My Tiger escrita por Escritora


Capítulo 8
Pingente


Notas iniciais do capítulo

Quando comecei a escrever pensei: " não vou conseguir escrever algo fofo" . Ai, como solução peguei algumas músicas que eu achava bem melosa e coloquei para escutar enquanto digitava. Espero que tenha adiantado. ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/397849/chapter/8

Kelsey acordou sentindo o corpo cansado. Não havia dormido muito durante a noite, pensou muito sobre o pingente e sua origem. Tomou um banho para acordar e substituir sua aparência deprimente pela de uma jovem com esperanças. Depois de se arrumar, olhou as mensagens que Manu havia deixado, pois Ren falara que o celular havia feito barulho.

Olá amiga, e ai? E a foto do gato? Tenta pegar um ângulo sedutor” dizia na mensagem.

Irritada começou a digitar:

“Manu, vou te contar... Essas fotos quase custaram minha vida. Quando fui para apertar o botão ele viu e bem... Me pegou no flagra. Depois disso foi uma confusão e em outro momento te conto mais, estou atrasada. Essa confusão foi o motivo de só hoje eu estar respondendo sua mensagem. Depois da aula vou te ligar e contar tudo. Mas, quero deixar claro que não gostei da sua missão.”

― Dormiu bem? – seu pai perguntou quando ela entrou no carro.

―Sim – confirmou e sentiu a sabedoria da mentira.

― Hoje vou para o primeiro dia de serviço, receio que amanhã terá que ir e voltar da escola sozinha. Já decorou o caminho?

― Acho que sim. Ontem voltei sozinha, esqueceu? - Comentou e voltou o olhar para um jardim.

―Não, não me esqueci. – Joshua riu da expressão preocupada da filha.

Chegaram à escola e Kelsey desceu do automóvel, no fundo queria poder ficar em casa. Sem demoras e motivação, adentrou os portões em busca de Dhiren. Estava com o celular na mochila, para perguntar - mesmo que a resposta fosse óbvia - se foi ele quem colocara o pingente. Olhou por todos os lugares e não o viu. Logo, como o fluxo de alunos no corredor diminuía, decidiu ir para a sala.

O sinal tocou e vários alunos entraram, incluindo Ambre agarrada nos braços de Ren. Kelsey sentiu náuseas ao ver a cena e perdeu a vontade de perguntar sobre o pingente. Não sabia descrever qual sentimento estava inflando dentro de si, talvez algo parecido com raiva e desinteresse pela vida. Afinal, ficara a noite inteira pensando na gentileza de Dhiren ao conduzi-la pela casa. Concluiu, que de qualquer maneira não viria ao caso interrogar o rapaz sobre o pingente, pois, estava acompanhado e parecia estranho.

―Oi, Kelsey! – Tifany falou e sentou ao seu lado – Vou sentar aqui hoje, troquei de lugar.

― Que bom – Kelsey sorriu e imaginou que teria companhia nos trabalhos. – Você voltou bem para casa?

―Ótima, não moro muito longe daqui. Ontem, fui igual a uma louca até o shopping comprar um pingente de celular, achei muito fofo o seu.

―Você comprou? - Kelsey perguntou na tentativa de demonstrar interesse.

― Sim, entrei em uma loja de artigo indiano, porque vi na vitrine uma estrela igual a sua e me apaixonei por esse.

Tifany levantou o telefone e mostrou um elefantinho de pelúcia. Era cinza e seus olhos vermelhos, decorados com a mesma pedra carmim. Estava preso no celular fazendo companhia a mais dois bichinhos: uma abelha de plástico com a pintura desbotada e um gatinho preto felpudo.

―Senhorita Logh, se quiser conversar peça licença – o professor disse para Tifany e ela guardou o celular na bolsa.

―Depois a gente conversa mais – sussurrou para Kelsey, piscou e virou para frente.

Kelsey achou engraçado a atitude da garota. Ela realmente era uma ótima pessoa e tê-la como amiga acendera um pouco de esperança em relação as outras pessoas da escola. Como Tifany falara que viu um pingente igual ao seu em uma loja de artigos indiano, estava acreditando, com absoluta certeza, que fora Ren quem colocou a estrela em seu celular.

Olhou para Dhiren, só por curiosidade, e viu o rapaz rindo com a loira. Deduziu que os dois formavam um casal bonito. Ele tinha a aparência e a postura de um modelo, algo que mixava com a forma de agir dos guerreiros hollywoodianos, e Ambre, para infelicidade das garotas normais e "sem graça" , era esbelta e possuía um olhar intimidador e doce. Seria melhor não se intrometer e esquecer o pingente, Kelsey pensou após vê-los alegres.

