The Last Walk escrita por Graziele


Capítulo 1
Atos que curam.


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridas :) Venho aq trazer-lhe uma short fic que está virando meu xodózinho. Espero que apreciem tanto quanto eu. Nos vemos lá embaixo! Boa leitura! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/403342/chapter/1

Tudo que fizer em sua vida será insignificante. Mas é importante que o faça, porque ninguém mais fará.

Mahatma Gandhi.



Junho de 2008



“Bella, querida, vamos acordar!” Renée Swan disse suavemente, enquanto remexia na filha embrenhada nos lençóis de seda.

Isabella Swan gemeu algo como “só mais cinco minutinhos” e virou-se, cobrindo sua cabeça com o cobertor cor de rosa para abafar o doce som da voz de sua mãe, que, naquela manhã preguiçosa de sábado, tornava-se incômoda aos seus ouvidos sonolentos.

“Você vai se atrasar para o orfanato.” Disse, sorrindo sacana. Foi como se Renée tivesse dito a palavra mágica, responsável por eliminar qualquer vestígio de sono, pois a adolescente logo levantou-se num pulo. “Calma, filha, ainda são sete da manhã.” Renée riu e Bella suspirou, aliviada.

“Ah, mãe, por que a senhora sempre usa esse truque comigo?” Reclamou, a voz ainda meio lenta devido ao sono; Renée tinha esse artifício como certo: toda vez que queria tirar sua filha preguiçosa da cama numa manhã de sábado, dizia que ela iria se atrasar para seu voluntariado no orfanato da cidade, porque Bella podia até sair de casa toda descabelada, mas nunca atrasada.

“Desça logo e trate de tomar café enquanto seu pai ainda está em casa, senão ele logo vai ter motivos pra ficar falando no seu ouvido durante a semana inteira.” Renée recomendou e Bella suspirou, daquela vez de frustração. Seu pai, o todo poderoso Charlie Swan, simplesmente abominava a ideia da filha passar seus sábados dentro de um orfanato; tanto que, quando Bella comunicou a ele que iria ser voluntária há três meses, Charlie só faltou botar a mansão Swan abaixo com seus gritos.

Ao que parece, o empresário não queria sua princesinha misturada à crianças “degeneradas”, como ele mesmo dizia. Mas Isabella não se importava com o que o pai pensava, afinal ir ao orfanato era o que mais lhe agradava naquela vida de aparências que vivia.

Sua mãe lhe deu um beijo na testa, antes de sair de seu quarto e deixá-la sozinha para arrumar-se.

Sorriu e decidiu que seu pai não iria lhe irritar naquele dia. Levantou-se de sua colossal cama de casal com cobertores, fronhas e lençóis no mesmo tom de rosa escuro e rumou para o grande banheiro acoplado.

O quarto de Bella não era um quarto típico de uma adolescente de dezessete anos. Ao invés de pôsteres de boybands colados por toda sua parede, havia discos de vinil grudados aleatoriamente, além de umas estrelas de acrílico lilás que pediam do teto, dando um ar mais feminino o lugar. Seu closet era pequeno e todo o espaço que poderia ser ocupado por ele estava, na realidade, sendo ocupado por duas enormes estantes de livros.

Fez sua higiene matinal e andou descalça até a citada grande estante de livros, procurando pelo seu exemplar surrado de O Pequeno Príncipe; iria levá-lo ao orfanato e lê-lo para uma menina, assim como foi solicitado na semana passada.

Suspirou ao lembrar-se da menina que havia lhe pedido isso. Pelo que lhe fora contado, ela perdera a mãe para as drogas há quase dois anos, e fora parar naquele orfanato depois de passar pela sua terceira família que a “rejeitou”.

Bella repudiava essas famílias que devolviam as crianças. O que elas achavam? Que os pequenos eram alguma espécie de mercadoria que, se viessem com defeito, poderia ser devolvida ao fabricante? Se, num primeiro momento, eles deram a esperança de que a criança teria uma nova família, não podiam simplesmente acabar com isso porque não foram plenamente agradados.

