CELESTIAL escrita por Leonardo Pimentel


Capítulo 2
Capítulo 2 - Revelações




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O céu estava tão azul e tão bonito, que Nichollas acordou sorrindo. E a sensação de poder sorrir abertamente o preencheu com um sentimento bom e terno, que ele desconheceu, ou talvez não sentisse há pouco tempo. Mas não era o céu, eram olhos, tão azuis e tão bonitos. E depois um sorriso. O mais bonito já visto, tão perfeito, tão... Lindo! Era alvo, irradiava alegria e era tão terno quanto os olhos, que fechavam-se levemente ao simples ato de sorrir. Os cabelos vermelhos agora estavam presos num rabo de cavalo, no alto da cabeça, a regata adequava-se perfeitamente no corpo. Nichollas admirou, por alguns segundos, os seios fartos da mulher e o sorriso sumiu quando no fundo da sala, os olhos de Nichollas esquadrinharam o homem que acompanhava a ruiva o tempo todo.

─ Não fui eu. – disse Nichollas, erguendo-se do chão.

─ O que não foi você? – perguntou a mulher, curiosa, inclinando suavemente a cabeça para o lado.

─ Nada... É... É... Quer dizer... Uhn... Quem são vocês? O que querem comigo?

─ Acabamos de salvar sua vida, um obrigado antes de tudo é o mínimo que nos deve. – disse rispidamente o homem, que movia pouco a boca enquanto falava

Também sem sua jaqueta de couro, o homem estava um pouco longe de Nichollas, os braços cruzados na altura do peito, como se tentasse se proteger de alguma investida. Era musculoso e alto, inspirava confiava e força. Se você se deparasse com ele na rua, não iria querer encrencas. E o cabelo era tão preto e não brilhoso que lembrava jabuticabas. E o maior contraste na face austera do rapaz, eram os olhos. Os globos eram alvíssimos, tinham opacidade, como se não existisse íris. Quem se deparasse com ele, não pensaria duas vezes: o julgariam como deficiente visual. Mas não era bem assim: aquele homem olhava para Nichollas, como se o jovem menino fosse algo importante, em que não poderiam tirar os olhos por nenhum instante.

─ Me desculpa senhor certo, me desculpa mesmo. – sorriu falsamente. – Muito obrigado, mas agora quem são vocês?

O homem se aproximou e Nichollas pensou que fosse apanhar.

─ Uma coisa de cada vez, Nichollas. – disse a mulher, colocando o braço na barriga do homem. – Bem, sou Angélica, esse é Gabriel. Viemos aqui para lhe ajudar com algumas coisas básicas e lhe dar um presente.

Ela sorriu incerta.

Nichollas cerrou os olhos e pensou. Olhou para ela, depois para o homem e a desconfiança cresceu.

─ E como sabe meu nome? – disse ele, tateando os bolsos.

Nada para ajudar numa fuga.

─ Digamos que nosso pai sabe de tudo, sabe... – disse ela, displicente.

─ Isso não responde minha pergunta. Que seja. Como eu saio daqui? – falou Nichollas, buscando a saída com os olhos, que ainda moviam-se inquietos.

─ Você só sai se nós quisermos, ô, moleque, aquiete-se e ouça. – balbuciou o homem, abaixando os olhos na altura dos olhos do menino, que parou de se mexer na hora.

Aqueles olhos eram estranhos, a cor pastosa deixava Nichollas hipnotizado.

O menino relaxou, piscava apenas, enquanto o homem o rodeava, como se ele fosse um pedaço de carne valioso, só estava esperando para o ataque. A mulher apenas o olhava, com um sorriso envergonhado embelezando os lábios, naturalmente róseos. As botas nos pés pareciam ameaçadoras, então o menino preveniu olhá-las.

─ É difícil... – a voz dela cortou o silêncio, suave e em bom som. – É um assunto delicado demais. Primeiramente, o que eu tenho a dizer, mudaria completamente sua concepção de mundo. Mudaria seu olhar.

Ela falava com pausas, suavemente, escolhendo os dizeres com máximo cuidado. Gesticulava devagar, conforme as palavras iam. Nichollas arqueou as sobrancelhas, captando as palavras e analisando-as, como se cada uma delas fosse uma peça de um quebra-cabeça, que ele facilmente resolveria. Mas nada lhe recorreu. O homem parou abruptamente atrás da mulher e o olhar pareceu impaciente.