O que chateava Kelsey era a vergonha que sentia de estar perto das pessoas e até aquele momento só ter conseguido falar normalmente com Tifany e, talvez, com aquele rapaz que a atendera na loja quando foi comprar o celular. Isso era realmente preocupante e se falasse para Manu escutaria um sermão por sua lerdeza.

A aula passou rápido, Kelsey não teve coragem de conversar com Dhiren e no recreio sentou-se com Tifany em uma mesa diferente. A nova amiga conversava muito, o que era bom, pois, preferia escutar e concordar.

As semanas que se passaram foram normais, sem muitos acontecimentos ou encontros com Ren. Esse parecia estar namorando Ambre, porque não se largavam. Os boatos intensificaram depois que uma garota do primeiro colegial viu o casal sair da escola de mãos dadas e entrar na mansão Rajaram. A história se espalhou rápido - como no segundo dia de Kelsey quando a escola pensou que ela estava apaixonada por ele.

Kelsey não tirou o pingente do celular, achava bonito e hipnotizante. Além disso, depois de contar para Manu e Tifany a história desde o inicio e que, sinceramente, não sabia como o enfeite havia aparecido no celular, as duas concordaram simultaneamente, por meio de uma vídeo chamada, que ela não deveria tirar.

Fany, como agora começou a ser chamada por Kelsey, disse que visitou Nilima três vezes para trocar receitas de beleza. Confirmou que em todas as visitas sempre encontrou com Ambre. A loira estava praticamente morando na casa dos irmãos Rajaram. Tifany ficava sem jeito ao ver Kelsey triste. Não sabia se era por causa de Ren ou porque a amiga pensava que o tal pingente era um presente dele. Como não podia fazer algo, concordou em não pensar mais nisso e tentar alegrar Kelsey.

***************

―Senhorita Hayes, poderia ler o poema da página trinta e um? – O professor de literatura perguntou.

―Sim, senhor – Kelsey murmurou e toda a turma estranhou, pois a garota não se pronunciava nos outros horários.

”Eu pensei que poderia amar

Somente pensei

Pensei que deveria ouvir…

Ouvir meu coração

Dividi-lo com você

Não sei se é possível.

Você dividiria os seus segredos comigo?

Dividirei todos os meus segredos

Meus medos, alegrias, tristezas e insanidades.

Insanidades que obrigam-me a pensar,

Pensar que poderia amar.”

―Magnífico, a senhorita tem uma ótima leitura – o professor elogiou e continuou a aula.

Kelsey fechou o livro e abaixou o rosto para poder respirar aliviada. Entre um suspiro e outro, viu um papel cor-de-rosa dobrado em cima da mesa. Era um bilhete, olhou para Tifany e a garota sorriu indicando com o dedo indicador o papel.

“Ficou sabendo da nova? Parece que Ren e Ambre terminaram. Ontem, saiu chorando do vestiário feminino e quando perguntaram o que tinha acontecido ela desabafou com as meninas. Agora todo mundo sabe do barraco… Eles terminaram.“

Kelsey não sabia o porquê de Tifany querer contar algo assim e ainda, com tanta empolgação. O horário de literatura terminou e a professora Floris chamou os alunos para fazer as atividades de educação física.

―Kells, sabe o que vamos fazer hoje no horário de educação física? – Perguntou Tifany como se Kelsey não soubesse.

―Correr? – Disse em um tom interrogativo, porém tinha certeza, pois a professora somente passava essa atividade.

―Isso - disse e gargalhou, esperava a mesma reação da amiga, porém percebeu a indiferença que o comentário havia provocado. - Você não sabe que hoje será diferente, certo?

― O que vai ter de diferente? – Kelsey interrogou e achou engraçado o suspense.

―Hoje será toda a turma. Imagine... Toda a turma! – Tifany exclamou e deu um pulinho. – Então, vou te aconselhar a amarrar o tênis direito. Isso é necessário!

―Não precisa – disse Kelsey com vergonha e lembrando da queda que ocorreu na primeira aula de educação física.

―É, eu sei que não precisa. Mas, por favor, amarre direito esses cadarços!

Kelsey trocou de roupa, colocou o short e a camiseta branca. As marcas no seu braço se tornaram roxas, como se tivesse batido no portal de alguma porta. Prendeu as ondas do cabelo com uma fita e saiu do vestiário acompanhada de Tifany. A segunda não parava de falar sobre uma hidratação indiana que salvava qualquer pele ressecada.

