A porta da sala da médica foi aberta violentamente assustando a mesma que se preparava para ir embora.

-O que pensa que está fazendo ao entrar em minha sala sem pedir permissão? – lançou um olhar irritado ao moreno que atravessava a porta.

-Comer brigadeiro que não é. – respondeu sorrindo cinicamente. .

Sakura desviou sua atenção à bolsa, pedindo para que um milagre acontecesse e Itachi ou Karin ligasse para ela, ou até ser chamada para uma emergência no hospital. Respirar o mesmo ar que o Uchiha, ficar no mesmo lugar que ele e encará-lo eram coisas que ela definitivamente não estava preparada.

Ouviu os passos do moreno e quando desviou o olhar se deparou com ele parado bem na sua frente a olhando fixamente.

-Se não percebeu estou de saída. – ressaltou. Sakura pegou sua bolsa e foi andando, mas quando estava a três passos da porta, uma mão grande agarrou fortemente o seu pulso, impedindo-a de continuar a andar.

Com esse agarre uma descarga elétrica passou pelo corpo de ambos e o contato visual que ela a todo custo tentava evitar foi feito.

-Me solte Sasuke! – o seu nome sendo pronunciado por ela o deixou desconfortável, pois quando fizeram o primeiro contato nessa madrugada, nenhum dos dois pronunciara o nome um do outro.

Vendo que o moreno não iria soltá-la, a Haruno puxou seu braço, mas se arrependeu. O agarre ficou mais forte, Sakura fez uma careta de dor. Puxou mais uma vez, pensando que o Uchiha perceberia que a estava machucando e afrouxasse, mas aconteceu o inverso.

-Me solte Sasuke! Está me machucou. – protestou sentindo uma dor em seu pulso. Olhou para a mão que segurava o seu pulso e pela pressão que ele colocava ali, logo deduziu que ficaria uma marca em sua pele alva. –Se não me solta eu vou gritar! Vou falar para todos que você tentou me agredir! – ameaçou sacudindo o seu braço imobilizado.

O moreno bufou, estava muito irritado. Não sabia mais o motivo que o levou até a sala da rosada. Só se deu por si quando estava girando a maçaneta da porta e entrando sem nenhuma cerimônia, seus pés o levaram até lá. E até saber o que ele quer exatamente com ela não tinha a menor vontade de sair da sala. Sem perceber apertou mais o pulso da rosada.

Uma parte dele dizia para soltá-la, pois a estava machucando, mas a outra dizia para apertar mais, porque a dor que ele sentiu ao ser abandonado fora mil vezes mais doloroso.

-Grite a vontade, eu não me importo. – respondeu indiferente. Deixando a rosada surpresa, ela abriu a boca para deixar o gritou sair, mas sentiu um nó se formando em sua garganta impedindo que qualquer coisa saísse ou entrasse de sua boca. –Vamos Sakura, estou esperando. Cadê o grito? – provocou Sasuke.

Sakura não vendo alternativa, e sentindo que o sangue não circulava mais em sua mão direita, suspirou pesadamente e encarou o chão.

-O que você quer? – perguntou com um fio de voz, sentindo-se derrotada. A presença de Sasuke mexera tanto com ela? A ponto de deixá-la sem coragem?

Vendo a cabeça baixa com os fios rosados cobrindo o rosto que ele tanto sentira falta – mas é claro que nunca admitira isso a si mesmo – em um claro sinal de rendimento, ele relaxou os ombros que estavam tensos e aos poucos foi afrouxando o aperto no pulso.

Quando soltou totalmente o pulso da médica, ele pode ver que a mão estava mais branca que o normal e envolta do pulso estava avermelhado exatamente com a marca de sua mão. Seu coração doeu em arrependimento, mas não iria dar o braço a torcer. Sakura ao sentir-se livre daquele forte agarre suspirou aliviada.

Levou a sua mão direita rente ao colo e massageou a região dolorida. Tudo isso de cabeça baixa. Se encarasse o moreno, sabia que começaria a chorar e ofende-lo até se cansar.

-Quero respostas! – a voz cortante do moreno soou, fazendo com que a Haruno levantasse sua cabeça e o encarasse com o cenho franzido.

-Respostas do que?

-Do seu sumiço, ou melhor, de ter me feito de babaca por dez anos e bem no nosso casamento você desaparecer do nada. – respondeu.

A rosada sentiu-se ofendida por Sasuke ter duvidado de seu amor por ele. Até parece que ela é a vilã dessa história! Mas ele escutaria umas boas verdades e seria agora.

-Você fala tudo isso como se eu fosse a vilã! Mas quem errou primeiro foi você Sasuke e não eu. – contrapôs com a voz firme.

