Harry Potter e a Fúria dos Deuses escrita por almeidalef


Capítulo 5
Capítulo V - Corvinos e Sonserinos.


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente, como vocês estão? Espero que bem. Agradeço à todos que comentaram o último capítulo. Boa leitura.

Espero que gostem!



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Todos levantaram-se num rompante. Primeiranistas subiam nos bancos para poderem ter uma visão privilegiada. Alguns professores limitaram-se a se levantar, estupefatos. Outros, porém, correram abruptamente em direção ao garoto estatelado no chão de pedra fria, as capas farfalhando. Dumbledore, McGonagall, Snape, Flitwick, Sprout e Lana Griffith foram os primeiros a o alcançarem.

 - Chame Madame Pomfrey, Minerva - falou Dumbledore, agachado ao lado do garoto de olhos azuis e cabelos pretos bagunçados, examinando-o minuciosamente.

 Professora McGonagall rapidamente desapareceu do Salão Principal. Harry esgueirou-se por entre os curiosos aluninhos do primeiro ano e, sentou-se ao lado do garoto. Logo em seguida, prorromperam da multidão de capas nervosas: Annabeth, Rachel, Grover e Nico.

 - Enervate - disse a Prof.ª Lana, com a varinha apontada para a cabeça de Percy.

 O garoto abriu os olhos e enquanto arfava loucamente todo o resto do Salão Principal prendia a respiração. Lana o consolava em seus braços que tilintavam cheios de pulseiras e relógios, soltando muxoxos de desaprovação. A Prof.ª McGonagall, com Madame Pomfrey em seus calcanhares, farfalhou sua capa esmeralda para a aglomeração que se formou entre as mesas da Lufa-Lufa e Grifinória e, ao chegar no centro da algazarra, seus lábios se crisparam e seus olhos por detrás oclinhos de armação quadriculada faiscaram. Madame Pomfrey - vestida em seu costumeiro uniforme vermelho e branco de enfermeira - escorregou em direção a Percy, tirando-o dos braços de Lana e o medindo de ponta a ponta.

 - Professor - sussurrou Harry, olhando para Dumbledore que, até o momento, parecera não notá-lo ali.

 - Ah, Harry, sim? - sobressaltou-se Dumbledore, sem cerimônias, encarando Harry com aquele conhecido olhar, como se pudesse vê-lo por dentro...

 - Este garoto... é... minha cicatriz... e... desmaiou! - Harry gaguejou nervoso, porém, Dumbledore apenas sorriu.

 - Monitores - vociferou -, acompanhem os alunos de suas Casas aos seus dormitórios, boa-noite. - Um tumulto alto ressonou no Salão Principal enquanto os monitores de cada Casa chamavam os primeiranistas, acompanhando-os e os outros alunos saíam murmurando. - Professores, por favor, esperem em minha sala enquanto acompanho este jovem até a Ala Hospitalar. Madame Pomfrey, qual seu diagnóstico?

 - É difícil saber, diretor - contou Madame Pomfrey, com sua voz severa, mas, ao mesmo tempo tranquilizadora. - Este garoto demonstra sinais de muito estresse.

 - Creio que, uma noite sob seus cuidados o fará bem, Papoula? - perguntou Dumbledore sorrindo, enquanto Madame Pomfrey concordava, empertigada ao lado do garoto que murmurava palavras inaudíveis. - Os senhores podem ir. O Sr. Percy Jackson precisa descansar. Annabeth - respondeu, antes mesmo de algum som sair da boca entreaberta da garota -, amanhã você e seus amigos poderão visitá-lo. Agora vão, vocês precisam conhecer seus dormitórios. O Professor Snape o acompanhará Sr. di Ângelo e o mesmo fará o Professor Flitwick, Srta. Chase. Harry, Hermione, Rony, vocês poderiam acompanhar a Srta. Rachel e o Sr. Grover até a Sala Comunal da Grifinória?   