Isabella iria adotar, quando tivesse a idade certa para isso. Tão certo quanto dois mais dois são quatro, ela tinha a certeza de que iria fazer uma criança feliz, sendo a mãe que essa precisava. E não importava como Charlie iria odiar essa ideia e como iria fazer um grande escândalo, ela iria adotar uma criança quando fizesse dezenove anos.

Com seu banho tomado, vestida com um jeans claro e com uma blusa florida, Bella amarrou seus cabelos num rabo de cavalo e desceu para o café da manhã. A sala de jantar tinha a mesa gigante muito farta e, num dos extremos, seu pai se acabava com pães e presunto enquanto que, ao seu lado, sua mãe – sempre muito elegante – bebericava um pouco de seu típico chá de camomila.

A menina sorriu com a visão de sua família. Seu pai era presidente da Precious Swan, uma renomada joalheria e, apesar de ser intolerante com certos assuntos, era um pai maravilhoso. Sua mãe veio de uma família humilde e viveu um verdadeiro conto de fadas quando conheceu o galante Charlie Swan. Claro que Renée sofreu certos preconceitos por não ser exatamente uma nobre, mas o amor de Charlie pela pobre menina de Illinois superou essa barreira e não houve quem o impedisse de casar-se com ela.

“Bom dia.” Bella disse sorridente, sentando-se na cadeira em gente a sua mãe e logo servindo-se de um pouco de chá.

“Bom dia, querida” Charlie disse, sorrindo amavelmente. “Você vai para aquele lugar hoje de novo?” Perguntou receoso.

Bella revirou os olhos. “Diga o nome, pai. Não vai matá-lo.” Ironizou.

“Orfanato. Casa de degenerados. Tanto faz mesmo.” Charlie deu de ombros.

“Ora essa, Charlie” Renée repreendeu suavemente. “São apenas crianças. E sua filha não está indo pra nenhuma penitenciária.”

“Exatamente.” Bella pontuou, levantando as sobrancelhas. “São crianças inocentes que não têm culpa nenhuma se seus pais eram degenerados.”

“Ah, Bella!” Charlie inquietou-se. “Só perguntei por que queria que você me acompanhasse num evento da empresa hoje. Não precisa vir com essas malditas lições de moral como se eu tivesse cinco anos.”

Bella riu com a explosão do pai. “Pois então. Sim, eu vou para lá. E, sinto muitíssimo, mas não vai ter jeito de eu sair de lá antes das sete pra poder te acompanhar.” Na realidade, Bella não sentia nada. Ela odiava esses eventos da empresa, porque sempre se resumiam a gente que ela nunca nem viu na vida dizendo como ela estava grande.

“Tudo bem então, né, vou fazer o quê?” Rendeu-se, meio tristonho.

Bella deu uma rápida olhadela para o relógio ébano que pendia na parede a sua frente e constatou que já estava atrasada. Engoliu seu pão integral rapidamente, tomando chá para ajudar, e levantou-se num átimo.

“Já está atrasada de novo?” Renée riu levemente ao ver a filha toda afobada depositando um beijo em sua bochecha.

“Mais do que isso!” Bella disse de forma apressada, beijando a cabeça de cabelos ralos do pai e já pegando sua bolsa. “Já vou indo, vejo vocês mais tarde! Me liguem!”

Ainda pode ouvir seu pai praguejando algo e sua mãe rindo antes de abrir a grande porta de sua casa e correr pelo jardim, indo direto para a garagem. Fuçou em sua bolsa roxa, até achar a chave de seu New Beetle amarelo.

Entrou no seu carro e, sorrindo enormemente, deu a partida, rumo à única coisa que a deixava mais do que feliz em seus artificiais e monótonos sábados.




“Tia Bella! Você demorou hoje!” Elle – uma mais do espoleta menina de seis anos – disse assim que Bella adentrou pelos grandes portões do orfanato, fazendo um biquinho magoado. Bella riu e pegou a menina de cabelos rebeldes no colo.


“Desculpe-me, meu amor, mas a titia acabou demorando mais do que o necessário quando estava comendo.” Respondeu amorosamente.

