isso. Fui deixando que outras coisas tomassem o lugar desse meu hobbie tão prazeroso que é escrever, e quando percebi, muito tempo já havia se passado, e talvez eu até tenha perdido a mão ~perdido mais do que normalmente já me faltava ~.
Mas eu amo escrever, e por pouco não me esqueci disso. Por esse motivo, combinei comigo mesma que me dedicaria e continuaria essa fanfic.
Peço que leiam esse capítulo com muito carinho, pois foi assim que ele foi escrito c:
Muito obrigada. E boa leitura.
xoxo



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Damon Salvatore caminhava apressado por um descampado. Em uma de suas mãos havia um ramo quase seco, com pouquíssimas flores em tons de azul, na outra estava a boina de seu uniforme de combate. O dia estava calmo e com uma temperatura agradável de início de outono. As folhas das árvores começavam a ganhar tons amarronzados e a se desprenderem dos galhos. Um clima de tranquilidade pairava no ar. O jovem soldado avistou uma pequena casa de madeira e, no mesmo instante, parou, olhou para seu uniforme – estava sujo, tão sujo que o verde habitual já estava desbotando e adquirindo a cor amarronzada da lama. Aquilo era resultado das batalhas que se passaram. A cada noite, um novo ataque acontecia e a mente do jovem se enchia de novas imagens de horror e morte. Imagens que ele não sabia se um dia seria capaz de esquecer, mas que ele prometera para si mesmo que não o mudaria, não o tornaria um ser humano frio.  Ele bateu a boina contra a calça na tentativa de tirar um pouco da sujeira, sem sucesso, e continuou a andar na direção da pequena casa de madeira.

A noite passada havia sido uma das piores, uma granada havia sido lançada a uma distância muito próxima de onde Damon estava. Era um milagre ele ter sobrevivido. Ele havia corrido como nunca antes, arrastando consigo um de seus amigos de combate que já estava ferido. Os dois sobreviveram, mas Damon havia ganhado alguns machucados a mais. Isso jamais o impediria de ir visitá-la. Ela... Sua motivação para continuar noite após noite, lutando uma luta que não era dele, naquilo que ele considerava o próprio inferno na terra. 

Quando alcançou a porta, Damon deu três batidas, três vezes. Aquele era o código para que qualquer pessoa dentro da casa soubesse que estava tudo bem e que poderiam abrir a porta, no entanto, ele não ouviu nenhuma movimentação. Ninguém estava indo abrir. Aquilo era estranho, sempre havia alguém na casa. Ele repetiu o código outra vez e o silêncio continuava. Uma onda de pânico o tomou. Um pensamento rápido do ataque da noite anterior viera a sua mente. E se tivessem descoberto aquela casa? E se atrás daquela porta, todos estivessem mortos?

Damon engoliu seco, não encontrou coragem para abrir a porta. Ele não poderia suportar vê-la morta. Não ela... A moça que conseguia levá-lo do inferno ao paraíso com apenas um olhar. A jovem que conseguia dar sentido à sua vida mesmo em meio a tanto caos. Ele repetiu o código com mais força, o maxilar travado, os olhos fixos em um ponto qualquer daquela porta. Nenhum sinal. Ele começou a se afastar, ainda encarando aquele ponto da porta, como se fosse seu maior inimigo.

E então ele a sentiu. Damon não precisava olhar para saber quem era. Sentiu uma mão delicada tocando em seu ombro e instantaneamente se virou e abraçou a moça que surgia por trás dele. Novamente seus pulmões se encheram de ar e ele sentiu o aroma suave da pele dela. Um cheiro adocicado de início de primavera. Ele a abraçou forte, como se aquilo pudesse apagar todos os pensamentos ruins que o estavam apavorando segundos antes. A jovem sorriu, um riso delicado e quase infantil.

Ai ai! Assim você vai me tirar o fôlego. – Ela disse, com uma voz abafada pelo peito dele. Ele sorriu.

