Doce Ilusória escrita por RoBerTA


Capítulo 18
Mordidas de amor não doem


Notas iniciais do capítulo

Acho que seria muito, tipo muito mesmo, errado da minha parte pedir desculpas por ter ficado meses sem postar. Por que não tem desculpas.
Bom, não fui abduzida nem nada do tipo, só troquei a escrita pela leitura. Para quem ainda acompanha DI, e possui uma paciência de dimensões infinitas, juro que vou atualizar mais regularmente agora. Essa provavelmente é a última fic que vou escrever, talvez penúltima se eu resolver postar uma oneshot de três capítulos, então vou dar mais atenção para ela, antes que a própria fic entre em depressão e se exclua.
Espero que quem resolva continuar acompanhando a diabólica Samara goste desse capítulo e dos outros que virão ^^
BjxxxxXXX!!!!



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E cá estava eu, suspirando como uma garotinha apaixonada. Exceto pelo fato de que eu não estava, lógico. Mas infelizmente o meu corpo parecia não saber disso quando se encontrava na presença de Pedro.

Após nosso pequeno espetáculo particular sob aquele chuveiro cuja integridade é altamente duvidosa — e sim, eu decidi que chuveiros podem ou não serem íntegros — nós dois nos lavamos devidamente, para extirpar qualquer indício daquele pântano horroroso de nossos poros. Em seguida — após mais alguns deliciosos beijos — resolvemos voltar para a nossa querida família, em um acordo mútuo e mudo sobre não divulgarmos nada do que ocorreu entre nós a ninguém.

Mas algo não saía da minha cabeça. Aquela maldita promessa que havia sido feita para ser quebrada. Foco Samara, você não pode voltar atrás, não agora que já começara a avistar a vitória.

Faria Pedro se apaixonar por ela, e então partiria o coração dele. Antônio não seria capaz de aturar tal atitude, nem sua mãe. Isso provavelmente acabaria com esse noivado estúpido e seria apenas uma questão de tempo até que seus pais voltassem e sua família fosse reconstituída.

Se isso faria dela uma vadia fria sem coração, bem, ela não se importava. Tudo em nome de um bem maior. Ao menos era isso o que se dizia continuamente enquanto Pedro a guiava com a mão suavemente, porém firme, apoiada contra as suas costas.

Olha pelo lado positivo, Samarinha, você o fará tão feliz antes de magoá-lo que quando isso ocorrer tudo ficará praticamente empatado. Ele provavelmente nem se importará. Tanto.

Certo, já chega desses pensamentos estúpidos. Samara Aguiar não sente dúvidas, não pestaneja e nem dá lugar ao remorso em sua mente.

Com isso ajeitei minha postura, queixo empinado e tudo mais. Pelo canto do olho peguei Pedro me olhando, enquanto um pequeno sorriso ia ganhando vida aos poucos em seus lábios.

— Bom, detesto ser o portador de más notícias, mas é muito provável que Lázaro fará uma fogueira à noite, o que resultará em muitos, muitos mosquitos.

— Daqueles que mordem? — Finjo absoluto terror. Obviamente ele não cai na minha encenação. Garoto esperto, já estava sabendo me interpretar quase tão bem quanto meu querido irmão.

— Daqueles que sugam até a última gota de sangue de suas pobres e agonizantes vítimas. — Enquanto fala sua voz vai ficando cada vez mais baixa, como se o que estivesse contando fosse uma história de terror de qualidade, ao invés de um flerte fajuto que quase a tocou.

— Então eles mordem? — Pergunto novamente.

Pedro me olha confuso, como se eu fosse um enigma e uma imbecil, indiferente quanto à ordem.

— É claro que mordem. Como eles iriam sugar o sangue se não mordessem?

— Talvez sejam mosquitos sofisticados e usem um canudinho ao usufruírem de suas vítimas. — Solto um suspiro exasperado. — Eu só queria que você tivesse dito de uma vez que eles mordiam. Agora meus planos estão arruinados, igual à minha vida, felicidade e até mesmo existência.