“Ah! Então a senhora já comeu?” Indagou, desapontada. “Poxa, eu e o Tony fizemos um monte de bolinhos de chocolate e deixamos uns pra senhora experimentar e dizer se ficou bom, porque os seus são os melhores!”

“Fizeram pra mim? Oh, então eu como novamente!” Riu e colocou a menina no chão, assim que saíram do gramado e chegaram na parte do pátio de piso amarelado.

O orfanato era administrado por freiras e, embora Bella não fosse a única voluntária, era certamente a mais dedicada. Todas as noviças admiravam a bondade daquela meiga menina que sempre estava mais do que disposta a ajudar as crianças em qualquer coisa.

Catherine – a madre do convento – lhe disse uma vez que ela deveria seguir a carreira religiosa e, talvez, ela realmente devesse fazer isso, porque sua benevolência a inclinava para algo desse gênero, no entanto, Bella sonhava com uma família, coisa que lhe seria privada, caso escolhesse seguir uma vida religiosa.

“Bella, querida!” Catherine cumprimentou-a animadamente ao sair no jardim. “Achei que não fosse vir mais.” Catherine era uma senhora já no auge de seus sessenta anos, mas era tão ativa que poderia se passar por alguém quinze anos mais jovem facilmente. A expressão bondosa era carregada por rugas que denunciam, pois, todos os anos vividos e a sabedoria que carregava.

“A tia Bella já explicou pra mim que ela comeu demais e aí atrasou!” Elle explicou inocentemente, retorcendo-se e saindo do colo de Bella. “Vou lá pegar os bolinhos que eu fiz pra gente comer com chá!” E saiu correndo em disparada.

Catherine riu. “Essas crianças te adoram, Bella.”

A adolescente sorriu, orgulhosa de si mesma. “Elas são a melhor coisa que me aconteceram nos últimos anos, Cathy.” Respondeu, emocionado a sério.

As duas mulheres passaram pelo pátio central de piso amarelo e entraram na sala de estar, onde as crianças faziam uma bagunça geral. A televisão que fora doada justamente por Bella transmitia um desenho, mas quase ninguém estava prestando devida atenção á ele; algumas desenhavam, outras corriam desembestadas, outras colocavam coisas indevidas na boca... Mas apenas uma estava quieta. Amuada no canto da sala, uma menina de cabelos loiros brilhantes desenhava quietamente, claramente tristonha. Bella não a reconhecera e logo sua curiosidade – já sempre muito afiada – foi açoitada.

“Ela é nova por aqui?” Bella indagou, apontando discretamente para a garotinha.

Catherine suspirou. “Sim.”

“Oh, coitadinha, deve estar sendo difícil para ela superar a morte dos pais sendo tão bebezinha...”

“Esse é o problema.” Cathy interrompeu, resignada. “A mãe está morta, mas o pai não. Quero dizer, ainda não.” Bella a fitou confusa e a freira prosseguiu: “Ele foi preso, está no corredor da morte, não deve durar nem seis meses.”

Isabella ofegou, muito surpresa. Encarou novamente a menina e notou dois grandes olhos verdes, indagando a si mesma como uma criatura tão adorável poderia ter provindo de alguém tão ruim ao ponto de merecer o corredor da morte.

“Será que eu deveria ir falar com ela?” Bella indagou, incerta.

“Talvez, mas não toque nesse assunto.” Catherine recomendou seriamente.

Isabella mordeu os lábios e rumou até o canto da sala onde a menina estava encolhida muito concentrada numa pintura. Silenciosamente, a adolescente agachou-se ao lado da menina, apenas esperando que esta notasse sua presença por si própria.

“Oi.” A garota finalmente pareceu notar que tinha companhia.

“Olá.” Bella respondeu gentilmente, sorrindo de uma forma que deixava claro que esta ali em “missão de paz.”

“Você não usa roupas de freira.” A garota concluiu, com seus olhinhos verdes curiosos analisando a adolescente de uma forma muito analítica.

“É porque eu não sou uma.”

“E o que você está fazendo aqui, então?” A menina não foi indelicada em seu questionamento; era pura curiosidade infantil.