  Harry, Hermione, Rony, Rachel e Grover desapareceram do Salão Principal e seus passos ecoaram, subindo a escadaria de mármore. O cérebro de Harry parecia um caldeirão de chumbo. "Por que aquele garoto desmaiara ao vê-lo?", perguntas borbulhavam na cabeça de Harry mais do que as poções mal acabadas de Neville Longbottom, nas aulas de Snape. "Por que sua cicatriz doera ao encará-lo?". As milhões de perguntas que estouravam agora como fogos de artifício Dr. Filibusteiro na mente de Harry, foram interrompidas pelo cantarolar baixo de Rachel. A garota ruiva, de olhos esverdeados e muitas sardas encarava, sonhadora, as paredes dos corredores de Hogwarts, sorrindo. Harry notara que ela se parecia com Luna Lovegood... Alguns segundanistas passaram entre eles, encarando sem cerimônias a cicatriz de Harry, as pernas de Grover - que mancava fingidamente - e fazendo caretas ao ver Rachel, absorta em pensamentos. Harry sentiu-se muito mais familiarizado àqueles dois alunos: eram os únicos que não ficavam encarando sua cicatriz e também eram alvos de comentários de outros alunos. Rony lançava a Grover olhares desconfiados e nervosos, enquanto Hermione liderava o grupo, encaminhando-se ao quadro da Mulher Gorda.

 - Gárgulas galopantes - disse Hermione, empertigando-se em frente ao quadro, interrompendo o cochilo da Mulher Gorda que, mal-humorada, se inclinou para frente revelando um buraco redondo na parede. Todos passaram pelo buraco. Grover atrapalhou-se na soleira do retrato e acabou tropeçando. E se viram na sala comunal da Grifinória, um aposento redondo cheio de poltronas fofas, onde uma lareira crepitava um fogo calmo e baixo.

 Hermione indicou à Rachel a porta dos dormitórios das meninas e, gentilmente, ofereceu-se para mostrá-la seu quarto. Rony mostrou à Grover, a porta do deles. No alto de uma escada em caracol - era óbvio que estava em umas das várias torres do castelo - Grover finalmente encontrou sua cama e Harry e Rony se assustaram, estavam acostumados apenas com as suas e as de Simas, Dino e Neville que roncavam alto. Seis camas com reposteiros de veludo vermelho-escuro estavam dispostas no pequeno quarto, que agora parecia suficientemente grande para todas elas. As malas já haviam sido trazidas. Cansados demais para falar muito - principalmente Grover -, estavam vestindo os pijamas quando Simas murmurou alguma coisa em relação a Hogsmeade e Neville revirou-se na cama, um baque surdo havia ressoado e, Harry notara que vinha da direção da cama de Rony. Pegou rapidamente a varinha - Lumus! - e a aproximou da origem do barulho. Encontrou um Rony pálido, estirado ao lado de sua cama, olhando arregalado para algum lugar. Harry levou a varinha na direção em que Rony olhava e sobressaltou-se, batendo o pé em seu malão, ao ver aquilo.

 No lugar onde deveriam encontrar pés, haviam cascos fendidos. Suas pernas não tinham os mesmos ângulos que de uma pessoa normal, eram meio tortas e, seu traseiro peludo balançava-se à luz da varinha. Grover olhou para trás e soltou um agudo e constrangido "Béééé!" e, rapidamente encobriu suas patas por uma calça de pijama verde e trotou para dentro da cama.

 - Ahn... o que é você, exatamente? - indagou Harry, levantando e sentando-se na sua cama. - Desculpe - acrescentou depressa ao notar que Grover parecera ofendido -, mas é um tanto... diferente meu novo colega de quarto ter pernas de... pernas de...

 - Bem - começou Grover, embolando-se nos cobertores, tentando se recuperar do susto -, eu sou um sátiro!

 - Ah - sobressaltou-se Rony, sentando-se em seu malão, parecendo entusiasmado -, meu irmão Carlinhos mencionara um sátiro uma vez durante o jantar. É mesmo! Ele encontrou um sátiro na Romênia... Ele estuda dragões, sabe.

 A conversa entre Grover e Rony prolongou-se instantaneamente. Grover contou tudo sobre sua namorada dríade, Juníper, e sobre sua incansável busca pelo deus Pã. Rony anunciou teatralmente todas as aventuras de que Carlinhos lhe contara, acrescentando, deliberadamente, algum ato corajoso de sua parte que salvara a todos. A cicatriz de Harry formigava enquanto os três murmuravam excitados na penumbra da torre. As pesadas gotas de chuva fustigando as janelas.

 - Dor de cabeça? - indagou Grover, sem entender.           

 - Qual o problema com a sua cicatriz, cara? - perguntou Rony, encarando Harry, preocupado.

