PDV CARLISLE

Estava extremamente feliz com a volta de Bella, senti-la tão próxima me dava a sensação de que meu coração havia voltado a bater, eu sabia o que estava sentindo agora, mas no momento deixaria que tudo se desenrolasse, ela não iria embora dessa vez, então eu teria tempo.

__Bem... Já que vai ficar aqui acho que vai precisar de um quarto.__ Disse a afastando, e ela sorriu tímida, adorável.

__Isso não é de meu costume, geralmente humanos tem um problema em explicar um quarto ocupado por um anjo.__ Ela disse divertida e eu ri.

__Não dessa vez, venha.__ Sorri a puxando para o segundo andar.

__É serio, nem sei o que faria em um quarto, durmo raramente, não tenho as mesmas necessidades que um humano, seria perda de tempo.__ Ela disse e eu neguei.

__De forma alguma.__ A guiei até um dos quartos da casa, abri a porta e a trouxe para dentro.

O quarto era decorado de forma simples, com a mobília em tom mogno, as paredes em tom marfim, como boa parte da casa, e em um tamanho razoavelmente grande, em um lado encontrava-se a porta do closet e no outro a do banheiro.

__O que acha?__ Perguntei a ela que analisava o quarto.

__Que você é um pouco exagerado, mas eu adorei, obrigada.__ Ela disse e eu indiquei o closet.

__Na parte de cima do closet estão as roupas de cama, toalhas, entre outras coisas.__ Expliquei.

__Claro.__ Ela assentiu.

__Mas acho que vai precisar de roupas...__ Comecei e ela riu.

__Não se preocupe, tenho as minhas.__ Ela disse rindo.

Em um piscar de olhos Bella estava em sua forma humana e já com outra roupa, um vestido bege de caimento leve moldava seu corpo, eu ergui a sobrancelha.

__Se isso vira moda as lojas de roupa vão à falência.__ Comentei e ela gargalhou.

__Com certeza.__ Disse controlando os risos.

__Já deve ser por volta das dez, se quiser descansar fique a vontade.__ Falei a ela que deu de ombros.

__Não durmo com tanta frequência, nem preciso comer comida humana.__ Ela esclareceu.

__Nesse caso pode me fazer companhia na biblioteca.__ Sugeri.

__Adoraria.__ Ela sorriu doce.

Descemos de volta para o andar de baixo enquanto eu lhe mostrava a casa, Bella rapidamente se familiarizou com o ambiente, parecia estar bem à vontade, e eu sorri com isso, quando chegamos à biblioteca ela foi diretamente às muitas estantes, distraidamente eu a observava, ela tinha passos lentos e graciosos, como se seus pés não estivessem tocando o chão, seu cabelo ondulava com movimentos sutis, um de seus braços estava estendido e a ponta de seus dedos afilados tocava os títulos, enquanto ela percorria com os olhos a variedade de temas e assuntos.

Não demorou em que eu percebesse que aquela era a forma natural de um anjo se mover, ela exalava graça e suavidade, e nem parecia se dar conta disso, deu uma volta pelo cômodo até parar em frente a mesa onde eu havia deixado o livro que estava lendo, ela o pegou olhando-o curiosamente, em uma atitude totalmente inocente, mas sem perceber que eu a fitava deslumbrado.

__Em busca do tempo perdido... Marcel Proust...__ Leu o que estava na capa e abriu onde eu havia parado.

__É um clássico, parei de ler a alguns dias.__ Disse e ela me olhou interrogativamente.

__Por quê?__ Questionou e eu andei até um sofá enorme em forma de L, me sentando em seguida.

__Leio bastante já que não durmo, mas seria um desperdício de cultura ler algo quando não se consegui concentração para tal ação, existem momentos propícios ou até mais adequados para se ler, não adiantaria ler algo sem paciência, quando na verdade só vamos acabar por achar a leitura desgastante, isso sim seria injusto, acabar por descontar problemas em cima de algo não nos faria sentir melhor, seria injusto com o autor e com nós mesmos, por isso preferi continuar quando achasse melhor.__ Disse e ela caminhou em passos lentos até estar ao meu lado.