—E não é isso que queremos? – Ele disse. E em seguida a tomou em um beijo longo e profundo. Ela retribui com paixão, conhecendo cada milímetro da boca dele. A sensação era tão boa que chegava a parecer um sonho. Ele a abraçava e ela cabia perfeitamente nos braços dele.

Ele sentia o corpo delicado dela e, quase com adoração, lhe acariciava as costas, os cabelos, os braços. Ela era tão pequena comparada a ele, mas ao mesmo tempo tão decidida a retribuir suas carícias que se não tomasse cuidado, Damon poderia esquecer o quanto ela era delicada e frágil. Pensando nisso, ele fez o beijo ficar mais lento, até que parassem, e a soltou.

Estavam tão próximos que ele conseguia sentir o aroma que ela tinha nos lábios. Aquele aroma era um segredo que apenas ele conhecia. Damon sempre teve a sensação de conhecer aquele perfume de algum lugar, mas não conseguia se lembrar de onde.

Ele abriu os olhos e a fitou mais uma vez, sentindo o alívio de poder abraçá-la e beijá-la novamente. Ela tinha a pela clara e tão macia quanto veludo. Em contraste com volumosos cabelos escuros e encaracolados. Ela o olhava com intensos olhos azuis, um azul escuro como o céu em uma noite estrelada. Ambos estavam com a respiração irregular, os lábios dela haviam ganhado um tom muito mais avermelhado que o normal, e as maçãs de seu rosto estavam rosadas. Aquilo acendeu ainda mais o desejo ardente que Damon tinha por ela. Ele tentou beijá-la novamente, mas era tarde demais, ela já havia começado a fazer a varredura que fazia nele todas as manhãs. Verificando se não havia ferimentos que precisassem ser tratados. Ela viu um corte próximo ao maxilar dele, e aquilo bastou para que as maçãs de seu rosto voltassem ao tom normal.

—Isso não é nada demais. – Disse Damon, tentando beijá-la novamente. Ela deixou que ele a beijasse, mas se afastou rapidamente.

—Não tente me distrair, Damon. –Ouvir seu nome naquela voz o fez ter uma forte sensação de reconhecimento, algo estava fora do lugar ali. Mas ele rapidamente ignorou aquela sensação enquanto a via abrindo a porta. Pegou rapidamente o ramo de flores que ele nem percebera quando havia caído no chão, e quando a moça se virou novamente, ele o entregou para ela timidamente.

—Gostaria de ter algo melhor para você. –Ele disse, como um pedido de desculpas. Mas os olhos da moça cintilaram. Como se ela estivesse vendo algo tão incrível, que só mesmo Damon poderia entregar a ela.

—Mas é o ramo de flor mais lindo do mundo! –Ela disse, e rapidamente pegou o ramo da mão do rapaz e correu com ele para dentro da casa.

Damon viu quando ela o colocou em um jarro com água. Ele fechou a porta novamente e caminhou até ela, ainda prestando atenção em como a casa estava silenciosa. Se aproximando dela, ele a abraçou por trás, e deu um beijo suave em seu pescoço. Percebeu quando a respiração dela falhou e ela quase soltou o jarro com o ramo de flor. Ela incrível a forma como seus corpos respondiam um ao outro. Ele podia sentir o desejo crescer dentro dele. Isso aumentou ainda mais quando ela se virou e o beijou, novamente com a intensidade daquele primeiro beijo. Ela não tinha medo. Era uma donzela, moça delicada com vestido rodado e longo. Mas quando o beijava, era como se tivesse total controle da situação, como se o conhecesse de outras vidas e soubesse exatamente o que fazer para deixá-lo louco.

—Isso é tão injusto... –Disse ele, entre beijos. –A casa está vazia, não está?

—Sim. –Ela respondeu ofegante. Enquanto suas mãos ágeis começavam a desabotoar o casaco do uniforme de combate dele. –E não é isso que queremos?