Tadinho, parece não saber o que fazer em seguida. Quem disse que ficar com a Samara seria algo fácil?

— Querida Samarinha, eles não mordem. Eles picam.

Arregalo meus olhos.

— Agora você definitivamente arruinou qualquer resquício de chance que havia para o meu plano dar certo.

— E por acaso eu poderia saber do que se trata o seu plano?

Cruzo os braços.

— Faça por merecer a informação.

Vejo raiva dançar em seu olhar, e então ele me dá as costas e se mete no mato, mas não antes de dizer espere com tanta autoridade que eu quis jogar meu tênis — aquele com que eu pisei na caca — bem na sua cabeça e como consequência nocauteá-lo. Deixaria ele todinho para os mosquitos o morderem infinitas vezes.

Ótimo plano, Samara, tenho muito orgulho de ser você.

Na verdade eu até pensaria um eu sei bem notório, mas isso seria demais mesmo para mim. Digo, travar um diálogo interno em determinadas circunstâncias e maneiras às vezes é um indício de que a loucura está muito mais próxima do que eu gostaria.

Antes que eu possa me assegurar de que não estou louca, Pedro reaparece. Com uma linda rosa na mão. De onde ele a tirou, eu não faço a mínima ideia, mas seria uma mentirosa — maior do que já era — se dissesse que o gesto não havia me tocado, principalmente quando ele a estendeu para mim como um cavaleiro dourado em todo o seu esplendor tentando conquistar a mais doce das donzelas. Exceto que eu não era uma, e em breve minha nem tão doce boca — dependendo de como ela era usada, lógico — iria estragar esse momento. Apenas o de sempre, eu não era capaz de resistir.

— Sinto muito, Pedro, mas o cheiro das rosas me faz querer vomitar.

Se eu tivesse casado meu joelho com os seus países baixos o resultado não teria sido pior.

— Mas se eu fosse um mosquito eu amaria o cheiro delas e te morderia bem aqui. — Digo apressadamente, não fazendo muito sentido. Na realidade, sentido nenhum. Por um motivo desconhecido queria apaziguá-lo, deformando o meu plano em uma tentativa de tirar aquela mágoa de seu rosto. Infelizmente as coisas não poderiam ter dado mais errado.

Na minha tentativa quase desesperada mirei seu pescoço e simplesmente o mordi. Talvez forte demais, por que ele deu uma espécie de grito-gemido seguido por um pulo.

Sua mão voou para o local onde os meus dentes tinham estado segundos antes.

— Você me mordeu. — Soou incrédulo.

Friso os lábios. Ao invés de deixá-lo carente de mim, extremamente extasiado pela minha selvageria sexy acabei machucando ele, provavelmente causando mais pânico naquela pobre criatura.

— Mordida de amor não dói. — Digo inocentemente.

— Você me mordeu. — Ele repete, e se repetisse mais uma vez, levaria uma mordida na testa.

— Quer que eu morda do outro lado para combinar?

— Você é inacreditável. — Resmunga enquanto segue caminho para aquela casa-chiqueiro deixando-me para trás. Aposto que não foi um elogio.

— Ei! Espera! — Droga, justo quando parecia que havíamos nos acertado acontece uma coisa dessas. Só espero que o dia — ou o que falta para ele acabar — não piore.

Pedro para abruptamente, mas não se vira para mim. Chego até ele e enlaço meus braços ao seu redor.

— Sinto muito, não queria te machucar. E se te faz sentir melhor, você também pode me morder.

Ele se vira e vejo que seus olhos estão apertados. Droga, ele ainda estava com raiva. Então Pedro se inclinou em minha direção, ou melhor, em direção ao meu pescoço, onde senti o seu hálito quente.

Fecho os olhos e espero pela dor que nunca vem. Ao invés disso sinto beijinhos por toda a extensão do meu pescoço que encontram caminho até a minha clavícula, que em seguida sobem até se encontrarem com os meus lábios, que ávidos e famintos, correspondem com paixão.