__Acha que poderia ler para mim agora?__ Perguntou ela.

__Claro.__ Sorri e ela me estendeu o livro, acomodando-se a meu lado.

__Continue de onde parou.__ Ela pediu.

__Tudo bem.__ Disse e encarei o livro.__ ‘’Mas nem mesmo com referência às mais insignificantes coisas da vida somos nós um todo materialmente constituído, idêntico para toda a gente e de que cada qual não tem mais do que tomar conhecimento, como se se tratasse de um livro de contas ou de um testamento; nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio. Até o ato tão simples a que chamamos “ver uma pessoa conhecida” é em parte um ato intelectual. Enchemos a aparência física do ser que estamos vendo com todas as noções que temos a seu respeito; e, para o aspecto total que dele nos representamos, certamente contribuem essas noções com a maior parte. Acabam elas por arredondar tão perfeitamente as faces, por seguir com tão perfeita aderência a linha do nariz, vêm de tal modo nuançar a sonoridade da voz, como se esta não fosse mais que um transparente invólucro, que, a cada vez que vemos aquele rosto e ouvimos aquela voz, são essas noções o que olhamos e escutamos [...] ’’[N/A: Trecho retirado do livro ‘’Em busca do tempo perdido’’ de Marcel Proust, pag. 24.]

Continuei a ler enquanto percebia pela minha visão periférica Bella atenta ao livro, estranhamente as palavras que eu lia se moldavam a ela de uma forma tal que me surpreendia, era o que eu via e sabia de Bella que a formava em minha mente, fazia dela esse doce anjo, na forma como eu a ouvia falar e a olhava, mas não poderia ser diferente com alguém como ela, que de forma inconsciente me fazia admira-la.

Minha voz tinha um tom terno desconhecido até por mim mesmo, mas eu sabia que o único motivo era porque Bella estava ali ao meu lado, à medida que eu avançava pelo livro ia me perdendo entre as palavras, inspirando o suave aroma de Bella tão próxima, os sons das nossas respirações e a minha voz eram os únicos no silencio da noite à dentro, enquanto o tempo avançava despreocupadamente, e eu continuava lendo.

__’’Se então meu avô necessitava chamar a atenção das duas irmãs, tinha de recorrer a essas advertências físicas de que servem os alienistas para com certos maníacos da distração: golpes repetidos em um copo, com a lâmina da faca, coincidindo com uma brusca interpelação da voz e do olhar, meios violentos que esses psiquiatras empregam muitas vezes no trato corrente com as pessoas sãs, ou por hábito profissional, ou porque julgam todo mundo meio louco. [...]’’ [N/A: esse outro trecho foi retirado da pag. 27.]

Parei de ler quando senti algo sobre meu ombro e ao fechar o livro percebi que se tratava de Bella, ela havia adormecido e tinha a cabeça apoiada em meu ombro, fitei-a carinhosamente e com contemplação, algumas mechas estavam em seu rosto e eu não resisti em coloca-las atrás de sua orelha, acabei por tocar sua pele e sentir o leve calor que ela emanava, o que me causou uma boa sensação.

Coloquei o livro de lado e com cuidado me levantei com ela em meus braços, ela se mexeu um pouco, mas continuou ressonando tranquilamente, suspirei, a sensação de tê-la em meus braços fazia meu peito se aquecer, em passos calculados a levei até o andar de cima, já em frente à porta fiquei aliviado por estar aberta, entrei e caminhei até a cama, depositando-a delicadamente.

Seus cabelos se espalharam sobre os travesseiros e foi preciso algum esforço para me afastar, observei seu rosto sereno por alguns instantes, depois me dirigi para o closet, abrindo-o e retirando uma coberta, cobrindo Bella com ela logo em seguida, corri meus olhos pelo quarto e fui até uma poltrona ao lado da cama, me sentei e fiquei a observar cada movimento seu.