 - Não... sei - respondeu Harry, esfregando a cicatriz com força, agora sentindo pontadas muito fortes.

 - Um pouco antes de Percy desmaiar - começou Grover, meio encabulado agora que todos os olhos acordados ali estavam pousado nele -... você estava esfregando sua cicatriz... Desculpe - acrescentou Grover, percebendo que invadira um espaço muito pessoal de Harry -, mas Percy é meu amigo e eu gostaria de saber o que aconteceu para ele ficar daquele jeito.

 - Eu também, Grover - disse Harry, indo deitar-se. - Mas... eu não sei... minha cicatriz não costuma doer assim e, principalmente: não faz as pessoas desmaiarem.

 - Ahn - murmurou Grover, absorto em pensamentos -... bom, boa-noite para vocês. - E fechou as cortinas de sua cama, afundando-se nos travesseiros.

 Uns minutos depois de um silêncio, exceto pelo barulho das gotinhas apressadas de chuva suicidando-se na janela da torre, Grover ouviu a voz de Rony murmurar:

 "Harry... você acha que...?"

 "Shhh!" - ouviu Harry censurar, antes mesmo de Rony poder terminar a frase.

___________________*___________________

  Annabeth subia as escadas lentamente para poder acompanhar os passinhos curtos do Professor Flitwick. Chegando ao sexto andar, depois de muitos lances de escadas movediças e corredores com paredes apinhadas de quadros de bruxos e bruxas que cochichavam em seus retratos, eles subiram uma escada circular e chegaram a uma porta que não possuía maçaneta e nem um buraco de fechadura: nada a não ser uma plana expansão de madeira envelhecida, e uma aldrava de bronze em formato de águia. O Professor Flitwick alcançou a argola e bateu na porta uma vez e Annabeth sobressaltou-se quando o bico da águia abriu-se e, ao invés de um canto de pássaro, uma suave e musical voz disse:

"Primeiro pense no lugar reservado aos sacrifícios;
Seja em que templo for.
Depois, me diga que é que se desfolha no inverno e torna a brotar na primavera?
E, finalmente, me diga qual é o objeto que tem som, luz e ar e flutua na superfície do mar?
Agora junte tudo e me responda o seguinte:
Que tipo de criatura você não gostaria de beijar?"

 O Professor Flitwick perpassou as mãos pequerruchas pelo queixo por alguns minutos.

 - Uma araramboia! - respondeu Annabeth, pensativa.

 O professor encarou-a boquiaberto enquanto a porta se abria.

 - Bem... é... aqui é seu Salão Comunal. Até mais v-ver - gaguejou, estupefato.

 O Salão Comunal de Corvinal era grande e circular. Belas janelas em forma de arco pontuavam nas paredes, enfeitadas com tecido de seda azul e bronze. O teto era dominado e pintado por estrelas, que eram reluzidas no carpete azul meia-noite. Várias mesas de madeira estavam dispostas no Salão, muitos alunos sentavam-se nelas, alguns tomando chá enquanto liam livros grossos e empoeirados, outros conversando energicamente em suas poltronas de espaldar alto e estofado azul escuro e ainda outros, sentados apenas devaneando sobre qualquer coisa. Em um canto oposto ao da porta, estava uma estátua de marfim branco: a estátua de Rowena Ravenclaw que, quando Annabeth a admirou, reagiu, quase imperceptivelmente, com um meio-sorriso adocicado e tranquilizador. A estátua ficava ao lado de uma porta que levava aos dormitórios acima e rodeada por quadros e estantes e mais estantes de livros, que alguns alunos pegavam para passar o tempo, sentando-se nos confortáveis sofás apinhados de almofadas fofas.

 - Olá, me chamo Alexander - começou um garoto alto, de pele esbranquiçada, cabelos curtos e bagunçados e olhos castanhos particularmente grandes de pálpebras pesadas, aproximando-se de Annabeth enquanto ela sorria de volta para a estátua. Com uma voz grossa e calma, a boca carnuda sorrindo calorosamente -, estou encantado em recebê-la na Corvinal, Srta. Annabeth. Nosso emblema é a águia, como você pode ver, que sobrevoa onde outros não conseguem escalar; as cores de nossa Casa são azul e bronze. As janelas em arco ambientadas aqui dão vista para o terreno da Escola: o lago, a Floresta Proibida, o campo de Quadribol e as estufas de Herbologia. Nenhuma outra casa na Escola possui paisagens tão belas!