Quando nos separamos, ambos ofegantes, e preciso contar até dez para não pular nele. Quem diria, Samara perdendo o controle. Isso só havia acontecido com o...

Melhor mudar o rumo desses pensamentos.

— Deixe-me ver onde eu te machuquei. — Peço com a voz baixa e rouca. Ele obedece.

Já que é uma girafa disfarça de Parker ele precisa se abaixar um pouco para que eu possa ter uma boa visão. Engulo seco quando vejo um pouquinho de sangue. Mas embora haja uma centelha de culpa, há muitas outras de satisfação. Eu o havia marcado como meu. Finalmente. Agora nenhuma outra vadia — além de mim, é claro — se aproximaria dele.

Droga, isso soou como ciúmes. E caramba, não sou do tipo ciumenta. Só um pouco possessiva. Nada demais.

— Vou fazer parar de doer, prometo. — Digo com a voz rouca. Então deposito meus lábios onde eu o havia machucado. Fico parada, quase sem respirar por alguns segundos. Delicadamente roço a ponta da minha língua sobre o seu machucado, sentindo o gosto metálico de seu sangue. Sinto-o estremecer sob meu toque, e se é de dor ou prazer, não saberia afirmar.

Então enlaço meus braços ao seu redor e o forço contra mim. Ao invés de trilhar um caminho de beijos até seus doces lábios, permaneço beijando-o em seu pescoço quente e arrepiando, contornado a mordida com beijos e pequenas carícias com a extremidade da minha língua.

Ele treme contra mim, e me pergunto se é possível que esteja com frio, por que nesse momento sou ardor e chamas e fogo e...

Por que diabos ele se afastou e agora olha para qualquer maldito lugar, menos para mim?

— Ei, — digo irritada — olhe para mim. Não me faça arrancar as suas pálpebras com um cortador de unhas.

Ceeerto, sinceramente não sei de onde tirei isso. Um pouco inconveniente, digamos. Mas o que o garoto esperava que eu fizesse? O cara se afastou de mim como se eu fosse uma maldita leprosa, enquanto que eu estava preocupada com ele.

Pedro merecia uma maldita hemorragia, isso sim. Da próxima vez que o mordesse me certificaria de que a sua cabeça se tornasse uma velha conhecida do seu corpo.

— Acho melhor voltarmos.

Só quando teve a audácia de dizer essas palavrinhas nojentas o idiota me olhou.

Queria ter prendido a respiração, meu corpo inteiro queria isso, mas o meu medo de me esquecer de que eu não estava mais respirando e como consequência desmaiasse impediu esse impulso.

Já disse que seus olhos eram escuros, dois buracos negros insondáveis, pérolas negras e blá blá blá, mas isso por que eu ainda não os tinha visto naquele estado. Pareciam ainda mais escuros que o normal, se possível.

Cautelosamente fui aproximando-me dele, temendo que dissesse alguma outra estupidez ou se afastasse. Ele não o fez. Bom, estava começando a criar juízo.

Quando cheguei perto o suficiente, analisei minuciosamente aquele rosto, principalmente o modo como as suas pupilas estavam incrivelmente dilatadas.

Senti um calor trapaceiro se expandir no meu estômago, e uma coceira nas mãos. Provavelmente estava começando a ficar doente. Eu disse! Aquele pântano dos infernos deveria possuir algum tipo de vírus letal que agora havia me contaminado. Mas obviamente ninguém acreditou nela. Argh, não deixaria que nenhum traidor pisasse no seu velório, se certificaria disso antes de morrer. E que o seu caixão seria esculpido em mármore.

Quase se deu um tapinha nas costas por tamanha genialidade. Juro, não há qualquer pessoa no mundo que eu gostaria de ser além de mim. Ok, só um pouquinho narcisista.

— Você está mexendo com fogo, Samara.