O modo como seu peito subia e descia em sua respiração constante, o modo como sua pele parecia reluzir à meia luz do ambiente, como seus traços pareciam ainda mais acentuados, como o silencio era interrompido por seus doces suspiros, como o mistério que a cercava era fascinante, e o jeito como tudo isso parecia formar a imagem a minha frente.

Tudo parecia tão certo e tão errado ao mesmo tempo, era uma confusão que povoava o meu pensamento. Estar próximo ou me afastar? Deixar que aconteça ou antecipar? Dizer a ela ou esperar? Mostrar o que sinto ou ter medo de errar? Essa era a confusão que envolvia o sentimento de amar.

[N/A: Sim, eu fiz uma poesia sem querer querendo nesse momento, e percebi quando terminei de digitar isso, o melhor é que se apropriou ao momento, isso aconteci às vezes, mas continuem lendo. kkkkkkkk]

Estar com Bella me tirava completamente a capacidade de pensar, era como se eu simplesmente não soubesse como agir, esse sentimento ainda era novidade para mim, então nada mais natural do que ficar meio perdido, era assim que eu estava, perdidamente apaixonado por ela.

Amaldiçoei o tempo quando nem percebi e já estava amanhecendo, bufei resignado, logo eu precisaria ir para o hospital, contrariado me levantei e sai do quarto, não sabia se ela acordaria antes que eu saísse, mas não queria acorda-la, então fui para o meu quarto, tomei um longo banho, me troquei e procurei a chave do meu carro, só que não estava encontrando em lugar nenhum, eu devia ter deixado na sala, ia me dirigindo para lá quando do topo da escada avistei Bella sentada no sofá, minha surpresa foi imediata, sorri descendo e indo ao seu encontro, não estranhei quando a vi com outra roupa, estava me acostumando bem à ideia.

__Não achei que iria acordar logo.__ Disse e ela se levantou com um leve sorriso.

__Nem eu achei que acabaria dormindo, mas... Desculpe se estou dando trabalho.__ Ela disse e eu sorri com  suas palavras.

__Você só devia estar mais cansada do que pensava, não foi nada demais.__ Disse suavemente a ela.

__Mesmo assim...__ Ela corou levemente e completou.__ Está me parecendo que você virou o anjo da guarda agora.__ Eu fiquei um pouco sem jeito e achei melhor mudar de assunto.

__Você viu...__ Comecei e ela sorriu me entregando a chave do meu carro.

__Você esqueceu na sala.__ Ela disse e eu peguei a chave abismado.__ Não me pergunte como encontrei, você vai se atrasar.

__Claro.__ Disse pegando meu casaco e vestindo-o.

__Posso ir com você?__ Ela perguntou e eu a encarei rapidamente.

__Como?__ Perguntei para ter certeza de que não tinha ouvido errado.

__Eu... Posso ir com você?__ Ela repetiu hesitante e eu sorri.

__Claro, mas ficará entediada.__ Falei e ela sorriu abertamente.

__Duvido muito.__ Ela tinha um olhar travesso.

__Não vai assustar ninguém, vai?__ Brinquei.

__Não, estarei invisível para as outras pessoas, ninguém vai me ver ou ouvir, as pessoas só podem fazer isso quando eu quero, sendo assim não haverá problemas.__ Ela deu de ombros e eu a olhei surpreso.

__Sério?__ Perguntei um pouco curioso sobre isso, mas se ela dizia...

__Você é um vampiro e não acredita quando digo que posso ser invisível para outras pessoas?__ Ela indagou divertida.

__Não é que eu não acredite...__ Eu estava apaixonado por um anjo, a essa altura eu não duvida nem que fadas existiam.

__Eu sei, só é meio maluco, mas tudo bem, e... Você vai se atrasar.__ Ela avisou outra vez.

__Então vamos.__ Disse e caminhamos para a porta, saímos e eu a fechei.__ Só por curiosidade, você atravessa paredes também?