Ele sorriu com o gracejo dela. Realmente, estavam há muito tempo torcendo para estarem a sós naquela pequena casa. Damon a ajudou com os botões, ainda distribuindo beijos pela boca e pelo pescoço dela. Fazia tanto tempo que ele estava sonhando com esse momento. Mas se segurava, pois sabia que seria algo importante para ambos. Nenhum dos dois jamais estivera daquele jeito com outra pessoa, tudo era novo. Mas não era bem assim que Damon imaginava que seria.

—Isso é muito injusto... –Repetiu ele. Dessa vez a moça deu atenção.

—O que é injusto?

—Você pode fazer o que quiser comigo. Você sabe. –Disse ele, quase num sussurro, ao pé do ouvido dela. –Mas eu queria poder fazer coisas com você... –Ela o encarou com olhar de suspeita. –Coisas que não podemos fazer agora... –Ela sorriu. Aquele era Damon, sempre querendo coisas que eles não podiam fazer. A diferença era que agora eles poderiam.

—Essas coisas... –Começou ela, pausando a frase várias vezes para beijá-lo. –Que você quer fazer... Porque você não faz agora, Damon?

Novamente ele sentiu aquela sensação de reconhecimento, dessa vez mais forte. Algo não estava certo ali. E ele só precisava se lembrar do que era.

Era ela, aquela moça, que derretia seu coração e o deixava louco. Havia algo que ele não estava conseguindo se lembrar. Mas o que era? O nome! Ele se lembrou. Porque até agora ele não havia dito seu nome?

—Mia Summer... –Ele disse, com a voz baixa.

—Sim..?

—Sinto muito, Mia. –Disse Damon, finalmente se lembrando de quem ele era. De quem Ela era. –Isso não é real...

—Não... –Discordou ela, com meiguice. –Eu estou aqui, veja? –Ela acariciou o rosto dele. E Damon sentiu novamente aquela sensação de paz. Uma sensação que ele não se lembrava de já ter sentido na vida. Uma sensação de que tudo estava em seu devido lugar, de que tudo era um...

—Isso é um sonho... –Disse ele, também acariciando o rosto dela. –Eu gostaria que fosse real. Gostaria de poder sentir isso. Mas estou sonhando com você, garota. –Ele a olhou de forma triste. Realmente triste por se lembrar de que na verdade aquilo nunca havia acontecido.

Ele nunca havia sido amado daquela forma tão especial, tão única. E a Mia da vida real era só uma menina, cuja mãe ele havia matado algumas noites atrás. Ele era um vampiro, e era sozinho, tão sozinho... Pela primeira vez ele pareceu perceber o quanto gostaria de ter vivido um amor como aquele. Ele próprio, o Damon do sonho, realmente havia existido. Com toda aquela ingenuidade, e todo aquela amor. Mas há muito havia se perdido. Não fazia parte nem mesmo das lembranças mais humanas dele.

—O que você está fazendo no meu sonho, garota? –Ele perguntou de forma gentil. Sabia que era um sonho, mas continuava sentindo um forte impulso de beijá-la, era como se todo aquele amor realmente existisse. Aquilo era tão confuso. –Garota impossível... –Mia sorriu. Damon sentiu que sempre a havia chamado assim.

—Tive uma ideia... –Disse ela, com os olhos brilhantes. –Porque não aproveitamos que é um sonho..? –Ela roçou de leve os lábios nos dele. –Podemos fazer coisas, sem nos arrepender... –Ela o beijou novamente e ele retribuiu o beijo. Sonho ou não, os lábios dela realmente tinham um aroma muito bom, que viciava e o prendia. Damon estava realmente tentado a ficar naquele sonho, sentindo aquela paz, até quando pudesse.

—Acontece, Mia... –Ela a beijou dessa vez. Um beijo suave e doce. –Que você não é essa pessoa.