“Eu ajudo as freiras a cuidar das criancinhas.” Bella nunca se irritava com as perguntas das crianças, muito pelo contrário, ela até achava isso algo fascinante.

“E como você se chama?” Indagou, como se já estivesse falando daquilo desde o começo.

“Isabella, mas me chame de Bella, porque Isabella é grande demais.”

“Oh, eu tinha uma amiga que se chamava Bella, mas era de Anabella.” Estalou a língua, pensativa. “Eu me chamo Mallory. Se achar muito grande, pode me chamar de Lory, mas eu não gosto muito porque parece mais com marca de shampoo.” Bella arregalou os olhos, sorrindo com a inteligência da menina.

“Mallory é muito bonito. Combina com você.” Bella elogiou, já se sentindo a vontade o bastante para sentar-se no chão ao lado de sua mais nova amiga.

“Só acho meus olhos bonitos porque são iguais aos do meu pai.” Mallory disse despreocupadamente, voltando a colorir seu desenho. “Não gosto do meu cabelo porque é igual ao da minha mãe.”

Bella inquietou-se com a amargura com que aquela frase foi proferida. “Não diga uma coisa dessas.”

Mallory deu de ombros. “Ela não gostava de mim e nos deixou daí papai me disse que eu não precisava gostar dela também. Ele também não está comigo agora, mas eu sei que é porque ele não pode, não porque ele não quer.”

Bella sorriu vendo que ela era tagarela e que, ao contrário de seu pensamento inicial, também gostava de se socializar com outros.

“Você quer desenhar?”

Bella ampliou seu sorriso e acedeu. Mallory remexeu em sua pilha de folhas sulfite e entregou uma à adolescente, junto com um lápis cor de laranja.

Bella esquadrinhou a menina antes de começar a rabiscar na folha, pensando em como uma coisa tão pequenina já tinha que lidar com tanto sofrimento. Mãe que a abandona, pai marginal que é preso... As freiras mais radicalistas sempre diziam que todo sofrimento é resultado de coisas ruins que você fez ao longo de sua vida, mas Bella não podia aceitar tal pensamento. Não conseguia entender, pois, o que uma criança tão pequena e tão boa poderia ter feito algo tão ruim a ponto de merecer tal castigo.

Duas horas e cinco folhas rabiscadas depois, Bella encontrava a madre Catherine no pátio central, com sua curiosidade a açoitando sem piedade.

“Você esteve bastante tempo com Mallory.” Catherine observou assim que Bella postou-se ao seu lado.

“Ela é uma boa menina.” Bella respondeu simplesmente, dando de ombros.

“Pena que os mesmo não pode ser dito de sua família.”

“Posso perguntar o que aconteceu?” Perguntou, incerta.

“Não garanto resposta.” Catherine contrapôs com um sorrisinho de lado. Bella suspirou; Cathy sempre fora muito reservada com as histórias de vida das crianças do orfanato.

“Eu só não entendo como uma criança tão adorável pode ter vindo de alguém tão ruim ao ponto de merecer o corredor da morte.” Desacreditou-se a adolescente.

“Nós não somos o total reflexo dos nossos pais, minha querida.” Bella assentiu, concordando com certa alegria. Ela em nada parecia com seu pai – aquele homem ganancioso e preconceituoso –, mas isso era algo positivo tanto em seu caso, como também era algo positivo no caso de Mallory Cullen. “O pai dela foi preso por ter matado um homem e sua namorada, depois de tê-la estuprado.” Bella estremeceu. “Foi considerado crime hediondo, por isso a pena de morte é o mais provável.”

“E não há defesa?”

“Ele confessou. E, ao que parece, ele não tem nenhuma condição de pagar um bom advogado para defendê-lo.”

“Mallory ficará aqui?”

“Enquanto o pai está vivo, ela ficará aqui como se estivesse abrigada. Mas, assim que a execução foi feita, ela será colocada para a adoção, já que não tem nenhum parente próximo.”

“Oh, que história deprimente pra uma criança tão pequena!” Bella lamuriou-se, realmente entristecida.

“Nem tudo são flores.” Cathy sorriu tristemente. “Não cabe a nós decidir o que é certo ou errado... A única coisa que está ao nosso alcance é dar à menina o melhor suporte possível para que seu sofrimento seja um pouco aplacado.” Suspirou com pesar.