 Ele a levou até uma das várias janelas e mostrou a estonteante paisagem das montanhas escurecendo no crepúsculo.

 "Sem querer se gabar, essa é a Casa das bruxas e dos bruxos mais inteligentes. Nossa fundadora, Rowena Ravenclaw - ele apontou para a estátua, que sorriu mais uma vez quando Annabeth a olhou -, prezava o saber acima de tudo, assim como nós. A Casa da Corvinal tem uma história lustrosa. A maioria dos melhores inventores bruxos esteve em nossa Casa, incluindo Perpetua Fancourt, o inventor do lunascópio; Laverne de Montmorency, um ótimo pioneiro das Poções do Amor; e Ignatia Wildsmith, a inventora do Pó de Flu. Dos famosos Corvinais no Ministério da Magia, está incluída Millicent Bagnold, que estava no poder na noite em que Harry Potter sobreviveu a Maldição do Lorde das Trevas - Alexander percebeu que Annabeth iria lhe perguntar mais sobre o ocorrido e respondeu com um simples: 'é uma longa história'. - E Millicent defendeu as celebrações bruxas por todo o Reino Unido dizendo que afirmava o nosso direito inalienável à festa. Houve também o Ministro da Magia, Lorcan McLaird, que era um bruxo muito brilhante, mas preferia se comunicar soltando fumaça da ponta de sua varinha. Nós também fomos a Casa que deu ao mundo bruxo Uric, o Excêntrico, que usava uma águia viva como chapéu. Ele é agora o final de muitas piadas bruxas. Diferente das outras casas, que possuem entradas escondidas para suas Salas Comunais, nós não precisamos de uma..."

 - Todas as Casas recebem enigmas antes de entrar? - indagou Annabeth, interessada.

 - Não, não - respondeu Alexander, levantando uma das grandes sobrancelhas. Provavelmente não gostara de ter sido interrompido. - Nossa Casa é a única que tem uma porta dessas. Essa simples barreira tem mantido todos fora, menos os Corvinais, por quase mil anos. Alguns primeiranistas ficam assustados em ter que responder as perguntas da águia, mas não se preocupe, Corvinos aprendem rápido, e em breve você apreciará os desafios que a porta lança. Não é incomum achar vinte pessoas em frente da porta da Sala Comunal, todos tentando encontrar a resposta do dia juntos. Essa é uma ótima maneira de conhecer colegas Corvinais de outros anos, e aprender deles - embora seja um pouco irritante se você tiver esquecido seu uniforme de Quadribol e precise entrar e sair rapidamente. Aliás...

- O espírito sem limites é o maior tesouro do homem. E eu te aconselharia a checar três vezes tudo que você precisa na sua mochila antes de sair da Torre da Corvinal - falou uma voz sonhadora atrás de Annabeth. Ela virou-se e viu uma garota postada ao lado de uma outra janela. Tinha cabelos louros, sujos e mal cortados, até a cintura, sobrancelhas muito claras e olhos saltados, que lhe davam um ar de permanente surpresa. A garota emanava uma aura de nítida birutice. Talvez fosse porque guardara a varinha atrás da orelha esquerda perto dos brincos de rabanete, por medida de segurança, ou porque tivesse decidido usar um colar de rolhas de cerveja amanteigada, ou ainda por que usava roupas um tanto excêntricas: uma camiseta azul-escuro com lantejoulas e uma grande mancha de chá derramado, parcialmente escondida por uma jaqueta cinza-claro onde algumas borboletas grandes e multicoloridas batiam as asas e uma calça jeans cor-de-rosa.

 A voz finíssima do Professor Flitwick chamou Alexander quando vários livros despencaram de uma estante e, ele perguntou se Luna poderia dar as boas-vindas à Annabeth enquanto ele resolvia o problema. A garota aproximou-se, pousando seus olhos claros em Annabeth e tornou a falar com sua voz distante e sonhadora.

 - Olá, meu nome é Luna Lovegood. Outra coisa legal sobre a Corvinal é que nossos membros são os mais reservados - alguns podem até considerá-los excêntricos, mas gênios geralmente estão numa sintonia diferente das pessoas comuns... e ao contrário de algumas outras Casas que poderíamos mencionar, nós achamos que você tem o direito de vestir o que quiser, acreditar no que quiser e dizer o que você sente. Nós não tentamos mudar pessoas que são diferentes, sabe? Pelo contrário, nós as valorizamos! Você me parece ser uma pessoa legal, qual o seu nome, Annabeth?