—Não sou? –Ela perguntou realmente confusa. Damon não respondeu a essa pergunta. Ele pressionou o corpo dela contra o dele, e a beijou decidindo que realmente não importava. Aquele era o sonho dele, e em seus sonhos ele poderia fazer o que quisesse. E desde quando ele a queria tanto? Ele não sabia, mas não importava. Tudo o que importava era aquele instante, aquele beijo, aquele amor e, tudo o que ele queria, era que fosse real.

—Damon... –Mia o chamou, mas ele pareceu não ouvir. Não tinha mais controle sobre seu próprio corpo. Aquele cheiro que ela tinha... Aquela pele macia. De repente, ele não era mais o Damon soldado. E sim o Damon vampiro. –Damon? – Mia chamou. –Os seus olhos... –Ela parecia assustada, mas ele não se importou.

—Estou com medo, Damon. –Ele a olhou, e o pavor era iminente em seus olhos. –Damon!!

**

—Damon!!

O vampiro abriu os olhos e encontrou os de Mia, a verdadeira Mia, o rosto dela estava muito próximo ao dele. Ela o olhava com os olhos apavorados. Como a Mia do sonho.

—Os seus olhos... –Ela disse. Com uma angústia muito evidente na voz.  Damon se sentou em sobressalto e percebeu que estava como no sonho, com os caninos a mostra, os olhos vermelhos e as veias abaixo dos olhos escurecidas. Ele ainda podia sentir o ardor correndo por suas veias, o sabor dos lábios dela, o perfume. Mas conteve-se.  

O pavor tomava conta de Mia, ela queria correr dali. A única vez que vira Damon daquele jeito foi na noite em que ele havia matado sua mãe... Sem querer, lágrimas encheram os olhos da garota. Sim, ela queria correr, e sim, mais uma vez estava paralisada.

—Me desculpe assustar você, Mia. –Ele disse. Enquanto acariciava o rosto dela como no sonho.

Mia sorriu. Ela não esperava nenhum gesto de gentileza de Damon, mas de alguma forma, eles eram sempre muito bem vindos e realmente a acalmavam. Era incrível a forma como a pessoa que mais a assustava, era também a que tinha maior poder de acalmá-la.

—Você estava sonhando comigo? –Ela perguntou, com a voz um pouco trêmula. E Damon retomou a postura fria com que normalmente a tratava. Ele percebeu que o sol estava alto lá fora, ele estava deitado no sofá da sala de estar de sua casa, e Mia estava sentada no tapete a frente dele.

—Porque você está perguntando isso?

—Bom... –Ela começou, timidamente. –Porque eu sonhei com você... –Ela abaixou os olhos, e Damon desconfiou de que ambos haviam tido o mesmo sonho.

—E você acha que só porque você sonhou comigo, eu tenho que sonhar com você também? –Ele perguntou, de forma insolente. –Eu não tenho culpa se causo isso nas mulheres... Pelo que vejo, isso se estende a garotinhas tolas também.

—Você não sabe ser mais educado, Damon? –Mia perguntou, franzindo o cenho. Damon não esperava por isso. Mia lhe dando uma bronca? –Eu corri até aqui, de noite! Sozinha! E na chuva! Tudo para salvar sua vida! Você estava quase desmaiado e eu te trouxe aqui para cima! Eu poderia ter ido embora, mas fiquei aqui, porque talvez você precisasse de algo. E você nem mesmo me agradece!? –Damon tentou segurar o riso. Mas o melhor que pode fazer foi transformá-lo em uma risada sarcástica.

—Vou te contar uma coisa sobre mim, garota. –Disse ele, com a voz arrastada, um tanto quanto assustadora. –Sou um vampiro. Vampiros são maus.

—Vou te contar uma coisa sobre mim, Damon. –Disse ela, com meiguice, tal qual no sonho. –Eu não tenho medo de você... –Fez uma pausa, refletiu. –Pelo menos, não na maior parte do tempo.