Uma farsa! – gritou sua consciência.

-O que eu fiz? – arqueou as sobrancelhas, com uma expressão alarmada.

-Não se faça de inocente Sasuke! Você sabe o que fez, e sabe muito bem! Agora se me der licença, eu preciso ir para casa descansar. – virou sobre os calcanhares e foi andando a passos duros até a porta.

-Volte aqui Sakura, a conversa ainda não acabou!

A rosada virou-se com um olhar irritado.

-Essa conversa acabou sim! – respondeu indiferente. Virou sobre os calcanhares de novo e colocou a mão na maçaneta quando ela se lembrou de uma coisa. –Não perca seu tempo aqui tentando CONVERSAR comigo, pois esse tempo gasto pode ser bem usado com a sua família! – sorriu de um jeito que ele nunca a vira sorrir e saiu porta afora.

Os olhos do Uchiha arregalaram-se. Realmente era aquilo que ela tinha dito? Mesmo tendo essa troca de farpas, Sakura nunca, em hipótese alguma, rebaixaria a esse ponto, usando seus pais para feri-lo. Mas era isso que ele entendeu. Um sorriso de canto emoldurou seus lábios.

Se ela quer brincar com fogo, vamos brincar. Mas está avisado que quem brinca com ele sempre saí queimado. – pensou enquanto saia da sala da médica Haruno.

Mas espere um momento, o diálogo tenso que tivera com Haruno agora pouco passou em sua mente e uma coisa chamou sua atenção. Sakura dissera que ele que havia errado primeiro. Até agora ele não se recorda de nada que ele havia feito de errado quando estava com a rosada. Ele errou em que? Perguntava-se.

 Enfiou suas mãos fechadas em punho nos bolsos de sua calça jeans e foi andando até o quarto da Nara, mas parou antes de chegar perto da porta, sentou-se na mini-sala de espera apoiando sua cabeça cheia de dúvidas em sua mão que estava apoiada em sua coxa.

Dentro do quarto da Nara, o clima que havia se instalado ali era desconfortável.

O casal que logo seriam pais observava as expressões de seus amigos.

-A encontramos, mas parece que aconteceu algo com ela. – pronunciou-se Ino.

-Sakura-chan demonstrava certa hesitação ao falar conosco. – complentou Hinata.

-Foi sua imaginação Hina-chan, ela estava normal, do jeito que ela sempre foi.

Ao ouvir a voz do loiro a Hyuuga desviou sua atenção para ele e se perdeu na imensidão azul que eram os olhos do loiro. Suas bochechas ficaram vermelhas quando recebeu um sorriso estilo Naruto do mesmo.

Ele não sabia, mas quando os olhos perolados de sua amada entraram em contato com os seus, Naruto por impulso sorriu apenas para ver o rubor que deixava a Hyuuga linda.

-Não invente história Naruto! Todo mundo sabe que ela está diferente sim! – manifestou-se Neji pela primeira vez com uma expressão de poucos amigos direcionada ao loiro.

-Tem alguma coisa nela que não está certo.

-Eu gostei da tia Sakura mamãe!

-Você gosta de todo mundo filha. – pegou a menina colo e fez um carinho no nariz da pequena Hyuuga com o seu.

Suspiros pesados foram soltos pelo quarto inteiro, deixando o cômodo silencioso.

-Afinal quem era ela? – a voz da Shiroki cortou o silencio.

-Você nunca viu por acidente uma foto dela escondida ao fundo do guarda-roupa do Sasuke?

-Ou no álbum da formatura da faculdade dele?

Temari e Ino soltaram as perguntas seguidamente.

-Ele não me deixa mexer em suas coisas. – deu de ombros. –Mas pela reação de todos, deu para notar que ela é a famosa Haruno Sakura. A ex do Sasuke. – disse enciumada.

Como resposta as duas loiras assentiram com a cabeça. O clima desconfortável se instalou de novo no cômodo e mais uma vez todos ali suspiraram.

-Vamos embora, já ganhei a minha alta mesmo. E amanhã temos muitas coisas para fazer. – pôs-se de pé.

Shikameru já estava ao seu lado fazendo o papel de apoio. Ino pegou os pertences da amiga e foram saindo do quarto.

Andando normalmente pelo corredor todos estavam com o mesmo pensamento: Sakura não sumiu. Ao entrar no elevador Kohana sente falta de uma pessoa. 

-Cadê o Sasuke?

-Ele já foi, o ambiente hospitalar não o agrada muito. – o Uzumaki respondeu.

-Ou foi esfriar a cabeça. – disse Gaara. -A reação dele quando a viu foi estranha, ele não fez nada. – deu de ombros.