Bella sentou-se num banco que havia por ali e ficou pensando nas palavras da Madre, juntamente com o sorriso da pequena Mallory que ela tinha presenciado há pouco tempo.

Faria tudo que estivesse em seu alcance para que aquele sorriso tão sincero não fosse apagado e substituído por lágrimas, mesmo que toda a situação a fizesse crer que isso era uma coisa impossível.



“Por que você está tão triste?” Bella perguntou à Mallory numa manhã ensolarada, quase um mês depois de se conhecerem. Estava um dia magnífico e todas as crianças do orfanato aproveitaram para ir brincar no quintal, exceto a pequena Cullen – que, como sempre, ficou exclusa em seu quarto, com suas folhas e seus lápis de colorir.

“Já faz muito tempo que eu não vejo meu pai.” Mallory respondeu, aconchegando-se no colo de Bella e fungando tristemente. Bella sentiu seu peito comprimir; em pouco tempo, ela conseguiu se aproximar bastante de Mallory, tornando-se uma amiga muito querida, e a dor daquela menina tão encantadora, mas que já sofrera tanto, acabava transformando-se em sua própria dor.

“Eu sei, meu amor, mas a gente não pode fazer nada.” Confortou, impotente.

Mallory pareceu ter um estalo em seu cérebro, levantando seus dois grandes olhos verdes e encarando Bella de forma intensa.

“Abbey me disse que a gente poderia visitar meu pai alguma vez. Disse que eles aceitam visitas de vez em quando.” Bella sorriu minimamente, sabendo que visitar o pai de Mallory seria meio impossível, uma vez que ela sabia que ninguém teria coragem suficiente de acompanhá-la.

“É... Complicado, meu amor.”

“Complicado por quê?” Mallory quis saber, daquele jeito inquisitivo típico de crianças que não conseguiam entender as coisas. “A gente só tem que ir até onde meu pai está e ver se ele está bem. Eu juro que volto pra cá depois!”

Bella suspirou. Era de cortar o coração ver aqueles olhinhos brilhantes diante da certeza de ter encontrado uma solução e não poder fazer outra coisa que não fosse acabar com toda aquela animação.

“Mallory... É que as coisas não são tão simples assim.”

“Então me diga por que é que é tudo tão complicado assim.” Exigiu, cruzando os bracinhos com uma expressão emburrada.

“Nós precisamos de alguém para levá-la até onde seu pai está... E digamos que lá não é um lugar onde as pessoas gostam de ir.” Respondeu Bella, mordendo os lábios, com medo de ter dito algo que deixaria a garota ainda mais chateada.

“Você pode me levar!” Mallory apontou, como se fosse muito óbvio.

“Eu não posso...” Estava mais do que difícil pra Bella ter que jogar areia em todos os planos de Mallory. “No lugar onde seu pai está... Só podem entrar pessoas que já passaram de certa idade, e eu ainda não passei.”

“Mas você pode dizer que passou, ué.” Insistia. “Quem é que vai conseguir provar o contrário?”

Bella suspirou. “Tudo bem, eu vou ver com Catherine o que podemos fazer.” O sorriso gigantesco que Mallory ostentou naquele momento foi o suficiente para espantar todos os medos de Bella para longe.

O que lhe custaria levá-la até a penitenciária? Nada. Somente lhe traria alegrias.



“É arriscado, minha querida, tente entender.” Madre Catherine repetiu pela enésima vez, com aquele tom de calmaria inabalável.

“Eu sei disso, Madre.” Claro que sabia que entrar numa penitenciária não seria a mesma coisa de entrar numa casa de carnes, isso não precisava ser lembrado a toda hora. “Acho que a senhora é quem deveria entender. Não acho muito possível que um dos presos ou até mesmo o pai da menina escape dos guardas e venha me estuprar. E eu só quero fazer com que toda a situação seja um pouco mais suportável pra ela.”