**    

Stefan caminhava apressadamente em direção à casa de Caroline. Precisava se certificar de que ela estava bem e de que não se lembrava do que havia ocorrido. Era por volta de meio dia e ele estava com o anel de Damon, dessa forma, ele não poderia se expor ao sol e todos estariam seguros. Todos, exceto Mia. Pois ela havia ficado na casa, junto com o irmão.

O vampiro mais jovem não conseguia entender como aquela garota poderia ser tão corajosa. Tanto que beirava à loucura. Como ela conseguia confiar em Damon depois de tudo o que ela havia feito? Naquele mesmo dia, antes do sol nascer, ela impediu Stefan de cometer o que poderia ter sido seu maior erro. Mas porque ela agia daquela forma? Por que Mia sempre defendia Damon, se agarrando com todas as forças a crença de que ele era bom, se tudo o que ele fazia era sempre tão perverso?

Mia havia passado a madrugada inteira acordada, repetindo motivos para que Stefan não fizesse mal ao irmão. Ela estava tão cansada, que o vampiro não entendia como conseguia manter aquela postura tão insistente. Damon por outro lado, havia desmaiado no sofá onde o irmão o havia colocado.

Quando finalmente pareceu entender que Stefan não faria mal a Damon, a garota sentou-se na poltrona em frente ao sofá onde o vampiro dormia. Stefan se ofereceu para levá-la para casa. Mas antes que ela pudesse responder, já havia pegado no sono profundamente.

Já estava amanhecendo e as preocupações apenas aumentavam. Stefan precisava ver como Caroline estava, precisava saber se era verdade o que Mia dissera sobre um terceiro vampiro na cidade. Precisava ver como estava Vicky Donavan, que ainda se recuperava do ataque que tinha sofrido. Ele precisava sair de casa, mas tinha medo de deixar Mia sozinha com Damon. Então aproveitou que o irmão estava desacordado e lhe aplicou uma solução de verbena, aquilo o deixaria enfraquecido por várias horas. Tempo suficiente para que Stefan voltasse para casa.

Agora, com o sol alto no céu. Stefan já sabia que Vicky estava completamente recuperada. Estava com Jeremy na casa dos Gilbert, parecia ter perdido todas as lembranças do ataque que sofrera. O vampiro chegou à casa de Caroline, e encontrou Elena e Bonnie reunidas com a amiga. Caroline estava deitada no sofá, com as duas amigas ao seu lado.

—Stefan... –Elena o abraçou, quando abriu a porta e o encontrou.

—Como ela está? –Stefan perguntou.

—Care acha que tudo foi um sonho. –Ambos saíram da casa. E Elena fechou a porta atrás dela, com um olhar de preocupação. –Você realmente... Você realmente fez aquilo? Com o Damon?

—Não... –Stefan respondeu. E pôde perceber que Elena soltou o ar que estava prendendo sem perceber. O vampiro sentiu uma pequena centelha de ciúme, pela preocupação da namorada com o irmão, mas logo espantou aquele sentimento. –Eu não consegui.

—Que bom. –Elena respirou aliviada. –E você não é como ele, Stefan. Você não é um assassino. Não sei onde estávamos com a cabeça quando pensamos que conseguiríamos agir dessa maneira.

—Eu passei a madrugada ouvindo Mia repetir isso várias e várias vezes.

—Então ela realmente foi para a mansão... –Elena se sentia intimamente grata por aquilo, mas jamais reconheceria. –Ela desapareceu no meio da noite. Sabia que havia ido para lá.

—Mais do que isso. –Stefan reconheceu. –Ela nos salvou. Salvou a vida de Damon e me salvou de uma vida de culpa. Mas eu sei que em algum momento vou me arrepender de não tê-lo matado, Elena. Eu sei que não há nada de bom nele. Não sou como a Mia. Não entendo como uma garota como ela possa saber que ele foi o culpado da morte de sua mãe e ainda querer que ele viva. Ela nem mesmo o conhece. Não compreendo como ela consegue acreditar que ainda exista algo nele que mereça ser salvo.