─ Nick... Preste atenção em minhas palavras, e não se esqueça de respirar. Pode parecer difícil no começo. – iniciou a mulher. – Quando Deus criou o universo, com toda sua sabedoria, ele aprisionou numa jarra de barro todos os males que infestavam o cosmo antes de sua luta contra o que havia de ruim. E ele deu essa jarra a um sapo, que com suas patas pegajosas a protegeu como nunca. E Deus disse que na jarra continha algo que não era do interesse dele e que ela lhe valia a vida. E nessa trama, apareceu uma rã. A rã era esperta e tinha cobiça pela atividade exercida pelo sapo e ela insistiu e insistiu para segurar a jarra, afirmando que as próprias patas eram tão eficazes quanto as de um sapo. – a mulher pausou e mexeu no cabelo. – E o sapo cedeu a jarra para a rã, que desajeitada deixou-a cair e quebrar-se em mil pedacinhos. E de cada pedacinho surgiu um mal na Terra e do pedaço maior veio a morte e como uma cobra, a morte abocanhou o sapo e a rã, tirando-lhes a vida.

A mulher andou e ficou de costas para o jovem menino. Olhou através do vidro da janela e suspirou. Parecia se lembrar dos detalhes da história, como se ela fosse muito importante. O silêncio perturbador incomodou o menino Nichollas, que ainda mantinha a atenção focada na mulher.

─ Fale logo, Angélica. – disse um Gabriel impaciente.

─ Então, Deus olhou o mal todo vagando pelo cosmo e infestando a sua criação, então ele, com toda sua genialidade, criou os anjos, guerreiros alados, conselheiros, que defenderiam sua criação até o fim, os mais eficazes ajudantes que ele poderia ter. E assim, Deus sentou-se em seu Trono de Luz, assistindo sua criação acontecer em plena perfeição. Mas ele notou que faltava algo. Humanos.– ela sorriu. – Ele pegou um punhado de terra, moldou-o entre os dedos e a Vossa imagem, Deus criou Adão. Deu-lhe a o poder de livre escolha e Adão escolheu ter alguém ao seu lado. E da costela, veio Eva. Assim, quando Deus estava prestes a adormecer, houve um levante no céu. Alguns anjos liderados por Lúcifer agiram contra a vontade de Deus, e tinham ciúmes da criação dos humanos; afirmavam que Deus menosprezava os anjos, ao escolher os humanos como preferidos. Irado, Deus os condenou a vagar por uma terra de fogo e podridão, o Inferno. Muitos anjos caíram junto de Lúcifer e eles perderam muito poder. A questão...

─ A questão é: ensino religioso eu conheço muito bem, obrigado. – disse o menino, erguendo-se de sobressalto. Sentiu-se mal pelo grau de rispidez que utilizou. – Quero entender o que motivo pelo qual estou reaprendendo o que já sei, com dois estranhos e longe da minha casa, num domingo em que...

O homem agarrou Nichollas pelo cangote e o ergueu do chão. A facilidade com que exercia o movimento era assombrosa. Os olhos opalescentes faiscaram, pareciam pequenas tempestades nos globos. Nichollas o ouviu ranger os dentes, e um frio subiu pela espinha do menino. Ele engoliu em seco e deixou o corpo mole.

─ O que ela quer dizer, moleque, é que você existe para um propósito. – Gabriel falava entredentes, tamanha era a impaciência e ira.

─ Gabriel!, Gabriel!, deixe o menino, deixe que eu falo... Gabriel... – a mulher chamou. – Ponha-o no chão.

O homem o jogou no chão, como se fosse uma saca de batatas e deu as costas. Respirou profundamente e cerrou a mão direita num punho, afim de esvair a raiva contida. A mulher ajudou com que o jovem se erguesse.

─ Continue prestando atenção! Foco! Então, tantos demônios vagando pelo mundo, Deus sentiu-se lesado após seu sono. E Ele usou o resto de suas forças para criar um ser perfeito, mas que tivesse livre arbítrio. Ele criou um ser que cresceu entre os humanos, mas que lutaria ao lado dos anjos para acabar com a maldade do mundo. E Ele criou esse ser humano, para dar liberdade para ele, para deixá-lo fazer escolhas que mudassem o rumo do mundo. E esse humano despertou na década passada, aqui perto. E esse humano está destinado a governar o destino do mundo, ao lado do mais forte exército. – disse ela e era notável o brilho nos olhos da mulher.

─ Chega! – disse Gabriel, os olhos faiscando, igualmente. – Essa ladainha não vai nos servir de mais nada e o tempo é curto, Angélica, você sabe. E temos ordens a seguir, terminemos logo isso. – propôs o homem.