Catherine pareceu ponderar por um momento, quase como se sua determinação em não deixar que Bella levasse Mallory para ver o pai fosse levemente balançada por alguns segundos. A adolescente aproveitou essa deixa: “Pense que essa pode ser a última vez que a menina poderá ver o pai.” Apelou.

Catherine lambeu os lábios e fixou o olhar no de Bella; a adolescente quase podia ver as engrenagens rodando no cérebro da freira. “Quais seriam os riscos?”

Bella sorriu, comemorando internamente. Agora faltava pouco. “Poucos, eu diria. A senhora sabe que a segurança penitenciária dos EUA é uma das melhores do mundo.”

Cathy assentiu para si mesmo. “Eu permito.” Bella não se conteve e deu um grito de alegria. “Mas,” a freira interrompeu, levantando um dedo “você tem que falar com seus pais também, não quero ser a total responsável por isso.” Bella assentiu animadamente e, sem reservas, pulou no pescoço da freira, beijando sua bochecha demoradamente, enquanto esta ria, embaraçada.

“Você é a melhor freira do mundo, Catherine!”



Uma semana depois...

“Bells, por que esse portão é tão grande? E por que esses homens estão com essa roupa horrorosa? E por que não tem nenhuma cor aqui?” Mallory bombardeava Isabella com incontáveis perguntas; seus grandes olhos verdes ardendo em curiosidade e inocência.

Bella riu, abaixando-se na altura da menina para depois pegá-la no colo. “O portão é grande porque sobrou dinheiro e aí eles resolveram gastar tudo comprando ele. A roupa dos homens é horrorosa mesmo, mas já despediram o estilista que a fez e o mandaram embora do país. E não há nenhuma cor porque a cartela de lápis de cor deles acabou.” A adolescente explicou e Mallory assentiu lentamente, achando aquilo tudo muito furado, mas não duvidando, afinal ela era adulta e os adultos costumavam saber de tudo.

As duas continuaram a andar, no meio de incontáveis pessoas, rumo a grande portaria do Presídio Municipal, que era guardada por vários polícias dentro de fardas perfeitamente engomadas, e ostentosos de faces muito emburradas. Mallory os encarava com curiosidade e achava muito esquisito o fato deles não desviarem o olhar nenhum segundo.

Ao finalmente entrarem no presídio e a grande porta ser fechado atrás de si, Bella sentiu um calafrio na espinha. O local era gélido e a tensão de lá parecia penetrar nos ossos; Mallory se remexeu em seu colo até que conseguiu descer, colocando o dedo gorducho dentro da boca e olhando tudo com claro espanto, certando se perguntando por que seu amado pai havia parado ali.

Isabella observou ao redor e viu que entre as pessoas que entraram junto de si, haviam predominantemente mulheres e crianças; algumas dessas magras demais e cansadas demais, maltrapilhas de um jeito tão horrível que fez Bella ponderar se sua saia Armani estava muito deslocada ali.

“Vocês têm uma hora.” Um guarda fez sua voz viril retumbar pelo local. “Sem mais, nem menos. Qualquer comida, carta, lembrança ou bilhete destinado aos detentos deverá ser deixado, na saída, com o guarda responsável.”

“O que são detentos?” Mallory perguntou num sussurro.

Bella engoliu em seco e sorriu amarelo. “Ouça o moço, querida.” Desconversou.

O policial abriu passagem e a tropa seguiu caminho; Bella não fazia a menor ideia de onde estava indo e então, segurando a mão de Mallory, seguiu a multidão.

Todos pararam quase no final do corredor, onde havia uma sala acoplada. Na entrada, um detector de metais antecedia a presença de dois guardas, igualmente carrancudos e engomados.

Então, passaram pelo detector de metais e tiveram seu raio-x projetado na tela de um computador do outro lado e, depois, levantando seus braços, foram revistados desleixadamente.

Mallory e Bella passaram por esse procedimento e a garota parecia estar com a língua coçando para fazer muitas perguntas e, percebendo isso, Bella sorriu pra ela, de um jeito que deixava claro que ela deveria se refrear.

Seguiram a multidão e logo adentraram ao recinto onde os prisioneiros receberiam a visita.