 - Ahn... Annabeth... - respondeu, um tanto confusa e um tanto admirada.

 - Falando em excêntricos - começou Luna, acompanhando com o dedo as gotinhas de chuva que deslizavam tranquilas na janela até o parapeito -, você vai gostar do nosso Chefe de Casa, o Professor Fílio Flitwick. As pessoas geralmente o subestimam, porque ele tem uma voz esganiçada e é muito pequeno - achamos que ele é parte elfo, mas nunca fomos rudes o suficiente para perguntar. Mas hoje ele é o melhor e mais bem informado mestre de Feitiços do mundo. A porta de seu escritório está sempre aberta para qualquer Corvino com um problema, e se você está realmente mal ele vai te dar deliciosos cupcakes pequeninos que ele mantém numa lata na gaveta da escrivaninha, e os faz apresentar uma dancinha para você. Na verdade, vale a pena fingir estar mal só para vê-los dançar.

 "Quanto a nossa relação com as outras três Casas, bem, você provavelmente já ouviu falar dos Sonserinos. Nem todos são maus, mas você faria bem em ficar alerta até conhecê-los bem. Eles têm uma grande tradição de Casa de fazer o que for preciso para ganhar principalmente em jogos de quadribol e exames. Os Grifinórios, tudo bem. Se eu tivesse uma crítica, diria que os Grifinórios tendem a ser exibicionistas. Eles também são bem menos tolerantes do que somos com pessoas que são diferentes; na verdade, eles são conhecidos por fazerem piadas de Corvinos que desenvolveram um interesse em levitação ou nos possíveis usos mágicos de meleca de trasgo, ou em ovomancia, que - como você provavelmente sabe - é o método de adivinhações usando ovos. Grifinórios não têm nossa curiosidade intelectual, enquanto que nós não vemos problema se você quiser passar seus dias e noites partindo ovos num canto da Sala Comunal e escrevendo suas previsões de acordo com a forma que as gemas caem. Na verdade, é provável que você encontre algumas pessoas para te ajudar. Quanto aos Lufa-Lufos, bem, ninguém poderia dizer que não são boas pessoas. Eles fazem parte do grupo de pessoas mais agradáveis da escola. Você não precisa se preocupar muito com eles quando o assunto é competição na época dos exames. Ah sim, o fantasma da nossa Casa é a Dama Cinzenta. O resto da escola pensa que ela nunca fala, mas ela conversa com Corvinais. Ela é particularmente útil se você está perdido ou extraviou algo. O que quase ninguém sabe - Luna agora sussurrava -, é que ela é filha de Rowena Ravenclaw."

 - Nossos dormitórios são em torres fora da Torre Principal; nossas camas de dossel são cobertas em edredons de seda azul céu e o som do vento assobiando ao redor das janelas é muito relaxante. Sou sonâmbula, por isso durmo com sapatos. Vamos lá - chamou Luna, sorrindo com os olhos -, eu te mostro. E seja bem vinda a Casa mais inteligente, mais bizarra e interessante de Hogwarts.

 Annabeth seguiu Luna até a escada ao lado da estátua de Rowena Ravenclaw. Uma delicada coroa circular estava encarapitada pomposamente em marfim no topo de sua cabeça com as palavras em bronze: "O espírito sem limites é o maior tesouro do homem."

___________________*___________________

 O Professor Snape e Nico di Ângelo desceram os degraus de pedra mergulhando na escuridão, seus passos ecoando particularmente altos à medida que ziguezagueavam por entre os corredores que lembravam labirintos, estes, estavam desertos. Eles foram se internando cada vez mais fundo por baixo da escola, Snape manteve seu nariz grande levantado e não dirigiu a palavra em nenhum momento à Nico. Passados quinze minutos, o garoto parou ao lado da capa negra farfalhante de Snape junto a um trecho da parede de pedra, liso e úmido.

 - Puro sangue! - disse Snape, com um leve tom de deboche em sua voz calma e profunda.

 Uma porta de pedra escondida na parede deslizou. Snape o empurrou para dentro sem cerimônias e a porta às suas costas fechou-se com um estalido alto.