Quase não escutei, tão baixo que soaram as suas palavras. Dessa vez não senti necessidade de puni-lo por ter dito o seu nome inteiro. Muito pelo contrário. Um sorriso deleitoso abriu caminho até a superfície de seu rosto.

— Talvez eu goste de me queimar.

Com isso fiz questão de deixá-lo para trás, dando uma oportunidade a ele de contemplar o quão sortudo era.

Sabendo que ele estava logo atrás, quase dançava enquanto caminhava, mexendo levemente os quadris.

Esse garoto comeria na minha mão. Escrevam isso. Melhor ainda, entalhem em uma rocha.

***

Fogueiras são terríveis. A não ser que a sua finalidade seja queimar Lázaro — também conhecido como Papai Noel Nudista — vivo.

Pedro tinha razão, muitos mosquitos foram atraídos pelo fogo crepitante, e agora eu me encontrava com menos sangue do que eu tinha antes de botar os pés nesse lugar abandonado por Deus. Eu não o culpo, pois se tivesse tanto poder iria passar o meu tempo em um lugar mais interessante, como, digamos, qualquer pedaço de terra civilizado.

Fui brutalmente mordida — jamais admitira que mosquitos picam, seria blasfemar —, e agora necessitava ser reconfortada. Até tinha alguém em mente. Acho que nem preciso nomeá-lo, certo?

Quando tinha 99,99% de certeza de que todos estavam dormindo — os 0,01% demonstravam a minha inteligência superior, afinal, acreditar cegamente em algo pode ser fatal — rastejei para fora de um colchão que provavelmente era a moradia de pulgas e outros seres abomináveis. Sim, eu sei, deveria processá-los por terem me obrigado a dormir nesse troço, mas isso estava em segundo plano por ora. Agora só tinha em mente desviar dos corpos espalhados pelo chão em colchões igualmente pesteados até chegar a Pedro. Tinha alguns planos para essa noite, e eles seguramente não envolviam dormir.

Fiz uma careta para esse pedaço de chão imundo. Lázaro nem tinha um quarto para ele, e ainda por cima dormia agarrado naquele porquinho. A primeira coisa que faria após sair daqui seria denunciar — anonimamente — maus tratos àquele podre animalzinho. Ouvir roncos diariamente era uma tortura maior do que ele podia suportar.

Amaldiçoei baixinho quando quase tropecei em minha mãe. A luz advinda da lua mal era o suficiente para ver o contorno dos corpos daqueles dorminhocos.

Quando estava chegando perto do meu queridinho, avistei uma vela próxima de um isqueiro. Hum, isso viria a calhar. Saquei-os rapidamente, então terminei o meu longo trajeto silencioso, abaixando-me até onde Pedro estava dormindo com um braço sobre o rosto.

Novamente aquela vontade idiota de suspirar. O que você é Samara, suicida?

Deslizei minhas unhas pela sua pele, até que seu braço que estava repouso sobre a sua face agarrou meu pulso.

Seus olhos — indevidamente mal humorados, o que é ridículo, pois ele deveria ficar feliz por eu ter me dado o trabalho de acordá-lo — cravaram nos meus.

— O que você está fazendo aqui? — Sussurrou.

— Eu tenho uma proposta. — Também sussurro.

Sua sobrancelha levantada atua com um ponto de interrogação.

— Se você vier comigo até um certo lugar, eu vou tentar ser uma boa garota.

Seu lábio acabou entre seus dentes em um gesto pensativo, pesando os prós e contras.

O que eu não disse era que não havia um certo lugar, diabos, mal sabia o caminho até o banheiro. Pretendia encontrar um lugar agradável onde pudesse molestá-lo, digo, dialogar com ele. E sobre eu ser uma boa garota, bom, isso eu já era. E a minha ideia de boa certamente era diferente da dele.

Não que ele precisasse saber disso por enquanto.

— Certo, eu vou.

Seguro um gritinho de triunfo. Essa definitivamente seria uma noite quente.


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