You could be happy escrita por Esthellar


Capítulo 1
Você consegue me escutar?


Notas iniciais do capítulo

"You could be happy" - Snow Patrol: http://www.youtube.com/watch?v=76Mbnuwk2d4

Dedico esta fic à Yammy, porque ela AMA Jesha, e se não fosse ela me mandando o fanmix que fizeram pros dois, eu jamais teria escrito essa história ♥



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Capítulo único:

“You could be happy”

Nee, Marco... O lugar para o qual você foi... Aí é bonito, como algumas pessoas comentam que deve ser? Existe uma cama em que você possa se deitar todas as noites e dormir? E a comida? É gostosa, ou é como as que nós comíamos no alojamento? O que você faz durante os seus dias? E os nossos companheiros, os reencontrou?

Onde quer que esteja, será que ao menos consegue escutar tudo o que estou lhe perguntando, agora...?

Sabe, eu nunca fui o tipo de cara que se preocupava com vida após a morte e todas essas coisas, mas desde que você se foi, não houve um só dia em que eu não tenha me perguntado: “Será que ele está bem? Será que ainda se lembra de nós?”. Sinceramente, nunca imaginei que fosse sentir tantas saudades suas. Saudades das nossas conversas, de quando lutávamos juntos e de como você sempre me elogiava, do seu jeito. Eu sei que sou um pouco narcisista — tudo bem, talvez, muito narcisista —, mas você nunca disse absolutamente nada sobre isso. Nunca apontou nenhum erro que eu tenha cometido, apesar de eu cometer vários, e sempre esteve ao meu lado, me confortando nos momentos bons e nos ruins.

Será que ainda dá tempo de lhe agradecer por tudo? Será que, algum dia, eu poderei dizer que você era mil vezes melhor do que eu jamais sonhei ser, e contar sobre todas as suas qualidades? Será que poderei me desculpar por todas as vezes em que lhe chamei de “idiota”, quando, na verdade, só queria agradecer por você continuar a ser meu amigo?

Marco... Você está feliz, agora?

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You could be happy and I won't know

But you weren't happy the day I watched you go
And all the things that I wished I had not said
Are played on loops 'till it's madness in my head

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Às vezes, quando deito para dormir, eu me lembro de você. E me pergunto se não houve um erro no destino, se não deveria ter sido eu a partir daquele jeito, sozinho. Eu, que sempre pensei apenas em mim mesmo, que sempre lutei pela minha única sobrevivência, e você, você que daria a vida por um companheiro, sem pestanejar.

Qual o sentido disso tudo? Talvez o mundo esteja realmente de cabeça para baixo, como Connie comentou, num momento de desespero.

O que você sentiu naquela hora, Marco? Desculpe por não ter ficado ao seu lado, por não ter, pelo menos, visto os seus últimos momentos. Eu devo ser um péssimo amigo, mesmo...

Mas, se você ouvisse isso, estaria sorrindo agora, não é? E diria que eu sou uma ótima pessoa, na verdade.

Só que você não pode me ouvir, nunca mais.

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Is it too late to remind you how we were?
But not our last days of silence, screaming, blur
Most of what I remember makes me sure
I should have stopped you from walking out the door

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Voltando para aqueles dias no alojamento, se eu fechar meus olhos, consigo escutar o som da sua risada. Ela saía assim, do nada, no meio de alguma conversa, na calada da noite. Nós falávamos sobre assuntos triviais, sobre as missões que iríamos tomar num futuro não tão distante, e você simplesmente soltava uma risada baixa, solitária, porque eu não entendia o motivo de você estar rindo, quando a situação era tão complicada.

Mas agora eu entendo. Você só estava feliz pelo fato de simplesmente estar vivo, não é? Por ainda poder dividir todas aquelas coisas comigo e com nossos companheiros, por ainda poder lutar em prol da humanidade.

Eu deveria ter rido com você, naqueles dias, Marco. Deveria ter gargalhado até minha barriga doer, até eu perder o ar, até alguém aparecer e nos mandar ficar quietos.

Quando você se foi, pela primeira vez em muito tempo, eu chorei. De ódio, de tristeza, não sei. Eu só queria poder vingar a sua morte, fazê-la ter valido a pena. Peguei a sua espada e jurei pela minha vida que, a sua, jamais seria esquecida.

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You could be happy, I hope you are
You made me happier than I'd been by far
Somehow everything I own smells of you
And for the tiniest moment it's all not true

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Eu disse a todos que iria me juntar ao grupo de Exploração. Eles ficaram surpresos, e você também ficaria, se estivesse lá. Por mais que algo dentro de mim dissesse que não, que era melhor recuar, por mais que os olhares de nossos companheiros me pedissem o contrário, eu continuei com a minha decisão.

Não era apenas por mim, era por você, também.

Mas, quando eu me vi sozinho, naquela noite, achei que não haveria mais ninguém nesse mundo com quem eu pudesse me apoiar, que jamais existiria uma mão amiga, novamente, para bater nas minhas costas e dizer “Vai dar tudo certo”.

Então, veio aquela menina, se esgueirando pela noite, tentando ao máximo não fazer barulho — porque todos já estavam dormindo —, e sentando-se ao meu lado, sempre pedindo desculpas pelo provável incômodo. Eu me lembro do rosto dela iluminado pela luz fraca do lampião, de seus olhos castanhos brilhando como sempre, enquanto me fitava e dizia infinitas coisas.

Segurando a minha mão, ela falou que tudo ficaria bem, Marco. Disse que eu poderia chorar — e riu um pouco, já que era sempre ela quem chorava antes de todo mundo —, mas que precisaria ser forte, por todos nós.