Gaara ao falar aquilo recebeu olhares surpresos.

-Só eu percebi isso? – arqueou as sobrancelhas.

Assentiram mais uma vez.

~~*~~*~~*~~

-Então eu pedi a ela para ficar de costas para mim olhando algum ponto daquele céu azul com os braços abertos. – sorriu ao sentir a mão do namorado acariciando a sua por cima da mesa. –Em certo momento ela perdeu o equilíbrio e caiu de bumbum e começou a chorar.

-Que drama.

-Não fale assim Ita! Elizabeth é uma criança que é muito sensível a dor física.

-Ela fez quinze anos semana passada. Ela já é bem grandinha! – resmungou fazendo bico.

Suspirou e logo em seguida balançou a cabeça em negação, seu namorado não mudava mesmo. Por trabalhar com fotografias, Namie foi contratada para ser a fotografa do aniversário de quinze anos da filha de um empresário muito bem sucedido da Europa. Ficara por quase um mês com as sessões incansáveis de fotos, pois Elizabeth tinha um pequeno problema. A síndrome de Joanina Dognini.*

Mas tirando isso a garota era normal como todo adolescente.

-Que demora hein! Eu estou com fome poxa! – Itachi achou uma graça a namorada fazer um bico, soltando uma risada melodiosa.

-Não fique assim meu anjo, é só esperar a Sakura e a Karin chegar que vamos fazer os pedidos. –consolou-a. Passou um braço nos ombros dela enquanto depositava um beijo no topo da cabeça da mesma.

-Só que elas demoram demais. – bufou.

Sem nada a dizer o moreno selou os seus lábios nos delas em um demorado selinho.

Itachi havia levado a namorada ao seu apartamento na noite anterior, onde aproveitaram o restante da noite com longos e prazerosos momentos de amor. E agora o casal estava esperando a chegada da rosada e da ruiva para poderem almoçar. Essa ideia foi de Itachi, pois ao falar com Sakura pelo telefone horas atrás sentiu que ela estava estranha. O que aconteceu com sua amiga/irmã?

O restaurante escolhido era considerado uns dos mais finos da cidade. Com dois andares, no primeiro era como todo restaurante que pessoas da classe alta da sociedade frequentam, mas agora estava lotado com turistas ricos. Já no segundo andar, era um ambiente mais tranquilo, com luzes postas em lugares estratégicos deixando o lugar calmo, temperatura ambiente, um lugar reservado para aproveitar um almoço ou jantar com a amada. Itachi resolveu por escolher uma mesa um pouco mais afastada, e agora estava ele e Namie esperando pela rosada e a ruiva que estavam atrasadas.

Passos subindo as escadas ecoou por todo o segundo andar.

-Por aqui senhor. – a voz do maître chamou a atenção do Uchiha.

Ao ver a figura tão conhecida andar sendo guiado pelo homem impecavelmente vestido Itachi congelou, aquilo não era uma ilusão!

-O que houve Ita? – Namir colocou as duas mãos no rosto do namorado, mas algo prendia a atenção do mesmo. –Ita? Você está bem? Quer tomar um ar? –perguntou preocupada. –Itachi!? – o chamou recebendo nenhuma resposta.

 Preocupada com a situação do moreno, Namie desviou o olhar na mesma direção que o Uchiha e ficou surpresa. Itachi não me disse que ele tinha um irmão gêmeo. – pensou enquanto observava as características semelhantes, os cabelos negros não eram cumpridos, pelo contrário eram bagunçados para trás, mas tinham a mesma tonalidade. A cor da pele era quase a mesma, e também percebeu que ele era uns centímetros mais alto que o seu namorado. Seus olhos se arregalaram quando os olhos também negros cor de ônix iguais ao de Itachi cruzaram com os seus.

Viu Itachi endurecendo as feições quando o homem, que ela dizia ser irmão gêmeo do mesmo, começou a andar em direção da mesa deles com um olhar que ela não conseguia distinguir.

-Itachi. – a voz do moreno menor soou ríspida como sempre.

Em um solavanco Itachi levantou-se de seu acento com uma expressão de poucos amigos e com as mãos fechadas em punhos, tamanha era sua força que seus mãos ficaram brancas.

-O que está fazendo aqui Sasuke? – perguntou entre dentes. Quando seu irmão mais novo apareceu em seu campo de visão, o sentimento de decepção e raiva o inundou.

Sasuke! Esse nome é familiar! É claro, Sasuke é irmão mais novo do Ita e o ex da Sakura. É o homem que a faz sofrer! – pensou Namie de olhos arregalados. Agora tudo fazia sentido.