―Pessoal, hoje a atividade é diferente. Como vocês perceberam, eu misturei garotas e garotos. Vocês formarão duplas, ou melhor, casais. Os homens vão ficar na marca zero e correrão até a quarenta, irão entregar o bastão para a companheira – quando a professora falou quarenta ouve um murmuro de reclamações – e a menina irá correr até a marca sessenta. Entenderam?

Ninguém comentou ou murmurou negativas sobre Floris, todos conheciam o seu temperamento irado.

―Certo, esse será um treinamento para as olimpíadas municipais de atletismo escolar. Então, vamos formar as duplas? – Os alunos começaram a movimentar e conversar, cada um procurando um par. – O que vocês pensam que estão fazendo? Quem irá decidir as duplas sou eu. Não quero casais em vantagem.

Floris começou a falar nome por nome. Quase toda a turma estava em casais, menos Kelsey e Ren. Eles olharam um para o outro e a garota paralisou seus movimentos. Quando os olhos azuis encontraram os seus, teve a certeza que as próximas palavras da professora começariam com K e D. Tifany sorria por causa da coincidência e ao ver uma enorme possibilidade de aproximação sussurrou no ouvido de Kelsey que ela deveria perguntar pelo pingente.

— Kelsey e Dhiren, só faltam os dois! – Gritou a professora, apontando para eles se posicionarem.

Não ouve troca de palavras naquele momento, Kelsey foi para a marca acompanhada pelos olhares curiosos e pela fúria de Ambre, era notório que a loura parecia estar descontente pelo par.

―Em suas marcas - Floris gritou da arquibancada. - Já!

Subitamente os garotos correram, contudo Ren ficou parado contando mentalmente até cinco. Quando decidiu fazer o mesmo que seus colegas, em menos de cinco segundos estava na frente de todos. A corrida passou a ser desvantajosa para outros, porquanto o indiano estava a mais de um metro de distancia da "batalhão" de garotos. Com facilidade, aos poucos chegava mais perto de Kelsey. O medo transbordava de sua respiração, ela estava com medo de deixar o bastão cair e desapontá-lo. Não tinha experiência nessa atividade, era a segunda vez que a fazia, porque a professora pediu para que esperasse os joelhos melhorarem.

―Corra! – Ren gritou quando o bastão foi entregue.

Kelsey correu e dessa vez o tênis não estava solto, não havia perigo de cair. A única coisa que preencheu sua mente foi a imagem da palavra correr em itálico. Assim fez, correu com toda a energia que reservava desde a última aula de educação física. Não contemplou as marcas, porém ouviu o apito da professora. Gradativamente, as outras alunas se aproximaram e parabenizaram-na pela corrida. Percebeu Ren correndo em sua direção com um sorriso no rosto, parecendo extremamente feliz com o que acontecia.

Kelsey ficou parada quando os braços de Ren apertaram seu corpo, experimentou a proteção e a felicidade do rapaz de forma súbita. Sentiu o cheiro de sândalo e relembrou da mansão Rajaram, era uma memória vívida. Desejando não sair de perto de Dhiren, murmurou um obrigada.

―Parabéns – ele disse em seu ouvido. - Eu sabia que conseguiria, eu tinha certeza .

―O-obrigada. Isso foi por – não conseguiu falar, preferiu ficar calada. Inferiu que gaguejaria de vergonha por todo mundo vê-la sendo abraçada por Ren.

―Parabéns, para vocês! – Gritou a professora de longe e, instantaneamente, Ren soltou Kelsey de forma brusca.

Tudo aconteceu rápido, ele se virou, pegou o bastão que caíra no chão quando abraçou a garota e foi para o vestiário em silêncio. Ela não comentou sobre o pingente e nem disse algo mais além de “obrigada”. A atividade terminou e Tifany e Kelsey foram para o refeitório esperar o recreio em silêncio, estava atônita demais para conversar com decência.

― Kelsey, o que foi aquilo? – Fany perguntou em um murmúrio pois, estavam perto de outras garotas.

―Não sei - pronunciou confusa. - Do que você está falando?

Tifany fez uma careta de desanimo e falou:

―Do Ren... Ele te abraçou… Te soltou e saiu com a cara amarrada. – pausou para numerar nos dedos a ordem dos fatos. - Tipo, ele estava sorrindo, entende? O que você falou para ele?

―E-eu? Não falei nada – comentou baixo, sentindo as bochechas esquentarem quando lembrou do abraço. – Ele falou parabéns, me abraçou e bem... Depois saiu carrancudo.

―Isso é muito estranho – Tifany comunicou e sentiu-se a detetive do colégio. - É como se… Ah! Sei lá! – Desistiu de descrever a personalidade estranha do rapaz. - Não entendo o Dhiren, ele é estranho. Hoje vou ver Nilima e perguntar porque ele é todo amarradão. Não deve ser somente por conta do lance da última namorada.