—Mas ela acredita... –Elena refletiu.

—Stefan. –A xerife Forbes surgiu na porta, tinha olheiras que denunciavam que ela não dormia há vários dias. –Você pode entrar aqui um instante? Precisamos conversar.

Todos entraram e a xerife guiou o vampiro até a cozinha. Enquanto passava pela sala, ele pôde ver que as garotas já conversavam sobre a festa de dia das bruxas que aconteceria em breve. Agora ele podia ter certeza de que Caroline realmente ficaria bem.

Quando chegaram à cozinha. Elizabeth abriu uma gaveta que estava fechada com chave e retirou uma pasta grossa de dentro. A pasta continha muitos papéis.

—São laudos do conselho que foram arquivados. Trouxe para cá para estudá-los. –Ela retirou um pequeno bloco de papel envolto em um envelope pardo e guardou a pasta grossa na gaveta novamente. –Esses aqui são recentes.

Stefan folheou os papéis, havia muitas fotos de pessoas mortas aparentemente por um tipo de animal, mas que ele reconheceria de longe o verdadeiro culpado. Todas as fotos traziam a data e horário da morte daquelas vítimas.

—Porque você está me mostrando isso, Sra. Forbes?

Elizabeth tinha uma forte desconfiança de que aquelas mortes haviam sido causadas por algo além de um animal, mas para ela, acreditar na existência de vampiros, era algo racionalmente impossível até a noite anterior quando sua própria filha fora atacada por um “animal”. Um “animal”, na festa dos Lockwood.

—Stefan... Esses ataques vêm acontecendo desde que você e seu irmão chegaram a Mystic Falls. –Stefan sabia que ela estava certa. Então apenas a encarou, pronto para usar a hipnose se necessário. –Acontece... Que o número de vítimas vem aumentando dia após dia, desde que Mia apareceu.

—Mia? –Stefan a encarou realmente surpreso. –Mas ela...

—Não. Não a estou culpando. –Disse Elizabeth, rapidamente. –Conheci Mia, ela é uma garota doce e gentil. Mas eu preciso da sua ajuda para compreender qual a relação entre vocês e esses ataques. Ontem, infelizmente, duas pessoas foram encontradas mortas. E minha filha poderia ter sido a terceira. 

—Mas a que horas foram esses ataques?

—Todos foram à noite. Os horários foram muito próximos e em lugares diferentes. Stefan, eu preciso saber com o quê estamos lidando.

Mia tinha razão. Havia outro vampiro na cidade. Damon não poderia estar em todos aqueles lugares ao mesmo tempo, ainda que tivesse supervelocidade. Stefan vira o irmão dançando com Mia durante o início da noite anterior. Depois disso, ele o havia trancado na mansão. 

Nesse instante, o celular da xerife tocou. Ela atendeu e Stefan utilizou a superaudição para entender o que estava sendo dito. Ele ouviu quando alguém do outro lado da linha falou: “Xerife, você pode vir para a floresta no limite da cidade? Encontramos outra vítima.”

—Preciso ir, Stefan.

—Eu também. –E então ele correu. O mais rápido que pôde, para a floresta, no limite da cidade.

**

Damon estava faminto. Não se lembrava da última vez que havia se sentido tão fraco e com tanta fome. Ele podia sentir as veias queimando pela desidratação. Como odiava aquela sensação. Além disso, sentia o corpo pesado e, as imagens que seus olhos captavam estavam distorcidas e fora do lugar, como se ele estivesse de ressaca. Mas ele sabia que aquilo era efeito da verbena em seu organismo.

—Ah, irmãozinho... –Disse com a voz baixa. Tinha certeza de que Stefan havia lhe aplicado verbena enquanto estava desmaiado, mas estava confuso demais para sentir raiva.