Ele pegou nos ombros do menino, fitou-o no fundo dos olhos, como se o conhecesse há eras e por fim, suspirou.

─ Nichollas, você é o humano que Deus criou com o propósito de destruir a tirania de Lúcifer. Eu, Gabriel, sou o anjo da Relevação, que trouxe a luz para o mundo e contou para Maria, a Sagrada, que ela estava grávida do Menino Jesus Cristo. Essa é Angélica, a líder dos Serafim e fomos instruídos para trazer a você, sua real natureza. Você é um anjo e dos mais poderosos. Você é a luz que destruirá as trevas de Lúcifer, pois você é um Anjo do Senhor.

Gabriel largou o menino, que cambaleou e fitou-os incrédulo. Nichollas não sabia se ria ou se chorava, se fugia o quanto antes, ou se ficava imóvel. Ele olhou para Gabriel e o sorriso se formou nos lábios sem querer. Ele cambaleou para trás e olhou para Angélica, que obviamente desaprovava a forma como Gabriel fez a revelação. O turbilhão na mente do menino fez a cabeça dele doer e ele não queria desmaiar mais uma vez.

─ Então prove. – desafiou Nichollas. – Mostre seu poder para mim, Gabriel, o Arcanjo!

Gabriel fechou os olhos e mostrou-se impaciente. Sem esforço algum, das costas dele brotaram suas asas de plumas alvas, limpas e que emanavam luz. Ele as balançou com suavidade e elas levantaram alguma poeira que estava depositada no chão ao redor. E talvez tenha sido por ter prendido sua atenção nas asas, que Nichollas não viu o anjo tirar uma espada da bainha, que surgira junto das asas. Nichollas hiperventilou e sentiu o suor frio brotar do alto da cabeça. Tentou procurar auxílio para segurar-se, infelizmente não achando. Só restou cair sentado no chão e simplesmente contemplar a fabulosa transformação.

─ Assim que se faz, Angélica. – disse o anjo, a voz grossa.

─ Você não toma jeito, Ga... – disse ela, dando de ombros.

Nichollas viu as asas sumirem, junto da espada.

─ Mas... Como assim? Sou só um menino idiota, adolescente. Como eu poderia?

─ Está ai uma coisa em que ambos concordamos... Você é um idiota! Mas há uma transição e precisamos fazê-la antes de sua maioridade, que ocorre em vinte e cinco horas, treze minutos e quarenta e dois, um, trinta e nove segundos... E Belzebu... – disse o anjo.

─ Belzebu! É isso! Ele é um dos duques do inferno, o demônio das pestilências, das moscas e que espalha inúmeras doenças... – disse Nichollas, puxando da memória tudo sobre o que sabia do demônio.

─ Uhum, uhum. E a nossa sorte, é que ele não é um dos mais inteligentes entre os duques infernais. Nick... Precisamos que você não se alarme. – disse Angélica.

─ Não irei me alarmar.

─ E precisamos da sua colaboração. – continuou Angélica, calmamente.

─ E terão.

Os anjos trocaram olhares entre si, e pareciam que estavam acostumados a isso, pois entendiam completamente a mensagem. Angélica estendeu a mão para o jovem menino, e ele a pegou. Limpou-se rapidamente, fitando Angélica. Ela estranhou a atitude.

─ Sabe, até onde sei... Serafins significam “feitos de fogo”. Você... Bem...

─ Sim.

Angélica ergueu a mão e concentrou a energia na palma, que estava espalmada para a fronte. As chamas brotaram em máxima quentura e rodopiaram alguns metros a frente, iluminando a sala. O calor chegou a todos os cantos, assim como a luz provocada pelo fogo. As chamas crepitaram o ar ao redor, dançaram loucamente e assim dissiparam-se. E Angélica sorriu para Nichollas a tempo de ver os olhos do jovem se arregalaram para o espetáculo maravilhoso.

─ Incrível! Melhor que as asas do outro... ─ ele deixou escapar. ─ Eu tenho quase certeza de que eu estou sonhando, e que já, já eu vou acordar e me deparar com minha mãe e de que tudo isso foi devaneio de quem queria ficar dormindo de manhã na cama.

─ Ora, mas porquê? – perguntou Gabriel, exibindo curiosidade.

─ É tudo tão incrível. Um dia eu não sou ninguém, noutro já sou alguém. É incrível. ─ revelou o menino.

─ Só por que é incrível, quer dizer que não pode ser verdade?


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Notas finais do capítulo

Curtam o capítulo, espero que gostem! Obrigado e qualquer coisa, me procurem!



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