-Vim passar minhas férias aqui em Konoha. Algum problema? – arqueou uma sobrancelha.

-Nenhum. Sozinho?

-A turma veio comigo.

Os irmãos Uchihas se encararam por longo tempo.

-Quem são eles Sasuke? – uma voz feminina rompeu o momento.

Até a Shiroki se pronunciar, ninguém tinha percebido a sua presença. Itachi a encarou de cima a baixo e franziu o cenho, seu irmão foi arranjar justo uma modelo no lugar de Sakura? Perguntava-se mentalmente quando viu de mãos dadas.

Mas é um mané mesmo! – falou em pensamento lançando um olhar de reprovação a mais nova namorada, noiva ou o que quer que seja do irmão caçula.

-Meu irmão que não vejo há dois anos e meio e sua namorada...

-Okada Namie. – completou direcionando um sorriso falso.

-Shiroki Kohana. – devolveu o sorriso.

Um silêncio entre os dois casais se instalou.

Como queria que Sakura aparecesse agora para poderem almoçar sem nenhum problema, mas logo se lembrou que a pessoa que estava a sua frente era a raiz do sofrimento silencioso da rosada, com o cenho franzido pediu para que ela se atrasasse mais alguns minutos.

-Ita. – a voz de Namie a tirou de seus devaneios. –Não é melhor ligar ou mandar uma mensagem a elas avisando que mudamos de ideia e vamos a outro restaurante? – perguntou baixo, deixando clara a sua preocupação. Não queria presenciar uma cena triste. Não queria mais ver Sakura abalada como há dois anos e meio.

-Ótima ideia meu anjo, vá ao banheiro e faça isso, eu seguro aqui por alguns minutos. – respondeu no mesmo tom. A Okada assentiu demonstrando pela expressão sua preocupação. –Não se preocupe, eles não vão se esbarrar nem por cima do meu cadáver. Agora vá! – beijou a testa da namorada.

-Com licença. – pediu. –Umas amigas estão no andar de baixo, vou lá dizer um OI. – e saiu sob os olhares dos três. O moreno sorriu de canto com a desculpa da namorada.

-Não deveria ir com ela? – Sasuke perguntou de um jeito irônico.

-Pra quê? Ficar escutando fofocas de mulheres? Prefiro ficar aqui. – respondeu indiferente.

Sasuke encarou seu irmão confuso. O que tinha acontecido com seu irmão para agir de uma forma tão hostil com ele? Até onde ele se lembra, não havia feito nada que deixasse o irmão decepcionado, como estava agora. Decepcionado, magoado e raivoso.

De repente uma ideia brilhou em sua mente. Itachi havia sumido poucos dias depois do sumiço estranho dela. Ela o abandonou em pleno altar. Não conseguia falar como antes com o irmão depois de seu casamento fracassado. Ele, depois da confusão de seu não-casamento, lançava-lhe olhares de decepção como agora e ficava furioso quando ele lamentava-se do sumiço de sua noiva.

Em um movimento rápido e perfeito, o Uchiha menor agarrou o colarinho da blusa social do mais velho, o surpreendendo.

-O que você falou a ela naquele dia? – sua voz foi elevada uma oitava chamando a atenção das poucas pessoas que estavam no segundo andar.

-Eu não falei nada à Sakura! Foi você que a iludiu! – respondeu Itachi olhando-o mortalmente.

-Eu não sou mais criança Itachi! Foi você que estragou tudo! – o acusou. Sua raiva era tanta que algumas veias de seu pescoço apareciam sob a pele.

-Não se faça de vitima Sasuke! A culpa foi sua por ter despedaçada-a. – contrapôs pegando no colarinho da camisa do caçula também e se preparando para desferir um soco quando foi interrompido por alguém.

-Já chega Itachi! Não fale mais do que isso.

A voz da recém-chegada fez os dois homens desviaram seus olhos para a figura de cabelos rosa que estavam presos em um coque com os olhos esmeraldinos brilhantes por causa das lágrimas contidas.

Itachi paralisou quando viu Sakura a alguns metros da mesa, ao lado dela estava Karin com os olhos arregalados, mas um brilho de raiva aparecia aos poucos.

Eu só posso ter feito algo na vida passada! – Sasuke pensou sarcasticamente. Encarando a silhueta esbelta da rosada. Mas quando seus olhos se encontraram com os delas, não pode evitar que as mãos suassem pela vontade de secar as lágrimas dela. Ela não é flor que se cheire! – a parte racional de sua consciência disse.

Os passos na escada ecoaram de novo no segundo andar. E quando Itachi viu a cabeleira branca de Namie balançando soltou o ar pesadamente. Fora tarde demais.