Ele tentou se levantar, e após quase cair algumas vezes, conseguiu chegar até a mesa ao lado do sofá e se apoiar. Pretendia chegar até a porta, sair e “caçar”, precisava urgentemente de sangue, ou acabaria ficando fora de si e, ninguém naquela cidade iria gostar disso. A porta parecia estar a uma distância absurda de onde Damon estava. “Ok, eu só preciso correr” – ele pensou. Em seguida correu em direção à porta o mais rápido que pôde. Mas na metade do caminho, sentiu a pele ardendo como se estivesse em chamas. Percebeu que havia passado perto da janela e o sol o estava queimando. Sem querer, soltou uma exclamação por conta da dor e então juntou forças para correr novamente para o sofá.

Mia estava terminando de montar um sanduiche quando ouviu Damon esbravejando palavras sem sentido. Ela correu até lá e o encontrou sentado no sofá, olhando para o braço que parecia estar normal, mas que, segundos antes, tinha uma enorme queimadura.

—...Você me paga, Stefan! –Damon disse. A fúria evidente em sua voz.

—Está tudo bem com você? –Mia perguntou, mantendo certa distância do vampiro.

—Meu Deus, garota! Você ainda está aqui!?

Mia revirou os olhos e voltou para a cozinha. Terminou de montar o sanduiche e foi novamente para a sala. Damon estava com um copo de bebida na mão, exatamente no mesmo lugar onde estava antes. Ela se sentou na poltrona onde havia dormido. Ficaram um em frente ao outro, sem dizer uma palavra, nem mesmo de mexiam.  

O vampiro não conseguia tirar da cabeça as lembranças do sonho que tivera algumas horas antes. A garota a sua frente era fisicamente idêntica à do sonho. Mas ao mesmo tempo, a Mia do sonho parecia tão mais adulta. Enquanto a Mia da vida real era apenas uma garotinha. Uma menina boba e ingênua, que estava tentando dar sentido à sua vida. Damon acreditava que era por isso que ela continuava ali. Ele não tinha certeza se ela havia resistido à hipnose no dia em que ele tentou fazê-la esquecer da morte da mãe, mas acreditava que sim, pois se ela se lembrasse de algo, não estaria ali com ele.

Mia mantinha seus olhos fixos nos de Damon. Aqueles lindos olhos cor de noite estrelada carregavam algo que o intrigava e o prendia. Ninguém nunca havia olhado para ele com aquela intensidade. Ninguém conseguia sustentar o olhar do vampiro daquela forma. Ele queria intimidá-la, tentou levar aos olhos toda a frieza que possuía, mas isso não deu certo com ela. Ela parecia ver além da frieza. Além do Damon vampiro. Era como se ela conseguisse ver o Damon humano, ingênuo e bom que um dia fora. O vampiro voltou a pensar do sonho, de como tudo era tão real que parecia até mesmo uma lembrança. Ele desviou os olhos para qualquer outro lugar.

—Eu pensei em fazer um para você. –Disse ela, levantando o sanduíche. –Mas acho que não faz parte da sua dieta. Não é legal desperdiçar comida.  

—Quando olho para você, eu só penso em como estou desperdiçando comida. –Ele disse, tentando assustá-la.

A moça engasgou com o pedaço de sanduiche que havia levado à boca. Damon não conseguiu segurar o riso. Novamente pareceu uma risada de sarcasmo. Aquele era um hábito que ele não conseguiria mudar nem se tentasse. Era algo que lhe dava ainda mais daquele “ar de predador” que os vampiros naturalmente possuíam.

—Menina tola. Foi só uma piada. –Disse ele. –Posso comer um sanduíche se eu quiser. Não sou Edward Cullen. –Mia sorriu, um riso sincero e quase infantil como a Mia do sonho.

—Então você não brilha no sol? –Ela brincou.

—Não. No mundo real, vampiros queimam no sol.

—Mas já vi você andando por aí durante o dia.