 A sala comunal da Sonserina era um aposento comprido e subterrâneo com paredes de pedra rústica, de cujo teto pendiam correntes com luzes redondas e esverdeadas. Um fogo ardia na lareira encimada por um console de madeira esculpida e ao seu redor viam-se as silhuetas de vários alunos da Sonserina em cadeiras de espaldar alto jogando xadrez de bruxo, rindo e conversando enquanto deliciavam-se com uns feijõezinhos multicoloridos em cima de uma mesa redonda de madeira maciça. Nico sobressaltou-se quando uma voz fina e decidida começou a falar.

 - Olá! - disse uma garota de cabelos louros caídos nos ombros, seus olhos castanhos eram gentis porém severos e seu nariz pontiagudo estava acompanhado de um grande sorriso. - Eu sou Anne, seja bem-vindo a Casa de Sonserina! Nosso símbolo é a serpente - ela puxou Nico, acompanhando-o até dois grandes sofás de couro preto próximos da lareira, onde uma aluna encontrava-se empertigada, olhando de quando em quando aborrecida para três silhuetas mais afastadas da lareira -, mais sábia das criaturas; as cores da nossa Casa são verde esmeralda e prateado, e a entrada para nossa Sala Comunal, como você já viu, está escondida nas masmorras. As janelas dão para as profundezas do lago de Hogwarts, está vendo? - Ela apontou para as janelas atrás de um grupo de alunos que perguntavam sobre suas férias e, rapidamente empurrou Nico até lá, sem parar de falar. - É bem comum vermos a lula gigante passar - e, às vezes, até criaturas mais interessantes. Faz com que nós sintamos que nosso salão tem a aura de um misterioso naufrágio subaquático. Agora - ela o encarava vividamente, sorrindo -, há algumas poucas coisas que você deve saber sobre a Sonserina - e algumas que você deve esquecer.

 "Primeiramente, vamos dissipar alguns mitos. Você deve ter ouvido rumores sobre a Sonserina - que todos fazemos Artes das Trevas, e que só vamos falar com você se seu bisavô foi um bruxo famoso, e besteiras do tipo. Bom, você não deve acreditar em tudo o que ouve de Casas concorrentes, o.k.? Eu não estou negando, é claro, que nós produzimos nossa porção de Bruxos das Trevas, mas as outras três casas também. Eles apenas não gostam de admitir - sussurrou -. E sim, nós tradicionalmente tendemos a aceitar estudantes que venham de uma longa linhagem de bruxos e bruxas, mas nos dias de hoje você encontrará várias pessoas da Sonserina que tenham ao menos um parente trouxa."

 Ela levou-o até duas poltronas verde-escuras de espaldar alto e indicou uma para que ele sentasse. Sentou em sua frente, sorrindo energicamente, depois, pigarreou e voltou a gesticular e pronunciar seu discurso, claramente ensaiado.

 "Aqui está um fato pouco conhecido que as outras Casas não comentam muito: Merlin era da Sonserina. Sim, o próprio Merlin, o bruxo mais famoso da história! Ele aprendeu tudo o que sabia nessa mesma casa! Você quer seguir os passos de Merlin ou você prefere sentar na antiga mesa daquele ilustre ex-Lufano, Eglantine Puffett, inventor do Pano de Prato Auto-Ensaboante? - Nico abriu a boca para respondê-la, mas ela continuou. - Acho que não... Mas já basta sobre o que não somos - disse Anne, ligeiramente aborrecida. - Vamos falar sobre o que nós somos, que é a mais legal e mais mordaz Casa da Escola. Nós jogamos para vencer, porque nos importamos com a honra e as tradições da Sonserina. Nós também somos respeitados por nossos colegas estudantes. É, uma parte desse respeito deve ser tingido pelo medo... por causa de nossa reputação sombria, mas quer saber? Pode ser divertido ter a reputação de andar do lado errado: dê algumas dicas de que você tem acesso a uma biblioteca inteira de Maldições, e veja se alguém vai ter coragem de roubar o seu estojo.