Isabella – criada praticamente numa redoma de vidro – nunca sequer imaginou que aquilo existia. Suas roupas caras, sua maquiagem bem feita, sua pele bem tratada e seu cabelo brilhoso denunciavam, de imediato, que ela não fazia a menor ideia do que era viver na situação daquelas mulheres: marido criminoso, preso, sem poder auxiliá-la em nada e, o pior, com os dias contados.

Aos poucos, as mulheres iam se acomodando nos bancos onde, por detrás de uma parede de vidro blindado, seus maridos, filhos, pais e afins a esperavam, com faces cansadas e desesperançadas.

Subitamente, Mallory avistou o pai e correu de encontro ao compartimento em que ele se encontrava; rapidamente, a adolescente a acompanhou, sendo escoltada por um guarda gordo mal encarado, que supervisionava todas as visitas chorosas com um cassetete nas mãos, pronto para ser usado.

Quando a adolescente sentou-se na cadeira acolchoada – com Mallory em seu colo – e levantou seu olhar para o Senhor Cullen, ela estacou. Porque nunca imaginara ver alguém naquela situação tão... Lastimável.

Ele tinha o cabelo num tom exótico de areia cortado bem rente, quase deixando-o careca e as maçãs de seu rosto quadrado e viril estavam proeminentes, fazendo com que seus ossos saltassem. Ainda assim, esquadrinhando-o enquanto ele mantinha a cabeça abaixada consternadamente, Bella pode ver como era bonito. Tinha traços fortes e másculos, certamente mais endurecidos pelas suas condições de prisioneiro. Estava magro, mas era robusto.

“Mallory?” A análise de Bella durou poucos segundos, porque a voz grossa e levemente rouca foi proferida num tom surpreso logo quando as duas se acomodaram na cadeira. O homem levantou seus olhos para a menina e, no instante que fizera, Bella pode ver como eles ficaram muito mais brilhantes, como mágica. Eram verdes... Profundamente verdes... Estavam nitidamente cansados e contristados e o ensaio de brilho que passou por eles logo foi embora, dando lugar à preocupação. “O que você está fazendo aqui?” Indagou, confuso.

“Olá, senhor Cullen.” Bella pronunciou-se rapidamente, antes que Mallory abrisse a boca. O homem, por sua vez, só pareceu notar a presença da adolescente naquele instante. “Mallory queria muito vir visitá-lo, eu resolvi trazê-la, porque, afinal...” Pode ser a última vez que você se veem. “Ela estava morrendo de saudades.”

“Sim, papai!” Mallory disse, agitada. “Não via a hora de poder ver o senhor novamente! Estava morrendo de saudades e tenho tanta, mais tanta coisa pra contar! Sabia que eu estou morando com freiras? Mas a Bella não é uma, ela só está lá para ajudar e tudo mais...” Disparou a menina, até que, de súbito, calou-se, parecendo perceber só naquele momento que tinha muito mais vontade de fazer perguntas do que contar novidades. “Por que o senhor está do outro lado de um vidro?”

O pai dela estacou e seus olhos lacrimejaram. A culpa e o medo estavam nítidos, e Bella se convenceu de que ele não poderia ser tão mal assim.

“Querida, isso não vem ao caso agora...” Ele encerrou o assunto, passando as mãos pelos cabelos nervosamente. “Você estava dizendo algo sobre freiras... Conte para o papai o que você fez de bom nesses últimos tempos!” Mallory logo pareceu esquecer todos os questionamentos que estava planejando fazer e encetou a falar de forma desembestada de novo.

Bella, enquanto observava Mallory falar sem nem respirar e seu pai observá-la com um sorriso encantado no rosto e com os olhos brilhando, sentiu que não estava nervosa, nem com as pernas tremendo e nem com medo de que ela fosse ser assassinada – pelo contrário, ela estava bem. Com uma sensação de dever cumprido.

“E esta moça que está com você?” Edward – como ela descobrira ser o nome do homem – indagou, depois de algum tempo. Ele a fitou, ainda sorrindo, e a adolescente não pode evitar a tonalidade carmesim que tomou conta de seu rosto.

“É a Bella! Ela é minha melhor amiga lá onde eu to morando agora!” Mallory respondeu animadamente.

