Caspian foi levado sobre protesto até Cair Paravel como prisioneiro destinado ao julgamento da rainha. Suas mãos foram amarradas diante do corpo com cordas grossas e com nós bem apertados para que ele não pudesse reagir. Assim os soldados de Edmundo conduziram o rapaz pelo salão principal obrigando o mesmo a se colocar de joelhos perante a rainha Lucia que se prostrava sentada sobre seu trono enquanto seus servos e súditos ocupavam a grande sala.

- Majestade! –disse Frederick um dos soldados que seguia a frente dos demais. – Encontramos este estranho na floresta de Yasmine. –este fez reverencia. – Acredito que possa ser um espião enviado por Rabadash, majestade...

- Eu não sou espião, nem sequer sei quem é esse tal de Rabadash. –retrucou Caspian de joelhos no piso em frente ao altar da rainha.

- Silencio. –disse um terceiro soldado que o segurava cutucando sua cabeça com o cabo da espada.

- Como se chama? –disse a rainha em tom tranquilo e com as feições sérias encarando Caspian.

- Caspian. Meu nome é Caspian... –ele disse encarando a face familiar da mulher a sua frente.

- Majestade. –novamente o soldado o cutucou para que este tivesse modos diante da rainha.

- Caspian? –ela estranhou.

- Sim... –novamente outro cutucão. – Majestade. –ele disse finalmente franzindo a testa.

- Como chegou até aqui?

- Eu não tenho ideia. –ele olhou atravessado para o soldado que estava prestes a lhe bater outra vez. – Majestade. Eu estava em um metrô seguindo para casa e quando dei por mim estava no meio de uma floresta com árvores enormes...

- Ele deve estar mentindo majestade, deve ser um informante de Rabadash. –prosseguiu Frederick.

- Eu não conheço nenhum Rabadash. –ele protestou.

- Deve ter vindo para nos atacar majestade. –disse o terceiro soldado.

- Com o que? –disse Caspian erguendo as palmas das mãos. – Com as mãos vazias?

- O que ele carregava quando o encontraram? –perguntou Lucia se colocando de pé.

- Ah... Nada majestade. –disse Frederick.

- Não estava armado?

- N... Não majestade.

- Ele tentou atacá-los?

- Não teve tempo... Majestade. –Caspian encarava Frederick com um sorriso obvio.

- Então simplesmente decidiram atacar este homem desprovido de qualquer arma, sem lhe dar a chance de se explicar? –a rainha descia as escadas se aproximando dos homens.

- Sim, majestade. –disse Frederick baixando a cabeça.

Lucia apertou os lábios discretamente enquanto encarava o soldado depois virou o rosto na direção de Caspian que baixou os olhos conforme havia sido avisado antes pelos soldados como deveria agir diante da rainha.

- De onde exatamente você veio Caspian? –ela perguntou.

- Los Angeles... Majestade. –ele ergueu seus olhos castanhos.

- Los Angeles? Nunca ouvi falar de tal reino...

- Por que não é um reino é uma cidade.

- Uma cidade, e onde fica esta cidade?

- Nos Estados Unidos. Na verdade eu sou da Inglaterra, mas... Acabo de me mudar pra lá.

- Inglaterra... –disse sem ter ideia do que se tratava. – E quem é o seu rei?

- Meu rei? Hum... Temos uma rainha na Inglaterra. Ela se chama Elizabeth...

- Rainha Elizabeth! E você é exatamente o que?

- Ninguém... Só um... Aspirante a ator.

- Entendi. –concluiu Lucia sem entender absolutamente nada.

- Eu conheço você... –ele disse em um sussurro quando Lucia estava diante dele.

- O que disse? –ela perguntou.

- Eu disse que já vi você... Em um sonho.

- Um sonho? –esta franziu sua testa.

- É estranho eu sei, mas assim que vi o seu rosto eu tive certeza. Era você...

- E o que exatamente eu fazia nesse sonho?

- Você estava em uma praia. Com os cabelos soltos quase cobrindo o rosto e me dizia uma coisa.

- O que exatamente?

- Dizia: Eu preciso de você, volte... E repetia isso.

Lucia respirou profundamente encarando os olhos negros do homem ajoelhado a sua frente então desviou o olhar e subiu os degraus indo até Tumnus que estava de pé a direita do trono. Em um tom baixo e discreto a rainha se manifestou:

- Tumnus...

- Majestade...

- Eu acho que sei quem é este homem. –ela dizia sem muita certeza.

- Quem majestade?

- Caspian... Caspian X.

- O rei majestade?

- Sim.

- Não acho que este homem seja o antigo rei de Nárnia majestade, ele sequer está vestindo roupas adequadas. –riu Tumnus encarando Caspian que tentava ouvir a conversa.

- Eu disse tais palavras Tumnus. Eu toquei o anel que pertencia ao rei, fechei meus olhos e pedi sua ajuda. Eu disse exatamente estas palavras que ele acaba de pronunciar. Só pode ser ele...

- Lucia... Como poderia? O rei governou Nárnia há muitos séculos atrás. Ele... Está morto.

- Diz a lenda que ao final de sua vida Caspian X fora enviado para outro lugar pelo grande leão Tumnus. Nunca soubemos que lugar era este, talvez seja esta tal Los Angeles que ele falou.

- Mas ele sequer age como um rei majestade.

- Talvez ele não se lembre.

- Você é a rainha... Se acredita que este homem é o rei...

Lucia apenas confirmou que sim com a cabeça e então recebeu o apoio do conselheiro e se dirigiu novamente até Caspian.

- Soltem-no...

- Mas majestade... –disse Frederick.

- Este homem não está armado, e sequer sabe onde está. Não pretende me ferir pretende? –ela se dirigiu ao moreno.

- Não.

- Soltem-no.

Assim os soldados colocaram Caspian de pé e cortaram as amarras de seus pulsos. Caspian tocou os próprios pulsos sentido-os livres das fortes cordas enquanto olhava Frederick e dizia com o rosto tenso:

- Obrigado.

Quando Frederick se afastou a rainha Lucia estava nas suas costas e logo se aproximou mais de Caspian percebendo que este era razoavelmente alto, o suficiente para fazer o queixo da rainha se erguer para que sua face pudesse fitá-lo melhor. Então após se encararem por alguns segundos em silencio Lucia se manifestou:

- Venha comigo... –ela disse e esse virou seguindo rumo a grande passagem do salão.

Caspian seguiu a rainha apenas com os olhos, depois os dirigiu para Tumnus que fez um gesto com a mão encorajando-o a seguir Lucia. Assim Caspian olhou para todos e decidiu ir trás de Lucia.