O Corvo Negro escrita por V M Gonsalez


Capítulo 5
Capítulo 4 - Velhos Amigos


Notas iniciais do capítulo

Eu preciso cumprir minhas promessas =w=



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Um corvo voando pela cidade não é algo que chame a atenção. Um homem vestido completamente de preto também não. Mas quando um corvo pousa no ombro de um homem vestido de preto é um evento interessante. Mais interessante ainda é quando os dois conversam. No entanto, não havia ninguém para tomar nota daquela cena memorável.

- São mais dois agora? E um deles tem as mãos manchadas de sangue... Interessante – comentou o humano. Tinha uma voz jovem e não muito grave, sua fala era leve e tinha uma risada estridente.

O corvo pareceu rir empolado em seu ombro, dançando nos cabelos negros do rapaz. Seu olho azul tinha um toque peculiar de loucura e insanidade e o outro, vermelho como sangue, era cruel. Tão cruel quanto os olhos de um corvo.

...

Os detetives ainda se entreolhavam tensos quando alguém bateu na porta. Com um suspiro, a voz do garoto soou sarcastica, com um leve riso em seu rosto.

- Acho que nosso “presentinho” chegou.

Os veteranos olharam repreenderam-o com o olhar. Johnson e Merlim se entreolharam preocupados, pois não sabiam o que aquilo significava. Hernesto, mais uma vez, atendeu a porta e voltou com um saco de papelão, com alguma coisa dentro.

- Pontual, como sempre. – resmungou Sir Glalcon, com sua voz irritante

Hernesto tirou o objeto de dentro do saco lentamente. Era uma fita K-7 em perfeitas condições. Não trazia legenda ou qualquer outra identificação, mas todos, com exceção dos novatos, sabia exatamente do que se tratava.

- A cada morte, uma fita – iniciou Raul – Sem digitais, sem qualquer pista. Chega preso em um corvo, como era de se esperar. É deixado na porta da agencia e depois o corvo desaparece. Tentamos segui-lo, mas ele parece se misturar nas sombras.

Johnson suava frio. Aquilo parecia maniacamente perverso. Além de matar de forma horrenda, aquele assassino era capaz de brincar com a polícia como se ela fosse uma criança de 5 anos. Enquanto falavam, Hernesto levava a fita para o leitor no outro canto da sala, acompanhado dos demais. Logo, estavam todos ao redor do pequeno sofá, destinado à Merlim e Raul, que eram os mais velhos.

A tela da televisão começou a chiar incesantemente, pontos pretos e brancos dançavam na tela até deixar Johnson tonto. Por fim, Merlim não aguentou e perguntou, com uma leve irritação na voz:

- Acho que essa coisa está quebrada!

- Não – respondeu Raul, concentrado na televisão – É assim mesmo. As mensagens são apenas auditivas, não tem imagens. Parece que o ruído é proposital, ajuda a esconder a voz distorcida e qualquer outro barulho que ajude na identificação.

Alguns segundos depois, uma voz foi ouvida. Não era bem uma voz humana, era quase como se os chiados tomassem uma forma definida, mas era impossível dizer se o locutor era um homem ou mulher ou jovem ou velho. Apenas uma coisa era realmente evidente. A risada extridente.

- Meus caros... Vejam, já é o quarto e nada! Que vergonha, que vergonha. Os melhores entre os melhores de Chicago e nada. Sabe... Quando eu fiquei sabendo que haviam montado uma frente para investigar eu fiquei animado... Mas nada... Mas está tudo certo, não ia ser divertido se me pegassem afinal.

Depois disso, a voz fez uma pequena pausa. Johnson e Merlim estavam de olhos arregalados e olharam em volta para os rostos solenes que fitavam a tela. Aqueles eram os melhores de Chicago e agora estavam entre eles.

- Bem – recomeçou a voz – O que eu tenho a dizer é apenas que o tempo está correndo. Ainda falta um pouco eu acabar a minha... Digamos... Cruzada. Mas não acho que possam me pegar – ele parou para rir, um momento que durou muito mais do que o necessário – Mas bem... Gostaria de dizer também algo muito importante – e fez uma pausa dramática e depois, quase sussurando, falou pausadamente, para não haver dúvidas – Um, entre vocês, está do meu lado. Está me ajudando, atrapalhando a investigação... Logo será revelado... Tenham uma boa noite.