“Olá, Bella” o homem cumprimentou polidamente, ainda ostentando um grande sorriso de felicidade, certamente causado pela visita inesperada da filha. “Se não fosse o vidro, eu lhe cumprimentaria.” Brincou e Bella riu discretamente.

“Tudo bem, eu me contento com a sua vontade de me cumprimentar.” Riu.

“Obrigado por trazê-la.” Ele disse, os olhos transbordavam sinceridade e gratidão e Bella se permitiu perder-se ali por um pouco. “De verdade. Obrigado mesmo. Eu não sei o que eu faria se não a tivesse visto logo.”

Bella ficou paralisada e, por um momento, imaginou-se no lugar do homem. Quão horrível devia ser essa certeza de que seus dias estavam contados? E, ainda, essa incerteza no que diz respeito ao que aconteceria com seus entes queridos?

Claro, alguns poderiam dizer que Edward Cullen merecia aquilo, afinal, não pensara em nenhum ente querido na hora de matar duas pessoas indefesas. Não pensara em sofrimento nenhum. Não pensara em vida nenhuma.

No entanto, e os inocentes que cercavam o criminoso, como Mallory Cullen? Mereciam também passar por tanto sofrimento?

Porque, para Bella, não fazia sentido nenhum matar para ensinar outras pessoas que isso é errado.

“Não agradeça.” Ela respondeu por fim. “Só fiz o que achava certo.”

Ele ampliou o sorriso. “A senhorita é muito corajosa.” Elogiou. “Muitas não teriam coragem de pisar num lugar desse, ainda mais portando uma bolsa do Louis Vuitton.” Bella corou e fitou sua bolsa, envergonhada por estar tão deslocada.

“Papai, quando você vai voltar pra casa?” Mallory perguntou, fazendo Bella lembrar-se de sua presença. “Você ainda não terminou de contar aquela história dos porquinhos!”

Edward torceu o nariz e engoliu em seco, angustiado. “Querida,” Começou, a voz já se embargando por lágrimas que lhe entalavam a garganta. “Provavelmente vai demorar...” A voz do homem foi interrompida por um sinal estridente que anunciava o fim da visita.

“Vamos embora!” um dos guardas gritou.

Logo, um festival de choros e lamúrias da despedida infestou o local e Bella, com Mallory agarrada a si, teve que levantar-se da cadeira, rumando para a saída.

“Tchau, querida, não esquece nunca que o papai ama você.” Edward disse, encostando no vidro o máximo que podia, os olhos já emergidos em lágrimas doloridas. “Vá com Deus.”

Mallory fungou, mas, sem entender que aquela poderia ser a última vez que via o pai, não chorou. Apenas acenou para ele, e depois se aconchegou no colo de Bella, que não conteve as lágrimas dolentes que começavam a marcar seu rosto de boneca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Poxa vida, nem acredito que TLW finalmente saiu do PC o/o/o/ kkkk demorou mais de um ano, e eu nem sei porq o.o kkkk tive a ideia de fazê-la dps de assistir Dead Man Walking, chorar horrores e venerar a atuação de Sean Penn e Susan Sarandon, aliás recomendo mesmo que vocs assistam, pq é um dos melhores filmes já feitos *o* Susan arrebenta sempre u.u kkk
Daí, surgiu a ideia de fazer um Edward papai, que, particularmente, eu amo *o* kk
A história está mto bonita, modéstia a parte rs e prometo fazer todo mundo aq exercitar seu lado argumentativo u.u kk afinal, a pena capital (ou pena de morte) é ou não é uma boa alternativa de punição?
Será uma short cm seis capítulos+epílogo, pode ser mais tbm, nunca se sabe, né rsrs
Mas me digam: devo prosseguir? Oq vocs esperam dessa fanfic? Oq acharam desse primeiro capítulo? Manifestem-se, por favor! Eu juro que respondo todas direitinho rs.
Enfim, se houver aceitação, o próximo capítulo vem rapidinho (:
Obg por lerem e até mais o/

PS.: Pra quem acompanha Abraços Perdidos, postarei na segunda o/