Remexeu os dedos entre os fios escuros, em nervosismo. Como assim ainda não decidira?! Sozinha em sua sala, a presidente do Conselho Estudantil fitava à sua frente um problema que julgou insolúvel. Todos os seus subordinados decidiram com tanta facilidade! Ou eles apenas responderam sem qualquer reflexão? Iria puni-los severamente se o descobrisse!

Suspirou pesadamente diante do rumo de seus pensamentos; estava evitando o principal tópico: ela ainda não decidira que carreira seguir, mesmo tão próxima do final do ano letivo. Que tipo de exemplo ela seria se nem ao menos tinha certeza de sua orientação vocacional? Era uma piada, uma irresponsável!

― Ayuzawa-san, te encontrei! ― murmurou uma voz feminina conhecida, avançando em sua direção para abraçá-la. ― Que sorte! Achei que era a única neste prédio a esta hora.

Desanimada, Misaki nem ao menos afastou a animada Miyazono Maria, apesar de suas tendências explicitamente lésbicas. Nunca se esqueceria de quando a mulher declarara-se para ela, à frente de todos os alunos que competiam na quadra. De como o ciúme que sentira ao perceber o contato íntimo entre a loira e Usui converteu-se em perplexidade diante de suas preferências.

Naquele momento, no entanto, sentia-se apenas uma incompetente. Há algumas horas atrás o desespero tomou-lhe enquanto mirava a folha em branco; no entanto, até mesmo esse se esvaiu com o tempo. Os ponteiros estalaram e lá estava ela, sem uma resposta digna e sem uma carreira decidida.

― Por que está tão triste? ― indagou Maria, consciente do estado da maior.

Sempre tinha de fitá-la de baixo, mesmo em seus saltos, já que a diferença de mais de quinze centímetros de altura entre elas não era transposta com o uso de um simples par de sapatos. Porém, perto de sua aluna, considerava bela este contraste físico, assim como o psicológico. Quer dizer, pensava, os opostos se atraem!

― Não me diga que foi o Takumi... ― supôs, indignada. ― Ele vai pagar!

― Não... não foi ninguém. ― Era evidente seu desânimo, tão distinto à sua natureza tenaz. ― Fui eu mesma.

Voltando seus olhos ao mesmo objeto que a mais nova fitava, Maria descobriu a razão de tal comportamento. O teste vocacional. Ah, de uma aluna excelente e presidente excepcional, todos iriam esperar por uma resposta imediata e primorosa. Contudo, para a professora substituta, Misaki era bem mais do que apenas uma aluna acima da média ― suas falhas e dúvidas também lhe interessavam. Na verdade, tudo naquela colegial tão esforçada e rígida, e simultaneamente tão meiga e envergonhada, lhe interessava.

― Tudo isto por causa deste pedaço de papel? ― Seu tom era terno ao menosprezar o citado.

― Não é só um pedaço de papel, é...!

― Você vale muito mais do que isto, Ayuzawa-san ― declarou, sincera, a loira.

Distinta à animação efusiva costumeira, a voz da mais velha era compatível à sua idade. Transmitia segurança e conforto à presidente, como uma conselheira que deveria ser devido à função que exercia no colégio. E Misaki realmente livrou-se de parte de seu desalento com as palavras da mulher, o suficiente para corresponder-lhe o sorriso brando.

― Obrigada, Miyazono-sensei.

Ao vislumbrar a expressão tão suave da morena, Maria não se conteve e a abraçou em meio a elogios entusiasmados, enquanto a envolvia num abraço estreito. Seus seios volumosos tocavam o corpo da garota menos avantajada, que corou violentamente com a proximidade, gaguejando súplicas para que a deixasse.

― É bem típico de você, Ayuzawa-san ― murmurou a mulher ao afastar-se. Logo completou ao fitar o rosto confuso da mais nova: ― Consegue resolver os problemas dos outros, mas tem dificuldade de resolver os seus próprios.

Um estalo se deu na mente da presidente, que exclamou “É isto!” para em seguida apanhar a folha em branco e preenchê-la rapidamente. A cada linha escrita, seu ânimo crescia, explícito em seu sorriso de satisfação. É isto! Após inserir todos os dados no documento, leu e releu o que havia registrado para ter certeza de suas palavras. Por detrás da garota sentada, Maria encontrou entre os parágrafos o curso pretendido. Direito.

Acompanhou a maior quando esta levou os papéis ao departamento adequado, alegre diante da mudança de humor da aluna. Vê-la feliz era sua própria maneira de encontrar a felicidade. E aqueles poucos momentos em que passaram juntas foram preciosos o suficiente para que desejasse que fossem eternos. Seus anseios, entretanto, foram frustrados com uma ligação recebida pela morena, na qual sua gerente pediu sua participação num evento do café de última hora.

― Miyazono-sensei, quer vir comigo? ― convidou Misaki, um tanto embaraçada. ― Como agradecimento à sua ajuda.

De maneira nenhuma iria recusar.

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Atarefada diante do atendimento a tantos clientes, a morena pouca atenção pôde lhe disponibilizar. No entanto, somente observar seu entusiasmo que a todos contagiava, ciente de que era em parte responsável pela recuperação deste, já lhe era o bastante. Como ela estava linda, mesmo vestida como homem! A todas as garotas do recinto encantava com seus bons modos, e seu conforto diante da situação era uma esperança a mais à mulher homossexual. E se, um dia...?

Afastou suas próprias expectativas ingênuas, ciente do amor recíproco da maid por seu namorado. E, apesar de odiá-lo com todo o seu fervor por roubá-la de si, não poderia culpá-lo por se apaixonar por tal garota irresistivelmente adorável. Afinal, era com ele que Misaki encontrara seu primeiro amor e ― mesmo que não quisesse admitir ― era Takumi que despertava nela aquele enrubescimento tão lindo e próprio de uma garota apaixonada.

E vê-la feliz era sua própria maneira de encontrar a felicidade.