De súbito, a tela ficou azul, indicando que a fita havia acabado. O clima estava pesado na sala, os presentes se entreolhavam temerosos. A voz rouca de Raul soou como a luz do dia, depois de uma longa noite:

- Ora essa! Não dêem ouvidos para esse idiota. Somos todos parceiros aqui, trabalhamos juntos desde muito tempo, nos conhecemos a anos. E não tem como suspeitar ds novatos, eles acabaram de chegar e esse suposto traidor parece estar conosco há muito. Mas isso não existe. Somos todos fiéis, podem acreditar, eu vejo isso.

O coração de todos bateu mais leve depois das palavras do líder. Mais do que todos, Raul era o que mais acreditava na fidelidade de seus parceiros.

- Agora, Paul, anotou tudo que ele disse?

- Sim, chefe – o garoto ergueu um bloco de notas com algo escrito – Cada palavra e cada risada.

- Ótimo, escutem todos. Hernesto, você vai voltar para a cena do crime e ver se acha alguma coisa. Glalcon e David, quero que investiguem amigos e parentes, tentem arrancar qualquer informação útil, inimigos, pessoas a quem devia dinheiro entre outros. Fred e Peter, vão até a transportadora e investiguem os funcionários, descubram se havia alguém que queria Beto fora. Paul, sabe o que fazer. Vocês dois – disse dirigindo-se para Merlim e Johnson – Quero que me levem ao seu chefe, tenho assuntos a tratar com ele.

Com as tarefas designadas, todos saíram pela porta. Merlim levou Raul em seu velho carro, mas ele não pareceu se importar com isso. Demorou algum tempo para chegarem a “ Central de Investigações Mandregas”. Quanto entraram na sala-escritório, todos olhavam com espanto e admiração para o recém chegado.

- Meu Deus! Vocês voltaram! Eu estava tão preocupado, ouvi pelo rádio que havia ocorrido um assassinato no local onde estavam. Estão bem? – O Sr. Mandregas irrompeu de sua sala, vindo ao encontro dos 3, até que notou o recém chegado e seu rosto se abriu em uma expressão alegre e seus olhos brilharam – Ora essa, se não é você Raul!

O velho detetive também abriu o sorriso e disse, com a voz animada:

- Quando ouvi o nome desse lugar eu sabia que se tratava de coisa sua. Como vai, meu amigo?

Os dois se abraçaram e ficou evidente que se conheciam a muito tempo. A verdade era que Nelson e Raul haviam trabalhado juntos por muito tempo, até Nelson deixar a policia para abrir a própria firma.

Um silêncio constrangedor se instalou na sala. Os presentes se entreolharam e depois olharam para os amigos tendo um feliz reencontro. Johnson mexeu os pés, olhando para os lados e Merlim pareceu não ligar. Por fim, Nelson disse:

- Não acho que esteja aqui só para dar um oi, velho amigo.

- Realmente – o rosto de Raul se tornou um tanto sombrio – Eu vim pedir um favor. Podemos falar em particular?

Os dois entraram na pequena sala particular de Nelson e discutiram por quase uma hora. Nesse tempo, Johnson e Merlim deram muitas explicações para uma multidão curiosa que ficara sabendo de um assassinato no local onde os detetives estavam.

Após a discussão, a porta se abriu e a cabeça de Nelson apareceu, preocupada e um tanto abalada, e o velho detetive pediu:

- Johnson, Merlim, venham aqui, por favor.

Os dois homens entraram na pequena sala e se acomodaram. Raul ocupava a cadeira disponível, o que vez os dois ficarem de pé, apoiados na parede. Nelson começou a falar, mas seus olhos fitavam a mesa a sua frente. Ele parecia triste, mas decidido.

- Vocês dois estão liberados, por hora, para trabalhar com o senhor Sierfroud. Nós aqui trabalharemos recolhendo informações o quanto possível. Por enquanto, isso é um adeus.

Aquilo foi um choque para ambos, embora já fosse esperado. A perspectiva de que não veria mais o rosto sorridente do velho mexeu um pouco com ambos, que já o adoravam como um pai. Mas o serviço precisava ser feito afinal.

- Eu comunicarei aos demais a decisão – voltou a falar Nelson, em tom de encerramento – Foi um prazer, Raul.

Os dois apertaram as mãos e o senhor de terno marrom levantou-se. Seguido pelos dois, ele atravessou a sala principal e saiu pela porta, dando de cara com um corredor estreito que dava para duas escadas, uma de subida e outra de descida. Desceram longos lances de degraus e passaram por mais alguns corredores com portas fechadas e por fim saíram nas calçadas da cidade. Ao passar por aquela porta de metal, Johnson sentiu uma estranha melancolia, como se aquela fosse a última vez que viu o rosto daquele homem de cabelos grisalhos que o recebera tão bem.

Ele não estava certo, mas teria sido melhor se estivesse.


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