Kells não sabia o que responder para a amiga. Imaginou Ren escondido atrás da porta, enquanto Tifany conversava com Nilima.

―Não faça isso, é o jeito dele.

―Ou, talvez, seja só com você – Fany disse em tom de ameaça. - Ele está conversando com todo mundo, até sai com a galera da sala. No intervalo fica na mesa dos populares e trata todo mundo bem, pelo que fiquei sabendo. Ele é muito estranho!

―Tifany, melhor você parar de afirmar isso, é só o jeito dele. Vai ficar doida se pensar mais – comentou Kelsey e a amiga riu, como sempre, exageradamente.

―Com licença – as garotas escutaram alguém falar e pararam de rir na mesma hora – Posso conversar com você, Kelsey?

Dhiren estava em pé, parado ao lado delas, com uma expressão séria e ameaçadora. A mão de Kelsey gelou, em toda a sua vida, nunca imaginou que passaria por uma situação tão constrangedora.

―Co-comigo?

―Sim – Ele encarou-a quando escutou a resposta, girou o corpo habilmente e afastou-se.

―Vai lá! – sussurrou Tifany, fez amiga se levantar e segui-lo.

Kelsey viu Ren passar pelo refeitório, caminhar por um corredor estreiro e depois virar a direita. Após fazer o mesmo percurso encontrou uma porta. Adentrou-a e percebeu que estava no pátio da escola. Olhou para os lados e viu o rapaz sentado em um banco debaixo de um pé de laranja.

Parou na em frente ao rapaz e virou o rosto, enquanto esperava ele se pronunciar, para não encará-lo. A única interrogativa que passava em sua cabeça era o porquê daquilo. Será que gostaria de pedir desculpas pelo abraço? Isso era um pouco irracional, pois Dhiren somente abraçou-a.

―Eu – Ren começou a falar e olhou para ela de baixo para cima -, quero te pedir desculpas pelo braço.

―Braço? – Kelsey perguntou, fingiu não entender, queria esquecer as marcas.

―Sim, essas marcas – Dhiren apontou para os bíceps da garota. - Quando nos encontramos depois da enfermaria e eu... Não foi por querer, só não medi minha força e estava com raiva por ter me olhado daquele jeito quando falou que não precisava de ajuda. O seu joelho, ele estava… – Ren colocou a mão no rosto e suspirou, pausou sua fala. - Você é um pouco cabeça dura.

Kelsey ficou ainda mais confusa e imaginava o motivo dele estar assim tão agitado por causa de um hematoma. Ela não gostou da atitude dele, porém havia perdoado quando entendeu que ele estava com raiva por ter sido alvo da câmera do seu celular. Não sabia ao certo, como o toque de Ren proporciono-lhe esse sentimento, contudo sabia que em seu coração não existia remorsos.

―Cabeça dura? – Murmurou com vontade de sumir.

Fitando-a intensamente com os olhos azuis cobalto, Ren perguntou com o tom cabisbaixo:

―Você me perdoa?

Kelsey ficou em silêncio juntando toda sua coragem para falar mais alto, sem timidez e sem tropeços nas palavras.

―Dhiren, não se preocupe com isso. Não é nada de mais, entendo que estava com raiva.

―Mas, você me perdoa?

―Sim – Kelsey disse sorrindo e logo, fora respondida com sorriso também.

―Gostou do pingente? – Ren perguntou e Kelsey sentiu uma sensação fria tomar sua barriga. Então, era mesmo ele quem colocara a estrelinha, borboletas subiram no estômago da garota.

―Sim. Mas... Não entendi.

―É um presente de desculpas. Desculpa por ter te constrangido e por ter apertado o seu braço e te deixado com raiva – falou ainda sorrindo.

―Não era necessário, mas muito obrigada.

―Percebi que você ainda não o retirou - passou pelo cabelo negro, afastando alguns fios das têmporas. - Obrigado por desculpar. Melhor voltar para dentro da escola, se quiser eu espero você ir primeiro.

Ela assentiu e andou rumo à porta por onde havia vindo. Ren ficou sentado no banco, esperando-a entrar no prédio. Ele sentiu que deveria deixar certa distância entre ele e Kelsey, não queria machucá-la ou assusta-la novamente. Sinceramente, não queria contato muito próximo com as pessoas do colégio, muito menos com Kelsey, pois isso o faria dividir segredos com ela e esses segredos poderiam acabar com a felicidade da garota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai?! Ficou bom? História do pingente esclarecida ^^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "My Tiger" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.