Eu não a abracei, nem agradeci pelas palavras de conforto, mas ela continuou ali, por longas horas, enquanto eu apenas chorava. E suas mãos ainda seguravam as minhas.

Quando acordei, na manhã seguinte, notei que estava coberto pelo lençol, mas não me lembrava de ter feito aquilo. Ela havia feito.

Então, comecei a pensar no quanto aquela menina era contraditória; era extremamente educada quando falava com os outros, pedindo sempre desculpas por achar que era um incômodo, ou qualquer coisa parecida. Mas, se o assunto envolvesse comida, ela poderia ser a mais mal educada de todas as pessoas que eu já conheci — e, provavelmente, roubaria o pão de qualquer um, sem nem pensar duas vezes.

Por incrível que pareça, eu não me incomodava com isso.

Quando o mundo me pregou tantas peças e me fez acreditar que jamais seria feliz novamente, que tudo estava perdido, aquela menina, de algum modo, entrou na minha vida e fez com que eu sorrisse uma vez mais. Às vezes, aquilo me pegava de surpresa, porque era um sorriso bobo, que brotava no canto da boca, antes que eu pudesse escondê-lo. Surgia toda vez que ela choramingava por estar morrendo de fome, quando a escutava falar com seu sotaque natal, ou quando ela simplesmente ria sozinha, por estar viva, ainda.

Um dia, eu a observei lutar. E percebi uma coisa; em algum momento daqueles dias, meses, anos — porque eu havia perdido as contas de quanto tempo já tinha se passado —, ela mudara. E alguma coisa dentro de mim havia mudado também.

No momento em que a humanidade finalmente venceu contra os Titans, e todas as muralhas foram abertas para que nós conhecêssemos o grandioso mundo que havia lá fora, eu ainda carregava a sua espada, Marco. Estava arranhada, com a ponta quebrada, e já não parecia nem de longe com a qual você empunhava com tanto orgulho, mas ainda permanecia ali, comigo.

E no meio de toda aquela multidão, no meio de toda aquela gente com tantas ganas de conhecer o que havia por trás dos muros, eu só conseguia pensar que precisava encontrá-la.

Mas seu rosto não estava estampado em nenhuma daquelas pessoas.

Meu coração afundou um pouco, em meu peito. Apertei a espada em minhas mãos, e pedi para que Deus, ou quem quer que tenha criado este mundo... para que você protegesse a última coisa que eu havia achado importante, na vida. Para que eu não perdesse mais ninguém, não naquele momento, não mais uma vez. Não ela.

Então, dentre tantas faces desconhecidas, eu a vi. E me pareceu que havia passado tanto, tanto tempo, porque ela aparentava estar tão diferente. Tinha os cabelos soltos e um pouco desgrenhados, e uma expressão que já não se assemelhava à daquela menina de antes. Mostrava, sem dizer nenhuma palavra, que tinha visto as piores coisas que alguém pode ver, mas que, mesmo assim, valera a pena. E, por incrível que pareça, ela dividia um pedaço de pão entre três garotinhos famintos.

Marco, você se lembra dela, não é? Provavelmente, estaria orgulhoso, também.

Ela realmente se tornara uma mulher.

— Sasha! — eu gritei, o mais alto que pude. Ela levantou a cabeça, e quando me viu, abriu um dos maiores sorrisos que eu já tinha visto. Então, falou alguma coisa para os meninos que a acompanhavam, e começou a correr na minha direção.

Quando ela me abraçou, eu me perguntei, por um segundo, o que era aquele sentimento quente no meu peito. Do meu jeito estranho, passei os braços ao redor de sua cintura, e ela, por sua vez, afundou o rosto na curva do meu pescoço, enquanto começava a chorar, feito uma criança.

— Jean, você está vivo! — ela disse, me apertando mais ainda contra si, como se eu fosse desaparecer a qualquer instante. — Nós conseguimos...

Naquele momento, eu percebi, Marco; ainda não tinha caído a ficha, mas nós realmente havíamos vencido aquela batalha que parecia não ter fim. Eu não sabia como, nem o que Eren tinha feito para que aquele sonho se concretizasse, mas era real.

Abracei-a mais forte que antes, e deixei que chorasse o quanto quisesse, assim como ela havia feito comigo, há tanto tempo.

Estávamos finalmente livres. E talvez, mas só talvez, eu tivesse redescoberto o significado de “família” nos braços de Sasha.

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Do the things that you always wanted to
Without me there to hold you back, don't think, just do
More than anything I want to see you, girl
Take a glorious bite out of the whole world
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Por isso, Marco, onde quer que você esteja agora, saiba que não foi em vão. Cada rosto que sorri agora, cada nova vida que surge, cada pessoa que reencontra o caminho de casa, teve um pouco de sua ajuda. A batalha foi árdua, mas, no final, a recompensa era muito maior do que imaginávamos.

Obrigado, meu amigo, obrigado por tudo.

Valeu a pena.

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FIM


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Notas finais do capítulo

Então, gente... É, isso definitivamente estava melhor na minha cabeça KKKKKKK
Anyway, eu sei que os personagens ficaram OOC's, mas tentem pensar pelo lado positivo, algum tempo se passou durante a história, e tudo mais... xD
Espero que vocês tenham gostado, pessoal. E se não gostaram, por favor, me digam, também! Críticas são sempre muito bem vindas :D
Acho que é isso, então, a gente se vê por aí, viu?
Au revoir! :*