__Entre anjo e fantasma a diferença é enorme, pode acreditar.__ Ela falou rindo, eu fiquei um pouco aliviado.__ Mas já fiz isso uma vez.__ Esqueci o aliviado, a encarei na hora, mas ela riu da minha expressão atônita provavelmente.__ Brincadeirinha.

__Nem brinca.__ Falei caminhando até o meu carro na garagem e ela riu ainda mais me acompanhando.

Logo já estávamos a caminho do hospital, que foi bem mais animado com a presença de Bella, ela contava algumas confusões que havia se metido como anjo, em situações bem inusitadas, falava das pessoas que já protegeu, e sempre tinha alguém que duvidava seriamente que ela era real, ou se achava maluco, ri mais naqueles poucos minutos de percurso do que em toda minha vida.

Enquanto a ouvia minha mente trabalhava em alguns pontos sobre ela: Blla era divertida, doce, um pouco brincalhona e também afetuosa, mas tinha algo nela que eu não sabia dizer o que era, algumas vezes em meio a conversa sua voz assumiu um tom diferente, contido ou distante, eu não sabia ao certo.

Não demoramos a chegar, Bella assumiu sua forma de anjo e eu fiquei um pouco receoso, mas tentei disfarçar, sai do carro e olhei em volta, quando voltei meu olhar para o carro Bella já havia saído, estava com os braços cruzados e revirando os olhos, um sorriso brincava em seus lábios.

__Tem certa que não vão vê-la?__ Perguntei e ela afirmou.

__Eu já estou invisível, então é melhor parar de falar com o vento ou vão achar que você não está em seu juízo perfeito.__ Eu fiz careta imaginando a cena.

Fomos andando até a entrada, mas eu parei a um passo da porta, Bella riu e foi na frente, eu prendi a respiração por um momento, e a soltei entrando logo em seguida, tudo parecia normal e ninguém havia visto o anjo ao meu lado, encarei Bella que bufou.

__É serio, ninguém está me vendo ou ouvindo.__ Ela disse e se virou indo até a recepcionista, eu não sabia o que ela faria, mas fiquei esperando.__ Com licença.__ Bella falou e a mulher continuou mexendo em alguns papeis sem notar nada.__ Viu só? Invisível.

__Entendi.__ Falei e a recepcionista ergueu seu olhar para mim.

__Disse algo Dr. Cullen?__ Ela perguntou, Bella deu um sorriso.

__Nossa, gostei dela, simpática.__ Bella comentou.

__Não, com licença.__ Falei rapidamente saindo dali, Bella me seguiu prendendo o riso.

__Ela é uma boa pessoa, mas você a deixa nervosa.__ Bella falou e eu continuei andando até estar em minha sala, entramos e fui para a minha mesa, sentando em minha cadeira.

__Como sabia o que se passava com ela?__ Perguntei e algo passou por minha mente.__ Como é... Você lê pensamentos também?

__Às vezes, é útil para saber com quem estou lidando, algumas pessoas são extremamente fáceis de se ler, como a recepcionista, porque agem de acordo com o que pensam, mas outras tendem a disfarçar quase que perfeitamente um lado perigoso.__ Ela falou e eu me recostei na cadeira, será que...

__Você já ouviu meus pensamentos?__ Perguntei um pouco receoso, será que ela sabia o que se passava em minha mente?

__Eu deveria?__ Ela perguntou sem entender.

__Não, apenas perguntei por curiosidade.__ Falei mais tranquilo.

Bella não percebeu o alivio que sua resposta me deu, nem ao menos parecia ver algo de errado, estava simplesmente doce e alegre, me permiti apreciar sua companhia, e durante horas admirei o brilho que seus olhos irradiavam, era como se ela irradiasse uma luz própria.