—Sim. Porque eu tenho um anel mágico que me protege do sol. Quer dizer. Eu tinha, mas meu irmãozinho, aparentemente, quer me manter em prisão domiciliar. E eu estou mais faminto a cada segundo porque ele também me dopou com verbena e me deixou muito, muito enfurecido.

—Verbena? –Mia se lembrou do pequeno ramo de flor que a xerife Forbes havia lhe dado na noite anterior. Então verbena era um tipo de substância tóxica para vampiros?

—Você realmente não sabe nada sobre o mundo real? –Damon perguntou, olhando mais fixamente para Mia. Ele podia sentir que havia algo mais nela, como se ela não fosse apenas uma humana comum. –Como você pode ter caído de paraquedas assim em Mystic Falls?

—Eu não caí de paraquedas. Minha mãe e eu fomos mandadas para cá. –Falar de sua mãe, ainda lhe causava um aperto no peito. Então ela se levantou e foi para a cozinha. –Vou preparar um sanduiche para você também.

Damon viu que não havia feixes de luz até a cozinha, e a seguiu.

—Você precisa ir embora, Mia. –Ele disse, parando, apoiado na soleira da porta.

—Eu já vou, só vou fazer o sanduiche.

—Não estou falando da minha casa. Claro, você também precisa ir embora daqui, porque estou com fome e você tem um cheiro... –Ele parou. Não queria pensar sobre como o cheiro de Mia era delicioso. Seus caninos ameaçavam aparecer apenas com o pensamento do sabor do sangue dela. –Estou falando da cidade. Aqui não é lugar para você. Os piores perigos estão sempre às sombras em Mystic Falls.

—Eu achava que o pior perigo estava bem aqui na minha frente. –Ela entregou o sanduiche a ele. No momento em que suas mãos se tocaram, ambos tiveram um flash do sonho, quase como uma visão.

Mia se afastou dele rapidamente, sentindo as bochechas enrubescerem novamente. Ela se sentia envergonhada pelo sonho que tivera. Sim, era verdade que ela achava Damon incrivelmente bonito, mas nunca havia tido aquele tipo de pensamentos com ele.

—Isso só pode ser Síndrome de Estolcomo. –Mia sussurrou para si mesma. Lembrando-se das aulas de introdução a psicanálise que tivera com seu padrinho Vicente. –Vou embora agora, Damon. –Ela disse, já se retirando da cozinha.

Em um gesto puramente impulsivo, Damon a segurou pela mão. Nem mesmo ele entendeu porque havia feito aquilo. A verdade era que a companhia dela era agradável, ela não o julgava pelo que ele era. Ela tinha uma forma de olhá-lo que o fazia esquecer o quanto era egoísta e detestável. Ele a soltou rapidamente, quando percebeu como se sentia.

—Preciso te pedir uma coisa. –Disse Damon.

—Não. Não vou deixar você me morder. –Não era isso que ele iria pedir.

—Então você pode me ajudar a encontrar o lugar onde Stefan guarda o sangue? Esse lugar precisa existir, essa casa é enorme. Eu poderia procurar sozinho, mas sem o anel, não consigo nem mesmo andar de um cômodo para outro sem sofrer queimaduras.  

—Claro. –Mia sorriu.

—Não pense que depois disso seremos amigos. –Damon falou, mas no fundo ele mesmo sabia que aquele pedido de ajuda era mais uma desculpa para que Mia ficasse por perto um pouco mais. Ele estava sempre em um dilema entre mandá-la para longe e nunca mais se lembrar dela. Ou mantê-la por perto e protegê-la dos perigos de Mystic Falls.

—Isso nem passou pela minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Gostaria muito de saber se ainda tem alguém lendo.
Todos os comentários são muito importantes para mim.
E queria muito agradecer à Lilithi Haruno, que leu a história em 2015 e mesmo assim deixou comentários. Esses comentários me enxeram de vontade de voltar a escrever. Muito obrigada ♥

P.S.: Semana que vem terá um novo capítulo. Nunca mais vou abandonar o hábito de escrever >.



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