 Ela riu com espontaneidade, mas logo acrescentou:

 - Mas nós não somos maus. Somos como nosso emblema - ela apontou para um escudo esculpido em cima da lareira onde uma cobra de pedra rústica se enrolava, seus olhos brilhando esverdeados e a língua bifurcada para fora -, a serpente: lustrosos, poderosos e frequentemente mal entendidos. Por exemplo, nós da Sonserina nos preocupamos com nós mesmos - o que não pode ser dito da Corvinal. Além de serem os maiores cê-dê-efes que você vai conhecer, os Corvinos são famosos por ajudarem um ao outro a tirar notas altas, enquanto nós, da Sonserina, somos irmãos.

 "Os corredores de Hogwarts podem surpreender os imprudentes, e você se dará bem se tiver as Serpentes ao seu lado enquanto anda pela escola. Até que se prove o contrário, uma vez que você se torna uma Serpente, você é um dos nossos - você é da elite. Porque, você sabe o que Salazar Slytherin procurava em seus alunos escolhidos? As sementes da grandeza. Você foi escolhido por esta casa porque tem o potencial para ser ótimo, no sentido literal da palavra. Certo, você pode ver uma dupla de pessoas no Salão Comunal que talvez não pareçam destinadas a algo especial. Bom, guarde isso para você. Se o Chapéu Seletor os colocou aqui, há algo de bom neles, não se esqueça disso. E falando das pessoas que não estão destinadas à grandeza ainda não mencionei os Grifinórios. Olha, há muitas pessoas que dizem que os Sonserinos e Grifinórios representam os dois lados da mesma moeda. Pessoalmente, eu acho que os Grifinórios são apenas Sonserinos descartados. Veja só, algumas pessoas dizem que Salazar Slytherin e Godric Gryffindor estimaram os mesmos tipos de alunos, então, nós supostamente somos mais parecidos do que gostaríamos. Mas isso não significa que nos misturamos com Grifinórios. Eles gostam de nos vencer quase tanto quanto nós gostamos de vencê-los.

 "Mais algumas pessoas que você deve saber: o fantasma da nossa Casa é o Barão Sangrento. Se você for amigo dele, as vezes ele concorda em assustar as pessoas para você. Só não pergunte como ele se tornou sangrento: ele não gosta. A senha do Salão Comunal muda a cada duas semanas. Fique de olho no quadro de avisos. Nunca traga alguém de outra Casa para nosso Salão Comunal ou lhes diga a senha. Nenhum intruso entrou aqui por mais de sete séculos. Bom, acho que isso é tudo por ora. Tenho certeza de que você irá gostar dos dormitórios. Dormimos em antigas camas de quatro colunas, com cortinas de seda verde, e colchas bordadas com fios prateados. Tapeçarias medievais ilustrando as aventuras de famosos Sonserinos cobrem as paredes, e lanternas de prata pendem do teto. Você dormirá bem; é muito calmante ouvir a água do lago bater contra as janelas, de noite."

 - Seja bem vindo - finalizou Anne, levantando-se de sua poltrona. - E tenha uma ótima primeira noite.

 Nico levantou-se num rompante e deu de cara com três garotos, parados a sua frente, sérios.

 - Você é...? - indagou uma voz arrastada que vinha de um menino pálido, alto e magro, de olhos frios e cinzentos e de sedosos cabelos louro-esbranquiçados.

 - Nico di Ângelo. - respondeu Nico, observando os outros garotos. Os dois eram fortes e pareciam muito maus. Postados dos lados do menino pálido como guarda-costas. Nico olhou de esguelha para a menina loura sentada no sofá preto, próximo a lareira e, notou que era para estes três garotos que ela olhava aborrecida.

 - Ah, estes são Crabbe - indicou com um gesto o menino pálido para um garoto gorducho com uma aparência extremamente malvada e corte de cabelo estilo fôrma de pudim - e Goyle - um garoto parrudo de aparência criminosa, cabelos bagunçados e braços de gorila. - E eu sou Draco Malfoy - anunciou, orgulhoso. - Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem melhores do que outras, Nico. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E eu posso ajudá-lo nisso.

 Ele estendeu a mão calorosamente para apertar a de Nico, e o garoto a apertou. Rapidamente, Crabbe e Goyle perderam o semblante de malvadeza e também apertaram a mão de Nico, abobalhadamente alegres.

 - Seremos grandes amigos, Nico di Ângelo - disse Draco, alto o suficiente para todo o Salão Comunal escutar. - Pode ter certeza disso... não é, Pansy?

 A garota loura no sofá bufou.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Não? Espero seu review ansiosamente!